O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Quarta-feira, 17 de Fevereiro de 2010
1. Na madrugada da minha vida, também sonhei.
 
Sonhei com um mundo diferente. Sonhei com o fim das guerras e com o termo das injustiças.
 
Sonhei que era possível abater muros e construir pontes. Sonhei que os ideais sobrelevariam os interesses e os cálculos.
 
Sonhei que a transformação estava em marcha. Sonhei que, no tempo expectável da minha existência, iria ver a realidade que as esperanças iam desenhando.
 
Eram os anos 60, a virar para os 70. À distância a que, agora, já nos encontramos, é fácil dizer que éramos todos ingénuos.
 
Talvez fôssemos. Mas acreditem que éramos felizes assim. Sentíamos que qualquer coisa nova pairava no ar e que, depressa, se alojava nos nossos corações.
 
Não conseguíramos nada. Mas acreditávamos em quase tudo. Era o tempo das gaivotas a voar e das papoilas a florir.
 
Não é a Primavera a estação que mais nos encanta? Não é nela que colhemos, mas a sementeira chega a ser mais entusiasmante que a própria colheita. Não é, tantas vezes, a véspera de uma festa mais sentida que a própria festa?
 
A vida ensina-nos que somos, frequentemente, seres da tarde que preparam um amanhecer que pode acabar por nunca surgir.
 
Mas mesmo que a manhã não venha, alguém poderá provar que não valeu a pena o esforço do tempo de véspera?
 
 
2. Foi com este estado de espírito que cheguei ao encontro do grande Luther King e do sermão que proferiu um dia antes de ser assassinado.
 
Confesso que, como a ele, também a mim me custa olhar para a vida como um máquina destruidora de sonhos: «A vida é uma história contínua de sonhos desfeitos». Tantas vezes nos passa pela cabeça a ideia de que «o nosso esforço de nada vale».
 
Acontece que «a vida é mesmo assim. E o que me dá felicidade é que ouço uma voz que vem do fundo dos tempos para me dizer: "Pode não vir hoje ou amanhã, mas é bom que tenhas o sonho dentro do teu coração. É bom que tentes". O sonho pode não se realizar, mas, se tendes o desejo de o realizar, isso já é bom».
 
Deus não nos julgará por uma parcela do nosso ser, mas pela totalidade da nossa vida. «Deus sabe que os Seus filhos são frágeis. O que Deus exige é que tenhamos o nosso coração cheio de rectidão».
 
 
3. Se dermos conta de que ainda nos falta rectidão, peçamos a Deus que no-la dê. O importante não é tanto o que conseguimos, mas o que tentamos.
 
«Fazei com que alguém possa dizer de vós: "Pode não ter atingido o cume mais alto, pode não ter realizado todos os seus sonhos, mas tentou". Não é maravilhoso que digam isso de nós? "Ele tentou ser um homem bom. Tentou ser um homem honesto"».
 
Às vezes, até os piores instantes podem ser fecundos. A noite amedronta porque é escura, mas não é «na noite escura que se vêem as estrelas»?
 
Urge porfiar não por lugares, não por interesses, mas, acima de tudo, por ideais, por valores. De uma vez para sempre, é hora de nos decidirmos «a ser homens, a ser gente».
 
 
4. Pela frente, «temos dias difíceis».
 
Ter uma vida longa é uma aspiração legítima para todo o ser humano. Luther King não fugia à regra, mas o mais importante, para ele, era «fazer a vontade de Deus».
 
Luther King não viu a realização do sonho. Mas foi o seu sonho e a coerência do seu testemunho que permitiu desbravar caminhos.
 
Por isso, ele pediu para ser lembrado não como o homem que conseguiu, mas como o homem que sonhou, o homem que tentou. Que tentou «consagrar a sua vida ao serviço do próximo». Que tentou «amar alguém». Que tentou «ser justo». Que tentou «amar e servir a humanidade».
 
Não pediu para ser recordado como alguém consensual, mas como um chefe de partido: do partido da justiça, do partido da paz, do partido da rectidão.
 
Eis a única herança que conta. Não é o dinheiro. Não são as coisas valiosas nem o luxo da vida. «A única coisa que quero deixar é uma vida de militância, de testemunho».
 
