1. Que dizer de um sistema familiar onde os filhos não só não obedecem aos pais como dão ordens aos pais?
E que dizer de uma escola onde os alunos raramente fazem o que devem e frequentemente (só) fazem o que lhes apetece?
2. O drama da educação nota-se mais nas escolas, mas é nas famílias que ele germina.
O que não se obtém em casa dificilmente se alcança na escola. Se não há educação em casa, o ambiente para o ensino fica bloqueado na escola.
Há pais com receio. Há professores com medo. Na hora que passa, está mais à vontade um filho ou um aluno para prevaricar do que um pai ou um professor para corrigir.
3. A escola integra mas não diferencia. O mérito não é correctamente valorizado e o esforço não é devidamente estimulado.
Tanto progride quem trabalha como quem se esquiva. A avaliação é mais indicativa que selectiva.
No limite, é mais fácil que os medíocres contagiem os melhores do que os melhores contagiem os medíocres.
4. Todos aceitam que a educação é o maior investimento para o futuro. Mas ninguém ignora que ela é também o grande problema no presente.
Retiram-lhe condições, subtraem-lhe espaço e sobrecarregam os seus agentes.
5. O pior não é o orçamento para a educação ser reduzido. O mais grave é não perceber que a educação não é um exclusivo da escola.
O problema da educação não começa quando se entra na escola. O problema nota-se, desde logo, quando se sai de casa!
Quem não se habitua a respeitar a autoridade dos pais, como é que se habituará a respeitar a autoridade dos professores?
Enquanto intervenientes no processo educativo, os pais deveriam ser os grandes aliados dos professores. Não raramente, porém, posicionam-se como os seus maiores adversários.
6. Compreende-se que seja difícil definir a educação. Mas se não é fácil dar-lhe uma definição, não é impossível assinalar-lhe uma identidade.
A educação não se reduz à escolarização. Ela inclui os conhecimentos, mas não pode excluir os comportamentos.
É por isso que a educação começa quando se nasce e só termina quando se morre.
7. Há crianças que não suportam uma sugestão, que não atendem um conselho nem, muito menos, admitem uma ordem. Falam quando lhes apetece, brincam quando lhes apraz, trabalham quando lhes ocorre.
Acontece que esta é a via para o desastre. A educação não é um passatempo; é uma transformação.
Só há crescimento quando existe mudança. Só se chega à excelência pelo caminho da exigência.
8. A educação é, sem dúvida, um direito. Mas ela também comporta deveres.
É fundamental que haja igualdade de oportunidades. Mas isso não implica que haja igualdade de resultados.
Igualizar o que é diferente é não só uma afronta à verdade, mas também um atentado contra a justiça!
9. O Estado podia estimular uma alteração deste quadro desolador. Mas o Estado só quer que a escola aplique as suas normas.
Sucede que a função primacial da escola devia ser não a aplicação, mas a transformação.
Sendo a escola o berço do pensamento por antonomásia, causa arrrepios sentir como ela está quase impedida de pensar: de pensar a realidade e de se pensar a si mesma.
10. É fundamental libertar a escola, deixá-la actuar em todo o campo: na transmissão de conhecimentos e na vivência dos valores.
É urgente que o Estado deixe respirar a escola. E é decisivo recuperar o liame com a família. A escola começa na família!