O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Quarta-feira, 30 de Junho de 2010

1. Antes, os olhos do país estavam voltados para alguém de quem se esperavam golos: Cristiano Ronaldo.

 

Depois, o mesmo país rendeu-se diante de quem mais fez para os evitar: Eduardo.

 

Eis uma realidade e, ao mesmo tempo, um poderoso sinal.

 

Na vida, como no futebol, dá a impressão de que estamos à espera da derrocada.

 

Limitamo-nos a adiar o momento em que ela acontece. E acabam por ser os mais simples (os que não têm nome) a aguentar a barca na hora da tormenta.

 

No quotidiano do nosso país, tem sido o cidadão anónimo o mais sacrificado.

 

As figuras importantes, de quem se aguardava um rasgo, parece que se eclipsaram. Andam muito preocupadas consigo mesmas. Jogam pouco para o colectivo. Não é grande a semelhança com o futebol?

 

Daí que, diante da eliminação da selecção nacional no campeonato do mundo, seja imperativo extrair algumas ilações.

 

Seguem-se, pois, uns (breves) apontamentos a partir de um (grande) desapontamento.

 

 

2. Se repararmos bem, Portugal mostrou no estádio o que costuma mostrar fora do estádio.

 

Sabíamos que, na nossa selecção, havia muito talento. Mas notou-se, desde o princípio, que existia também muito medo. Dir-se-ia que estávamos perante um talento encolhido.

 

Sentia-se que se pensava mais nos obstáculos do que nas capacidades. Ora, isto tolhe o normal desenvolvimento de uma actividade.

 

Na África do Sul, Portugal ganhou o jogo que quis ganhar, empatou os jogos em que sobretudo não quis perder e acabou por perder o jogo em que não soube sequer empatar.

 

É certo que, com outra atitude, Portugal poderia obter igual ou até pior resultado.

 

Mas uma coisa é perder quando se faz tudo para ganhar. E outra coisa, bem diferente, é perder quando a única preocupação é impedir que os outros ganhem.

 

A Portugal, tirando a partida com a Coreia do Norte, faltou, quase sempre, alegria. A iniciativa era dada aos outros.

 

 

3. É claro que tivemos de defrontar a Espanha e o Brasil, equipas que tratam bem a bola, deslumbram o olhar e encantam as plateias.

 

Mas Portugal tem jogadores que ombreiam com os futebolistas destes países nas ligas mais exigentes do mundo.

 

A Espanha, por exemplo, perdeu o primeiro jogo, mas não abdicou do seu estilo.

 

Ao invés, Portugal ia alterando a táctica de jogo para jogo, parecendo uma equipa presa de movimentos e destituída de vivacidade.

 

A segurança defensiva é importante, sem dúvida. Mas, para isso, nada como tentar possuir a bola. Portugal tem jogadores exímios nessa arte.

 

A identidade da nossa equipa parece, assim, ter ficado de lado. Ora, quando se abdica da identidade, as coisas não saem bem.

 

 

4. Há equipas que vencem sem grande apetência pela posse da bola. Mas essa é a sua identidade, o seu código genético futebolístico.

 

O jogador português é ávido de bola, embora precise também de imprimir disciplina ao seu ímpeto.

 

Portugal esteve, pois, longe do êxito e distante de si. Esta é uma conclusão que não se circunscreve ao futebol.

 

O nosso país parece atravessado pelo receio e tolhido pelo desencanto.

 

Como é que queremos ganhar se não mostramos vontade de vencer? Como podemos ambicionar a excelência se não nos esforçamos por sair da mediocridade?

 

Não se vê alegria nos rostos e descortina-se muita ansiedade nos corações.

 

Também deixamos de ter iniciativa. Vamos cumprindo o que nos é imposto a partir de fora.

 

O medo de falhar é grande. Não admira, pois, que o falhanço acabe mesmo por vir.

 

O medo não é uma força estimulante, que nos faça transcender.

 

 

5. Olhemos para o que aconteceu na África do Sul. Não nos fiquemos pelos meandros das tácticas.

 

Afinal, a nossa (persistente) idiossincrasia ficou bem patente. O futebol retratou o nosso país.

 

Os outros não serão melhores. Mas mostram vontade de serem os primeiros.

 

Não desistamos, porém. A esta hora, os adeptos já pensam no euro-2012.

 

Que nós, cidadãos, pensemos no amanhã, no hoje, no agora.

 

Não nos resignemos.

publicado por Theosfera às 16:15

Sexta-feira, 25 de Junho de 2010

Não é muito frequente haver filósofos em Portugal.

 

Menos frequente ainda é haver filósofos em Portugal citados com admiração por grandes filósofos europeus, como Gaston Bachelard.

 

O estranho é que há (houve) um filósofo em Portugal de quem pouco ou nada se conhece, o que, em si mesmo, não deixa de ser uma atitude filosófica.

 

Pouco terá escrito e, se escreveu, tudo terá desaparecido.

 

Não morreu há muito. O seu passamento foi em 1950.

 

Lúcio Pinheiro dos Santos é um nome que poucos retêm. Mas quando, pelo mundo fora, se fala de ritmanálise, não falta quem o cite. 

publicado por Theosfera às 11:21

Dói-me a dor dos que procuram e não encontram. Dos que se cansaram de procurar. Dos que desistiram de encontrar.

 

Mas Alguém vai sempre ao teu encontro. Deixa-te encontrar.

publicado por Theosfera às 11:17

Já houve um tempo em que Portugal chegou ao Brasil quando, pelos vistos, o objectivo era chegar a outro sítio.

 

Hoje, novo encontro com o Brasil. O objectivo também é chegar a outro lado: à final do mundial.

 

Que seja um jogo alegre, fraterno.

publicado por Theosfera às 11:14

Quinta-feira, 24 de Junho de 2010
Hoje celebra-se o nascimento de um homem importante. De um homem gigante na humildade, inexcedível na dedicação, insuperável na simplicidade.
 
João Baptista é modelo de coragem, exemplo de integridade, paradigma de carácter irrepreensível e de uma vértebra inquebrantável.
 
Era-lhe fácil capitalizar a popularidade de que desfrutava. Difícil seria abdicar de si e apontar para alguém, vivendo em função da sua chegada.
 
Mas foi a opção que tomou e a escolha que fez.
 
O calculismo não fazia parte do seu temperamento.
 
As convicções ditaram as suas posições. Inclusive a última. A mais delicada. A que lhe valeu o martírio.
 
Mas nem diante da autoridade vacilou.
 
Que fomos nós ver ao deserto?
publicado por Theosfera às 10:47

É bom que haja contributos para superar a crise e aumentar a produtividade.

 

Não sei se a via administrativa será a melhor.

 

Voltou a discussão em torno dos feriados.

 

Há quem queira reduzir o seu número ou atenuar os seus efeitos, encostando-os ao fim-de-semana.

 

É que há feriados que se replicam. Se o feriado é à quinta, a sexta transforma-se num novo feriado em virtude da ponte.

 

O dia a seguir ao Natal, não sendo feriado, transformou-se num dia de descanso.

 

O Carnaval, não sendo feriado de jure, aparece como um feriado na prática.

 

E assim por diante.

 

O problema, convenhamos, é de mentalidade.

 

Se o feriado é à quinta, porque não trabalhar na sexta?

 

Depois, a dimensão simbólica é fundamental. Uma data deve ser respeitada.

 

E, acima de tudo, há que fazer esta pergunta.

 

Será que o nosso problema é o que não se produz nos feriados ou o que se deixa de produzir nos dias de trabalho?

publicado por Theosfera às 10:45

Estou cada vez mais persuadido de que a palavra-chave para o testemunho crente no mundo é diferença. Como estou também simetricamente convencido de que a tentação maior para a vida cristã é a diluição.

 

Jesus quer-nos no mundo. Mas não para nos diluirmos no mundo. No mundo sem dele ser, dizia Paul Valadier.

