Se o pensamento da morte já infunde suficiente temor, sobre o que se passa depois dela o desconforto não é menor. Como é a eternidade? Que nos é dado saber acerca dela?
Antes de mais, deve dizer-se que a vida eterna faz parte da promessa de Jesus: «Vou preparar-vos um lugar. E quando Eu tiver ido e vos tiver preparado um lugar, virei outra vez, e levar-vos-ei coMigo, para que, onde Eu estiver, estejais vós também»(Jo 14, 2-3).
Não se trata, evidentemente, de um lugar com as feições topográficas próprias deste mundo. Na morte, o homem ascende a uma experiência que não é extralocal e supratemporal. A realidade que então nos é proporcionada tem essencialmente a ver com uma nova forma de participação na vida divina. O resultado deste encontro, que ocorre no momento da morte, entre o homem e a verdade absoluta de Deus pode ser triplo.
Primeira possibilidade: o homem opta por Deus num acto de liberdade que o leva a entregar-se a Ele, a assemelhar-se a Ele ao longo da vida. Esta decisão é assumida como a prioridade das prioridades. Dando origem a uma existência plenamente modelada pelo Evangelho e pelo Espírito de Jesus Cristo.
Neste caso, a morte mais não é (e já é muito, já é tudo) que o encontro definitivo com Deus. É precisamente a este encontro definitivo que denominamos céu. Por aqui se vê que o céu não impede, antes favorece, o compromisso com as grandes causas do mundo e no homem.
Com efeito, é no coração do mundo e no coração do homem que vamos ao encontro de Deus. Fazendo já, no tempo, a experiência do céu. «Onde quer que o homem encontre Deus — diz Olegario González de Cardedal — aí está o seu céu».
Não há, na verdade, céu sem terra. Como escreveu Isabel da Trindade, «encontrei o céu na terra; porque o céu é Deus e Deus está dentro de mim».