A Igreja é uma comunhão, um mistério de comunhão.Sabemo-lo desde sempre, mas não nos apercebemos há muito.
Foi sobretudo o Concílio Vaticano II (na sequência da investigação teológica que se foi efectuando) que nos chamou a atenção para a centralidade da comunhão.
E, vinte anos mais tarde (em 1985), o Sínodo dos Bispos advertiu que comunhão é o conceito mais adequado para compreender (e compendiar) toda a visão conciliar sobre a Igreja.
Mas o que é exactamente a comunhão?Talvez seja melhor começar pela via negationis: o que não é a comunhão?
A comunhão não é, obviamente, compatível com o individualismo. Mas também não é compaginável com a mera adição.
A comunhão não consiste, por exemplo, no simples facto de estarmos todos juntos. Pode ajudar mas não basta. A comunhão consiste em caminharmos todos em conjunto.
Às vezes, estamos juntos para desvelarmos a nossa descomunhão.
A comunhão não se sobrepõe à pessoa. Respeita e integra cada pessoa.
A comunhão é, antes de mais, acolhida e, por isso, rezada. Quem funda a comunhão da Igreja é a comunhão trinitária.
É este o percurso do Concílio: começa por Deus para chegar à Igreja e, de certo modo, para atingir o mundo.
Efectivamente, tão necessária como uma eclesiologia da comunhão é uma antropologia da comunhão.
Só existe, portanto, comunhão quando estamos sintonizados no mesmo Senhor, na mesma Igreja.
Existe comunhão quando partilhamos a mesma fé, a mesma esperança, o mesmo amor, as mesmas preocupações, os mesmos ideais.
Existe comunhão quando nos preocupamos com o irmão, com o outro, próximo ou distante. Quando lhe telefonamos. Quando lhe damos uma oportunidade. Quando respeitamos as suas palavras ou os seus silêncios.
A comunhão é sempre realidade e é sempre projecto. A realidade nunca atingirá o patamar ínsito no projecto.
A realidade fica sempre aquém.Deste modo, a comunhão é sempre passível de crescer.
Neste mundo, nunca estaremos no zénite da comunhão.Mas devemos tender para ele.
Sem comunhão, não há Igreja.Sem comunhão, não há vida.