 

Há que corporizar, pois, a diferença cristã, procurando reproduzir sem cessar a experiência e o porte de Jesus: a Sua oração, a Sua disponibilidade, o Seu sacrifício, a Sua paz.

 

Estaremos dispostos a isso?

publicado por Theosfera às 10:31

Quarta-feira, 23 de Junho de 2010

Para a Igreja, Deus é o centro e o Homem é o caminho.

 

Não há sobreposição. Há implicação.

 

Pela caridade vê-se a espiritualidade.

 

Na espiritualidade prevê-se a caridade.

 

O cristão é um crente, um discípulo, uma testemunha, um orante.

 

Em conformidade, a relação com Deus tem de estar no centro da sua vida e o amor ao próximo há-de estar no coração do seu quotidiano.

 

Mas...será isso que vemos? O agir segue o ser (agere sequitur esse), mas, às vezes, parece que prevalece o contrário.

 

Voltemos, pois, à fonte, à oração, a Deus.

 

Tudo o resto virá por acréscimo.

publicado por Theosfera às 11:08

«O senhor não daria banho a um leproso nem por um milhão de dólares? Eu também não. Só por amor se pode dar banho a um leproso».

 Assim escreveu (notável e magnificamente) Madre Teresa de Calcutá.

publicado por Theosfera às 11:04

Terça-feira, 22 de Junho de 2010

Em Viagem a Portugal, José Saramago exarou que Lamego é «uma cidade-vila, calma, sossegada, com gente suave, agradável no falar, solícita». Foi tão grande a hospitalidade que até um bêbado o convidou para ficar em sua casa!

 

Olhando para o santuário de Nossa Senhora dos Remédios, confidenciou: «No peregrino palpita a ânsia de, ao cabo daquela longa escadaria, encontrar a promessa da salvação, ou a esperança».

publicado por Theosfera às 11:28

A crise, hoje, não é de opinião; é de orientação. Até Hans Küng o reconhece.

 

Não sofremos, actualmente, de défice de opinião. Se há algum défice é de orientação.

 

Para um crente, há uma questão hermenêutica que não pode ser jamais negligenciada.

 

É aceitável que tenha uma abarcagem das opiniões que, acerca dos mais diversos temas, se vão expendendo.

 

O fundamental, porém, é que saiba distinguir opinião de orientação e que, na aferição das suas posições, procure ter em conta o que dimana de quem tem a missão de conduzir, orientar.

 

Ter em conta uma opinião é uma coisa, estimável. Outra coisa, bem diferente, é colocar a opinião no mesmo patamar da orientação. No limite, isto conduz à dissolução, à atomização.

 

Qualquer membro da Igreja não perderá de vista o elementar: a opinião é para discutir; a orientação é para seguir.

 

Não repugna, aliás. O Mestre não é para seguir? E, hoje, o Mestre onde está? Na Sua Igreja, obviamente.

publicado por Theosfera às 11:15

É muito preocupante quando são os próprios alunos a dizer que os exames são demasiado fáceis.

 

Há até quem atinja o paroxismo da desqualificação ao classificar determinado exame como uma chachada.

 

A ser verdade, parte-se do princípio de que os alunos não são capazes de mais. Ou seja, nivela-se o saber por baixo, pelo mínimo.

 

E se, mesmo assim, o brilho está longe de ser alcançado, é caso para reflectir e, obviamente, para inflectir.

 

Depois, há quem se admire de que, nos exames para uma ordem profissional, a taxa de insucesso tenha atingido os 90%.

 

Quem não previne a montante, arrisca-se a sofrer a jusante.

 

Há toda uma cultura do facilitismo e da mediocridade que só serve para a estatística.

 

O facilitismo parte do pressuposto de que as pessoas não são capazes de mais.

 

Ora, isso não é verdade. Como dizem os filósofos, viver é ultrapassar-se.

 

Não retirem às pessoas a capacidade de mostrar o que valem.

 

 

publicado por Theosfera às 11:06

Segunda-feira, 21 de Junho de 2010

A realidade é o que é, mas pode ser transformada.

 

Aliás, a história está cheia de momentos em que, contra todas as previsões, a realidade foi transformada.

 

Porquê? Porque apareceram líderes que, ao arrepio de todas as expectativas, viram longe e diferente.

 

Foram visionários, incompreendidos, mas venceram.

 

Quando a Alemanha invadiu a França, o regime capitulou. A realidade parecia irreversível. Foi então que apareceu um homem que fez um apelo.

 

À partida, não era para ser levado a sério. A realidade parecia muito mais forte, inclemente.

 

Mas foi graças a de Gaulle que a França foi libertada.

 

Hoje em dia, temos uma geração de políticos muito dominada (quase aterrorizada) pela realidade. É a realidade que está a moldar os políticos.

 

Precisamos de políticos que moldem a realidade. Que ajudem a transformá-la.

 

Uma nota de rodapé. Concorde-se ou não com ele, é espantosa a forma em que se encontra o Dr. Mário Soares. Com 85 anos, é formidável a sua forma intelectual e o optimismo sustentado que alardeia.

 

De resto, o Prós e Contras desta noite foi um exercício notável de lucidez e cidadania. Além de Mário Soares, que brilhou a grande altura, também estiveram muito bem o Eng. Ângelo Correia, o Dr. António Vitorino e o Prof. Boaventura Sousa Santos.

 

Assim, vale a pena estar atento ao pequeno ecrã.

publicado por Theosfera às 23:45

É certo que a vida não piorou após o empate com a Costa do Marfim nem tão-pouco melhorou com a goleada desta tarde.

 

O certo, porém, é que as pessoas exibem um ar feliz, que ressuma contentamento.

 

É este o sortilégio do futebol.

 

Desta vez, há que reconhecer que Portugal aliou a eficácia ao brilho. Compôs uma partitura onde fez abundar eflúvios de génio.

 

O que se viu foi um regalo. Mas mantenhamos a serenidade.

 

Ainda nada foi ganho. E a vida é muito mais que as peripécias ambulantes de uma bola.

publicado por Theosfera às 16:07

Há um povo inteiro à espera que uma bola entre na baliza.

 

A boa disposição parece dependente das flutuações de um objecto redondo.

 

Força, Portugal!

publicado por Theosfera às 11:55

Não são muito animadoras as notícias da economia. E, nestas alturas, o caminho costuma ser mais austeridade ainda.

 

É provável que não haja alternativas.

 

Penso, porém, na distinção de Pascal entre o espírito de geometria e aquilo que ele denominava espírito de finesse.

 

Aquele é mais raciocínio, lógica. Este é sobretudo intuição.

 

Não haverá por aí uma nesga de intuição?

 

Diminuir a despesa é um caminho. Mas, já agora, que seja para todos.

 

Não será possível estimular o crescimento?

 

O crescimento provoca investimento. O investimento gera riqueza. A riqueza fará frente à despesa.

 

Apareça alguém que nos estimule.

publicado por Theosfera às 11:49

Porquê esta tendência, tantas vezes incoercível, para imitar a natureza?

 

A natureza desencadeia dores no corpo. Mas há atitudes que provocam feridas na alma.

 

Estas são muito difíceis de cicatrizar.

 

Mas haverá sempre uma luz mesmo quando as nuvens escurecem.

 

Paz.

publicado por Theosfera às 11:46

Porque a Igreja é sempre a mesma, tem de estar sempre em mudança. Bruno Forte foi dos que melhor percebeu este paradoxo estrutural, identitário, mobilizador. 

 

A identidade da Igreja, como insistentemente ele tem alertado, é trinitária. Ela é o e o ainda não da Igreja, «o passado fontal e o futuro prometido».

