Calma. Calma.
Espera um bocadinho, um instante.
Não digas o que vais dizer.
Não faças o que vais fazer.
Pára um pouco.
Pensa.
Reza.
E, depois, vê se é isso o que queres dizer e o que deves fazer.
Calma. Calma.
Espera um bocadinho, um instante.
Não digas o que vais dizer.
Não faças o que vais fazer.
Pára um pouco.
Pensa.
Reza.
E, depois, vê se é isso o que queres dizer e o que deves fazer.
«A virtude é mais perseguida pelos maus do que amada pelos bons».
Assim escreveu (espantosa e magnificamente) Miguel de Cervantes.
«Ser grande significa ser incompreendido».
Assim escreveu (atenta e magnificamente) Óscar Wilde.
Ao entrar, hoje, no cemitério da minha terra natal, não vi o sol. Fazia vento e chovia. Chovia pranto.
Qualquer coisa tumultuava cá dentro. Estava frio, um frio entremeado pelo calor arfante da saudade.
Só o cinzento do exterior amenizava o breu que se alojava no interior: o breu da dor.
Nada disto se explica, tudo isto se sente.
Sei que meu querido Pai, falecido há treze anos, mora em Deus. Não era preciso, por isso, passar pelo cemitério. Mas a vida é feita de sinais. E o túmulo é mais um sinal de uma presença que não se apaga, de um amor que não se extingue.
Ali deixei um ramo de flores. Ali depositei uma prece. Meu Pai está sempre comigo. Eu estou sempre com meu Pai.
Ir a um cemitério não é uma experiência fácil, mas é uma experiência necessária, purificadora.
Certifica-nos de como tudo é perecível, de como tudo acaba num ápice. Só o bem perdura. Só Deus permanece. Vale a pena fazer do tempo uma construção de eternidade para que a eternidade possa ser um feliz corolário do tempo.
Meu querido Pai costumava dizer, nos últimos tempos, que faltava pouco para ir para a Senhora da Guia. O cemitério fica mesmo ao lado da capela.
Há uma atmosfera de dor naquele lugar. De uma dor, porém, ungida pela fé e ornada pela esperança.
Não havia muita gente lá neste dia. Mas ainda deu para rever a Cristina, a Marina, a Sónia, o André e o Tiago.
É bom saber como ainda há pessoas que, mudando como tudo muda, continuam a ser o que sempre foram: humildes, transparentes, amigas.
Sem sair deste tempo, vi-me, de repente, transportado à minha juventude. Já distante.
Nada disto se explica. Tudo isto se sente.
O meu sincero reconhecimento.
Meu Pai,
de olhos embaciados,
voz soluçante
e mãos trémulas,
aqui venho,
aqui estou,
junto de ti.
Há treze anos
(completaram-se às cinco e meia da manhã deste dia 7),
olhava para teus olhos
e registava o teu último suspiro.
Parece que foi ontem,
parece que foi há instantes.
Não nego que me custou esse momento
e que ainda me dói essa imagem:
teu rosto cansado
exalava uma derradeira respiração.
Mas sabes muito bem
que tudo foi como quiseste,
tudo foi como pediste.
Estavas em casa,
e eu estava a teu lado.
Nunca te senti longe.
Mas, humano como sou,
sinto a tua falta,
o teu apoio,
os teus conselhos e recomendações,
a tua energia indomável.
Sei que estás bem,
em Deus.
Tenho feito o que me pediste.
Em nenhuma Eucarista te esqueço.
Lembro-te sempre ao Senhor.
Tu tens-me amparado sempre.
Eu recordo-te não como um morto,
mas como vivo e muito próximo.
Obrigado, meu Pai.
Tu partiste,
mas nunca me deixaste.
Eu sinto a tua presença,
treze anos depois.
Um dia nos encontraremos aí,
onde tu estás,
nessa pátria maravilhosa
de felicidade e paz.
Aí nos abraçaremos
e abraçados permaneceremos para sempre
em Deus!
Eram 5h35. A respiração começou a enfraquecer até que, àquela hora, parou. A 7 de Fevereiro de 1997 meu querido Pai foi chamado para junto do eterno Pai.
Foi há treze anos. Parece que foi ontem.
Por tudo, muito obrigado, meu querido Pai. Sei que continuas em mim, comigo. Sempre.
«Nós vivemos da nossa vida um fragmento tão breve».
Assim escreveu (lúgrube e magnificamente) Vergílio Ferreira.
