1. Para que sejam resolvidos, não basta que os problemas sejam apontados. Antes de mais, é fundamental que sejam assumidos.
Nos começos do Cristianismo, este reconhecimento dos erros era habitual. Na actualidade, vai-se tornando de novo frequente.
2. No século VI, houve um Papa chamado Gregório — conhecido como Grande — que assumia com espantosa franqueza: «É verdade que recebemos o ministério sacerdotal, mas não cumprimos as obrigações do cargo».
Incisivo era também o seu apelo: «Não sejamos sentinelas silenciosas, mas pastores solícitos que velam pelo rebanho de Cristo, pregando a doutrina de Deus ao grande e ao pequeno, ao rico e ao pobre».
3. Sintomaticamente, o Papa Francisco vai na mesma direcção.
Ainda recentemente, disse aos pastores das comunidades para terem sempre «as portas abertas». Que não se deixem seduzir «pela arrogância, pela ambição de carreira, de dinheiro e por compromissos com o espírito do mundo».
4. A ser assim, correriam o risco de «se transformarem em funcionários, em empregados, mais preocupados consigo mesmos, pela organização e pela estrutura do que pelo bem do povo de Deus».
Aliás, ser pastor, para o Papa, não é ir necessariamente à frente. É também «estar disposto a caminhar no meio ou até atrás do rebanho». O pastor está à frente para conduzir, no meio para acompanhar e atrás para proteger. Não foi assim Jesus?
5. A humildade não desclassifica o pastor. Pelo contrário, requalifica-o soberanamente.
Faz-lhe inalar o odor das ovelhas, que também sabem trilhar o caminho d’Aquele que é o Caminho (cf. Jo 14, 6).
6. As ovelhas, na hora que passa, precisam não de quem dê ordens, mas de quem dê a vida.
Daí que o Santo Padre, que muito tem homiliado sobre o tema, convide os pastores a «divulgarem a esperança», tendo «os corações, as mãos e as portas abertas em todas as circunstâncias».
7. É mister perceber que a proposta de Jesus é um crescimento no amor e não uma subida no poder.
O pastor deve saber baixar-se no encontro com as pessoas. Ele deve ser mergulhador, não alpinista. A sua preocupação deve ser mergulhar nas profundezas da existência e não «subir na vida, para ter mais poder».
8. Infelizmente, há quem pense «que seguir Jesus é fazer carreira». Mas não é. «O cristão segue Jesus por amor». Só por amor. Sempre por amor.
É por isso que o cristão está no mundo. Mas sem se deixar contaminar pelo espírito mundano.