Já me aconteceu proferir conferências sobre a oração e, no tempo de diálogo, havia dois tipos de questões: os leigos e até não crentes mostravam curiosidade, interesse e apetência; já alguns dos meus queridos irmãos padres revelavam uma certa reticência e até resistência.
Sempre respeitei, como é óbvio, mas tudo isso me deixava pensativo.
Se um padre não se sente professo em oração, fica afectado na sua identidade essencial.
Poderá tratar-se de uma vontade de ser progressista.
A este propósito, deixo duas afirmações insofismáveis.
O Padre Mário de Oliveira, vulgo Padre Mário da Lixa, disse há pouco: «Mais do que de Pão, mais do que de Emprego, mais do que de Saúde, precisamos de Espiritualidade. Tudo o mais - Pão, Emprego, Saúde - é importante, imprescindível, até, mas tudo pode tornar-se perverso sem Espiritualidade».
E Leonardo Boff, que abandonou o sacerdócio e a ordem franciscana, confessa em livro: «A oração é a alma e a respiração de toda a religião».
Para terminar, não esqueçamos que até Zeca Afonso (que nasceu há precisamente 80 anos) morreu com os livros de Santa Teresa e S. João da Cruz na cabeceira!
A oração não é bafienta nem retrógrada. Ela é soberanamente vanguardista e revolucionária. Muda a vida. Muda-nos a nós.
Será que que, numa altura em que a espirtualidade explode por toda a parte, está a implodir na Igreja?