A igualdade tem de ser assegurada. Mas a diferença também merece ser defendida.
Todos participamos de uma igual humanidade. Mas cada um dá-lhe uma fisionomia diferente.
- Todos somos iguais a todos. E, ao mesmo tempo, ninguém é igual a ninguém.
Foi o que notou Carlos Drummond de Andrade, que acrescentou: «Todo o ser humano é um estranho ímpar».
- Sim, estranho porque, enquanto o igual é conhecido, o diferente surpreende-nos como inesperado.
Daí a dificuldade em aceitar as diferenças. Mesmo quando se tornam conhecidas, é difícil que sejam devidamente reconhecidas.
- E, no entanto, a igualdade não contende com a diferença.
No fundo, aquilo em que somos mais iguais é no facto de todos sermos diferentes. Sendo diferentes na igualdade, acabamos por ser iguais na incorporação de diferenças.
- Acontece que ainda não percebemos que só promovemos a igualdade favorecendo as diferenças.
Para Augusto Cury, não há dúvida de que «o sonho da igualdade só cresce no respeito pelas diferenças».
- O problema é que, à força de tanto insistirmos na igualdade, quase degolamos as diferenças.
As diferenças estão a ser sufocadas. E a igualdade tende a ser cada vez mais imposta.
- Como estamos todos mais perto — embora nem sempre nos sintamos mais próximos —, facilmente clonamos formas de comunicar e maneiras de agir.
Na «cultura-standard» em que nos encontramos, propendemos a reproduzir o mesmo padrão de pensamento e de conduta.
- Uma vez que o padrão da nossa convivência está secularizado, não espanta que as nossas atitudes sejam cada vez mais secularizadas.
A pouco e pouco, deixámos de trazer a serenidade das igrejas para o mundo. Pelo contrário, começámos a levar a agitação do mundo para as igrejas.
- Até as igrejas se vão convertendo em lugares mais de passagem do que de paragem.
Quando se pára, a posição dominante é a posição sentada, não de joelhos. E o ambiente que prevalece é o ruído, não o silêncio.
- Será que já nos desabituamos de parar, de ajoelhar e de calar? É pena que não compreendamos como é importante parar, como é belo ajoelhar (para quem pode) e como é decisivo saber calar.
Afinal, nós, que tanto nos queixamos de ser tudo tão igual, que estamos dispostos a fazer para que alguma coisa possa ser diferente?