O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 03 de Março de 2013

1. Ainda não se sabe quem será o novo Papa. Mas já é possível saber algo do que será o Papa novo.

Será diferente sem dúvida, complementar seguramente, mas contrário nunca.

 

2. Um novo Papa não é eleito para fazer o mesmo que o Papa anterior. Mas também não é escolhido para fazer o contrário daquele que o antecedeu.

Nenhum Papa é igual a outro Papa. Nenhum Papa é o contrário de outro Papa. Cada Papa é diferente de todos os outros Papas. Cada Papa é único. Todos os Papas são complementares.

 

3. Há quem, colocando o foco nas questões de governo, priorize a eleição de um Papa com perfil de administrador, talvez mesmo à maneira de um gestor.

Acontece que, na palavra e na acção, o Papa terá de ser, antes de mais e acima de tudo, um evangelizador. O próprio governo da Igreja só faz sentido se estiver insuflado de Evangelho. É o Evangelho, e não os critérios da gestão empresarial, que tem de nortear a acção da Igreja: desde a cabeça até à base.

 

4. O Papa pode renunciar. Mas a Igreja não pode abdicar. O Papa pode renunciar ao governo. Mas a Igreja não pode abdicar do Evangelho.

Abdicar do Evangelho seria abdicar do que lhe pertence, do que lhe foi confiado.

 

5. Aliás, o espírito do tempo clama, cada vez mais, pelo tempo do Espírito. E o maior serviço que, em nome do Espírito, a Igreja pode prestar no mundo não é dissolvendo-se nele.

Hoje, talvez mais do que nunca, a Igreja é chamada a ser a alternativa e não a redundância. A alternativa que a Igreja propõe chama-se Evangelho: Evangelho em forma de palavra, Evangelho em forma de vida.

 

6. Às vezes, dá a impressão de que a Igreja está obstinada em trazer o antigo para o novo. Parece que usa os meios actuais para manter uma mensagem ultrapassada.

Mas não se trata disso. A função da Igreja não é trazer o antigo para o novo, mas transportar o perene para o transitório.

 

7. Há quem deseje uma Igreja acelerada ao ritmo do presente. Há quem sinta nostalgia de uma Igreja pesada — e pausada — como no passado.

Só que o mundo precisa não de uma Igreja frenética, como os tempos que correm, nem pesada — ou pausada — como nos tempos passados. Do que o mundo precisa, nos caminhos do tempo, é de uma Igreja leve como a eternidade.

 

8. Por estranho que pareça, a Igreja é tão necessária por aquilo em que é contestada como por aquilo em que ela é (justamente) reconhecida.

Ninguém, ou quase ninguém, ignora a meritória acção social da Igreja, hoje cada vez mais urgente. Mas não falta quem verbere e censure fortemente a insistência na doutrina e na moral. Uma reflexão atenta, contudo, notará que a Igreja é importante não apenas pela ajuda que dá, mas também pela exigência que transmite.

 

9. Uma dimensão vaticana da Igreja não impede que ela esteja envolvida por uma forte dimensão samaritana.

Isto significa que, a partir da sua cabeça, ela terá de estar sempre (e necessariamente) ao lado dos que estão do lado de baixo, do lado de fora, nos subterrâneos da vida e nas margens da história.

 

10. Há quem diga que a Igreja carece de reformas. E há quem insista que a Igreja necessita de santos.

Reformar é voltar a dar a forma. No caso vertente, reformar a Igreja é pugnar para que ela tenha sempre a forma de Jesus Cristo.

É por isso que a santidade é a maior reforma, porque é aquela que toca no âmbito mais decisivo: a vida de cada um e a vida de todos.

publicado por Theosfera às 06:07

De Maria da Paz a 3 de Março de 2013 às 20:09
Rev.mo Senhor Doutor:
Precisávamos destas palavras. Há muita confusão. Muito bem-haja pelo esclarecimento. Muito obrigada por estas palavras iluminantes.
Afectuosamente,
Maria da Paz


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