1. Estamos na Primavera e chove. Vivemos em democracia e temos medo. Já nem Abril parece Abril.
2. Antes de Abril, havia medo, sim. Havia medo de falar, de falar sobre certos assuntos, de falar sobre determinadas pessoas.
Acontece que, neste Abril, o medo parece ter perdido o medo. Neste Abril, todos aparentam ter medo de tudo.
3. Há medo de falar, medo de estar na rua, medo de ficar em casa, medo de perder o emprego, medo de que acabe o subsídio de desemprego.
Neste Abril, há medo do presente e há até medo do futuro.
Sentimo-nos vigiados e vemo-nos ameaçados.
4. Há ministros e sinistros que estão muito presentes na televisão e parecem muito ausentes da realidade.
Há ministros e sinistros que só lançam e comentam novas más. Mas já nem as novas são novas. Tudo parece demasiado previsível e requentado.
5. Nesta época de temporais, estamos a ser devorados por aquilo que Carlo Maria Martini denominou «tempestade ideológica». É um momento em que já nem sequer parece subsistir a «consciência de fazer mal».
A violação sistemática de direitos fundamentais é apresentada sob a bandeira de uma normalidade arrepiante.
6. As pessoas não se revêem nas decisões, nem se entusiasmam com as alternativas.
O país e a Europa parecem, usando uma imagem de Karl Jaspers, um enorme automóvel que ninguém conduz. E, sem condução, a possibilidade de desastre aumenta.
7. A desesperança espreita e já encontrou habitáculo em muitos espíritos.
Não nos deixemos derrubar por ela. Como dizia Bernanos, «a esperança é a maior e a mais difícil vitória que um homem pode ter».
8. A esperança é o triunfo da convicção sobre a evidência.
Tudo parece estar em ruínas. Tudo aparenta ruir.
9. Mas, como avisa o grande Agostinho de Hipona, «é quando parece que tudo acaba que tudo verdadeiramente começa»!