Faz hoje cento e um anos que nasceu um grande crente, um grande pastor, um grande coração, um enorme ser humano.
Chamava-se Hélder. Viu Deus no Homem, sobretudo nos pobres.
Recebeu ameaças, mas não desistiu.
Espécimen de uma estirpe que já rareia, faz bem evocar D. Hélder da Câmara. Sobretudo para imitar o seu exemplo e para seguir o Jesus que ele tão belamente nos mostrou.
Dizem que a economia continua anémica e que a solidariedade também não está pujante.
Não se criam postos de trabalho suficientes e o fosso aumenta: os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Em síntese, o Estado não está bem, mas a sociedade está pior. Falta crescimento, falta entusiasmo, falta justiça.
Mil milhões de pessoas vivem com menos de 73 cêntimos por dia!
Mais um convite a que acedi com muito gosto.
Os alunos do Colégio da Imaculada Conceição ofereceram-nos um momento musical de grande elevação, qualidade e envolvimento.
Vê-se que houve muito trabalho, muita dedicação e muito amor. Mas não são estes os ingredientes da missão educativa?
Tratava-se de uma ópera intitulada À procura de um pinheiro.
O ambiente é o Natal. E tem toda a pertinência aparecer nesta altura, em que, porventura, o nosso quotidiano já se desligou da ternura e do encanto que o Natal incorpora nos nossos corações.
O Natal é um hoje com muitas horas, um dia com muitos dias. O Natal tem a duração da vida.
Ainda bem que os mais pequenos nos vêm relembrar o que, tão pressurosamente, tendemos a esquecer.
A história, bem concebida e magnificamente apresentada, encerra uma enorme lição: muitas vezes, reparamos no que é mais vistoso e não damos a devida atenção a quem está na base, a quem tudo suporta.
Todos gostamos de ver as luzes brilhar na árvore de Natal. Todos nos enternecemos com as fitas e outros enfeites que a adornam. Pois, mas...se não houvesse árvore de Natal?
O que nos aparece mais desprezível é que, no fundo, desponta como detendo maior valor.
Os mais pequenos, primorosamente ajudados pelos seus educadores, foram capazes de nos envolver nesta história com muita intensidade, com enorme vibração e até com indisfarçável comoção.
Como dizia Aristóteles, «a música é o princípio de todos os encantos da vida». E a música apresentada pelas crianças consegue alçar-nos a um encantamento maior e a um contentamento supremo.
Respirava-se um ambiente de nobre simplicidade.
Parabéns por mais esta iniciativa do Colégio. A educação é também (e bastante) feita de momentos como estes. Muito belos.
Dostoievsky bem dizia que é a beleza que salvará o mundo.
A beleza, juntamente com a verdade e a bondade, é um dos nomes de Deus.
Como respirei Deus no olhar inocente e nas vozes cristalinas destas crianças!
«Sê senhor da tua vontade e escravo da tua consciência. O homem prudente não diz tudo quanto pensa, mas pensa tudo quanto diz».
Assim escreveu (magistral e magnificamente) Aristóteles.
Como esperar soluções de quem só (nos) enche de problemas?
Creio, porém, nas surpresas dos momentos difíceis.
Voltemos a Santo Agostinho: é quando parece que tudo acaba que tudo verdadeiramente começa.
E não esqueçamos a recomendação de Vergílio Ferreira: quando a situação é mais dura, a esperança tem de ser mais forte!
Faz hoje 402 anos que nasceu o Padre António Vieira.
Vieira é muito apreciado pela forma. Mas merece ser reapreciado sobretudo pelo conteúdo, pela profecia, pela coragem, pela fidelidade.
Leiamos Vieira. Hoje. E sempre. Precisamos de reaprender a beleza do que ele disse e a intensidade do que ele escreveu.
É, realmente, um imperador. Da língua. E da coragem.
«Só o mistério chega inteiro ao fim».
Assim escreveu (sublime e magnificamente) Almada Negreiros.
Afinal, a crise não é apenas (nem principalmente) económica. É política. É cívica. É ética. É moral.
Deitámo-nos, ontem, atordoados. Acordámos, hoje, abatidos.
Mais escutas. Mais suspeitas. Mais pressões. Mais atentados à liberdade. E mais pedidos de demissão.
Depois de um tempo em que tivemos democratas sem democracia, agora parece que há democracia e faltam democratas. Será?
Voltam a ouvir-se as soluções que todos sabem, mas que, pelos vistos, poucos estão dispostos a aplicar.