 

É por isso que, prossegue o teólogo napolitano, «a Igreja está sempre em devir sem estacionar nunca; ela é semper reformanda, necessitada de contínua purificação e de perene renovação, na força do Espírito que actua nela para que cheguem ao cumprimento as promessas de Deus».

publicado por Theosfera às 11:45

Domingo, 20 de Junho de 2010

Se não puderes fazer mais nada, se estiveres abatido e perturbado, fecha os olhos.

 

Não penses em dizer nada. Não penses no tempo, não penses nas actividades. Fica. Serena. Deixa fluir o silêncio. Os olhos do rosto estão fechados, os olhos do coração mantêm-se abertos.

 

Então, verás que alguém te habita. Que alguém povoa o teu pranto, a tua dor, a tua mágoa, o teu medo.

 

Deus nunca te abandona. Não Lhe digas nada. Nada. Ele sabe tudo. Chora nos Seus ombros. Ele sorri na tua alma. Ele ama-te como és. Como és.

publicado por Theosfera às 19:24

Não haverá possibilidade de um encontro entre um crente e um ateu?

 

Sucede que a chave é mesmo essa, o encontro ou, melhor, a disponibilidade para o encontro.

 

O irmão ateu pode desafiar o crente para provar que Deus existe e o crente pode devolver o desafio, convidando o ateu a provar que Deus inexiste.

 

Temos de convir que o conceito de prova não é o mesmo. A prova é uma espécie de presença, de patentização.

 

Se formos a S. Tomás, verificamos que ele vê Deus no mundo, no Homem, na vida. Um irmão ateu afirma que não vê.

 

Eu confesso que estou sempre a provar Deus, a senti-Lo, a encontrá-Lo. Encontro-O no mundo, no Homem, na vida e, maximamente, na revelação cujo ponto culminante é Jesus Cristo.

 

Quando um irmão ateu diz que Deus não existe, eu entendo que ele não O encontra. Respeito isso. Mas do não encontro à não existência vai um grande passo.

 

Um ateu pode alegar que o crente está enganado. O crente pode redarguir afirmando que o ateu está equivocado.

 

O crente é pró-activo. O ateu é reactivo. Assume-se em função do que nega. Como empreender no encontro? Através da escuta mútua.

 

Não sou anti-ateu. Tenho a certeza de que o irmão ateu também não é anti-fé. É um mínimo que podemos optimizar.

publicado por Theosfera às 19:21

Sábado, 19 de Junho de 2010

1. Não se pense que Deus só está presente na vida daqueles que O confessam. Ele está também — e bastante — no coração dos que O negam.

 

Entre a fé e o ateísmo, há uma simetria na experiência e, ao mesmo tempo, uma assimetria na direcção que ela acaba por tomar.

 

É por isso que Miguel Torga bem pode servir de fonte de inspiração para sintetizar a trajectória (a)teologal de José Saramago: «Deus. O pesadelo dos meus dias. Tive sempre a coragem de O negar, mas nunca a força de O esquecer».

 

Saramago nunca esqueceu Deus. Mesmo (sobretudo?) quando se assumiu como ateu.

 

E o certo é que foi dos escritores que, nos últimos tempos, mais concorreram para a permanência da questão de Deus como questão central na literatura e, mais vastamente, na vida pública.

 

Acerca de Deus, como alertou Xavier Zubiri, o mais difícil não é descobri-Lo; é encobri-Lo.

 

Se quisesse encobrir Deus, o ateu — sublinha Karl Rahner — «não só teria de esperar que essa palavra desaparecesse por completo, mas também deveria contribuir para esse desaparecimento, guardando completo silêncio, abstendo-se inclusive de se declarar ateu».

 

 

2. No fundo, José Saramago não deixava de ser crente. Acreditava que Deus não existe. Poderá alguém garantir mais do que isto?

 

A crença não é um exclusivo da atitude teísta. Ela abrange também (e bastante) a posição ateísta.

 

André Comte-Sponville, que se considera ateu, assegura que o ateu só pode dizer que acredita que Deus não existe.

 

É que, como nota Hans Küng, «se todas as objecções dos ateus tornam questionável a existência de Deus, não chegam, contudo, a tornar inquestionável a Sua não-existência».

 

Xavier Zubiri assinalava que a relação com Deus pode fazer-se pela via da afirmação, pela via da negação e até pela via da indiferença.

 

Nesta diversidade, os pontos de contacto não escasseiam. Miguel de Unamuno percebeu isto muito bem quando rubricou a célebre frase: «Nada nos une tanto como as nossas discordâncias».

 

A indiferença não foi, seguramente, a via seguida por José Saramago.

 

Deus nunca lhe foi indiferente. Pelo contrário, manteve com Ele uma relação intensa, embora tumultuosa.

 

 

3. Para Saramago, o Homem relativamente a Deus é como o murmúrio de uma ausência: «Deus é o silêncio do universo e o ser humano o grito que dá sentido a esse silêncio».

 

Nos Cadernos de Lanzarote, chegou a escrever que «a existência do Homem é o que prova a inexistência de Deus».

 

Mas não há tantos que fazem exactamente a prova do contrário? Não são tantos os que encontram no Homem a maior epifania de Deus?

 

No passado, Gregório de Nissa falava do Homem como «pequeno Deus» e, mais perto de nós, Xavier Zubiri, apontava o ser humano como «maneira finita de ser Deus».

 

Aqui, prova funciona não como evidência, mas como percepção.

 

A discussão jamais estará concluída. Como refere Philippe van den Bosch, «não há qualquer prova racional da inexistência de Deus. Não há senão convicções individuais e pressupostos».

 

 

4. O que há a destacar é a persistência da procura e a insatisfação do encontro que, por sua vez, desencadeia uma nova procura.

 

Nesta inquietação não laboram apenas os que negam. É conhecido o convite de Santo Agostinho: «Procuremos como quem há-de encontrar e encontremos como quem há-de voltar a procurar».

 

O ateu é alguém que não descansa na procura. É inquieto e inquietante. As suas interpelações não anulam a fé. Espevitam-na e ajudam ao seu aprofundamento.

 

Até o ateu mostra que Deus é uma questão humana. Deve  ser também uma questão humanizante, fraternizante.

 

Nem sempre é o isso o que se vê. Deus é vítima de tantas imagens desfocadas e de tantos discursos distorcidos.

 

Em qualquer caso, Ele está em todos. Nos que dizem acreditar. E nos que, não dizendo, acabam por não estar longe d’Ele!

publicado por Theosfera às 19:36

Sexta-feira, 18 de Junho de 2010

Um escritor é, quase sempre, visto como um émulo para outro escritor. Mas Miguel Torga bem pode servir de fonte de inspiração para qualificar a trajectória (a)teologal de José Saramago: «Deus. O pesadelo dos meus dias. Tive sempre a coragem de O negar, mas nunca a força de O esquecer».

 

Saramago sempre se assumiu como ateu. No fundo, não deixava de ser crente. Acreditava que Deus não existe. Mas, a seu modo, mantinha uma relação intensa, embora tumultuosa, com o divino.

 

A crença não é um exclusivo da atitude teísta. Ela abrange também (e bastante) a posição ateísta. Mas, apesar de tudo, há pontos de contacto.

 

Zubiri tematizou, abundante e magistralmente, esta questão. A relação com Deus pode fazer-se pela via da afirmação, pela via da negação e até pela via da indiferença.

 

E, nesta diversidade, os pontos de contacto não escasseiam. Miguel de Unamuno percebeu isto muito bem quando rubricou a célebre frase: «Nada nos une tanto como as nossas discordâncias».

 

Dava para ver que o ateísmo de Saramago era particularmente reactivo e assaz virulento. Notava-se que o problema era sobretudo com a Igreja. Deus era, portanto, a vítima das imagens desfocadas e dos discursos obscuros de muitos crentes.

 

Mas já o Vaticano II responsabiliza a debilidade do testemunho e muitos crentes como um dos factores que mais contribui para o alastramento do ateísmo.

