1. Pouco falta para conhecer o próximo Papa. A esta hora, abundam apostas e multiplicam-se nomes.
Tenho, para mim, que, nesta altura, quem estará com maiores dúvidas serão os cardeais eleitores. Não porque não conheçam a realidade, mas precisamente porque a conhecem em profundidade. E o conhecimento, quando é profundo, atrai a complexidade.
2. Há oito anos — entre a morte de João Paulo II e a eleição de Bento XVI — houve duas intervenções marcantes do Cardeal Joseph Ratzinger.
Enquanto decano do Colégio dos Cardeais, coube-lhe presidir à Missa exequial e à Missa de abertura do Conclave. As suas palavras funcionaram como uma espécie de guião para perceber o estado da Igreja e as prioridades para aquele tempo.
Por estes dias, há uma situação semelhante e com igual protagonista. O que Bento XVI disse entre o dia 11 e o dia 28 de Fevereiro será tomado em boa conta. Não se trata de uma condicionante, mas de uma iluminação clarificadora.
3. Diria que o próximo Papa prosseguir a continuidade da mudança. Mas, dadas as características individuantes de cada pessoa, é natural que introduza alguma mudança na própria continuidade.
Nenhum pontificado é a mera continuidade do pontificado anterior. E, não obstante, é a mesma Igreja que se reflecte em todos eles.
4. Pelo que tem vindo a público, há questões urgentes e há desafios importantes. Dizem ser urgente reformar algumas estruturas. E é importante manter a centralidade no anúncio do Evangelho.
É por isso que, mais administrador ou mais reformador, o próximo Papa acabará por ser o que tem de ser: um Evangelizador!
5. A Igreja é para todos, mas não é para tudo. Ela tem de estar aberta a todas as pessoas, mas não pode ser conivente com todas as situações. Ela tem de saber acolher. Mas também tem de ser capaz de discernir.
Ela não pode desistir das pessoas. Mas também não pode abandonar a mensagem. Ela está no mundo não para receber aplausos, mas para prestar um serviço.
Ainda recentemente, Bento XVI denunciou «a busca do aplauso». O aplauso pode ser reconfortante, mas não é um bom sintoma. Um medicamento raramente é agradável. Mas é ele que nos cura.
6. O Conclave não é um mero acto eleitoral; é um verdadeiro acto de fé. Antes de cada cardeal consultar a sua consciência, procurará consultar o próprio Deus.
Para a eleição do novo Papa, a inspiração do Espírito Santo é determinante. Mas, como é óbvio, esta inspiração não é mecânica; é espiritual.
7. Já Sto. Inácio de Antioquia notava que o Espírito Santo é o «bispo invisível».
Acreditamos que é Ele que actua por meio dos bispos visíveis e, maxime, através do Papa visível.
8. É por isso que, acima de tudo, este é um tempo de oração.
Agora, cada um tentará escrutinar o que «parece bem ao Espírito Santo»(Act 15, 28). Dentro de dias, alguns procurarão apurar o que, a partir dessa escuta orante, será melhor para o Povo de Deus!