1. Este não é o tempo de alterar a doutrina. Este é o tempo de (re)centrar a vida.
O Papa Francisco tem dado sobejos sinais do que pretende para a Igreja. Que ela seja a ressonância de Jesus: do Jesus inteiro, do Jesus total.
Isto significa que a Igreja é chamada a ser a transparência do Jesus divino e também do Jesus humano. Do Jesus misericordioso, do Jesus humilde, do Jesus amigo, do Jesus irmão.
2. Percebe-se, assim, a insistência numa Igreja pobre, numa Igreja simples, numa Igreja próxima. E entende-se, igualmente, a aposta não apenas nas palavras, mas também nos gestos.
Numa era videocêntrica como a nossa, o Santo Padre é o primeiro a compreender que as pessoas têm necessidade não só de ouvir, mas também de ver.
3. O tom de voz familiar, o olhar terno, a mão estendida e o abraço frequente do Papa como que transportam as pessoas às imediações do próprio Jesus.
E é deste modo que a Igreja vai caminhando para o futuro retomando o impulso primordial dos começos.
4. Dir-se-ia que a ortodoxia só é inteiramente ortodoxa (passe a redundância) dentro de uma verdadeira ortopraxia. A fé não passa só pela proclamação. Implica uma existência em conformidade.
De facto, a doutrina de Jesus não combina com a opulência. Só na linguagem da pobreza e da simplicidade é possível dizer o Deus de Jesus.
5. Não vamos, obviamente, ter um Papa minimalista ou iconoclasta, que acabe com todas as tradições, sinais e símbolos. Mas vamos ter seguramente um Papa que vai recorrer a tais tradições, sinais e símbolos com o máximo de sobriedade. É de prever alguma contenção no aparato logístico e institucional.
Essencial não é tanto que a Igreja tenha um Estado para si. Essencial é sobretudo que a Igreja partilhe o estado das pessoas. Em suma, fundamental é que Jesus cresça e que tudo o resto diminua (cf. Jo 3, 30).
6. No dia da sua eleição, o Papa inclinou-se diante do povo quando o habitual é o povo inclinar-se diante do Papa. Antes de dar a bênção ao povo rogou ao povo que pedisse a bênção de Deus para ele.
Em suma, o Papa apareceu como servo, como servidor. Não foi assim que Jesus veio até nós?
7. João Paulo II disse que vinha de longe. Francisco confessa que vem do fim do mundo. João Paulo II levou o centro a todas as periferias. Trará Francisco as periferias para o centro?
Ele sabe que a Cruz não ficou em Jerusalém. Ele tem consciência de que a Cruz está em todos os povos e em imensas vidas. Sem a Cruz não é possível encontrar Cristo nem reencontrar as pessoas.
8. É por isso que, como assinala o Papa, a nossa «única glória é Cristo crucificado». Só com Ele «a Igreja avançará».
Não é em qualquer trono que a Igreja repousa. É com a Cruz que continuará o seu caminho nas estradas do tempo.
9. Este não é, pois, o tempo do poder, da ambição ou dos atropelos.
Este é — tem de ser cada vez mais — o tempo do serviço, o tempo da purificação, o tempo da missão!