Tivemos um Inverno muito frio.
Temos um Verão demasiado quente.
Os extremos dominam o clima. E não só.
Tivemos um Inverno muito frio.
Temos um Verão demasiado quente.
Os extremos dominam o clima. E não só.
1. Dizem que recordar é viver. Mas sentimos, sobretudo a partir de certa altura, que viver é (também) recordar.
Somos, de facto, os lugares que habitámos, as pessoas que fomos conhecendo e as memórias que conseguimos alojar.
É por isso que, em boa verdade, não há passado. O que denominamos passado desmente-se a si mesmo. O passado não passa. Está sempre presente.
Há vivências que começaram num tempo e se prolongam no tempo.
Aquilo a que chamamos passado nunca está totalmente passado. Jamais se extingue. Perdura na lembrança. Mantém-se na recordação.
2. Há uma experiência que os anos vão impondo.
Se a escola é um local de conhecimento, o cemitério acaba por ser um poderoso lugar de reconhecimento.
Sempre que voltamos à terra donde saímos, vamos dando conta de que as nossas referências se encontram debaixo da terra.
Lá estão os nossos familiares, os nossos vizinhos, os nossos conhecidos.
Lá repousam as pessoas que eram idosas quando nós éramos crianças.
Foram elas que povoaram a nossa infância com histórias que, por muito efabuladas que fossem, eram amassadas na realidade.
Aqueles rostos estão pejados de sabedoria e afogados em canseiras.
3. As nossas lágrimas começam a desfilar. Elas ficam lá mesmo quando nós saímos de lá.
A morte vai-nos visitando. Vai-se habituando a nós e nós a ela. Até que um dia nos arrebatará também.
Onde outros estão, nós estaremos. Para onde levamos os outros, nos hão-de levar a nós.
Há toda uma circularidade entre a morte e a vida. Nós vamos morrendo na morte dos outros. Os mortos vão (re)vivendo na nossa vida.
4.Os encontros que o Verão propicia fazem desfilar lembranças que nem a poeira do tempo logra esbater.
Tais encontros transportam-nos, imediatamente, a uma época que, não estando muito longe, já nos parece demasiado distante.
É certo que sempre houve mudanças no mundo. Não é o mundo, todo ele, composto de mudança? Mas o que se nota é que o processo de mudança tem sofrido uma forte aceleração.
5. Está melhor o mundo? Está pior? Está diferente.
A diferença faz-nos sentir nostálgicos. O que somos tem pouco a ver com o que fomos.
O mais estranho é que fomos nós a introduzir as alterações que, agora, nos constrangem.
6. Foi o Homem que desencadeou a tecnologia. Mas, para nosso espanto, vamos verificando que estamos mais dependentes da tecnologia do que a tecnologia de nós.
A máquina permite-nos algumas maravilhas. Mas também nos retira outras maravilhas. Desde logo, parece subtrair-nos uma certa capacidade de nos maravilharmos.
7. É por isso que vamos sentindo saudades do tempo em que o mais pequeno pormenor era revestido de um enorme sortilégio.
Os brinquedos não eram comprados. Eram fabricados por nós. Tudo aquilo era rudimentar. Mas era tão valorizado.
Sentimos que o tempo que mais ganhamos foi o tempo que mais perdemos.
Aquele tempo que gastámos com os outros ficou guardado, como se da maior preciosidade se tratasse.
8. Nada disto prescreveu porque tudo isto continua a habitar-nos e, nessa medida, a acompanhar-nos.
Hoje, apesar da crise, temos muito para dar. Mas percebemos que temos cada vez menos o que mais
importa: tempo.
Trocamos muitos presentes e esquecemos que o melhor presente é o presente da presença.
Andamos todos a correr e com uma vontade enorme de parar, de fazer um ponto de ordem.
9. Por toda a parte se ouve: isto não pode continuar na mesma.
O ser humano tornou-se uma máquina. Robotizamo-nos.
Os nossos sentimentos são primários. Muitas vezes, somos os primeiros a não cuidar da nossa privacidade.
Expomo-nos sem qualquer limite e, depois, queixamo-nos de ver a nossa vida exposta.
