O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Sexta-feira, 16 de Outubro de 2009

 

1. Yves Congar falou do outono da Igreja, Karl Rahner dissertou sobre a invernia da Fé e o próprio Joseph Raztinger tem tecido abundantes considerações sobre a crise do Cristianismo.
 
Qualquer um de nós, aliás, mesmo que não verbalize de modo tão agudo a situação, percebe facilmente que as coisas não estão bem.
 
Não deixa sequer de ser curioso que, numa altura em que se vaticina o fim da crise económica, seja o próprio Papa a prevenir-nos para a continuação da crise eclesial.
 
Para ele, com efeito, «a autêntica crise mal começou; e devemos contar com grandes abalos».
 
Verdade seja dita que a questão não é de agora. No fundo, a Igreja parece ter contrato firmado com a adversidade.
 
Em Portugal, por exemplo, estamos em pleno centenário da implantação da República cujas relações com a Igreja foram tudo menos pacíficas.
 
Sucede que, ao contrário de outrora, o principal problema da Igreja não é externo. O principal problema da Igreja é interno.
 
De fora continuam a vir a interpelações. Mas é de dentro que, não raramente, emergem os maiores obstáculos.
 
É a Igreja que pede uma conduta. E, ao mesmo tempo, é de dentro da própria Igreja que surgem impedimentos a essa mesma conduta!
 
 
2. No tempo que passa, não há perseguições vindas do exterior. Mas não estamos livres de perseguições no interior.
 
O Santo Padre mostra apreço por uma Igreja de mártires. Mas não quer, de forma alguma, uma Igreja que provoque mártires.
 
A essência do Cristianismo — recorda Bento XVI — «é uma história de amor entre Deus e os homens». Só que nem sempre esse amor escorre entre os membros da mesma Igreja.
 
Daí que o Sumo Pontífice tenha pedido «menos burocracia e mais Espírito Santo».
 
É que dá a impressão de que estamos muito acomodados. Parece que só nos incomodamos com quem não se acomoda.
 
A preocupação deveria ser acolher o mundo. Mas, à primeira vista, a opção parece ser assimilar o espírito do mundo.
 
Ora, isto não convence nem atrai. É que, para assimilar o espírito do mundo, não é preciso pertencer à Igreja.
 
O mundo necessita de se ver acolhido, mas pela diferença, não pela redundância. Se oferecemos o que todos oferecem, por que motivo hão-de as pessoas vir ter connosco?
 
 
3. Desde o princípio, desde Jesus Cristo, a Igreja está a chamada a ser, no mundo, algo diferente.
 
É por isso que nunca pode haver, nela, conformismo ou resignação. A Igreja tem de sobressair por uma sadia inquietude e por um permanente despojamento.
 
O fundamental, para a Igreja, não é a adaptação. É a presença. É a presença da diferença.
 
Não há dúvida de que o cristão tem de estar no mundo. É essa a vontade de Cristo (cf. Jo 17, 18). Mas é também vontade de Cristo que o cristão não se dissolva no espírito do mundo (cf. Jo 17, 16).
 
Tratar-se-á, portanto, de um estar sem pertencer. Estamos no mundo, mas pertencemos a Cristo.
 
 
4. Os critérios da Igreja não podem ser os de uma qualquer organização. Os critérios da Igreja só podem ser os de Jesus Cristo, os do Evangelho.
 
Todavia, se olharmos para certas palavras e atitudes, até o mais desatento será tentado a perguntar: em que se distinguem os cristãos dos outros homens?
 
Como refere Joseph Ratzinger, «para a maioria, o descontentamento em relação à Igreja provém do facto de esta parecer uma instituição como muitas outras». Será que isto satisfaz?
 
Reparando bem, há uma tendência crescente para substituir a pela mera opinião. De resto, muitas intervenções permitem-se trocar o eu creio pelo eu penso ou, então, pelo nós decidimos!
 
É por tudo isto que a Igreja tem de prestar atenção ao exterior e tem de ter cuidado com o interior. Ela tem de servir para fora e de mudar por dentro. Só assim será convincente, atraente e atractiva.
 
Eis, pois, a questão decisiva: como é que os outros hão-de mudar se nós não nos queremos converter?
publicado por Theosfera às 21:29

 

Se estivermos atentos, Bento XVI já não fala tanto de secularização da sociedade como de auto-secularização da Igreja.
 
No limite, os papéis parecem trocados. Tanto encontramos sociólogos a aludir ao regresso de Deus como teólogos (e hierarcas) a divagar sobre o eclipse de Deus.
 
Será que, como anotava alguém há anos, corremos o risco de ter uma Igreja secularizada no meio de uma sociedade cada vez mais aberta e sensível ao espiritual?
 
Importa, como é óbvio, não generalizar nem entrar em pânico. Mas convém igualmente que não passemos ao lado dos sinais que nos vão chegando.
publicado por Theosfera às 20:47

Hoje, é o dia mundial da alimentação. Amanhã, é o dia mundial da erradicção da pobreza.

 

Dois dias, dois contrastes: hoje, lembramos os males dos excessos da comida; amanhã, recordaremos os malefícios do défice de comida.

 

Em Portugal, a pobreza afecta quase 20% da população. A maioria passa fome.