 

Por vezes, penso que o ateísmo é o irmão gémeo, embora desavindo, da fé.

 

À superfície. nada os aproxima. Mas, na profundidade, há muito que os vincula.

 

 Deus é, sem dúvida, a questão mais humana. Deve ser também a mais humanizante.

 

Na morte de José Saramago, curvo-me perante a sua memória e a sua obra. Não me revejo em tudo. Mas reconheço um grande fidelidade aos valores que sempre professou.

 

  

publicado por Theosfera às 16:24

Ao longo do tempo, vamos encontrando os lesemeister e os lebemeister. Os primeiros são os que ensinam com os livros, os segundos são os que ensinam com a vida.

 

Vendo bem, os melhores lesemeister são sempre os lebemeister. A vida tem de estar reflectida, espelhada nos livros. A vida é o melhor livro, aliás.

 

No plano teológico, isto adquire uma acuidade insuperável. Para saber é necessário saborear. Só pode falar de Deus quem se habitua a experimentar Deus. Por isso, o místico será o melhor teólogo. Henri de Lubac assim o percebeu e verteu: «Sem mística, o especialista do mistério será teórico de Deus, mas não verdadeiro teólogo».

 

Aliás, até noutros planos ocorre algo similar. Para Johannnes Baptist Metz, «a perfeita filosofia é a que relaciona a especulação com o afecto, a doxografia e a doxologia com a biografia, a dogmática com a mística».

publicado por Theosfera às 11:02

Quinta-feira, 17 de Junho de 2010

Começou por perder os trabalhadores, depois perdeu os intelectuais, a seguir os jovens. Irá perder Deus?

 

Se a pergunta pode parecer disparatada, há respostas que se afiguram arrasadoras.

 

A Igreja nunca perderá Deus, mas algumas atitudes (discursos, posições, acções e omissões, missões e sobretudo demissões) indiciam um certo afastamento da prioridade de Deus.

 

E, o que é mais grave, as pessoas apercebem-se!

 

Não descarto que esta seja uma leitura simplificada e algo tremendista da trajectória da Igreja nos últimos decénios, mas, como sabemos, há quem não se iniba de a fazer.

 

Como é óbvio e não obstante todas as dificuldades, há muitos trabalhadores na Igreja, bastantes intelectuais na Igreja e abundantes jovens na Igreja. Não participam sempre. Mas aparecem com frequência.

 

E, como não podia deixar de ser, Deus acompanha a Igreja.

 

Subsistem, porém, algumas interrogações. Porque é que as pessoas não aparecem mais? Porque é que os baptizados não participam sempre? Porque é que as seitas prosperam?

 

Não será porque deixamos de mostrar Deus, de falar de Deus, de testemunhar Deus, de apontar para Deus?

 

Não será que, muitas vezes, passamos o tempo volvidos sobre o acessório, sobre nós mesmos, sobre a instituição? Sucede que a própria instituição só faz sentido se aproximar (e não afastar) de Deus.

 

Já Ruiz de la Peña advertia que a Igreja deste milénio tinha de ser «orante e confessante», totalmente mergulhada no mistério de Deus. De resto, quando nos afastamos de Deus também não nos aproximamos do Homem.

 

Uma Igreja que não fale de Deus, que não incentive a falar com Deus, que não fale a partir de Deus será Igreja? Mas não estaremos, amiúde, a incorrer nesse perigo e a ceder a essa tentação?

publicado por Theosfera às 21:13

Quarta-feira, 16 de Junho de 2010

1. Está mais que provado que a história do mundo não se decide somente segundo os grandes acontecimentos. Ela depende também — e bastante — dos pequenos gestos.

 

São as atitudes que melhor definem os seres humanos. Ou não fosse a palavra da vida muito mais eloquente que a palavra dos lábios.

 

Daí que seja importante prestar atenção não apenas ao que aparece nas aberturas dos telejornais ou nas parangonas da imprensa.

 

É cada vez mais urgente atender ao que se passa na rua. Aliás, o que a comunicação social veicula não faz mais do que replicar o que se passa no coração do homem.

 

Neste capítulo, tenho para mim que a humanidade mudou mais nos últimos vinte anos do que nos anteriores duzentos.

 

 

2. Os comportamentos seguem um padrão diferente.

 

Podemos dizer que as grandes pautas, pegando na primeira grande trilogia de Gilles Lipotvetsky, configuram uma situação marcada pelo império do efémero, pelo crepúsculo do dever e pela era do vazio.

 

Não admira, pois, que o interesse desponte como o grande filão. Porventura, sempre terá sido assim. Mas é indiscutível que hoje, esta pulsão se torna muito mais notória.

 

As pessoas tendem a posicionar-se, no mais leve diálogo ou na maior discussão, em função do que pensam oferecer-lhes o mais elevado proveito.

 

Ouvem-se, hoje em dia, expressões repetidas com grande descontracção que, em tempos, nos fariam arrepiar por dentro e ruborizar por fora.

 

Há quem assuma em privado (ou em pequenos grupos) pensar uma coisa e exprimir outra coisa em público. Como é possível ferir a consciência?

 

É certo que há momentos em que nem tudo pode ser verbalizado. Penso, por exemplo, na comunicação de uma doença mortal.

 

Só que uma coisa são as excepções e outra coisa, muito diferente, é a regra.

 

 

3. Como é que se pode votar contra a consciência? Como é que se pode falar contra a consciência? Como é que, no fundo, se pode viver contra a consciência?

 

A consciência, disse o Concílio Vaticano II, é uma espécie de santuário. Trata-se de um santuário secreto onde o homem se encontra com Deus.

 

Em finais dos anos 60 do século passado, o então teólogo Joseph Ratzinger defendeu que seguir sempre a consciência deve estar acima de tudo. Até do próprio papa!

 

A consciência tem de ser, por isso, inviolável. Mas há que ter atenção à formação da consciência.

 

Pela sua própria natureza (conhecer com), a consciência tem muito que ver com as nossas circunstâncias.

 

Temos de ter em conta que os actos mais vis são, muitas vezes, cometidos em nome da consciência. Há quem confunda o primado da consciência com o absoluto do eu.

 

A educação tem de começar, por isso, por ser educação da consciência.

 

 

4. Uma coisa, porém, é certa: mais do que apostar na lei é fundamental investir na formação da consciência.

 

Esta tem de estar habitada, antes de mais e acima de tudo, pela verdade e pela bondade.

 

É por isso que trair a consciência é não apenas ferir a relação com o próximo. É também atentar contra a própria a identidade.

 

Jesus nunca foi tão contundente como quando verberou a falsidade.

 

Como assinala Albert Nolan, «não havia nada que desagradasse mais a Jesus do que a hipocrisia. Jesus era verdadeiro, honesto, sincero e completamente transparente. O Seu olhar era límpido e conseguia detectar as mentiras e a falsidade do mundo que O rodeava».

 

É neste sentido que Jesus corporiza a experiência de alguém totalmente livre.

 

Obedecendo à voz da consciência, estamos a alicerçar a nossa liberdade.

 

Percebe-se, a esta luz, que Mahatma Gandhi tenha avisado: «Perderei a minha utilidade no dia em que abafar a voz da consciência em mim».

 

E entende-se também a sábia recomendação de Aristóteles: «Sê senhor da tua vontade e escravo da tua consciência».

 

Até porque quem aceita ser escravo da consciência descobre o fundamento da autêntica liberdade.

 

Haverá liberdade contra a voz da consciência?

publicado por Theosfera às 23:05

«Suportar é mais difícil que atacar».

 

Assim escreveu (magnificamente) S. Tomás de Aquino.

 

Por isso é que, como defendia o bom Papa João, o remédio da misericórdia é mais necessário que o da severidade.

 

Será que a severidade alguma vez é remédio?

 

Onde há violência não há competência.