Nunca houve tanto tempo para descansar e nunca nos sentimos tão cansados.
O problema é que não é só o trabalho que nos gasta. É a vida que nos vai desgastando.
E para este desgaste não há férias que compensem. Só uma nova humanidade nos fará rejuvenescer.
Sabes que não vais desistir. Mas não sabes se podes aguentar.
Que fazer? Confia.
Não desistas. Por Ele.
Ele aguentará. Por ti.
Na verdade, já acordamos cansados. Trabalhamos sob cansaço. Chegamos a casa mais cansados.
Cansamo-nos de tudo e de todos.
Não nos cansemos, porém, de uma coisa: de fazer o bem (cf. Gál 6, 9).
Não faças muito. Mas faz bem. Faz o bem. Só o bem.
Estás tenso? Recolhe-te, então.
Não abras a boca. Não quereles. Não te exaltes.
Não penses mal dos outros. Não penses que os outros pensam mal de ti.
Deixa passar a tormenta. Na serenidade, tudo será melhor.
Não te aviltes, irmão. Cresce na santidade. Deus ama-te tanto, tanto, tanto.
O maior drama da era actual é o esquecimento: o esquecimento de Deus que leva ao esquecimento do Homem e o esquecimento do Homem que leva ao esquecimento de Deus.
Ellie Wisel escreveu que «esquecer é rejeitar».
Atravessamos, sem dúvida, uma preocupante crise de humanidade. Havemos de a reerguer, acolhendo, nela, Aqueles que nos faz ser, existir, amar. Precisamos de uma humanidade mais humana, mais atenta aos pobres, aos pequenos, aos simples.
1. É com indisfarçável melancolia que nós, os mais adiantados na idade, recordamos as chamadas férias grandes.
Perdido nas memórias mas alojado na alma, este era um tempo em que tempo havia.
Era o tempo em que o tempo sobrava, em que o tempo parecia nunca faltar.
Era o tempo em que o tempo não nos tinha. Nós é que tínhamos tempo. Para tudo. Ou quase.
Era um tempo totalmente diferente para os padrões actuais. Não se pensava em viagens. O dinheiro escasseava e as oportunidades não abundavam.
A preocupação não era ocupar o tempo. Era sobretudo sentir o tempo. Saborear o tempo. Digerir o tempo.
Nas férias, o tempo parecia desistir de passar. Dir-se-ia que também repousava.
Não voava, como hoje. Dávamos conta de cada segundo. Os minutos eram tão mastigados que até pareciam esticar as horas.
2. Era o tempo em que se sentia não apenas a chuva e o vento, mas até a mais leve brisa se fazia ouvir.
Alguma coisa se fazia, é certo. Nas aldeias, andávamos pelos campos. Ajudávamos os pais na apanha da batata e na colheita da fruta.
As noites, longas e tórridas, eram ocupadas com diálogos tecidos de memórias e regados de amizade.
3. E quando nada mais havia para fazer, lia-se, via-se e olhava-se: a paisagem, o horizonte, a serra, tudo e nada, o céu e o infinito.
Dirão alguns que seria um tempo aborrecido. E que mal há nisso? Não será saudável haver também um tempo para nos aborrecermos? Não deverá haver também um lugar para o tédio?
Eu sei que, para as novas gerações, isto parece surreal.
Três eram os meses que passávamos praticamente no mesmo lugar, a conviver com as mesmas pessoas. Como era possível?
Não havia internet e poucos eram os que possuíam telefone. A chegada do carteiro era o maior sinal de notícias de alguém distante…
4. Coisas de um passado que não volta. Não voltará?
De facto, Óscar Wilde dizia que «o principal encanto do passado é que já passou».
Só que há elementos que, por muito que nos custem, podem alterar o figurino da vida que, actualmente, levamos.
Jeff Rubin deixa-nos uma curiosa descrição do que pode ser a nossa existência a breve prazo. Basta que pensemos, por exemplo, no fim do petróleo.
5. Será que já imaginamos um mundo onde esta fonte de energia escasseie?
Não é preciso puxar muito pela imaginação. Desde logo, as viagens ficarão muito mais caras. E, se o petróleo se esgotar completamente, algumas viagens poderão mesmo tornar-se impossíveis.
