O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Segunda-feira, 25 de Junho de 2012

1. Já houve quem decretasse que a história tinha chegado ao «fim». Verdade seja dita que também não faltou quem considerasse que a mesma história estava somente a passar por mais um dos seus muitos «intervalos».

Hoje, salta à vista que Vergílio Ferreira estava mais certo que Francis Fukuyama. De facto, sentimos todos que «a história é feita de intervalos». E, ao mesmo tempo, notamos que aquilo que está a chegar ao fim não é a história; é um dos seus frequentes intervalos.

 

2. Há duas décadas, sabíamos que, como assinalava Alvin Toffler, éramos «a última geração de uma civilização velha e a primeira geração de uma civilização nova».

Se, entretanto, era difícil tipificar devidamente a civilização que decaía, tornava-se praticamente impossível descrever a civilização que começava a emergir.

Eis, porém, que a primeira década do século XXI dissipou todas as dúvidas. E esta segunda década do século XXI está a dar a resposta total.

 

3. Oswald Spengler falara, em 1917, sobre o declínio do ocidente. Mas foi em 2001, mais propriamente a 11 de Setembro, que acordámos (tragicamente!) para a sua assombrosa fragilidade. Já a crise económica, que nos invade desde 2008, parece torná-la irreversível.

Só que desta vez é nítido que não é apenas o ocidente que declina. É também o oriente que domina. O foco está sobretudo na China, que tem dinheiro, poder, ambição e gente. Tudo o que a ocidente parece escassear.

Para já, o mundo é pilotado por uma espécie de «Chimérica», um globo dominado pela sobriedade chinesa e pelo esbanjamento americano.

 

4. Há, contudo, quem, como Gilles Lipovetski, veja a globalização como uma extensão do ocidente, como uma espécie de «ocidente mundializado». A «cultura-mundo» será a cultura do ocidente estendida à escala planetária.

Assim sendo, não deixa de ser paradoxal verificar como o oriente se impõe quando se ocidentaliza. Ou seja, quando se descaracteriza.

Mas o paradoxo sempre foi a dominante da vida das pessoas e da história dos povos!

 

5. Seja como for, o que avulta é que estamos no limiar daquilo a que podemos chamar uma «civilização global», em que as decisões são cada vez mais comuns e os comportamentos se apresentam cada vez mais padronizados.

O oriente incorpora, cada vez mais rapidamente, o estilo de vida do ocidente. O ocidente recorre, cada vez mais urgentemente, à ajuda do oriente.

 

6. Simplificando, dir-se-ia que os PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) dependem cada vez mais dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).

Os PIIGS sinalizam a decadência do ocidente. Os BRIC simbolizam a ascensão do oriente. Do oriente ocidentalizado!

 

7. É nítido que o oriente parece não hesitar em trocar a identidade pela liderança. O que nele se destacava era o seu fulgor espiritual, a sua visão holística da vida, a sua percepção transcendente da história. Em síntese, a sua mundividência unificadora.

É perturbador verificar que também a oriente se olha para o mundo não como uma comum humanidade, mas apenas (e cada vez mais) como um único mercado!

 

8. Que papel para a fé no meio de tudo isto?

É interessante registar que as grandes tradições religiosas nasceram a oriente. Hoje, parecem incapazes de transfigurar a paisagem lúgubre do próprio ocidente.

 

9. Também as religiões precisam de revisitar as suas origens para recuperar o seu fulgor. Para poderem ser uma verdadeira alternativa e não uma mera redundância.

Particularmente, oCristianismo tem uma palavra a dizer, uma missão a desempenhar e, acima ce tudo, uma esperança a propor.

 

10. Não é por acaso que ele começa em Jerusalém, uma cidade que fica entre o ocidente e o oriente.

Reúne, pois, todas as condições para oferecer as pontes que importa (re)lançar. E os laços que urge (re)fazer!

publicado por Theosfera às 21:55

De António a 25 de Junho de 2012 às 14:59
Quer no Ocidente, quer no Oriente, precisamos de aprender a sabedoria da Natureza. As sociedades das abelhas e das formigas têm muito mais a transmitir-nos do que imensas obras bibliotecárias e até teológicas. Deus está nos detalhes e essas sociedades são bem demonstrativas do que significa Cooperação e Partilha. Se há sociedades que poderiam ser apontadas como modelos de ética cristã, são exactamente essas sociedades comunitárias, onde não existe nem fome nem crise económica, onde todos os seres trabalham para o bem comum, sem nenhum propósito de entesourarem egoisticamente qualquer bem comunitário. Deus fala-nos por sinais simbólicos, mas nós, os humanos, gostamos muito mais de fausto, circunstância e múltiplas notas de rodapé do que de sabedoria divina. Entre a pseudo-erudição dos humanos e a sabedoria das abelhas e das formigas, eu prefiro esta. Esses seres estão muito mais próximas de Deus do que nós e, ainda por cima, têm uma especial vantagem sobre os humanos: fazem muito mais do que falam. Não perdem tempo em conversas vãs. Se algum dia vier a ter outro filho, a minha catequese será mostrar-lhe como Deus nos transmite o Evangelho através das abelhas e das formigas.

De Theosfera a 25 de Junho de 2012 às 19:20
Obrigado, bom Amigo. Reconheço muita pertinência no que diz. Os seus contributos são sempre estimulantes e pontuados por uma grande originalidade. Deus o abençoe. Abraço no Senhor Jesus.


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