De António a 28 de Fevereiro de 2012 às 18:08
Hoje, casualmente, voltei a encontrar numa rua da minha cidade aquela rapariga toxicodependente que, no final do ano transacto, me informara, sorridente, que iria para França recuperar-se num centro assistencial particular.Vi-a a chorar e aproximei-me dela. Perguntei-lhe porque estava a chorar e já em Portugal. Respondeu-me que não chegara a ir para o referido centro porque, entretanto, recebeu a informação médica que é seropositiva e que esse centro não recebe toxicodependentes com Sida.Encontra-se novamente a dormir na rua, confirmei essa situação através da visualização da cama improvisada que lhe serve de leito, embora completamente ao relento. Perguntei-lhe se não tinha apoio familar. Disse-me que fora escorraçada pela mãe, prostituta, e pelo pai. Que, desde criança, que era constantemente agredida. Perguntei-lhe também se não tem hipótese de ser acolhida em qualquer albergue do Estado. Disse-me que não, que já procurou acolher-se em vários albergues, mas que estão todos repletos e que, dada a crise, o governo não paga mais quartos em pensões. Que sofre de fortes dores de dentes, mas que não tem dinheiro para se tratar. Que,há dias, deitaram gasolina na sua cama improvisada, para obrigá-la a afastar-se desse local. Que tentou obter algum apoio do seu pai, mas que o mesmo novamente a escorraçou. Pediu-lhe algum dinheiro para regressar ao ponto habitual onde pernoita. E o pai respondeu que para lá regressasse a pé, tal como a pé fora ter com ele. Que há dias tentou ser atropelada para evitar mais sofrimento. Gostaria muito de poder ajudá-la, mas não sei como. Deixo aqui um apelo a quem souber de qualquer forma de proporcionar um emprego a uma filha de Deus, seropositiva, mas em fase de tratamento da metadona, que dorme há longos meses ao relento, que não tem dinheiro sequer para se alimentar regularmente ou para aliviar as dores dos seus dentes cariados.Tem um ar doce e foi sempre uma menina escorraçada. Há dias deitaram-lhe gasolina para a sua cama improvisada.Ainda não a queimaram viva, mas já faltou mais para que isso possa acontecer. No final, quando me vim embora, ainda me ecoavam na mente as suas derradeiras palavras: " Porquê eu, Jesus ?"...