Não entremos em pânico, mas é melhor irmo-nos preparando. «Petróleo caro significa uma travagem brusca no estilo de vida consumista que a energia barata nos permitiu, significa dizermos um longo e saudoso adeus aos produtos baratos fabricados no outro lado do mundo».
6. A economia local e a importância dos vizinhos voltarão a adquirir uma nova centralidade.
Segundo Jeff Rubin, «em breve, os nossos alimentos virão de um campo muito mais perto de casa e as coisas que compramos provavelmente virão de uma fábrica ao fundo da estrada».
A pressa terá de ser controlada, mas a saúde até poderá lucrar. O leitor provavelmente «guiará menos e andará mais e isso quer dizer que trabalhará e fará as compras mais próximo de casa».
Os nossos vizinhos «vão tornar-se bastante mais importantes no mundo mais pequeno do futuro».
Muitos dos empregos de mão-de-obra barata poderão ter de regressar a casa em breve.
7. Então e as megacidades luminosas que se antecipam? Esses, garante Rubin, «são sonhos da era da energia barata».
É certo que as previsões têm um problema. Às vezes (muitas vezes?) erram.
As épocas não se repetem. Mas não deixam de ter as suas semelhanças.
Para Jeff Rubin, «o futuro será muito parecido com o passado».
Será?
Creio na bondade. Creio na bondade que irradia em tantos corações. E creio na bondade que se esconde em tantos corações.
Sim, há vidas que teimam em esconder a bondade. Mas ela está lá. Um dia, desabrochará.
Às vezes, chego a pensar que muitos de nós, crentes, conseguem a proeza de serem menos humanos que o próprio Deus.
Basta olhar para Jesus. Basta olhar para nós. Quem é mais humano?
O amor é a maior ciência. Creio na bondade.
Um coração bom conseguirá tudo. Pode levar tempo. Mas o bem triunfará.
1. Isto não está mesmo nada fácil. Nem para viver. Nem tampouco para morrer!
Estudos recentes atestam que o nosso país se encontra entre os dez piores para morrer.
Numa lista de quarenta países, Portugal ocupa o trigésimo primeiro lugar no que toca aos cuidados paliativos.
Como facilmente se compreende, este é um significante com um significado muito profundo.
2. E, no entanto, continuamos a absolutizar princípios que expõem, de modo aflitivo, as desigualdades entre pessoas e as assimetrias entre populações.
O princípio utilizador-pagador é normal no mercado. Mas quanto a necessidades básicas, pode pretextar situações deveras complicadas e bastante injustas.
Será que o cidadão está mesmo transformado num mero consumidor?
Acontece que o cidadão já paga e não paga pouco. Os impostos constituem uma espécie de contrato entre a pessoa e o Estado. Aquela prescinde de um certo montante do que aufere e este assegura uma quantidade de serviços essenciais.
Como é sabido, os impostos acabaram de ser aumentados. Sucede que, quase ao mesmo tempo, se decide pelo pagamento da circulação em certas vias até agora gratuitas.
Vejamos o que vai acontecer a pessoas com vencimentos da ordem dos 600 euros.
Além do IRS e da segurança social, terão de deduzir para a prestação da casa e do carro. Se precisarem de usar aquelas que, até agora, se chamavam SCUT, terão de despender mais dinheiro.
Como sobreviver assim?
Acresce que, enquanto os impostos são pagos na proporção do ordenado de cada um, já o que se consome é pago ao mesmo preço por todos.
3. É certo que é dever do cidadão contribuir para o país. Numa situação de crise, percebe-se que o contributo seja maior.
Só que o cidadão acabará por questionar: e quando a crise acabar (se acabar), em que é que a sua vida se ressentirá de tal melhoria?
A Europa dirá que o Estado cumpre, mas as pessoas continuarão cheias de dificuldades.
Têm-nos dito que vivemos acima das nossas possibilidades. Talvez seja verdade. Mas isso não se aplica também aos serviços públicos?
E será que, da parte destes, se nota algum sinal de austeridade? Precisamente daquela austeridade imposta aos cidadãos…
Depois, convém não esquecer que, durante muito tempo, foram fornecidos incentivos ao crédito, ou seja, ao consumo.
