- Há sinais de que continua a haver crentes como sempre.
Mas, ao mesmo tempo, crescem os indícios de que a humanidade está a tornar-se ateia como nunca.
- Já Xavier Zubiri, com vendavais de lucidez e espamos de provocação, tinha notado que «o homem actual é, em boa medida, ateu».
É óbvio que não estava a pensar apenas nos que se assumem ateus. Estava seguramente a olhar também para tantos que se confessam crentes.
- Há pessoas que dizem crer em Deus, mas, no fundo, não se deixam conduzir por Deus.
Conduzem-se por si mesmas: pelas suas aspirações, pelas suas capacidades, pelos seus recursos.
- No limite, não seguem o Deus revelado, mas um «deus» fabricado.
Parafraseando Feuerbach, dir-se-ia que o homem está a chegar ao ponto de se tornar «deus» para ele próprio.
- Não estamos perante um «ateísmo-contra», mas perante um «ateísmo-sem».
Ou seja, estamos perante um ateísmo feito não de negação, mas de ausência.
- Não é que Deus Se tenha ausentado do homem. É o homem que se tem ausentado de Deus.
Só que este é o ateísmo radical. Não é um ateísmo postulatório, agressivo. Mas é um ateísmo profundamente invasivo. Não se confere pelo contacto com um pensamento ateu; sente-se pelo pulsar de toda uma vida ateia, sem Deus.
- Uma «vida ateia» não se posiciona «contra» Deus; limita-se a remar «sem» Deus.
Para Xavier Zubiri, uma «vida ateia» não se afirma «contra nada nem contra ninguém». Afirma-se meramente «por si mesma»: na companhia dos seus fracassos e dos seus êxitos.
- O certo é que este solipsismo existencial vai fazendo o seu caminho.
São cada vez mais os que se resignam a permanecer «aposentados na sua vida». O seu horizonte parece ser mais a técnica do que a eternidade. A humanidade descobre-se «imersa na técnica, que quase não põe limites ao domínio da natureza pelo homem».
- Não espanta, por isso, que o homem actual tenha dificuldade em aceitar «a ideia de um ser supremo».
Sem se aperceber, ele coloca o divino ao nível do humano e coloca o humano ao nível do divino.
- São muitos os que, hoje em dia, se comportam como «pós-crentes». Não negam. Até dizem que crêem. Mas vivem como se não cressem.
Desistiram de Deus? Ainda bem que Deus não desiste de ninguém!