 

Quem recorre à razão da força é porque não encontra força na razão.

 

A força da verdade não é exógena; é endógena. Mora nela mesma.

 

Sê pacífico.

publicado por Theosfera às 10:35

Terça-feira, 15 de Junho de 2010

A cada dia que passa mais pertinência atribuo ao que escreveu Alexandre Pronzato em Apetece-me rezar e que, no meu tempo de seminarista, anotei em ficha: «Quem é facilmente encontrado por Deus responde pontualmente aos apelos dos homens».

 

Nunca tive dúvidas. Hoje tenho uma certeza indestrutível.

 

Deus desinstala-nos. Deus atira-nos para fora. Ao encontro do nosso irmão.

publicado por Theosfera às 11:49

Segunda-feira, 14 de Junho de 2010

Daria tudo para que toda a gente fosse feliz,

para que todos os rostos sorrissem,

para que todos os olhos brilhassem,

para que todas as mãos se dessem,

para que todas as vozes se unissem.

 

Daria tudo.

 

Quero dar-me todo.

 

Que maior louvor a Deus do que ver um ser humano feliz?

publicado por Theosfera às 10:28

A acção pastoral tem de ter em conta um cada vez maior número de factores. A muitos deles não estávamos habituados. Mas é impossível não os incluir na reflexão e na missão.

 

Hoje em dia, assistimos à deslugarização das pessoas e à despersonalização dos lugares.

As pessoas não têm lugar único: vivem num lado, trabalham noutro e é possível que passem o fim-de-semana num terceiro. Qual é a sua paróquia de referência? A quem pertencem?

 

Pode acontecer que procurem uns serviços num local e outros serviços noutro. Danièle Hervieu-Léger fala do crente como peregrino. É um elemento que não podemos esquecer.

 

O próprio conceito de comunidade eclesial já não assenta apenas (nem, quiçá, primordialmente) no território. As pessoas integram outros critérios. Nem sempre os mais consonantes com a Teologia, mas de qualquer modo são critérios que não podemos deixar de equacionar.

 

Acresce outro aspecto, que invade também a Igreja: a despersonalização dos lugares. Em dois sentidos. Há lugares com cada vez menos pessoas. E há lugares (inclusive os que têm muitas pessoas) onde os relacionamentos tendem a ser cada vez mais despersonalizados.

 

Há uma abordagem muito funcional e, por vezes, excessivamente burocratizada. Urge, por isso, colocar o enfoque na pessoa. Venha donde vier, tem de ser atendida. Pelo facto de ser pessoa.  

publicado por Theosfera às 10:26

Sábado, 12 de Junho de 2010

«Uma pessoa com convicção tem tanta força como 99 outras pessoas que apenas possuam interesses».

 

Nem sempre isto é devidamente reconhecido. Ainda bem que John Stuart Mill o reconhece e assinala.

 

Muitas vezes, tendemos a analisar as posições pelo acessório. Pelo volume da voz ou pela mera representação. Esquecemos o valor (ou a ausência dele) do que é dito ou escrito: o seu conteúdo, a sua fundamentação, a sua qualidade.

 

É bom não esquecer que Jesus esteve sozinho diante do tribunal e da multidão. Uns clamaram pela Sua condenação. Outros decidiram a Sua morte. Quem não recuaria?

 

Prevaleceu, porém, a Sua convicção, inabalável.

 

Tantas mudanças na humanidade houve que fermentaram na convicção de uma única pessoa: Buda, Sócrates, Galileu.

 

Não desprezemos a pessoa. A melhor maneira de valorizar uma comunidade é reconhecer o valor das pessoas.

publicado por Theosfera às 13:04

Sexta-feira, 11 de Junho de 2010

Como assinalou Hans Küng, «todas as provas dos ateus mais eminentes chegam para tornar questionável a existência de Deus, mas não chegam para tornar inquestionável a não-existência de Deus».

 

Para van den Bosch, «não existe qualquer prova racional da inexistência de Deus. Não há senão convicções individuais e pressupostos. As ciências modernas não provam, em caso algum, que Deus não existe. Elas tentam explicar o mundo material de um modo puramente mecanicista, sem recorrerem à hipótese de um espírito criador inteligente, e postulam simplesmente que chegarão lá um dia, quando a ciência for acabada. O facto de conseguirem explicar certos fenómenos naturais, que se atribuíam outrora à intervenção divina, não constitui uma prova da sua inexistência, como puderam crer certos espíritos superficiais. Que o corpo do homem descenda de um antepassado do macaco e que não tenha sido directamente modelado por Deus não prova que o universo inteiro não tenha sido criado por um espírito, quer dizer, por Deus. Em geral, os ateus recusam a crença em Deus, como se fosse uma superstição primitiva e infantil. Mas as motivações psicológicas de uma crença nada provam contra a sua verdade. Eu posso acreditar devido a razões erradas e, no entanto, não me enganar».

publicado por Theosfera às 11:08

Quinta-feira, 10 de Junho de 2010

1. Entre a crise que não nos larga e o futebol que não nos deixa, mais um feriado. Mais um feriado num país ferido.

 

Bem recebido por um povo cansado e com a alma dorida, ele serve, acima de tudo, para repousar.

 

O habitual, nestas alturas, é o deserto invadir as ruas e o tédio avassalar os espíritos.

 

E, no entanto, o 10 de Junho não é só um feriado para nós. É também um feriado sobre nós, sobre Portugal.

 

Tirando as cerimónias e discursos oficiais, além de mais um estendal de condecorações, que vestígios há de uma paragem para reflectir?

 

No limite, cada um vai meditando sobre si e sobre os seus. Os problemas de cada um já são suficientemente aflitivos. Pouco — ou nenhum — espaço sobra, assim, para a comunidade.

 

 

2. Somos um país pequeno, mas que, mesmo assim, não cabe em si.

 

 Conseguimos dar novos mundos ao mundo e, apesar disso, não resolvemos os problemas que asfixiam o nosso viver colectivo.

 

Temos passado, mas parece que não temos memória. Guardamos a história, mas não aparentamos ter muita vontade de continuar a fazer história.

 

 A síntese angustiada de Pessoa mantém-se pertinente: «Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez. Falta cumprir-se Portugal».

 

Hoje, voltam a dizer-nos que somos um país adiado, mas, nesse caso, já o somos há muitos séculos.

 

 

3. Não somos perfeitos. Às vezes, até nos mostramos contrafeitos.

 

Temos defeitos. Eis o nosso drama, eis também a nossa sorte. Se não fossem os nossos defeitos, o que nos motivaria? Se tudo já estivesse feito (e bem feito), que futuro nos restaria?

 

Houve algum momento em que Portugal não esteve em crise? Em que altura não se disse que vinham aí tempos difíceis?

 

 A tudo temos sobrevivido. Temos sobrevivido à realidade, cruel. E temos sobrevivido aos diagnósticos, nada estimulantes.

 

 Somos, enfim e como afirmava o Padre Manuel Antunes, uma excepção.

 

 Constituímos um paradoxo vivo. Somos «um povo místico mas pouco metafísico; povo lírico mas pouco gregário; povo activo mas pouco organizado; povo empírico mas pouco pragmático; povo de surpresas mas que suporta mal as continuidades, principalmente quando duras; povo tradicional mas extraordinariamente poroso às influências alheias».

 

 

4. Seja como for, continuamos a sentir Portugal, a fazer Portugal e, não raramente, a chorar Portugal.

 

 Tantas vezes, são essas lágrimas que nos identificam e pacificam. Aquilo que soa a desespero acaba por saber a esperança.

 

 Apesar das tardes sofridas, acreditamos sempre que uma manhã radiosa voltará a sorrir.

 

É por isso que nunca desistimos de nós. É por isso que, não obstante as nuvens, há sempre um Portugal a brilhar em milhões de corações espalhados pelo mundo!

publicado por Theosfera às 10:42

A superfície dá um tipo de resposta. A profundidade oferece outro.