Aliás, o visionamento do espaço do telejornal não deixa de ser (penosamente) sugestivo: durante as notícias, dizem-nos que é preciso poupar; no intervalo das notícias, a publicidade quer convencer-nos de que é fundamental continuar a gastar…
4. Há, sem dúvida, um conjunto de questões cívicas que nenhuma decisão política logrará suprir.
Mas importa não perder de vista que o Estado tem de estar voltado para as pessoas e não as pessoas para o Estado.
Às vezes, esta relação parece invertida. A balança do sacrifício pende sempre para o mesmo lado.
E, para nosso espanto, gera-se facilmente um consenso entre forças que, à partida, não o praticam.
Na questão dos impostos e das SCUT, a impressão que prevalece é a de que não haverá alternativa.
Governantes, deputados e muitos autarcas e comentadores dão a situação por irreversível.
5. A unidade é fundamental, mas a pluralidade também é necessária. De dois partidos espera-se que haja, pelo menos, dois pontos de vista.
É esta diversidade que alavanca a matriz pluralista da democracia.
É saudável que haja convergência. Mas sempre a partir da diversidade.
Sucede que, para espanto de muitos, está a haver uma redundância entre os dois maiores partidos com evidente sobrecarga para os mais pobres.
Na questão das SCUT, a diferença parece estar entre chip obrigatório e chip facultativo.
6. Precisamos de um provedor do cidadão. De quem dê voz a quem não tem voz.
Há muita gente a sofrer, a gemer, a chorar.
Dêem-nos um pouco de ânimo. Tirem-nos tudo. Mas não nos retirem a esperança.
Procura ter, ao longo deste dia, atitudes sãs, atitudes chãs, pacíficas e pacificantes.
Enche-te de Deus. Mostra Deus na tua vida. Espraia Deus em forma de cortesia, em forma de urbanidade, em forma de delicadeza, em forma de esperança.
Deus está no pormenor. Não te desencontres d'Ele.
Deus está em ti e no teu próximo. Deixa-te abraçar por Ele.
Não espero que dês. Só peço que te dês.
O aluno é o que ouve o mestre. O discípulo é o que convive com o mestre.
Esta diferença não é nada despicienda. É fundamental. Necessária. Decisiva.
A Igreja, enquanto comunhão, não é uma democracia; é mais que uma democracia. Será uma agapocracia (poder do amor).
Há aspectos em que pode valer-se do registo democrático. O funcionamento de uma estrutura, a avaliação de uma actividade, etc.
No que toca ao opinável, é perfeitamente legítimo pôr à discussão e seguir as regras da democracia.
No que concerne ao imperativo, é diferente. Não se pode pôr à discussão a doutrina, a oração ou a missão.
O que vem de Deus, via Jesus Cristo, é para seguir. Aliás, era este o verbo que Ele usava: «Vem e segue-Me».
Costuma dizer-se que quem não vive para servir não serve para viver. Ficou célebre o dito de Jacques Gaillot, que serve aliás de título a um dos seus livros, segundo o qual «uma Igreja que não serve não serve para nada».
Mas, como é óbvio, a Igreja serve e muito. Para quê concretamente? Responde o grande Yves Congar: «A Igreja tem uma missão no mundo e para o mundo: fazer entrar os Homens no Povo de Deus-Corpo de Cristo, ajudar o mundo a crescer para o Reino de Deus promovendo nele e com ele tudo o que constrói o Homem segundo o desígnio de Deus».
Deus não é evidente, costumamos dizer. Mas será mesmo que não o é?
Onde estará a dificuldade? Será que Deus que não é evidente em relação a nós? Ou não seremos nós que, muitas vezes, não somos videntes em relação a Deus?
Será Deus que não Se deixa ver? Ou seremos nós que não conseguimos (ou não queremos) vê-Lo?
Porque é que muitos dizem que O vêem e outros não? A Sagrada Escritura mostra-nos que um dos verbos estruturantes da fé é precisamente o verbo ver.
A questão estriba na forma como aplicamos o ver. Não se vê Deus como se vê o sol, embora Deus possa ser visto a partir do sol (analogia entis).