Os sonhadores podem ser eliminados. Mas o sonho nunca morrerá!
publicado por Theosfera às 23:44

É bom ver uma comunidade educativa relevar o crescimento espiritual dos seus membros.

 

A espiritualidade não é um compartimento. É uma alavanca, uma fibra e um horizonte que emerge da profundidade do ser e que desagua na imensidade da vida.

 

No Colégio da Imaculada Conceição, sente-se um envolvimento muito intenso de toda a gente na participação na Santa Missa.

 

A vivência escorre pelos cânticos, pelas palavras, pelos silêncios e pela nobre simplicidade que adorna a presença.

 

Obrigado pelo (belo) testemunho. As maiores felicidades!

publicado por Theosfera às 23:43

Senhor,

aceita a oferta do meu pobre ser

neste início do santo tempo da Quaresma.

Que eu Te acolha,

que eu Te ame,

que eu me aproxime de Ti

e dos irmãos.

Que a minha oração aumente.

Que o meu jejum se intensifique.

Que a minha partilha alargue e envolva.

Senhor, santifica este tempo.

Emoldura-o com a unção que vem de Ti.

Que as palavras sejam de paz e de amor.

Santa Quaresma!

publicado por Theosfera às 15:51

Hoje é dia de jejum.

Façamos jejum da carne e do peixe caro.

Façamos jejum das palavras ofensivas,

dos sentimentos torpes,

das insinuações cruéis,

da ostentação,

dos juízos temerários,

das mentiras,

da luxúria e do prazer fútil.

Façamos jejum dos excessos e da desesperança.

Inoculemos a paz de Jesus

no nosso coração.

Santo Jejum!

publicado por Theosfera às 15:50

1. Depois da Terça-Feira de Carnaval a Quarta-Feira de Cinzas. Após o Entrudo a Quaresma. (Aliás, chama-se Entrudo por ser precisamente entrada na Quaresma). E, de facto, já estamos na Quaresma.
 
Dir-se-ia que é o tempo litúrgico que mais se assemelha à vida humana. Muito mais que o Carnaval. Poucos, com efeito, encontrarão motivos para folia. Pelo contrário, o que mais nos pedem são sacrifícios.
 
A Quaresma é um tempo de penitência e o que mais se vê, hoje em dia, são pessoas com uma vida inteira de penitência.
 
Temos a penitência da crise. Temos a penitência de ouvir falar da crise e, ainda por cima, a toda a hora. Temos a penitência do desemprego. Temos a penitência da criminalidade. Temos a penitência da injustiça. Temos a penitência da pobreza, da exploração, da fome.
 
Pode parecer, por isso, pouco oportuno (e até desumano) vir apelar a mais penitência. Que maior pode ser a penitência de quem não tem pão para comer ou casa para habitar? Que maior pode ser a penitência de quem perdeu o emprego?
 
Como bem lembrou o Padre Ignacio Ellacuría, a Cruz tem uma permanente actualização histórica. Há pessoas crucificadas nas esquinas da existência. Cristo continua a ser torturado, condenado e morto em tantos deserdados da sorte, em tantos abandonados da vida: Ele está neles.
 
 
2. É fundamental, portanto, que quem faz apelos à penitência apresente também gestos visíveis de despojamento.
 
Na sua bela mensagem quaresmal, o Santo Padre exorta os cristãos a unir o jejum à solidariedade: «Jejuar voluntariamente ajuda-nos a cultivar o estilo do Bom Samaritano, que se inclina e socorre o irmão que sofre. Escolhendo livremente privar-nos de algo para ajudar os outros, mostramos concretamente que o próximo em dificuldade não nos é indiferente».
 
Isto significa que aquilo de que nos privamos há-de ser oferecido a quem precisa. Veremos então que muitos passam mal porque nós não nos importamos. E notaremos que o nosso supérfluo é essencial para eles.
 
Se somos capazes de jejuar por razões egoístas, porque é que não havemos de jejuar por razões altruístas? Não falta quem reduza ao alimento para perder peso, para ser elegante. Porque não reduzir ao alimento para ajudar quem tem menos, quem tem quase nada?
 
 
3. Urge que nos habituemos a fazer do outro o centro do nosso ser, o centro da nossa preocupação, o centro da nossa vida.
 