 

Quem é mais ateu? O descrente que se assume? Ou o crente que se presume?

 

Não será que o ateísmo dos ateus, no fundo, é mais uma denúncia de muitos crentes em Deus do que uma negação do Deus dos crentes?

 

Quando se contesta a presença pública da fé será que há um incómodo perante Deus ou um desencanto diante do contra-testemunho dos crentes?

 

E, desse modo, não poderá ser o ateísmo uma busca de autenticidade? Não poderão estar, portanto, muitos ateus mais próximos de Deus?

 

Não serão as suas perguntas mais consistentes que as nossas respostas?

 

Quantos serão os crentes que se alojam no coração de quem se diz ateu?

 

E quantos serão os ateus que se escondem no íntimo de quem se diz crente?

 

Admiro os primeiros. Temo os segundos.

publicado por Theosfera às 10:39

Quarta-feira, 09 de Junho de 2010

Tão grave como ir pelo caminho errado é não saber por onde se vai.

 

O não caminho também é descaminho.

 

Há tanta gente à procura de um sentido, de horizontes.

 

Apontem-nos, por favor!

 

Na escola, colhemos apontamentos.

 

Na vida, vamos coleccionando...desapontamentos.

 

Uma bússola, porém, nunca engana: Deus!

publicado por Theosfera às 11:17

Terça-feira, 08 de Junho de 2010

É difícil não pensar, mas é importante não ficar tolhido com o pensamento.

 

Por vezes, podemos considerar que não vale a pena tomar determinada decisão ou dizer determinada frase porque não vai ter resultado. E o certo é que pode nem ter eficácia.

 

Mas a eficácia não é o único (nem principal) critério na vida.

 

Aprendi sempre com Edmund Burke que «ninguém comete maior erro do que aquele que nada fez só porque podia fazer muito pouco».

 

As grandes mudanças são aquelas que são desencadeadas perante evidências em sentido contrário.

 

Importa, pois, não desistir de acreditar. Jamais.

publicado por Theosfera às 10:59

Acabo de chegar de casa dos pais de Carina Ferreira. É um lar mergulhado em pranto e afogado em dor. É difícil encontrar palavras que sirvam de conforto ou funcionem como lenitivo. A dor é muito mais forte, cruel. A minha solidariedade e a minha prece. Curvemo-nos perante a memória da jovem falecida. Façamos silêncio. E deixemos que  as autoridades prossigam o seu trabalho.

publicado por Theosfera às 00:08

Segunda-feira, 07 de Junho de 2010

«Por vezes, encontramo-nos com o nosso destino no caminho que escolhemos para o evitar».

Assim escreveu (pertinente e magnificamente) Alguém. Via Diálogo Interior.

publicado por Theosfera às 19:34

 

1. Aí está mais um campeonato do mundo para confirmar o que, desde sempre, se suspeitava e o que, desde há muito, se sabia: o futebol é bastante mais que um desporto.

 

Ele tornou-se também um fenómeno mediático de dimensões singulares e uma actividade económica de proporções únicas.

 

Não deixa, com efeito, de ser sintomático ver como é que, numa altura de crise, a humanidade consegue desligar dos problemas para se concentrar nas vicissitudes de uma bola conduzida por vinte e dois homens.

 

E é poderosamente significativo verificar as somas vultuosas de dinheiro que, mesmo no epicentro da supracitada crise, continuam a ser movimentadas à volta deste fenómeno.

 

 

2. Há, sem dúvida, uma necessidade infrene de escapar, nem que seja por uns dias, à dureza da realidade. Impressiona vivamente a identificação das populações com uma realização que, à partida, é meramente lúdica.

 

O real esmaga-nos com a sua crueza. O futebol não nos dá pão, mas vai oferecendo (quando oferece) contentamento, exultação e farta vivacidade.

 

Em poucas ocasiões os sentimentos se soltam como no futebol: a alegria, a tristeza, a proximidade, a violência, o patriotismo.

 

A bem dizer, a terra tem semelhanças com a bola e, pelos vistos, é a bola que mais a faz movimentar.

 

Há uma espécie de relação simbiótica que ilustra este impacto planetário do futebol. Não é a terra tão redonda como a bola e não é a bola tão redonda como a terra? 

 

3. O futebol faz-nos lembrar e faz-nos também esquecer. Até parece que o nosso compromisso com a causa da justiça desaparece às portas do futebol.

 

Sofremos com a vida, mas pouco nos incomodam os milhões que serpenteiam no futebol.

 

Até os mais pobres exultam com o investimento que os seus clubes fazem no plantel. Desde que as vitórias venham, todos os sacrifícios são bem-vindos e todas as somas acabam por ser vitoriadas.

 

Não espanta, assim, que o futebol seja muito mais que um desporto.

 

Há quem faça dele uma ciência e apresente as tácticas e as jogadas como algo acabado de sair de um laboratório ou de uma sebenta.

 

Também não falta quem o patenteie emoldurado em belas peças de literatura.

 

E, claro, abunda igualmente quem o transfigure numa acção bélica como se de uma guerra se tratasse.

 

Desde logo, a linguagem eleva o futebol ao patamar de uma questão de vida ou de morte. É como se tudo esteja em jogo numa partida. Daí os feridos. Daí as mortes. E daí as vitórias não só de alguém, mas contra alguém.

 

O futebol é um fenómeno antropológico de grande complexidade. Ele mistura a eficácia com a arte. Nele há lugar tanto para a elite como para o popular.

 

É uma amálgama que tanto faz aproximar como explodir. É verdadeiramente imprevisível.

 

 

4. Como não podia deixar de ser, também não escasseia quem assimile o futebol à religião.

 

Dir-se-ia que o ser humano não passa sem rituais. E se não os faz nas igrejas, não os dispensa nos estádios.

 

A conversação está cheia de pontos comuns. Fala-se da no triunfo. Aponta-se o clube como uma religião e o estádio como um inferno.

 

Há quem faça peregrinações por causa de um jogo e dá-se até o caso de um dirigente ser conhecido como…papa!

 

Recordo que o anterior seleccionador italiano, Roberto Donadoni, assinalou, há anos, que se Bento XVI e João Paulo II  fossem jogadores de futebol, «localizá-los-ia claramente do meio-campo para a frente».

 

Porquê? Porque, no mundo dos princípios, «não faz falta somente defensores mas também dianteiros».

 

 

5. Joseph Ratzinger, que nunca apreciou muito o desporto, refere que o futebol pode «ensinar o respeito mútuo, onde a aceitação de regras por todos faz com que, apesar da contenda, subsista aquilo que une e unifica».

 

Que este campeonato do mundo sirva, sobretudo, para aproximar pessoas e povos.

 

Se houver serenidade e entreajuda, ninguém perderá mesmo que alguém não vença.

 

No campo só uma equipa pode ganhar. Mas, se quisermos, na vida todos poderão sair vencedores!

publicado por Theosfera às 12:02

Estamos num tempo de diagnósticos tremendistas, ansiosos, infrenes.

 

A palavra fim aparece em todo o lado: fim da história, fim da fé, fim da religião, fim da ciência.

 

Ultimamente, tem sido sobre a ciência que os vaticínios mais incidem. George Steiner e Jonh Horgan estiveram em Portugal esta semana e não pouparam nas palavras.

 

Creio que toda esta vaga denuncia, acima de tudo, saturação. Estamos a colocar demasiadas expectativas e os resultados têm sempre um ritmo mais pausado.

 

Há um certo nihilismo larvar, que subjaz perigosamente a toda esta tendência. Enquanto houver humanidade, haverá história, haverá ciência, haverá religião, haverá fé.

 

Terá é de haver uma adequação aos novos tempos. Mas não desesperemos jamais. O próprio fim terá um fim. É bom que ele esteja no princípio. Que tenhamos sempre presente para onde caminhamos. E que pensemos não apenas no fim do mês, mas também no fim da vida.

