Eis um momento que parece ser um despertar.
Para o povo, os limites já foram ultrapassados. Para o poder, porém, o limite parece que ainda não terá sido atingido.
Cada medida de austeridade aparenta ser o prenúncio de...mais medidas de austeridade.
As pessoas estão arrasadas. Os sonhos estão desfeitos. As esperanças encontram-se degoladas.
Já não é só a oposição que contesta. A coligação, a avaliar pelo que dizem algumas das suas figuras, parece vacilar.
O problema é que não se vislumbra alternativa. O cidadão revê-se na célebre frase de Régio: «Não sei para onde vou. Sei que não vou por aí!»
O povo sabe que não está bem. Mas não lobriga quem seja capaz de fazer melhor.
Como é óbvio, estou solidário com a gente sofrida do nosso país. Acompanho-a nas manifestações de indignação.
Apenas espero que, apesar da violência das medidas, se mantenha o decoro e a moderação nos protestos. É possível (e desejável) denunciar a injustiça e manter o comedimento e a paz!
Não sou apologista de soluções sebastiânicas. Mas tenho o dever de ser amante da lucidez.
Na hora que passa, precisamos de serenidade, visão e determinação.
Continuo a pensar que este devia ser o momento dos senadores.
A Itália, que também passa por uma crise, virou-se para uma figura experiente. Não tinha trajectória política. Mas está a mostrar grande maturidade.
Mário Monti ilustra a capacidade de a política se abrir à sociedade civil.
As situações não serão totalmente similares. Mas o modelo devia, pelo menos, merecer alguma reflexão.
O povo italiano também sofre e também contesta. Mas, ao mesmo tempo, aprova.
Monti, que não é populista, está a tornar-se uma referência muito popular!