Todas as palavras podem não bastar para convencer um adversário.
Mas um único gesto pode ser suficiente para fazer nascer um amigo.
Todas as palavras podem não bastar para convencer um adversário.
Mas um único gesto pode ser suficiente para fazer nascer um amigo.
Desde há muito que penso que um dos melhores colunistas do país escreve num (quase) escondido suplemento de um semanário.
Não sei se José Manuel dos Santos é muito ou pouco lido. Mas merece ser apreciado. Pelo conteúdo, sempre pertinente. E pela forma, bastante elegante e, não raras vezes, sublime.
O texto de hoje assume traços cortantes de pertinência. «Aquilo que mais assusta nestes dias em que tudo corre mal é o rio de lugares-comuns e frases feitas».
Mas o enquadramento dá, desde logo, que meditar: «Os deuses, cruéis quando não são ausentes, nisto foram bondosos para os homens. Deram aos que têm génio o conhecimento de o terem, mas privaram os medíocres da consciência da sua mediocridade. Por isso os ouvimos dizer tudo o que os mostra nulos e vazios, como se estivessem a dar a solução para o problema e o remédio para o mal. Afinal, no ser isto assim, talvez esteja a prova mais cruel da crueldade dos deuses: recusam a estes cegos a escuridão que lhes revelaria a cegueira, trocando-a por uma luz falsa que lhes falseia os próprios olhos».
Sucede que que esta mediocridade tende a ocupar o espaço todo e a anular a presença de quem quer que seja.
Só a mediocridade consegue o pavoroso prodígio de se deslumbrar consigo mesma.
A mediocridade não sabe que é medíocre e não suporta que alguém a avise.
Daí o panorama desolador que o articulista não se exime de descrever: «Não há uma ideia a que se possa dar esse nome. Não há uma análise a que se junte uma descoberta. Tudo é repetição e resto. Tudo se escuta, nada se retém, senão o tédio de ter escutado aquilo que não adianta nem atrasa. Tudo o que levou ao desastre continua igual ao que era. Enquanto prossegue o espectáculo da avidez que mata a galinha e do impudor que a quer continuar a pôr ovos de ouro, ensaiamos um marcar-passo que, dando-nos a sensação de movimento, não é marcha nem avanço. Esta é a hora dos fantasmas: assistimos ao desfile dos mesmos rostos mortos, num filme que acelera a sua passagem, tentando, em vão, dar-lhes um simulacro de vida».
Talvez a conclusão seja demasiado contundente. Mas alguém negará que estamos diante de uma leitura coada de suprema acutilância?
O desemprego no país já ultrapassou os dez por cento. Mas o cenário agrava-se em algumas localidades, onde a taxa se aproxima ou ultrapassa até os 20 por cento.
Querem maior austeridade?
Em discussão devia estar não a crise, mas a superação da crise.
Há muita gente a sofrer. Agora.
Na Grécia há quem faça a mesma (e inquietante) pergunta que em Portugal: porque é que são os mais ricos e bem posicionados a urgir medidas de austeridade?