Gostaria de vos contar uma história. É uma história de Kirkegaard reproduzida por Joseph Ratzinger no seu livro Introdução ao Cristianismo.
Trata-se de um espectáculo de circo que estava montado numa aldeia. Tudo estava pronto. Eis, porém, que as chamas surgem e um forte incêndio se desencadeia. O director não tem mais ninguém a quem recorrer senão a um palhaço.
Só que este já se encontrava vestido e devidamente maquilhado. Mesmo assim, foi enviado à povoação mais próxima a pedir socorro.
Retratou com fidelidade o que se estava a passar. E não era só o circo que estava em risco. Os campos e até as casas das imediações corriam perigo. Era necessário, pois, que todos viessem combater o incêndio.
Contudo, ninguém o levou a sério. Os habitantes pensaram tratar-se de uma boa encenação do palhaço. Viram nos seus gritos uma publicidade, bem conseguida, ao espectáculo. Aplaudiram e desataram a rir a bandeiras despregadas.
O palhaço insistiu e começou a chorar, desesperado. Tentou convencer as pessoas acerca da gravidade da situação. Ninguém lhe ligou. Os risos até aumentaram. E os elogios à arte representativa do palhaço não deixaram de se fazer ouvir.
Só que, entretanto, as chamas alastraram. O circo foi destruído e a povoação reduzida a cinzas!
Para Ratzinger, «o palhaço que nem consegue fazer as pessoas ouvirem a sua mensagem é a imagem do teólogo». No fundo, podemos acrescentar: é a imagem do padre, do crente, da pessoa recta. Nenhum deles «é levado a sério».
Por mais que gesticulem e se esforcem «para convencer aqueles que o ouvem acerca da seriedade da situação, as pessoas considerá-lo-ão sempre, e de antemão, um…palhaço».
O palhaço, apesar do esforço, não conseguiu ser convincente. Ainda que tenha dito a verdade, não foi credível. O conteúdo estava certo, mas a roupagem não era ajustada.
Qual é a roupagem certa para não fazermos figura de palhaço? Só conheço uma: «a entrega incondicional da nossa vida a Deus e à humanidade»!