Aprecio muito uma pessoa inteligente. Mas admiro, ainda mais, uma pessoa boa.
Não será, aliás, a bondade a suprema inteligência?
Já dizia Agostinho da Silva: «O supremo entender é a bondade».
Os mestres não erram. E a vida não se engana.
Praticamente não há dia nenhum em que não chovam notícias sobre a pedofilia envolvendo figuras do clero católico.
Também a mim isto dói profundamente.
Nunca fui corporativista. Não é pelo facto de ser padre que não reconheço as fragilidades que nos atingem.
O que me penaliza é que chegamos sempre tarde ao reconhecimento dos factos.
Porque é que só acordamos quando as coisas são publicitadas e não quando acontecem? Porque é que só damos conta das consequências? Porque é que não reparamos nas causas?
Este problema tem muitos ângulos.
Há gente que sofre a vida toda com situações deste género. Molestar uma criança como é possível?
Recolho-me ao silêncio e à oração. Perdoa, meu Deus, as falhas na Tua Igreja. Perdoai, filhos de Deus, as lacunas dos que O representam.
Eu sei que isto não tem perdão. Mas o perdão é, como mostra Jesus e como avisa Hannah Arendt, para quem o não merece.
O pecado está em toda a toda a parte. A graça de Deus também.
Imitemos o publicano de que nos fala o Evangelho deste dia. Nunca percamos a humildade.
O Dr. Jorge Sampaio recebeu, ontem, o prémio Figura do Ano, atribuído pela Fundação Portuguesa do Pulmão.
Recorde-se que o anterior Chefe de Estado trabalha numa organização das Nações Unidas que pretende combater a tuberculose.
É um gesto bonito, relevante, profundamente salutar. E, por entre algumas tiradas de humor, o Dr. Jorge Sampaio lá foi dizendo que não aspira a mais nenhuma função política.
Enquanto uns vão da política para a cidadania, outros projectam vir da cidadania para a política.
Tudo isto é perfeitamente normal.
Agora é a notícia de um professor que se suicidou porque era maltratado pelos seus alunos.
Este facto é realidade e é sinal. O paradigma inverteu-se. Já não não os alunos que temem os professores. São os professores que temem os alunos. Ou seja, movemo-nos no mesmo patamar.
O mais fácil é partirmos para soluções radicais. Só que tais soluções acabam por perpetuar o que mais queremos terminar: a violência.
É com serenidade que melhor reencontraremos o caminho. Para descaminho já basta.