Não é crente. Disse, um dia, que não se sentia «tocado pela graça da fé». Mas isso não o impediu de se considerar, talvez, como «um místico que se desconhece».
Mário Soares corporizou, ao longo da sua vida e missão, dois valores que qualquer cristão subscreve: a luta pela liberdade e a defesa dos mais pobres. E, coisa admirável, não só deu a cara por estes ideais como sofreu por eles.
O seu último livro tem como título «Um político assume-se». Podia ser «Um político confessa-se».
Não sendo memórias no sentido convencional do termo, o livro de Mário Soares expende uma memória prodigiosa.
Qualquer investigação sobre a época em causa careceria da consulta exaustiva de toneladas de documentos.
O instrumento de consulta desta obra é a memória do seu Autor. Daí o estilo vivo e preciso, mesmo quando incide sobre acontecimentos de há décadas.
Lê-se com desenvoltura.
E é impossível não ter um sentimento de gratidão por tanto que este homem fez pelo país. Por nós!