 

Faz sempre bem recordar Gandhi: «O que importa é o fim para o qual eu sou chamado».

publicado por Theosfera às 10:50

Domingo, 06 de Junho de 2010
publicado por Theosfera às 21:59

Uma pessoa pode valer uma comunidade, um mundo, um universo.

 

Não desprezes ninguém por ser só um, por ser simples, por ser humilde ou pobre.

 

Dá-te a cada pessoa como se fosse a humanidade toda, como se fosse Deus.

 

Deus está no Homem.

publicado por Theosfera às 21:28

Sábado, 05 de Junho de 2010

Habitualmente, estas efemérides assinalam aquilo que está em causa.

 

O Dia Mundial do Ambiente chama a atenção para o nosso (des)cuidado para com a natureza.

 

Nos últimos tempos, tem havido sobejos intentos de uma Teologia ecológica.

 

A partir da criação, há elementos de sobra para um crente se empenhar activamente na promoção de uma cultura de respeito para com a totalidade da obra de Deus.

 

Jürgen Moltmann, por exemplo, mobiliza-nos para a urgência de uma ética da reconciliação com Deus, com os homens e com a criação.

 

Haja em vista, desde logo, uma evidência: por cada vitória do Homem contra a natureza, surge uma revolta da natureza contra o Homem.

 

É que Deus perdoa sempre, o Homem perdoa às vezes, mas a natureza não perdoa nunca.

 

Ela sente-se. Estrebucha. Estremece. E revolta-se.

 

Saibamos, pois, respeitá-la e promovamos um ambiente são, harmonioso, sereno e pacificante.

publicado por Theosfera às 10:03

Sexta-feira, 04 de Junho de 2010

É preciso ser muito grande para aceitar ser autenticamente pequeno.

 

Não é fácil ser simples. É necessário muito autodomínio, muito desprendimento, muita humildade.

 

Ser humilde está ao alcance de todos. Mas não está patente em muitos.

publicado por Theosfera às 12:12

Quinta-feira, 03 de Junho de 2010

A 3 de Junho de 1963, falecia, em Roma, o Papa bom, João XXIII.

 

Nasci e cresci a ouvir falar deste Homem.

 

Minha querida Mãe estava sempre a invocar o nome desta figura enorme da Igreja e da Humanidade.

 

Quem acompanhou a sua trajectória e leu os seus escritos ficou sempre com esta impressão: João XXIII era indulgente com os outros e exigente consigo mesmo.

 

 

O seu lema, tirado de Barónio, era «obediência e paz».

 

Escrevia em 1947: «Em casa, tudo vai bem. A paciência ajuda-me nos meus defeitos e nas minhas imperfeições e dos que trabalham comigo. O meu temperamento e a minha educação ajudam-me no exercício da amabilidade para com todos, da indulgência, da cortesia e da paciência. Não me afastarei deste caminho».

 

Reencontrar João XXIII é sempre um conforto que nunca cansa: «Não há nada mais excelente que a bondade. A inteligência humana pode procurar outros dons eminentes, mas nenhum deles se pode comparar à bondade».

 

 E, atenção, «o exercício da bondade pode sofrer oposição, mas acaba sempre por vencer porque a bondade é amor e o amor tudo vence».

publicado por Theosfera às 00:15

Compreende-se que a solenidade do Corpo de Deus assuma uma relevância especial.

 

É interessante notar como na génese desta festa deparamos com uma estreitíssima ligação com a celebração eucarística.

 

Desde cedo que, como nos diz Xabier Basurko, «os fiéis corriam de Igreja para Igreja com a única preocupação de verem o maior número possível de vezes a elevação da Hóstia consagrada».

 

Não espanta, assim, que em 1247 se tenha celebrado a solenidade do Corpo e Sangue de Cristo.

 

Foi em Liège e por insistência de uma religiosa: a Irmã Juliana de Mont-Cornillon. Mais tarde, em 1264, na sequência de um milagre eucarístico ocorrido em Bolsena, o Papa Urbano IV estende a toda a Igreja esta festa através da bula Transiturus.

 

Embora não haja ainda qualquer alusão à procissão com o Santíssimo, é sabido que esta depressa se introduziu nos hábitos eclesiais e na alma crente do povo.

 

publicado por Theosfera às 00:12

Quarta-feira, 02 de Junho de 2010

Quem acha que está tudo mal será que está bem?

 

Manter a serenidade para discernir é fundamental.

 

Caldear o olhar para a vida com muita oração é imprescindível. Há tanto bem a ser semeado.

 

Porquê só ver negrume? Porquê tanto tremendismo?

 

Paz.

publicado por Theosfera às 11:01

O que se segue é um relato verídico sobre um homem chamado Vítor.

Depois de meses sem encontrar trabalho, viu-se forçado a recorrer à mendicidade para sobreviver, o que o entristecia e envergonhava muito.

Numa tarde fria de inverno, encontrava-se nas imediações de um restaurante de luxo, quando viu chegar um casal.

Vítor pediu-lhe algumas moedas para poder comprar algo para comer.

- Não tenho trocos - foi a resposta seca.

A mulher, ouvindo a resposta do marido, perguntou:

- Que queria o pobre do homem?

- Dinheiro para comer. Disse que tinha fome - respondeu o marido encolhendo os ombros.

- Lourenço, não podemos entrar e comer comida farta de que não necessitamos e deixar um homem faminto aqui fora!

- Hoje em dia há um mendigo em cada esquina! Aposto que ele quer é dinheiro para beber!

- Mas eu tenho uns trocos comigo. Vou dar-lhe alguma coisa!

Mesmo de costas para eles, Vítor ouviu tudo o que diziam. Envergonhado, queria afastar-se e fugir dali, mas a voz amável da mulher reteve-o:

- Aqui tem qualquer coisa. Consiga algo de comer, e, ainda que a situação esteja difícil, não perca a esperança: há-de haver, nalgum lugar um trabalho para si. Faço votos para que o encontre.

- Muito obrigado, minha senhora. A senhora ajuda-me a recobrar o ânimo! Nunca esquecerei a sua gentileza.

- Você vai comer o Pão de Cristo! Partilhe-o! - acrescentou ela com um largo sorriso, dirigido mais ao marido do que ao mendigo.

Vítor sentiu como se uma descarga eléctrica lhe percorresse o corpo.

Foi a um lugar barato para comer um pouco. Gastou só metade do que tinha recebido e resolveu guardar o restante para o dia seguinte: comeria do 'Pão de Cristo' dois dias.

Mas uma vez mais sentiu aquela descarga eléctrica a percorrer-lhe o corpo: O PÃO DE CRISTO!

"Um momento! - pensou - Eu não posso guardar o 'Pão de Cristo' só para mim".

Parecia-lhe como que escutar o eco de um hino antigo que tinha aprendido na catequese.

Naquele momento, passava um velhote ao seu lado.

- Quem sabe, se este pobre homem não terá fome também - pensou - Tenho de partilhar o 'Pão de Cristo'.

- Ouça - chamou Vítor - Quer entrar e comer uma comidinha quentinha?

O velho voltou-se e encarou-o de olhar incrédulo.

- Está a falar sério, amigo? O homem não acreditava em tanta sorte, até estar sentado à mesa coberta com uma toalha e com um belo prato de comida quente à frente.

Durante a refeição, Vítor reparou que o homem envolveu um pedaço de pão num guardanapo de papel.

- Está a guardar um pouco para amanhã? - Perguntou.

- Não, não. É conheço um miúdo da rua e que tem passado mal ultimamente. Estava a chorar com fome, quando o deixei. Vou levar-lhe este pão.

- O Pão de Cristo! - Recordou novamente as palavras da senhora e teve a estranha sensação de que havia um terceiro convidado sentado naquela mesa.