Deus não está ao lado, mas no fundo das coisas. Mesmo em relação a estas, nem sempre vemos de igual maneira. Napoleão terá dito, um dia, aos seus Homens: «Todos olham para onde eu olho e ninguém vê o que eu vejo».
Se Deus não fosse evidente como é que a Bíblia falaria de tantos encontros com Deus? Do que se trata é de uma evidência própria, especial, única.
Ele deixou-nos uns óculos para O podermos ver: os óculos da fé (ocula fidei). Quem quiser pode usá-los.
André Malraux terá dito que «o século XXI será religioso ou não será». Karl Rahner, por sua vez, avisou que «o cristianismo será místico ou não será nada».
Caso para (duplamente) perguntar: que tipo de religiosidade é a do nosso século?; estará o cristianismo a integrar devidamente a mística? O crescente interesse pelas religiões orientais não certificará uma insuficiente aposta na mística por parte das igrejas cristãs?
O conhecido teólogo Juan Martín Velasco acaba de se pronunciar, dizendo que «o cristão de hoje ou é místico ou, muito provavelmente, não poderá ser cristão».
Isto significa, segundo ele, que o cristianismo carece de uma reconfiguração: «Há um cristianismo que se vai derrubando à nossa vista»: o cristianismo de massas vai dando lugar a um cristianismo da pessoa.
Nesta nova forma de ser crente, a mística impõe-se não como um exclusivo de uns poucos eleitos, mas como a raiz da religião para todos. Neste sentido, a mística «não consiste necessariamente em levitações, visões ou estigmas, mas na experiência pessoal da fé». Isto não quer dizer que não possa haver «místicos mais elevados».
Em qualquer caso, a mística sobressai como uma necessidade, um imperativo, uma urgência: «À crise de Deus só se pode responder com a paixão por Deus». Na actualidade, o teólogo dá conta da existência «de uma notável sede de transcendência e de Deus até porque o Homem não se contenta com o que é».
Não é por as coisas serem difíceis que não temos ousadia. É por não termos ousadia que as coisas são difíceis.
Assim escreveu (acutilante e magnificamente) Séneca.
«A violência não se vence com a violência, mas com a mansidão».
Assim escreveu (magnificamente) S. João Crisóstomo.
A violência aparenta triunfar. Mas só a mansidão vence. Porque a violência reproduz-se, copia-se. Só a mansidão marca a diferença. Ela vai além das aparências. Sob a capa da derrota, ela consegue vencer. Não contra ninguém. Mas com todos.
Hoje, a violência é pluritentacular e hiperdolorosa: a violência física, a violência verbal, a violência emocional, a violência moral. A violência, hoje, tem o nome de agressão, de chantagem, de deslealdade, de ingratidão, de descortesia, sei lá.
Custa muito ser manso diante de um cenário destes. O problema é que violência em cima de violência não apaga a violência. Só a mansidão logra superá-la.
Não te importes de parecer ingénuo. Sê manso. Sempre manso.
Não há paz entre os homens sem paz em cada homem.
Não há paz em cada homem sem a paz de Deus.
Estar com Deus é estar em paz. A espiritualidade resgatará as religiões da tentação da violência e do envolvimento nas guerras.
A adoração incorpora paz!
Às vezes, pensamos que não é preciso falar de Deus. Basta falar da Bondade, da Verdade ou da Beleza.
Sem dúvida. A Bondade máxima é Deus, a Verdade suprema é Deus e a Beleza perfeita é Deus.
Mas, neste caso, porque é que não fazemos o caminho inverso? Se a Bondade, a Verdade e a Beleza são caminhos para Deus, é preciso ter presente que Deus é o caminho para a Bondade, para a Verdade e para a Beleza.
Não tenhamos medo de falar de Deus. Deus aponta para tudo. Falemos, então, de Deus com os lábios. Melhor ainda, falemos de Deus com a vida. Com a nossa vida.
Há pessoas preocupadas com um presumível excesso de oração. Respeito, mas começo por perguntar: poder-se-á falar de excesso em matéria de oração?
