1. Tanto se faz e tão pouco se consegue!
Eis a sensação que, embora não verbalizada, percorre o espírito de muitos crentes, especialmente o daqueles que se dedicam à pastoral.
2. Se repararmos, nunca a pastoral foi tão planificada e tão organizada. Nunca a pastoral envolveu tantos meios nem mobilizou tanta gente.
E não obstante tanta vontade e tamanha dedicação, o desconforto visita e o desânimo espreita.
3. Quem já não passou pela situação descrita por um padre ortodoxo, que se lamentava: «Esforcei-me tanto, mas as pessoas não me ouvem: não vêm ou adormecem»?
Enfim, a pastoral tem tudo para ser eficaz mas, às vezes, parece tão pouco eficiente. A que se deverá este cansaço entre os cristãos?
4. Na busca de respostas, haverá quem insista na continuidade. Também não deixará de haver quem proponha mudanças.
E não faltará quem diga abertamente que a pastoral nunca funcionou tão bem como quando parecia não haver pastoral. Parece uma boutade. Mas vale a pena reflectir sobre a aparente provocação.
5. É claro que sempre houve pastoral. Desde logo, porque sempre houve pastores que procuraram estar na senda do único, bom e belo Pastor (cf. Jo 10, 11).
Mas, de facto, houve um tempo em que a pastoral não era tão programada, tão assente em planos, congressos, simpósios e sucessivas reuniões.
6. Para usar uma expressão do Papa Francisco, dir-se-ia que, mais do que uma «Igreja reguladora da fé», avultava uma «Igreja transmissora e facilitadora da fé».
Durante muitos séculos, a pastoral era concebida de uma forma muito concreta e muito simples, portanto facilmente assimilável. Tudo se concentrava no encontro.
A pastoral consistia, com efeito, no encontro com Deus e no encontro entre as pessoas que se encontravam com Deus.
7. Na linha do que é descrito nos Actos dos Apóstolos, a base da pastoral era a oração, a pregação e a caridade.
Na verdade, os primeiros cristãos eram assíduos à oração (cf. Act 2, 42) e ao anúncio de Jesus (cf. Act 2, 22). Punham tudo em comum (cf. Act 2, 44-45), partilhando tudo o que tinham (cf. Act 4, 32) pelo que «não havia pessoas necessitadas entre eles» (Act 4, 34).
8. Este centro era rapidamente transportado para o espaço e para o tempo. A vida dos cristãos decorria à volta de uma casa (Igreja) e em torno de um dia (Domingo).
De facto, era especialmente nessa casa e sobretudo nesse dia que se celebrava o encontro com Deus e o encontro entre as pessoas. Daí o lugar que assinalava a passagem da casa de cada um para a casa de todos: o adro.
9. O adro proporcionava convívio e servia de ligação: do tempo para o templo e da missa para a missão.
A comunidade até era conhecida como paróquia, ou seja, o território que ficava à volta (para) da casa (oikía). Os seus membros eram chamados paroquianos e também fregueses, isto é, filhos da Igreja.
10. O resto do tempo era vivido em função do Domingo (segunda-feira, terça-feira, etc.). No mundo rural, não havia férias, mas havia feriados.
Os feriados eram não tanto para descansar, mas sobretudo para celebrar. As pessoas interrompiam a cadência do trabalho normal para celebrarem determinadas festas religiosas.
11. Hoje, os tempos são outros. Não vivemos do passado, mas algo do passado pode continuar a iluminar-nos no presente.
As circunstâncias mudam, mas o essencial da pastoral permanece: rezar a Jesus, falar de Jesus e agir como Jesus.
Já não é pouco. É bastante. Não será tudo?