Hoje, é o dia mundial da alimentação. Amanhã, é o dia mundial da erradicção da pobreza.
Dois dias, dois contrastes: hoje, lembramos os males dos excessos da comida; amanhã, recordaremos os malefícios do défice de comida.
Em Portugal, a pobreza afecta quase 20% da população. A maioria passa fome.
Não ouvimos falar da fome nestas camanhas eleitorais. O que vimos foi desperdiçar dinheiro que daria para saciar tanto estômago vazio.
O Secretário da Congregação do Clero teve, ontem, uma importante intervenção que vale a pena reter:
A única razão da nossa vida e do nosso ministério é Jesus de Nazaré, Cristo e Senhor! A existência dos Sacerdotes encontra n’Ele, e somente n’Ele, a origem e o fim próprios e, no tempo, também o seu desenvolvimento. De fato, a relação íntima e pessoal com Jesus Ressuscitado, vivo e presente, é a única experiência capaz de levar um homem a doar totalmente a sua vida a Deus, em favor dos irmãos.
Nós bem sabemos como o Senhor nos seduziu, como o seu fascínio foi, para cada um de nós, irresistível, como afirma o profeta: “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir. Foste mais forte do que eu e me subjugaste!” (Jr. 20, 7).
Este fascínio, como tudo o que é verdadeiramente precioso, deve ser continuamente defendido, guardado, protegido e alimentado, para que não se perca ou para que não se torne uma vaga recordação, insuficiente para reger o contraste, com frequência, agressivo, das realidades do mundo. A intimidade divina, origem de todo apostolado, é o segredo para custodiar permanentemente o fascínio por Cristo.
Antes de tudo somos Sacerdotes para estarmos estreitamente unidos a Cristo, Sumo Sacerdote, unidos Àquele que é a nossa única salvação, que deve ser o Amado do nosso coração, a Rocha sobre a qual fundamentamos cada momento do nosso ministério, Aquele que nos é mais íntimo de nós mesmos e que devemos desejar mais que tudo.
Cristo Sumo Sacerdote, lança-nos para dentro de Si. Esta união com Ele, gerada pelo sacramento da Ordem, comporta a participação à Sua oferta: “Unir-se a Cristo supõe a renúncia. Comporta não querermos impor a nossa estrada e a nossa vontade; não desejarmos tornar-nos isto ou aquilo, mas abandonarmo-nos a Ele em todos os lugares e modos como Ele quiser Se servir de nós” (Bento XVI, Homilia da Santa Missa do Crisma, 09-04-2009).
A expressão “estar unidos” recorda-nos que tudo o que fazemos não é obra nossa, fruto de um esforço voluntário, mas é obra da Graça que actua em nós: é o Espírito que nos configura ontologicamente a Cristo Sacerdote e nos doa a força de perseverar até o fim nesta participação na vida e, portanto, na obra divina.
A “vítima pura”, que é Cristo Senhor, remete para o insubstituível valor do celibato, que implica a perfeita continência pelo Reino dos Céus e a pureza que torna “agradável a Deus” a nossa oferta em favor dos homens.
A intimidade com Jesus Cristo e a protecção da Virgem Maria, a “tota pulchra” e a “tota pura”, nos sustente no caminho quotidiano de participação à “obra de um outro”, na qual consiste o ministério sacerdotal, sabendo que, tal participação é portadora de salvação, antes de tudo, para nós que a vivemos: neste sentido, Cristo é a nossa vida!
Partilho da opinião de muitos, para quem a Igreja passa por uma situação difícil, embora a sua situação nunca tenha sido fácil. Congar falava de outono da Igreja e Rahner de inverno da Fé.
Comungo ainda da percepção de que muitos dos problemas da Igreja têm que ver com os pastores, padres e bispos. Também nada disto é novo. Já, no século VI, Gregório Magno dizia o mesmo com palavras bem ácidas.
Mas, ao contrário de muitos (que respeito, como é óbvio), estou seguro de que Bento XVI não é o responsável pela crise. É, sim, a bússola para vencer a crise.
Aliás, se repararmos bem, tem todos os condimentos para justificar o nosso apreço.
É corajoso. Não se importa de estar em minoria. Diz o que tem de ser dito. Aponta para o essencial. É incompreendido e contestado.
Não lhes lembra ninguém?
O discípulo, de facto, não é superior ao Mestre.
Um dia, esperemos que não muito tarde, a Igreja vai dar conta do enorme valor deste Homem, de Bento XVI.
«Apenas nos deveria surpreender o ainda podermos ser surpreendidos».
Assim escreveu (lúcida e magnificamente) La Rochefoucauld.
Nas horas difíceis, os grandes desaparecem.
Nos momentos de dor, os grandes tornam-se pequenos.
Só os pequenos são verdadeiramente grandes.
Só dez por cento dos portugueses leram a Bíblia. Isto em 2009. Isto no século XXI. Isto relativamente ao livro mais lido do mundo!
Cristo deixou-nos uma enorme lição de humanidade.
Os discípulos de Cristo não podem destacar-se a não ser pelo humanismo.
Quem se entrega a Deus abre-se à plenitude do humano.
Há 31 anos, ele dava-se a conhecer ao mundo, ele dava Cristo ao mundo.
João Paulo II foi eleito a 16 de Outubro de 1978.
Durante anos, a Sé de Lamego enchia-se para assinalar tão feliz evento.
O senhor D. António de Castro Xavier Monteiro exultava e fazia-nos vibrar.
João Paulo II nunca nos abandona. Nunca!