- O nosso mal é quando pretendemos que a fé seja grande: «egoisticamente» grande.
A esta luz, a fé será tanto maior quanto maior for a certeza de que Deus satisfará todos os nossos pedidos.
- Acontece que a verdade da fé não está centrada na satisfação do homem, mas na vontade de Deus.
Até Roger Garaudy percebeu que «a fé está em nós, mas não é de nós».
- A fé é, estruturalmente, oblativa.
Crer é disponibilizar-se para uma vida despojada, inteiramente conduzida por Deus.
- Crente é aquele que, mesmo a contragosto, coloca a vontade de Deus acima de tudo (cf. Mt 6, 10).
É por isso que precisamos de uma «fé pequena». Alguma coisa será grande diante da grandeza de Deus?
- Aliás, quando os discípulos pediram uma «fé grande», Jesus deu a entender que bom seria se eles tivessem uma «fé pequena»: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda…»(Lc 17, 6).
Como reparou Tomás Halik, não estará Jesus a dizer-nos: «Porque é que Me estais a pedir muita fé? Talvez a vossa fé seja “demasiado grande”. Apenas se ela diminuir, até se tornar pequena como um grão de mostarda, poderá dar fruto».
- De facto, só quem é pequeno pode crescer.
O problema de uma «fé grande» é julgar que já não precisa de crescer.
- Ela procura mais libertar as nossas ansiedades do que acolher a presença de Deus.
Daí que costume ser excitada em ambientes onde se grita, chora e bate palmas.
- Uma fé que parece grande pode ser, na prática, «uma fé de chumbo e inchada», que «oculta a ansiedade da falta de esperança».
Pelo contrário, «a fé que aguenta o fogo da cruz sem bater em retirada» será mais semelhante ao Deus que «é representado por Aquele que foi crucificado».
- É esta «fé pequena» que nos transporta para lá do desespero, da resignação e da indiferença.
É ela que nos dá a coragem para optar pelo «caminho do altruísmo, da não-violência e do amor generoso».
- Quem segue Jesus não deve esperar conforto nem aplauso, mas sacrifício e, «por vezes, até o sacrifício supremo».
Não deve o discípulo ser como o seu Mestre (cf. Lc 6, 40)?