Tendo em conta o que vem de Deus para nós e o que vai de nós para Deus, até o mais desatento se apercebe da desproporção. Mesmo que rezássemos a vida toda, seria sempre pouco. Portanto, no que toca à oração, nunca se peca por excesso. Acresce que, na hora presente, se há algum problema neste domínio, não é de excesso; é de défice.
O maior teólogo do século XX, Karl Rahner, comparava a oração não à comida mas ao ar que respiramos. Estamos sempre a respirar...
Depois, diz a experiência que quanto mais se reza, mais vontade há de rezar. Inversamente, quanto menos se reza, menos vontade há de rezar.
Concretizando, para que o padre tenha hábitos de oração, é fundamental que o seminarista adquira hábitos de oração. Ou será que o caminho para rezar muito depois é rezar pouco agora? É rezando pouco que se ganha vontade de rezar muito? É não rezando que se ganha vontade de rezar?
Comparando, é não estudando que se ganha vontade de estudar? Não é pelo estudo que se avalia um aluno? Não é a ausência de estudo dos alunos que preocupa os professores? Neste sentido, não deverá ser a nula oração ou a reduzida oração que há-de preocupar os cristãos? Jesus deixou-nos o paradigma do máximo, não do mínimo.
Se alguma falha ainda temos, é na oração. É necessário, pois, colmatá-la. Na paz. No amor. Na abertura incessante. E na disponibilidade ilimitada.
A unidade é fundamental, mas a pluralidade também é necessária.
De dois partidos espera-se que haja duas propostas.
É nesta diversidade que se alavanca a matriz pluralista da democracia.
Pode haver convergência, é certo. Mas sempre a partir da diversidade.
Sucede que, para espanto de muitos, está a haver uma redundância entre os dois maiores partidos com evidente sobrecarga para os mais pobres.
Na questão das SCUT's, a diferença parece estar entre chip obrigatório e chip facultativo.
A situação do país é difícil, ninguém o nega. Mas não foi já por causa dessas dificuldades que aumentaram os impostos? Não é por causa dessas mesmas dificuldades que se fala em maiores aumentos ainda para o próximo ano?
E, depois, as pessoas inquietam-se. Quando os sacrifícios derem resultado (se derem), que benefícios palpáveis vamos ter?
É o povo que se sacrifica pelo Estado. Quando é que o Estado se sacrifica pelo povo?
Se o governo diz uma coisa, que a oposição diga uma coisa diferente.
Se não há alternativas nas políticas, o povo pode entender que não valerá a pena apostar em alternativas nos políticos.
Há muita gente a sofrer, a gemer, a chorar.
Dêem-nos um pouco de ânimo. Tirem-nos tudo. Mas não nos tirem a esperança.
A verdade não prescreve e há lições que não se apagam.
O Evangelho que ontem foi proclamado é um repositório interminável de ensinamentos eternos.
O modelo do crente não é o sacerdote. É um estrangeiro.
Próximo é, por estranho que pareça, o mais distante.
A proximidade não está no sangue, nem na vizinhança, nem nos quilómetros. Está no coração. Está na compaixão.
O samaritano soube responder à questão essencial: que fazer?
O doutor da lei só sabia responder à pergunta que lhe parecia importante: que saber?
Os que parecem mais distantes são, quase sempre, os que se tornam mais próximos.
Demorou a ganhar e até podia ter perdido.
A grande lição da Espanha foi não ter abdicado da sua identidade. Foi igual a si própria. Manteve o seu estilo.
Parabéns a quem persiste.
É fundamental que o fundamental resplandeça.
Deus tem de estar nos nossos lábios, no nosso coração, no nosso olhar, na nossa vida.
Há uma única via para chegar a Deus. Através do amor.
Há uma única via para chegar ao amor. Através de Deus.
Deus está sempre no amor. O amor está sempre em Deus.
Sem amor, não encontrarás Deus. Sem Deus, não encontrarás o amor.
Põe Deus no teu amor. Põe o teu amor em Deus.
E, a partir d'Ele, leva-o a todo o ser humano.
1. Poucas serão as coisas que nos têm transformado como a net.
Tão habituados estamos a ela que já mal nos lembramos de como era a nossa vida antes dela.
