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Segunda-feira, 26 de Abril de 2010

1. Aproxima-se a visita do Papa a Portugal.

 

Que se pode esperar quando uma instituição em crise vem ao encontro de um povo em dificuldades?

 

À primeira vista, o clima tem tudo para ser depressivo. Mas também é verdade que este pode ser um chão fecundo e um terreno propício para fazer fermentar a esperança.

 

O que se passa na política, na economia, na sociedade, na criminalidade e no desemprego é um poderoso sintoma de uma profunda crise de valores.

 

A esta crise não escapa nada nem ninguém. Já nos finais da década de 80 do século passado, Gilles Lipovetsky alertava para a emergência de uma crise em todas as instituições, mencionando também a Igreja.

 

E, diga-se, o actual Papa, já enquanto cardeal, não mostrava qualquer receio no emprego da palavra crise.

 

Aliás, ainda muito antes de se conhecer o vendaval noticioso acerca da pedofilia, Joseph Ratzinger chegou a dizer que, na Igreja, a crise ainda mal começou.

 

Ora, se nem o Papa tem medo da palavra crise, não há razão para que tal medo exista em nós. Tanto mais que o problema não está no uso da palavra. O problema está naquilo que motiva o seu uso.

 

 

2. É bom que se tenha presente que, a bem dizer, a Igreja nunca deixou de estar em crise.

 

Ao longo dos seus mais de vinte séculos de história, a Igreja parece ter uma espécie de contrato firmado com a adversidade.

 

O que determina a qualidade de vida da Igreja é a atitude perante a referida adversidade.

 

E a experiência demonstra à saciedade que quando a Igreja se inquietou, ela cresceu. Pelo contrário, quando a Igreja se aquietou, ela estagnou.

 

Pensando na tragédia da pedofilia, verdade seja dita que o Santo Padre, já desde os tempos de cardeal, nunca se conformou com a realidade.

 

E não há dúvida de que são abundantes os sinais de que está determinado a fazer tudo para combater este mal. Pelo menos, quanto ao encobrimento, dificilmente alguém poderá voltar a contar com a cumplicidade da autoridade máxima da Igreja.

 

 

3. Noutro plano, vieram a lume números que põem a descoberto a sensação de desconforto diante da falta de vocações à vida consagrada.

 

Quando pensamos nos números de seminaristas por diocese e nas ordenações (em comparação com as necessidades), temos de reconhecer que ainda estamos muito distantes de um superamento da crise.

 

Estamos melhor do que há uns anos. Mas já estaremos bem? A crise não se deve apenas à falta de generosidade das pessoas.

 

Não tem que ver somente com a debilidade da resposta. Tem que ver, antes de mais, com uma certa fragilidade da proposta. É o testemunho que tem de mudar se queremos incrementar um maior dinamismo vocacional.

 

Ainda vivemos em crise, digamo-lo sem depressões e com esperança. Uma crise é uma situação que tem tanto de perigoso como de decisivo. Trata-se, portanto, de uma realidade e de uma oportunidade.

 

Uma crise pode, portanto, ser encarada com esperança. Aliás, para um cristão, só pode ser encarada com esperança.

 

 

4. É esta esperança que Bento XVI vai certamente transportar nos dias que vai passar entre nós.

 

É importante que nos centremos na mensagem que nos vai deixar. Daremos conta de que estamos perante alguém que não fecha os olhos à realidade. É tão vigoroso na denúncia como insistente no anúncio.

 

Sendo alguém com um pensamento muito estruturado, é natural que as suas palavras nem sempre sejam de assimilação fácil.

 

Temos de ter presente que grande parte da sua vida teve como cenário principal a sala de aula. Mas o essencial permanece.

 

E o essencial é uma contínua abertura entre a religião e a razão, entre a fé e a cultura, entre o Evangelho e a vida.

 

Muito tem Bento XVI apelado para a centralidade do logos. E, como não se tem cansado de lembrar, logos não é apenas palavra. É também sentido. É igualmente amor.

 

Possamos todos sentir o eco deste amor nos próximos dias. Que sejam dias de reconciliação, de harmonia, de tolerância e, se possível, de alegria!

publicado por Theosfera às 12:03

O projecto da filosofia (e o desígnio da vida humana) é o oráculo de Delfos acolhido por Sócrates: «Conhece-te a ti mesmo».

 

Andamos uma vida à procura de uma resposta que, minimamente, nos preencha e satisfaça. Será possível?

 

Nietzsche sentenciou que «o Homem é o ser mais distante de si mesmo». E, mais moderadamente, Hannah Arendt não deixa de confidenciar que «ninguém pode conhecer-se a si próprio, uma vez que ninguém aparece a si próprio do mesmo modo que aparece diante dos outros».

 

Tem razão o Salmista. Só na luz de Deus encontramos a nossa luz (Sal 35, 10).

 

O Vaticano II, no nº 22 da Gaudium et Spes, apresenta-nos a chave do autoconhecimento: «Cristo, o Verbo Encarnado, revela o Homem ao Homem».

Em Cristo, nós!

publicado por Theosfera às 10:49

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