Temos, pois, de nos des-centrar para nos re-centrar. O nosso centro só pode ser o centro de Cristo.
 
O centro de Cristo foi sempre Deus e o Homem. O centro dos membros da Igreja de Cristo só poderá ser Deus e o Homem. Daí o grande tripé que alavanca toda a trajectória quaresmal: a oração (relação com Deus) e o jejum e a esmola (partilha com o ser humano).
 
Sabemos, por exemplo, que, no dia 25 de Janeiro, 120 milhões de cristãos de 39 países promoveram uma jornada de oração e de jejum pela justiça no Zimbabwe.
 
Muita coisa poderá ser feita. Porque não, por exemplo, oferecer o peditório de um mês nas paróquias para ajudar os mais carenciados?
 
Uma Igreja pobre será sempre uma Igreja próxima, uma Igreja capaz de interpelar.
 
 
4. Façamos penitência apoiando quem tem de fazer penitência. A penitência por opção é um gesto de comunhão para com quem tem de fazer penitência por imposição.
 
Despojemo-nos da carne e do peixe caro, levando um pouco de pão a quem nada tem para comer.
 
Mas porque não fazer também, de vez em quando, jejum do automóvel desanuviando o ambiente? Porque não fazer jejum do cigarro, contribuindo para a minha saúde e para a saúde do meu semelhante? Porque não fazer jejum de televisão ou na net, dando mais atenção aos outros?
 
Façamos também jejum de imagens e de palavras. E não deixemos de fazer jejum dos juízos precipitados, das acções agressivas e dos sentimentos violentos.
 
Deixemos que a bondade brilhe. Que a paz se instale. Que a justiça floresça. E que o amor vença.
 
Não foi por tudo isto que Ele [Jesus] deu a vida?
publicado por Theosfera às 15:48

«Mais do que de Pão, mais do que de Emprego, mais do que de Saúde, precisamos de Espiritualidade. Tudo o mais - Pão, Emprego, Saúde - é importante, imprescindível, até, mas tudo pode tornar-se perverso sem Espiritualidade».

Assim escreveu (estupenda e magnificamente) o Padre Mário de Oliveira.

publicado por Theosfera às 15:44

É pena que nós, católicos, não atribuamos o devido valor ao jejum. Em muitos casos, ele é confundido com a mera abstinência.

 

Se olharmos para Jesus Cristo, a referência normativa por excelência, verificamos que o jejum teve uma importância determinante. Foi pelo jejum que Ele começou a Sua vida pública. O mal só é vencido com a oração e o jejum.

 

Neste sentido, faz pensar o que disse um patriarca monofisita do Egipto no fim de uma visita a Roma: «Compreendi que a nossa fé em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, é idêntica. Mas fiquei a saber que a Igreja Romana aboliu o jejum [o que não é totalmente verdade, diga-se] e sem jejum não há Igreja».

 

Sendo a alimentação um dos actos centrais da vida biológica do Homem, o jejum é uma expressão eloquente do primado absoluto de Deus.

 

Como refere Joseph Ratzinger, «sem uma expressão também corporal, o primado de Deus dificilmente se torna o momento decisivo da vida humana».

publicado por Theosfera às 15:43

«Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos».
Assim escreveu (magistral e magnificamente) Aurélio Agostinho de Tagaste.
publicado por Theosfera às 15:41

E, afinal, já estamos na Quaresma.

 

Hoje é Quarta-Feira de Cinzas.

 

Que este tempo nos ajude a aproximar do essencial: da verdade, da bondade, do amor, do Home, de Deus.

publicado por Theosfera às 15:32

Na manhã de segunda-feira, deparei com um problema grave no computador. 

 

Rapidamente, concluí que não era capaz de o reparar. Graças a Deus, encontrei dois bons (óptimos) samaritanos, que, prontamente, apareceram e fizeram com que tudo fosse remediado.

 

Queria salientar não apenas a competência, mas, acima de tudo, a prontidão, a disponibilidade, a humildade, a simpatia e a amizade.

 

Vale a pena viver para encontrar pessoas diferentes. Que têm alegria em servir.

 

Muito obrigado. Do fundo do coração. Que Deus os abençoe. 

publicado por Theosfera às 15:28

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