Foi o cardeal Cerejeira uma figura importante na Igreja e na sociedade portuguesa.
Há aspectos da sua personalidade que permanecem, porém, desconhecidos, imolados no altar dos lugares comuns.
Foi, sem dúvida, um homem do seu tempo, apoiante do regime do seu tempo, mas conseguiu ir um pouco mais além.
Não obstante a proximidade com Oliveira Salazar, de quem foi sempre amigo, não se coibiu de divergir dele, embora com discrição e em privado.
Criticou bastante o regime hitleriano, o que lhe valeu algum espanto por parte do embaixador alemão.
Ao contrário de Salazar, o cardeal Cerejeira gostava de viajar e foi das primeiras figuras eclesiásticas a usar o avião.
Sei que os padres de Lisboa gostavam bastante dele. Era muito afável, quase paternal para com todos, mesmo quando havia alguma dissonância.
Pugnou por um clero de escol e para que filhos de famílias ricas fossem para o sacerdócio, mas não discriminava ninguém.
O que pouca gente saberá é que, quando foi eleito patriarca (era arcebispo de Mitilene há pouco tempo), um dos bispos que entrou nas cogitações era o bispo de Lamego, D. Francisco Vieira de Brito.
Aliás, é curioso notar que três bispos de Lamego do século XX foram auxiliares do cardeal Cerejeira: D. Ernesto Oliveira. D. João da Silva Campos Neves e D. António de Castro Xavier Monteiro.
O que até há pouco eu não imaginava é que a famosa D. Maria, que serviu o cardeal Cerejeira e Oliveira Salazar em Coimbra e que se tornou a governanta do Presidente do Conselho, fora empregada do bispo de Lamego.
Coincidências...