O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 17 de Fevereiro de 2013

1. Muitas e sapientes são as palavras que nos servem neste tempo da Quaresma.

 

Tantas e tão variadas são as propostas que, num primeiro olhar, somos tentados a concluir que toda a gente tem muito para dizer. Será que existe a mesma disponibilidade para escutar?

 

A Quaresma tem tudo para ser um tempo de silêncio, um tempo de espera, um tempo de esperança.

 

É importante haver um tempo em que se possa pensar mais no tempo, no que andamos a fazer no tempo.

 

É necessário agir. É fundamental que haja acção. Mas é vital não reduzir a acção a mera agitação.

 

Parece que quem não se move não vive. Parece que quem não grita não comunica. Parece que quem não corre não caminha.

 

Até na fé corremos o risco de ser hiperactivos. Fazemos, refazemos e, por vezes, desfazemos.

 

 

2. Haja em vista que também Jesus era uma pessoa muito ocupada. Frequentemente, nem tempo tinha para comer nem para descansar. E, no entanto, parecia sentir uma profunda necessidade de silêncio e de solidão.

 

Sempre que podia, Jesus retirava-Se para os montes ou para o próprio deserto. As Suas grandes decisões são antecedidas de longas permanências em locais ermos.

 

Não é possível seguir Jesus sem O acompanhar no Seu silêncio, na Sua solidão. Desde logo, porque só na medida em que O acompanharmos no silêncio, estaremos em condições de assimilarmos a Sua palavra.

 

Não é fácil criar silêncio no mundo barulhento de hoje. Vivemos cercados de toneladas de ruído: de ruído sonoro e de ruído visual.

 

Se o silêncio não nos procura, temos de ser nós a procurar o silêncio. Fazer silêncio é muito mais que estar calado. É criar uma predisposição para a escuta do outro, para o acolhimento da sua presença.

 

O silêncio despoja-nos dos nossos preconceitos acerca das pessoas e das coisas. Faz-nos estar de coração limpo, completamente desarmadilhados.

 

Hoje em dia, há uma pressão enorme para estar sempre em cena, para nunca deixar o palco ou o «prime time».

 

 

3. A vida humana é um equilíbrio entre o relacionamento e a solidão. A solidão não é necessariamente corte. Pode até ajudar a aprofundar os nossos relacionamentos.

 

Anthony Storr assinala que os grandes génios e os maiores sábios nunca abdicaram de longos períodos de solidão.

 

Tal como o trabalho do dia ganha muito com o descanso da noite, também a qualidade da missão beneficia bastante com algum silêncio.

 

Como nota Albert Nolan, «temos de encontrar uma forma de nos desligarmos, de tempos a tempos, do fluxo imparável de palavras, de sons e de imagens que nos bombardeiam a toda a hora». Mais importante ainda, «precisamos de um silêncio interior que desligue a nossa torrente interior de pensamentos, imagens e sentimentos».

 

 

4. Neste espírito, a Quaresma é uma oportunidade preciosa para perceber o que se passa no mundo e na nossa vida.

 

É um tempo para perceber que, antes de ter uma opinião sobre tudo, é necessário alcançar uma visão acerca de cada coisa.

 

Faz falta uma pastoral que escute, que pense nas perguntas e que procure meditar nas interpelações.

 

Precisamos de uma pastoral que não queira ter uma resposta pronta para tudo e para todos.

 

Precisamos de uma pastoral que estacione nas pessoas e nas situações e que não remeta logo para planos, programas e projectos.

 

A diferença cristã não está tanto nas palavras ditas às pessoas, mas na atenção dedicada às pessoas.

 

Enzo Bianchi alerta que tal diferença cristã «deve expressar-se sobretudo na atenção aos pobres, aos mais humildes».

 

Por muito que nos sintamos em minoria, não nos podemos demitir de escutar a dor e a expectativa de uma imensa maioria que peregrina ao nosso lado.

 

O silêncio do Sábado Santo é uma boa terapia quaresmal. Nele fermentará a alegria da Páscoa como a chegada do futuro ao nosso presente.

 

O silêncio ajuda a suspender o mesmo, o igual. O silêncio surpreende-nos com a beleza do diferente, com a visita do que é novo!

 

publicado por Theosfera às 00:31

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