Deus deu-me o dom de ser gago.
Por isso, habituei-me a nunca chegar a uma palavra — falada ou escrita — sem ser por via de sucessivas tentativas e repetidos balbucios.
A gaguez ensinou-me que o melhor texto é o que ainda não foi escrito e que a palavra última é a que ainda está por pronunciar.
Temos, pois, que continuar a buscá-la, não estacionando jamais naquilo que já fomos encontrando.
Dizem que sou gago. Dizem que sou tímido. Dizem que sou introvertido. Dizem que sou fechado.
Talvez tudo isto seja verdade. Serei o que dizem. Mas nem sempre dizem o que sou.
Possivelmente nem eu sei quem sou. Mas sei que sou. E sei que basta ser. E estar. Que, como dizia Zubiri, «é ser em sentido forte».
Eis o que procuro em cada dia: não ser eu, mas deixar que Deus seja em mim!