Nestas alturas, lembro-me sempre do grande Albert Schweitzer: «O exemplo não é a melhor maneira de convencer os outros; é a única».
Precisamos, urgentemente, de uma regra de conduta elementar: não fazer em privado o contrário do que se exibe em público.
Não temos duas caras. Tenhamos um só rosto.
Se queremos que o mundo mude, comecemos a mudança por nós.
Isto não vai nada bem. Mas acredito que, dos escombros em que mergulhámos, algo de belo vamos enxergar. Porque algo de belo irá brilhar.
Receava, mas não podia saber. Só Deus sabe.
Este dia, 6 de Fevereiro, há 13 anos, ia quente. Era o último dia de meu querido Pai nesta terra.
Já só comunicava por gestos. Foram momentos de muita dor, que deram lugar a tempos de profunda saudade. Mas todos estes sentimentos foram emoldurados por um profunda e serena paz. Sei que, na madrugada seguinte, meu querido Pai encetou uma viagem que o levou ao seio do Pai, ao coração de Deus.
É lá que se encontra. É lá que o reencontro. Sempre.
O convite foi amigo e insistente. Acabei por ir e gostei.
No Teatro Ribeiro da Conceição, que tinha o aspecto de congregar uma família grande e uma grande família, a Escola de Concertinas de Lamego deslumbrou.
Deslumbrou não apenas com a execução das peças. Deslumbrou, acima de tudo, com a vibração e a intensidade da alma que facilmente se desprendia da actuação.
O concerto assinalou dez anos desta escola. Houve muita emoção e merecida gratidão ao director, o senhor prof. Domingos Roxo.
A arte tem o condão de encantar quem executa e quem pode desfrutar. Parafraseando o título de uma das composições, desejo que o sonho destes jovens se espraie num futuro radioso. Porque, graças a Deus, o presente já se mostra deveras brilhante.
Parabéns. Um obrigado muito sentido ao senhor Presidente da Junta da Sé pelo convite.
Há quem pense que a guerra e o terrorismo resultam do excesso de certezas. E não falta quem advogue que a paz decorre da desmontagem das certezas.
Com todo o respeito, é um erro esta perspectiva. Porque deste modo nem a paz é uma certeza.
O caminho da paz não está, pois, na ausência de doutrina, de certezas ou de convicções.
Convicções sem paz? É um perigo. Mas paz sem convicções é uma temeridade.
É preciso criar convicções e certezas. A começar, obviamente, pela paz.
Muitas certezas têm matado. Mas a incerteza não tem devolvido nenhuma vida. Pelo contrário, tem estendido mais a morte.
Necessário é reconstruir o universo das nossas convicções, das nossas certezas.
Quem fala, hoje, da paz? E quem consagra verdadeiramente a vida à paz?
Estamos a viver um tempo em que os valores são cada vez mais necessários.
Já não penso na competência ou na capacidade para fazer obra.
Penso sobretudo na dignidade, no decoro, na decência.
Carecemos, urgentemente, de homens bons à frente da coisa pública.
É preciso que as pessoas tenham noção dos limites que não podem ser ultrapassados.
A obra não é tudo.
É o mundo que muda as pessoas. Mas há pessoas que mudam o mundo.
Não andemos, pois, atrás das correntes que levam mais gente. Procuremos as pessoas que, mesmo em contra-corrente, são capazes de incutir em nós sinais de esperança, lealdade e paz.
Jesus foi conseguiu mudar o mundo. Conseguiu? Consegue. Hoje ainda.
Ainda há belas excepções neste mundo standard.
E, de repente, a palavra crise voltou a fazer-se ouvir com insistência.
Há quem fale da iminência de uma crise política. Aprazada para hoje, sexta-feira.
A lei das finanças regionais pode desencadear mais uma tempestade.
Esperemos que o bom senso e o sentido do bem maior predominem.
Afinal, há países com governos minoritários onde a normalidade parece prevalecer.
Que o bom senso não se afaste.
Habitualmente, medimos o êxito pelo eu e pela realização dos desejos. Ou seja, quando se consegue o que se deseja, averbamos um êxito.
E, não raramente, se a realização é obtida à custa do outro (ou até contra o outro), achamos o êxito total.
Há quem não veja as coisas assim. No Tibete, por exemplo. A medida do êxito não está no eu; está no outro. E o sucesso não se vê tanto pela realização como através da compaixão.
Isto vem de uma tradição budista e até de uma tradição chamada bon, anterior ao budismo. Mas não será tudo isto profundamente cristão? E não será tudo isto tão esquecido pelos cristãos?
