Num momento de crise global, terá sentido falar de alegria? Não será, por exemplo, a alegria um mero disfarce ou uma pura artificialidade? Não será uma alegria que esconde toneladas de dor e carradas de angústia?
Foi Paul Claudel quem afirmou que «onde há mais alegria, há mais verdade». E o nosso Almada Negreiros assinalou, com propriedade, que «a alegria é a coisa mais séria desta vida». Complementarmente, podemos acrescentar que a seriedade é coisa mais alegre deste mundo.
Não podemos medir a alegria apenas pela expressão fácil ou pela atitude folgazã. Não é lícito mensurar a alegria pelo riso convulso ou pela gargalhada descontrolada.
Há muitas formas de ser alegre. Há quem seja alegre de um modo mais expansivo e há quem seja alegre de uma maneira mais contida, mais interior. Até se pode ser alegre a chorar. Não há tantas lágrimas de alegria?
Não há dúvida de que, como alerta Levinas, o rosto é o espelho da alma. Mas o rosto alegre será apenas o rosto ridente ou a aparência jovial? No fundo, o sustento da alegria encontra-se num coração puro, numa vida limpa, transparente.