Procuro não alimentar tabus, mas há assuntos sobre os quais entendo que o melhor é nada dizer. Não é por medo. É apenas por respeito, por gratidão, por amizade. Porque acerca de certas pessoas é o que quero que prevaleça: o meu imenso reconhecimento.
O sentido de gratidão que me acompanha jamais me autoriza a pronunciar-me sobre certas figuras, a quem muito (mesmo muito) devo.
Nos últimos dias, voltei a ouvir falar de uma possível investigação à obra de Andrés Torres Queiruga. Há quem fale de uma eventual condenção da mesma.
Sobre muitos assuntos, toda a gente sabe que penso diferente, embora nunca tivéssemos tido nenhuma polémica. As nossas conversas foram sempre muito fraternas, muito amigas, muito serenas.
O Prof. Andrés Torres Queiruga ajudou-me imenso nos meus estudos. Fê-lo não apenas com sentido profissional, mas com muita amizade e enorme calor humano.
Aliás, quando eu me dirigia a ele como rev.mo senhor Prof. Torres Queiruga, ele respondia-me logo: Não, João, apenas Andrés.
Os seus mails começavam sempre por querido João. Comecei, por isso, a retribuir-lhe (embora com algum estremecimento) com querido Andrés.
E, como as mães nunca se enganam, tenho o testemunho da minha querida Mãe, ela mesma desvanecida com a delicadeza com que o grande teólogo se lhe dirigia. É, realmente, alguém com uma grandeza de alma e uma dimensão humana dificilmente igualável.
Em figuras com o seu estatuto, não é habitual divisar-se tamanha sensibilidade e simplicidade.
O seu pensamento é certamente discutível. Ele sabe-o melhor que ninguém. Mas a sua qualidade como pessoa resiste a qualquer prova.
É um homem que fala, que pensa e que sente. Que se entusiasma e que entusiasma.
Como pessoa, haverá certamente igual. Não conheço, porém, ninguém melhor.
Há muita gente grande. Mas há poucos que saibam ser grandes. Andrés consegue ser luminosamente simples na sua grandeza.
Não paira lá do alto. Acompanha. É mestre. Sabe ser amigo.
Por isso, jamais me ouvirão uma palavra crítica acerca de Andrés Torres Queiruga. Espero que compreendam que a amizade admite excepções.
Sei que Aristóteles disse ser amigo de Platão, mas mais amigo da verdade. Cem por cento de acordo. Mas a minha devoção pela verdade é inseparável da fidelidade que devo a quem sempre me ajudou e encorajou.
Há muito que não falo com Andrés. Nunca se apagará, em mim, a dívida de gratidão que tenho para com ele. É impagável: o que ele fez e o modo como o fez.
Rezo para que tudo se esclareça. Sei que tudo vai acabar bem. Entre irmãos na fé é sempre muito mais aquilo que une do que aquilo que separa.