Ao entrar, hoje, no cemitério da minha terra natal, não vi o sol. Fazia vento e chovia. Chovia pranto.
Qualquer coisa tumultuava cá dentro. Estava frio, um frio entremeado pelo calor arfante da saudade.
Só o cinzento do exterior amenizava o breu que se alojava no interior: o breu da dor.
Nada disto se explica, tudo isto se sente.
Sei que meu querido Pai, falecido há treze anos, mora em Deus. Não era preciso, por isso, passar pelo cemitério. Mas a vida é feita de sinais. E o túmulo é mais um sinal de uma presença que não se apaga, de um amor que não se extingue.
Ali deixei um ramo de flores. Ali depositei uma prece. Meu Pai está sempre comigo. Eu estou sempre com meu Pai.
Ir a um cemitério não é uma experiência fácil, mas é uma experiência necessária, purificadora.
Certifica-nos de como tudo é perecível, de como tudo acaba num ápice. Só o bem perdura. Só Deus permanece. Vale a pena fazer do tempo uma construção de eternidade para que a eternidade possa ser um feliz corolário do tempo.
Meu querido Pai costumava dizer, nos últimos tempos, que faltava pouco para ir para a Senhora da Guia. O cemitério fica mesmo ao lado da capela.
Há uma atmosfera de dor naquele lugar. De uma dor, porém, ungida pela fé e ornada pela esperança.
Não havia muita gente lá neste dia. Mas ainda deu para rever a Cristina, a Marina, a Sónia, o André e o Tiago.
É bom saber como ainda há pessoas que, mudando como tudo muda, continuam a ser o que sempre foram: humildes, transparentes, amigas.
Sem sair deste tempo, vi-me, de repente, transportado à minha juventude. Já distante.
Nada disto se explica. Tudo isto se sente.
O meu sincero reconhecimento.