- Por hábito, não investimos muito na espiritualidade.
Em relação às acções de natureza espiritual, ou não participamos ou, quando participamos, exibimos uma sensibilidade pouco espiritual.
- Dificilmente fazemos silêncio por fora e quase nenhum silêncio fazemos por dentro.
Enfim, a nossa saúde intelectual, económica e até desportiva pode não estar mal. Mas será que a nossa saúde espiritual está muito bem?
- Não me refiro tanto ao que se passa no chamado «espaço público». Pensemos no que ocorre nos espaços sagrados.
Onde está a diferença? Nas próprias igrejas, não é o ruído que prevalece?
- É espantoso notar como a agitação predomina onde devia imperar o recolhimento.
Até durante a oração, o silêncio está praticamente ausente. Quando o silêncio é pedido, apenas se baixa o som. Mas o burburinho mantém-se.
- Muitas vezes, só há silêncio numa igreja quando a igreja está vazia. Quando as igrejas se enchem, parecem encher-se sobretudo de alvoroço e desordem.
Que condições criamos para a escuta, para a meditação?
- A situação não é nova. Ela foi prevista, entre outros, por Karl Rahner.
O teólogo alemão, falecido em 1984, vaticinou a chegada de uma era de «mediocridade espiritual».
- Sucede que nem sequer nos apercebemos da anemia de que padecemos.
Sofremos, de facto, de uma atonia generalizada na nossa vida. A causa principal está na debilidade da nossa experiência espiritual.
- Vivemos muito voltados para o exterior, subestimando, quase por completo, a interioridade.
Esta ausência de vida interior reflecte-se na tremenda dificuldade que temos em despojar-nos de quanto nos é «aditado» desde fora.
- Mesmo nos locais de maior espiritualidade, raramente nos desprendemos dos artefactos tecnológicos.
Até nas igrejas continuamos aprisionados por telemóveis, tablets e todo o género de dispositivos digitais. Ou seja, continuamos ligados ao exterior e completamente desligados do interior.
- Esquecemos que a nossa vida, para ser inteira, também precisa de interioridade. Aliás, a interioridade não nos enquista em nós. O melhor que temos para dar está no nosso interior. Pelo que não damos tudo quando só nos damos por fora.
Sem interioridade, sobrevivemos amputados. É bom que os lábios permaneçam abertos. Mas o decisivo é que o coração nunca esteja fechado. Não olhemos para Deus apenas por fora. Afinal, Ele (também) habita dentro de nós!