A Teologia da História das Religiões é uma contínua (e preciosa) fonte de ensinamentos. Uma das coisas que nos mostra é como o espírito de Cristo está, pelo menos de forma incoativa, em todas elas.
O tempo corre, o mundo avança e as atitudes mudam. Para melhor?
É cada vez mais nítido que o medo é mais eficaz que o respeito.
Daí que muitos não queiram que os respeitem; querem, antes, que lhes tenham medo.
Para onde vamos?
Em Lamego, uma notícia chamou, nos últimos dias, a minha atenção.
Dois partidos, através das sua organizações juvenis, unem-se por uma boa causa: o Haiti.
A iniciativa chama-se um euro pelo Haiti.
É interessante sentir como há causas que se sobrepõem às normais divergências.
Ainda bem que a solidariedade funciona.
Os meus parabéns à JSD e à JS.
Este dia 4 de Fevereiro transporta recordações que não se apagam nunca.
É o dia de anos de do meu primeiro Vice-Reitor, aquele que, há 35 anos, me recebeu no Seminário e que continua a ser um grande Amigo. Era feriado no Seninário.
É o dia da festa na Paróquia de S. João de Brito, vivida com muita intensidade, seriedade e autenticidade por toda a gente.
Neste dia, há sempre mails, sms ou telefonemas que chegam. Há uma emoção muito grande e agradecida.
Ao contrário do que dizia Óscar Wilde, o passado não passa. Acompanha-nos ao longo da vida.
Tudo isto permanece no mais fundo de mim.
Obrigado, Senhor!
«A alegria não está nas coisas: está em nós».
Assim escreveu (pertinente e magnificamente) Goethe.
«Quando a culpa é virtude, o padecer é glória».
Assim escreveu (heróica e magnificamente) S. João de Brito.
Esta frase tem-me acompanhado sempre (às vezes, literalmente) ao longo da vida.
Verto, uma vez mais, os maiores protestos de gratidão ao senhor Padre Lereno, aos paroquianos, a todos os que jamais esquecerei. Não posso lá estar hoje. Não deixo de lá estar sempre.
Confesso que tenho sempre um embargo na voz e uma convulsa comoção quando me vem à ideia a paróquia de S. João de Brito.
Fui para lá em Setembro de 89, era padre há um mês. De lá saí em Agosto de 93. Não tenho lá voltado muitas vezes.
Devo tanto aos padres, aos leigos, às (então) crianças, aos jovens, aos adultos, aos velhinhos.
Falo pouco de S. João de Brito simplesmente porque não tenho palavras.
Obrigado é pouco. Mas é tudo o que me resta.
Durante séculos esquecemo-la. Agora deslocámo-la.
Tivemos medo da beleza. De que nos afastasse da bondade e da verdade.
Por isso até se alterou a descrição de Jesus em Jo 10,11. Aqui aparece-nos como o «bom Pastor». Mas no original não está assim. «Eu sou o belo Pastor» é o que nos surge.
É claro que o bom é belo. Mas o belo também não é bom?
Para Sto. Agostinho, o belo é o esplendor da verdade e para Heidegger é a manifestação da verdade.
Tivemos receio de que o belo nos desviasse do bem e da verdade. De que, no fundo, nos afastasse de Deus. Daí que o belo tenha ficado conotado com a pura sensualidade.
Zubiri ajuda-nos a desenterrar o belo do prolongado cativeiro em que esteve retido. A beleza, tal como a bondade e a verdade, é actualidade da realidade. A realidade é actualizada na inteligência como verdade, na vontade como bondade e no sentimento como beleza.
«A beleza pertence às coisas, é uma qualidade intrínseca delas. A beleza das coisas não é algo fechado. No fundo, as coisas belas são expressão do pulchrum».
Para quando optimizar, nas celebrações e no relacionamento convivial, a via pulchritudinis como caminho para Deus?
Quem é o interlocutor do crente e, em particular, do cristão?
Todo o ser humano, sem dúvida.
Mas há que estabelecer prioridades.
O interlocutor privilegiado do cristão não é o poderoso nem sequer é o homem culto. É o homem sofredor.
Não é, pois, para o pedestal que devemos olhar. É para os escombros.
Agostinho tinha razão: para Deus sobe-se, descendo.
Depressa partimos, rapidamente chegamos.
A vida é, também ela, uma viagem.