 

Não ouvimos falar da fome nestas camanhas eleitorais. O que vimos foi desperdiçar dinheiro que daria para saciar tanto estômago vazio.

publicado por Theosfera às 14:13

O Secretário da Congregação do Clero teve, ontem, uma importante intervenção que vale a pena reter:

 

A única razão da nossa vida e do nosso ministério é Jesus de Nazaré, Cristo e Senhor! A existência dos Sacerdotes encontra n’Ele, e somente n’Ele, a origem e o fim próprios e, no tempo, também o seu desenvolvimento. De fato, a relação íntima e pessoal com Jesus Ressuscitado, vivo e presente, é a única experiência capaz de levar um homem a doar totalmente a sua vida a Deus, em favor dos irmãos.

 

Nós bem sabemos como o Senhor nos seduziu, como o seu fascínio foi, para cada um de nós, irresistível, como afirma o profeta: “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir. Foste mais forte do que eu e me subjugaste!” (Jr. 20, 7).

 

Este fascínio, como tudo o que é verdadeiramente precioso, deve ser continuamente defendido, guardado, protegido e alimentado, para que não se perca ou para que não se torne uma vaga recordação, insuficiente para reger o contraste, com frequência, agressivo, das realidades do mundo. A intimidade divina, origem de todo apostolado, é o segredo para custodiar permanentemente o fascínio por Cristo.

 

Antes de tudo somos Sacerdotes para estarmos estreitamente unidos a Cristo, Sumo Sacerdote, unidos Àquele que é a nossa única salvação, que deve ser o Amado do nosso coração, a Rocha sobre a qual fundamentamos cada momento do nosso ministério, Aquele que nos é mais íntimo de nós mesmos e que devemos desejar mais que tudo.

 

Cristo Sumo Sacerdote, lança-nos para dentro de Si. Esta união com Ele, gerada pelo sacramento da Ordem, comporta a participação à Sua oferta: “Unir-se a Cristo supõe a renúncia. Comporta não querermos impor a nossa estrada e a nossa vontade; não desejarmos tornar-nos isto ou aquilo, mas abandonarmo-nos a Ele em todos os lugares e modos como Ele quiser Se servir de nós” (Bento XVI, Homilia da Santa Missa do Crisma, 09-04-2009).

 

A expressão “estar unidos” recorda-nos que tudo o que fazemos não é obra nossa, fruto de um esforço voluntário, mas é obra da Graça que actua em nós: é o Espírito que nos configura ontologicamente a Cristo Sacerdote e nos doa a força de perseverar até o fim nesta participação na vida e, portanto, na obra divina.

 

A “vítima pura”, que é Cristo Senhor, remete para o insubstituível valor do celibato, que implica a perfeita continência pelo Reino dos Céus e a pureza que torna “agradável a Deus” a nossa oferta em favor dos homens.

 

 A intimidade com Jesus Cristo e a protecção da Virgem Maria, a “tota pulchra” e a “tota pura”, nos sustente no caminho quotidiano de participação à “obra de um outro”, na qual consiste o ministério sacerdotal, sabendo que, tal participação é portadora de salvação, antes de tudo, para nós que a vivemos: neste sentido, Cristo é a nossa vida!

publicado por Theosfera às 14:09

Partilho da opinião de muitos, para quem a Igreja passa por uma situação difícil, embora a sua situação nunca tenha sido fácil. Congar falava de outono da Igreja e Rahner de inverno da Fé.

 

Comungo ainda da percepção de que muitos dos problemas da Igreja têm que ver com os pastores, padres e bispos. Também nada disto é novo. Já, no século VI, Gregório Magno dizia o mesmo com palavras bem ácidas.

 

Mas, ao contrário de muitos (que respeito, como é óbvio), estou seguro de que Bento XVI não é o responsável pela crise. É, sim, a bússola para vencer a crise.

 

Aliás, se repararmos bem, tem todos os condimentos para justificar o nosso apreço.

 

É corajoso. Não se importa de estar em minoria. Diz o que tem de ser dito. Aponta para o essencial. É incompreendido e contestado.

 

Não lhes lembra ninguém?

 

O discípulo, de facto, não é superior ao Mestre.

 

Um dia, esperemos que não muito tarde, a Igreja vai dar conta do enorme valor deste Homem, de Bento XVI.

publicado por Theosfera às 10:56

«Apenas nos deveria surpreender o ainda podermos ser surpreendidos».

Assim escreveu (lúcida e magnificamente) La Rochefoucauld.

publicado por Theosfera às 10:54

Nas horas difíceis, os grandes desaparecem.

 

Nos momentos de dor, os grandes tornam-se pequenos.

 

Só os pequenos são verdadeiramente grandes.

publicado por Theosfera às 10:53

Só dez por cento dos portugueses leram a Bíblia. Isto em 2009. Isto no século XXI. Isto relativamente ao livro mais lido do mundo!

publicado por Theosfera às 06:19

Cristo deixou-nos uma enorme lição de humanidade.

 

Os discípulos de Cristo não podem destacar-se a não ser pelo humanismo.

 

Quem se entrega a Deus abre-se à plenitude do humano.

publicado por Theosfera às 00:45

Há 31 anos, ele dava-se a conhecer ao mundo, ele dava Cristo ao mundo.

 

João Paulo II foi eleito a 16 de Outubro de 1978.

 

Durante anos, a Sé de Lamego enchia-se para assinalar tão feliz evento.

 

O senhor D. António de Castro Xavier Monteiro exultava e fazia-nos vibrar.

 

João Paulo II nunca nos abandona. Nunca!

publicado por Theosfera às 00:16

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