E, no entanto, não falta quem vaticine o seu fim. Ainda recentemente, Prince Rogers Nelson declarou ao jornal britânico Daily Mail que «a internet está completamente acabada».
É tal a panóplia de alterações que a net introduz que a saturação não podia ficar de lado.
Com efeito, tudo é diferente desde o aparecimento da net. Nem o acto de pensar lhe escapa.
Também aqui o consenso não é fácil. Nicholas Carr acha que estamos menos inteligentes. Já Don Tapscott entende que estamos a ficar cada vez mais inteligentes.
2. Estudando as implicações da net no cérebro, Nicholas Carr assinala que a nossa capacidade de concentração e de assimilação de informação está seriamente afectada.
A quantidade como que devora a qualidade. Muita coisa nos chega, mas muito pouca coisa retemos.
O paradigma que a net inaugura, segundo Carr, é o de um pensamento distraído.
Os nossos olhos estão voltados para um texto, mas dificilmente conseguem abstrair-se da parafernália de links que acabamos por abrir.
Eles são o suficiente para quebrar o raciocínio e para nos atirarem para os temas mais inúteis ou, então, para nos afogarem na angústia do saber do hipertexto.
O cérebro é modificado pela repetição ou pela negligência. A net não estimula, consabidamente, a capacidade reflexiva.
Não espanta, por isso, que a zona do cérebro ligada ao pensamento linear e crítico se encontre crescentemente desactivada.
Com a net, a nossa preocupação cimeira passou a ser armazenar informação.
3. Nos antípodas desta visão situa-se Don Tapscott, que considera infundadas muitas das críticas feitas à net.
Para ele, «os jovens são mais espertos do que nunca, o QI está ao nível mais alto de sempre».
Reconhece, no entanto, que há perigos que não podem ser ignorados como a dependência e a perda da privacidade.
Por exemplo, «há pessoas que nunca vão conseguir o emprego dos seus sonhos porque alguém os viu bêbados no facebook ou a dizer algo que não deviam».
As pessoas estão a disponibilizar demasiada informação nas redes sociais. Tal informação pode ser, muitas vezes, usada contra as próprias pessoas.
4. Não admira que, para o bem e para o mal, o acto intelectual esteja a mudar de feição.
O livro já não tem a centralidade que tinha. Os interesses também são diferentes.
Alberto Manguel entende que «estamos a destruir o valor do acto intelectual».
Não diria tanto. Mas que há uma mutação acelerada, disso não tenhamos a menor dúvida.
Como reconhece este escritor, hoje em dia, praticamente ninguém fica chocado quando assume passar o tempo entretido com jogos de vídeo ou a pesquisar assuntos de moda. Dantes, «tínhamos vergonha de dizer coisas dessas».
5. No fundo, estamos a assistir a uma mudança de perfil de cidadania.
De certa forma, já não somos cidadãos. Acima de tudo, tornamo-nos consumidores. «É essencial reflectirmos sobre isso porque estamos a perder uma liberdade que define a nossa condição humana».
O problema não está tanto na net, mas «na ilusão de possuirmos toda a informação que ela contém. Temos de saber procurá-la, saber se é fiável ou não, saber utilizar as informações que fazemos».
A apetência para ler um texto (seja um artigo seja um livro) até ao fim é muito reduzida.
6. Não podemos descrer, porém.
O gosto pela leitura continua presente. Há que, sem desligar da net, não perder de vista a importância do livro.
O conhecimento aprendido dos livros tem de ser revalorizado. Não pode ser visto como um anacronismo.
Tanta gente à prcoura de um prémio e ele nunca mais chega. E outros com o prémio à mão e dão-se ao luxo de recusar.
É o caso de Grigori Perelman. Mil milhões de dólares foram colocados à sua disposição. Mas ele, teimosamente (ou coerentemente?), não quer saber deles.
Não jogou em nenhuma lotaria. Cometeu apenas a proeza de resolver um dos mais complicados problemas de matemática: a conjectura de Poincaré.
Fez o que devia. Não quis mais nada.
Já em 2006 recusara receber uma medalha que lhe tinha sido atribuído.
Há quem tenha méritos e não tenha prémios...