Ao longe, os sinos da igreja pareciam entoar o velho hino que antes lhe tinha ressoado na cabeça.

Os dois homens foram levar o pão ao menino faminto que o começou a devorar com alegria. Subitamente, deteve-se e chamou um cãozinho, um cachorrinho pequeno e assustado.

- Toma lá. Metade é para ti - disse o menino. O Pão de Cristo também chegará para ti.

O catraio tinha mudado de semblante. Pôs-se de pé e começou a correr com alegria.

- Até logo! - disse Vítor ao velho - Nalgum lugar encontrará emprego. Não desespere! Sabe? - sussurrou - Isto que comemos é o Pão de Cristo. Foi uma senhora que me disse quando me deu aquelas moedas para o comprar. O futuro só nos poderá trazer algo de muito bom!

Enquanto se afastava, Vitor reparou melhor no cachorrinho, que lhe farejava as pernas. Abaixou-se para o acariciar, quando descobriu que ele tinha uma coleira onde estava gravado o nome e o endereço do dono.

Vítor pegou nele e caminhou um bom bocado até à casa dos donos do cão, e bateu à porta.

Ao ver que o seu cãozinho tinha sido encontrado, o homem primeiro ficou todo contente; depois, tornou-se mais sério, pensando que se calhar o teriam roubado; mas, encarando a cara séria de Vítor e vendo no seu rosto um ar de dignidade, disse então:

- Pus um anúncio no jornal oferecendo uma recompensa a quem encontrasse o cão. Tome!

Vítor olhou o dinheiro, meio espantado, e disse:

- Não posso aceitar. Eu apenas queria fazer bem ao animal.

- Pegue-lhe! Para mim, o que você fez vale muito mais que isto! E olhe, se precisar de emprego, vá amanhã ao meu escritório. Faz-me falta, ao pé de mim, uma pessoa íntegra assim.

Vítor, ao voltar pela avenida, como que volta a ouvir aquele hino que recordava a sua infância e que lhe ressoava no espírito. Chamava-se 'REPARTE O PÃO DA VIDA'.

 

NÃO TE CANSES DE DAR, MAS NÃO DÊS SOBRAS,

DÁ COM O CORAÇÃO, MESMO QUE DOA.

QUE O SENHOR NOS CONCEDA A GRAÇA

DE TOMAR A NOSSA CRUZ E SEGUÍ-LO,

MESMO QUE DOA!

 

Bem, agora se o desejares, reparte com os teus amigos.

Ajuda-os a repartir e a reflectir. Eu já o fiz.

ESPERO QUE SIRVA para a tua VIDA...

QUE DEUS NOS ABENÇOE SEMPRE...!!!

 

Jesus: Senhor, eu amo-te muito, e necessito de ti sempre: estás no mais profundo do meu coração. Abençoa, com o Teu carinho, a minha família, a minha casa, o meu emprego, os meus bens, os meus sonhos, os meus projectos e os meus amigos.

 

 

publicado por Theosfera às 10:05

Terça-feira, 01 de Junho de 2010

1. Entre a crise que não nos larga e o futebol que não nos deixa, mais um feriado.

 

Bem recebido por um povo cansado e com a alma abatida, ele serve, acima de tudo, para repousar. Quiçá, para afogar as mágoas e verter, ainda que escondidamente, algum pranto.

 

Bem tentam alguns que o feriado sirva também para celebrar e, nessa medida, para reflectir.

 

Mas estas não são, consabidamente, as nossas prioridades. Quando chega um feriado, o habitual é o deserto invadir as ruas e o tédio encobrir as almas.

 

 

2. O feriado do 10 de Junho é um feriado sobre nós, sobre Portugal.

 

Tirando as cerimónias e discursos oficiais, além de mais um estendal de condecorações, que vestígios há de uma paragem para reflectir?

 

No limite, cada um vai meditando sobre si e sobre os seus. Os problemas de cada um já são suficientemente aflitivos. Pouco — ou nenhum — espaço sobra, assim, para a comunidade.

 

E, no entanto, Portugal, na hora que passa e parafraseando Alexandre O’Neill, é uma questão que cada um transporta consigo mesmo.

 

Trata-se de uma questão momentosa e, aparentemente, insolúvel. A bem dizer, somos uma contradição contínua.

 

Fazemos publicidade ao território, mas temo-lo cada vez mais despovoado.

 

Gostamos muito do nosso país, mas, para progredir, temos de ir cada vez mais lá fora.

 

Não é de agora este nosso destino. É de há muito. É de sempre. Já o Padre António Vieira condensava com a mestria do seu génio: «Para nascer Portugal, para morrer o mundo».

 

Somos, pois, um povo pequeno, mas que, mesmo assim, não cabe em si.

 

Agigantamo-nos lá por fora e, não obstante, parece que nos acanhamos aqui dentro.

 

Conseguimos dar novos mundos ao mundo e, apesar disso, não resolvemos os problemas que asfixiam o nosso viver comunitário.

 

Dizem-nos que somos um país adiado, mas, nesse caso, já o somos há muitos séculos.

 

 

3. Houve algum momento em que Portugal não esteve em crise? Em que altura não se disse que vinham aí tempos difíceis?

 

A tudo temos sobrevivido. Temos sobrevivido à realidade, cruel. E temos sobrevivido aos diagnósticos, nada estimulantes.

 

Como refere Romana Petri, parece que já não há heróis e que dá a impressão de que o futuro acabou.

 

Quanto ao passado, também não se insiste muito. Navegamos à vista, nas ondas de uma conjuntura que não empolga, mas que também não nos anula.

 

Somos uma terra que se estende por todas as terras. E constituímos uma pátria em que se acolhem filhos de muitas pátrias.

 

Somos, por isso e como afirmava o Padre Manuel Antunes, uma excepção.

 

Formamos um país que «não é muito compreendido nem por estranhos nem por si próprio, um país, ao mesmo tempo, cêntrico e periférico».

 

Transportamos um paradoxo vivo. Somos «um povo místico mas pouco metafísico; povo lírico mas pouco gregário; povo activo mas pouco organizado; povo empírico mas pouco pragmático; povo de surpresas mas que suporta mal as continuidades, principalmente quando duras; povo tradicional mas extraordinariamente poroso às influências alheias».

 

 

4. Há já várias décadas, Manuel Antunes assinalava a chegada da «hora da acção».

 

Anotava, porém, que essa acção tinha de ser acompanhada pela reflexão.

 

Hegel avisa-nos de que se aprende muita história, mas que se aprende muito pouco com a história.

 

No fundo, resumimo-nos de mais, como recentemente alertava D. Manuel Clemente.

 

Mas é neste resumo que continuamos a sentir Portugal, a fazer Portugal e, não raramente, a chorar Portugal.

 

Tantas vezes, são essas lágrimas que nos identificam e pacificam. Aquilo que soa a desespero acaba por saber a esperança.

 

Apesar das tardes sofridas, acreditamos sempre que uma manhã radiosa voltará a brilhar.

 

É por isso que nunca desistimos de nós. É por isso que, não obstante as nuvens, há sempre um Portugal a nascer em milhões de corações espalhados pelo mundo!

 

publicado por Theosfera às 12:02

«Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há aqueles que lutam muitos anos e são muito bons. Porém, há os que lutam toda a vida. Estes são os imprescindíveis».

 Assim escreveu (pertinente e magnificamente) Bertolt Brecht.

publicado por Theosfera às 10:58

 «Não sei para que é que querem gastar dinheiro no TGV se podem perfeitamente oferecer um Porsche a cada português gastando menos».

Assim escreveu (preclara e magnificamente) Luís Campos e Cunha.

publicado por Theosfera às 10:55

Há quem prefira eliminar os pobres a combater a pobreza.

 

Estranho mundo, o nosso.

publicado por Theosfera às 10:05

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