«Se o desonesto conhecesse as vantagens de ser honesto, seria honesto ao menos por desonestidade».
Assim escreveu (genial e magnificamente) Sócrates.
Não é preciso ser muito loquaz para ser eloquente.
Não são as palavras dos lábios que chegam ao Céu.
É a palavra da vida que chega até Deus.
Aprendamos a arte do silêncio orante.
O sofrimento do mundo deve preocupar-nos, afectar-nos, mobilizar-nos.
Mas, muitas vezes, esquecemos quanto sofrimento labora em cada ser humano.
Olhamos para o sofrimento da humanidade e ignoramos o sofrimento de cada pessoa. Quiçá, contribuímos, não raramente, para o alastrar desse sofrimento. Desde logo, com a nossa indiferença.
Cada Homem é um pequeno mundo. No sofrimento de uma pessoa está o sofrimento da humanidade inteira.
Pensemos nisto. Um pouco que seja
Precisamos de padres humildes,
silenciosos e discretos,
mergulhados em Deus e comprometidos no mundo.
Precisamos de padres que não tenham vaidade no que fazem
e que não sintam vergonha no que são.
Que orem bastante e rezem muito.
Que passem muitas horas no sacrário,
a falar dos homens a Deus.
E que estejam disponíveis muito tempo
para anunciar Deus aos homens.
Precisamos de padres do fundo,
da profundidade.
Que exibam não apenas filosofia, mas também filocalia.
Ou seja, que cultivem não só o amor da sabedoria,
mas também o amor pela beleza.
Pela beleza do gesto,
pela beleza da mensagem,
pela beleza da vida,
pela beleza de Deus.
Precisamos de padres que ajoelhem,
que se disponham a carregar a cruz dos seus semelhantes.
Precisamos de padres descentrados de si e recentrados em Deus.
Já temos um santo padre,
precisamos de padres santos!
Faz parte da mensagem de Jesus o amor aos inimigos. Por isso e como disse alguém, quem não tem inimigos não é um cristão completo.
Sucede que o amor aos inimigos leva a que deixem de o ser. Pinchas Lapide fala do amor desinimigador.
De facto, só o amor vence a inimizade.
Desde Moltmann e Metz (no fundo, desde sempre), fica claro que não há teologia (nem acção eclesial) que seja apolítica.
A intervenção do crente tem sempre implicações políticas: ou directa ou indirectamente. Quem assume essas implicações revela de que lado está. Quem não assume é conivente com aquilo que acontece.
Concretizando, alguém que denuncie as injustiças sociais pode ser facilmente apodado de vanguardista, comunista, revolucionário. Mas alguém que, para não receber tal acusação, se cale acaba por tomar também uma opção: pelos que praticam a injustiça.
Neste caso, o silêncio é pouco edificante. A Igreja não pode ser imparcial. Não deverá, como é óbvio, tomar partido por partidos. Ela tomará sempre partido por pessoas, por ideais, por causas, por valores.
Se ela não o fizesse não seria isenta. Estaria a tomar partido por quem explora, por quem agride. Quem cala consente. Poderá um cristão consentir a exploração, a injustiça?
A clareza é sempre importante. As pessoas têm o direito de saber de que lado estamos. Nós temos o dever de as não defraudar. Cristo foi sempre claro. «Que as vossas palavras sejam sim, sim, não, não» (Mt 5, 37).