Tenho o maior respeito por todas as manifestações de fé. Sobretudo as manifestações de fé do povo comovem-me bastante.
Sabemos, porém, que nem todas as configurações estão em sintonia com a identidade. Mas isto já não é de agora. O grande Padre Abel Varzim, que também acompanhava a fé do povo, expende o que sentiu durante uma procissão dos Passos.
«Não gostei da procissão! A Procissão dos Passos é de todos os dias mas não tem andores, nem música, nem anjinhos. Tem dores, angústias, desesperos, lágrimas, lamentos, e chagas. São os ódios de raças, as lutas fratricidas, os colonialismos, os campos de concentração, a opressão das consciências, as limitações da personalidade e da liberdade humanas, a fome, o desemprego, os bairros de lata, os acidentes de trabalho e de estrada, as prepotências e desmandos do capital, a exploração de menores, a escravatura da mulher, os compadrios, as injustiças, os egoísmos. Tudo isto flagela, dilacera, crucifica o Corpo de Cristo, como nunca talvez na História da Humanidade».
Sublime. E profundamente interpelante.