A religião não é um mero fenómeno religioso. É um verdadeiro fenómeno humano.
Régis Debray não se revê na «separação entre o alto e o baixo». É neste sentido que, como assevera José Antonio Marina, «a matriz de todas as culturas foi religiosa». Na verdade e como acrescenta Clyde Kluckkon, «até ao emergir das sociedades comunistas, não conhecemos nenhum grupo humano sem religião».
S. Justino sustenta que as sementes do Verbo de Deus estão espalhadas por todos os homens. Tertuliano proclama que «a alma humana é naturalmente cristã».
Mais recentemente, Karl Rahner desenvolveu a teoria do cristianismo anónimo e Edward Schillebeeckx debruçou-se sobre o cristianismo implícito. Também Xavier Zubiri propõe a ideia de haver, em toda a parte, um cristianismo intrínseco, um cristianismo germinal.
Estaremos nós, em Igreja, a optimizar devidamente este património genético, este autêntico ADN espiritual da humanidade?
Haverá sempre o devido lugar para Deus no nosso ser e no nosso agir? Ou não será que as pessoas têm de ir procurar lá fora o que não encontram cá dentro?
É bom não esquecer que, já em 1985, os bispos do mundo inteiro, reunidos em Sínodo, perguntavam se a difusão das seitas não era o sinal de que nós, católicos, estávamos a perder o sentido do sagrado.
D. Walmor Oliveira de Azevedo assinalou, recentemente, que «um católico abandona a Igreja porque, muitas vezes, não encontra Deus nela».
Na sua óptica, «muitos, no fundo, não querem abandonar a Igreja; o que querem é procurar sinceramente a Deus».
Em conexão com a espiritualidade vem sempre a caridade. Se não praticamos o acolhimento e a delicadeza, se não nos envolvemos nas causas da justiça e da defesa dos mais pobres, não convenceremos ninguém.
As pessoas necessitam de ouvir a verdade. Mas precisam igualmente de ver o amor. Se não o virem na nossa vida, não acreditarão nas nossas palavras.
D. Adriano Bernardini, Núncio Apostólico na Argentina, advertiu em tom autocrítico: «Explicamos ao povo as sublimes palavras de Jesus e, na prática, descobrimo-nos, com frequência, rudes e até desumanos».
É por isso que, como refere Louis Mangkhanekhoun, «o mundo está cansado de escutar, mas não está cansado de se maravilhar e de admirar um testemunho verdadeiro. Há fome e sede de pastores que vivam aquilo que pregam e que preguem aquilo que vivem».