Diante do que os meus ouvidos captam e o meu olhar alcança, seria tentado a reescrever uma frase imorredoura: «À mulher de César não basta parecer séria; é preciso sê-lo».
Quando o Presidente da República vem para as câmaras da TV dizer que não sabe como irá pagar as suas despesas, apurando-se que aufere de vencimento cerca de 10.000 euros por mês, a ser verdadeira a informação que algures registei, tudo já é expectável de uma certa classe política. A sensação que eu tenho, certamente extensiva a uma larga camada da população portuguesa, é que a política, para muitos, serviu apenas de trampolim para obtenção de regalias faraónicas. Mas o que ainda mais me revolta é que sejam esses politiqueiros a falar na necessidade de drástica redução de despesas, quando eles próprios mantêm toda a sua casta de privilégios. Deviam ter vergonha. Portugal está a precisar de um movimento amplo de indignação social. Esses politiqueiros hipócritas e cínicos só aprendem à custa de revoltas populares. É triste que assim seja, mas é também a realidade dura que muitos sofrem na alma. Sinto-me enojado.
Temos absoluta carência de líderes, de estadistas. O líder, o estadista, tem o sentido do dever e o sentido do serviço. Mas estes imperativos de consciência só podem ganhar consistência e passar ao agir, quando alicerçados na Ética e na Moral que, por sua vez, só podem brotar de um sentido elevadíssimo da Vida a que só a Transcendência pode dar sentido.
«Exilámos os deuses e fomos/ Exilados de nossa inteireza.» Sophia de Mello Breyner Andresen
Afectuoso abraço, Rev.mo Senhor Doutor. Maria da Paz