Um olhar simples e até fugidio sobre o quotidiano trepidante que pisamos transporta-nos rapidamente a uma conclusão: a vida é uma corrida, uma corrida veloz.
Enrique Vila-Matas, escritor de culto e observador de vulto, deixa tudo isto bem à tona no seu Diário volúvel, que acaba de aparecer e que se devora num ápice.
Também a vida do escritor replica a cadência tumultuosa da existência. Também ele dá conta dos momentos em que até do descanso se cansou e sentiu necessidade de vir para a rua falar com o primeiro circunstante, ainda que desconhecido.
Vale a pena ler. Interessante o que diz sobre o frio, que ele prefere ao calor. Curioso o que refere acerca do controlo apertado nos aeroportos. A referência a Kafka é pertinente. Todos temos necessidade de nos declararmos inocentes, sem culpas. Não será a maior admissão de culpa?
Fez-me pensar o que verte na página 198: «Despedimo-nos todos os dias de alguém que nunca mais voltaremos a ver».
E que preocupação temos com a (eventual) última impressão que deixamos nos outros?
Quase no fim, adverte para a caducidade de tudo, até daquilo que parece extraído da novidade mais inexpugnável.
Não faltará muito para que alguém sopre aos ouvidos de alguém: «Lembras-te da internet?»
Eterno mesmo só Deus. A alma humana. E o bem que se semeia.
Tudo o resto passa. Sobretudo quando parece que nada se passa...