Foi Thomas Merton um dos espíritos mais vibrantes do século passado.
Luminosamente inteligente e desconcertantemente místico, teve a arte de dizer o que não é óbvio, mas de uma forma que poucos questionarão.
Monge trapista, faleceu já em 1968, mas estes mais de quarenta anos não lhe subtraíram actualidade. Ao invés, acrescentaram-lhe pertinência.
Eis o que ele escreveu sobre o que considerava ser um dos maiores paradoxos do cristianismo.
«O maior paradoxo da Igreja é que ela é, ao mesmo tempo, essencialmente tradicional e essencialmente revolucionária. Mas, no entanto, o paradoxo não é tão grande como parece, porque a tradição cristã, ao contrário de outras, é uma revolução viva e perpétua.
As tradições humanas tendem todas à estagnação e à decadência. Procuram perpetuar coisas que não podem ser perpetuadas. Prendem-se a objectos e a valores que o tempo destrói impiedosamente. Estão ligadas a uma série de coisas contingentes e materiais que mudam inevitavelmente e dão lugar a outras tantas.
A presença, na Igreja, de um forte elemento conservador não impede que a tradição cristã, sobrenatural na sua origem, seja uma realidade totalmente oposta ao tradicionalismo humano.
A tradição viva do catolicismo é como a respiração do corpo: renova a vida impedindo a estagnação. É uma revolução constante, serena e pacífica contra a morte».