Nas viagens, é nas partidas que começamos a chegar
e é nas chegadas que nos preparamos para, novamente, partir.
Também na vida, é ao nascer que começamos a morrer
e é na morte que acabamos, definitivamente, de nascer!
«Não é tanto o sofrimento das crianças que se torna revoltante em si mesmo, mas sim que nada justifica tal sofrimento».
Assim escreveu (atenta e magnificamente) Albert Camus.
Sei onde estive. Saberei onde estarei?
Estamos sempre em trânsito. A vida é, toda ela, uma passagem.
Só em Deus descansarei.
«Tem inimigos? Isso é bom. Quer dizer que, alguma vez na vida, se empenhou em defesa de qualquer coisa».
Assim escreveu (notável e magnificamente) Winston Churchill.
Um santo e feliz dia para si.
Deus lhe conceda todas as bênçãos.
Abraço amigo no Senhor.
O encontro com Jesus é, verdadeiramente, transformador da nossa vida.
Somos outros depois de estarmos com Ele.
Mas o seguimento de Jesus não se pode traduzir apenas nas palavras. Não basta reproduzir a mensagem de Jesus.
É fundamental (e cada vez mais urgente) reproduzir a Sua conduta. Para Walter Kasper, a grande novidade de Jesus está aqui: na Sua conduta.
Não chega, pois, falar como Jesus. É necessário imitar a Sua bondade, a Sua simplicidade, o Seu despojamento, a Sua proximidade com os simples...
Aqui me tens, Senhor. Uma vez mais To digo.
É pouco, quase nada, o que recebes.
Mas é tudo o que sou.
O meu nada vai todo para Ti.
E para aqueles a quem me vais enviando...
O poder não devia ser exercido pelos poderosos, mas pelos humildes, pelos pobres, pelos homens de paz.
O poder devia ser entregue a quem revelasse maior pudor diante dele. Deixar-se seduzir pelo poder é muito perigoso. Leva, quase sempre, à ambição de eternização no poder. O poder deve ser transitório, humilde, pudico, pacificante.
Já S. Clemente exortava as autoridades «a exercer o poder que Deus lhes concedeu na paz e na mansidão com piedade».
Que actualidade recobra, hoje, esta admoestação!
Estaremos nós, em Igreja, a optimizar o ADN espiritual da humanidade?
Hoje, quarenta dias depois do Natal, é a festa da apresentação de Jesus no Templo.
Maria, cuja purificação também se celebra, leva o Seu Filho a Deus.
Daí que seja hábito abençoar as crianças neste dia.
É uma oportunidade para os pais apresentarem o fruto do seu amor à fonte de todo o amor: Deus que também Se faz criança.
Leve os seus filhos à casa de Deus. Hoje.
Deus hoje tem uma surpresa para si.
Ele vai fazer-lhe uma visita.
Prepare-se para receber o Senhor.
Um santo e feliz dia.
Recomenda Thomas Kempis: «Não sejas lisonjeiro com os ricos e foge da companhia dos grandes. Associa-te com os humildes e simples».
Há cada vez mais seres humanos na rua, vítimas da pobreza e da violência doméstica.
O recurso são as pensões. É pouco. É triste.
Vivemos na mesma terra. Mas não nos tratamos do mesmo modo.
Sem justiça, não há paz.
Numa única pessoa, a humanidade inteira.
Nenhum ser humano pode ser instrumentalizado, usado, escarnecido.
Cada pessoa é única.
«A gente só enxerga o que já está preparado para ver».
Assim escreveu (perspicaz e magnificamente) Bernardo Carvalho.
Era assim que um cristão da antiguidade, um mártir e um santo, se apresentava: teóforo.
Cada ser humano é um teóforo. Você também.
Teóforo é o que traz Deus, o que transporta Deus.
Eu vejo Deus em si. A reluzir.
Muita paz.
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam antigas lições
De morrer pela pátria e viver sem razão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Assim poetou (admirável e magnificamente) Geraldo Vandré.
O ano ainda é novo mas uma 12ªa parte dele já lá vai. Um novo mês começa. As maiores felicidades.
Até o mudar mudou, já dizia Bernardim Ribeiro.
A religião também muda. Desde logo, muda a forma de a vivermos.
Hoje em dia, existe não existe apenas o praticante. Existe também o peregrino, como nos lembra Danièle Hervieu-Léger.
Além daquele que participa todos os dias em local certo, há aquele que aparece em lugar incerto; aquele que vem de vez em quanto e aquele que ora vai a este santuário, como vai àquela praça.