O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 16 de Abril de 2017

A. Foi de correria a manhã daquele dia

  1. Eis uma manhã agitada, como agitadas são tantas das nossas manhãs. A manhã da Ressurreição foi uma manhã de agitação. A manhã daquele dia foi uma manhã de correria. Maria Madalena corre desde o túmulo até junto de Pedro e do Discípulo Amado (cf. Jo 20, 2). Por sua vez, Pedro e o Discípulo Amado também correm até ao túmulo (cf. Jo 20, 4).

Muito mais tarde, quando faz este relato, o evangelista tem o cuidado de anotar que aquele era não somente um «outro dia», mas o «primeiro dia» (cf. Jo 20, 1). Tratava-se do «primeiro dia» não apenas de uma nova semana, mas de uma nova vida. Aliás, esta alusão à «semana» pode ser entendida em comparação com a semana da primeira criação, relatada no Génesis (cf. Gén 1, 1-2, 3). Agora, estamos no «primeiro dia» da nova criação, no «primeiro dia» da nova humanidade.

 

  1. À semelhança do que aconteceu na primeira criação (cf. Gén 1, 3-5), também a primeira obra de Deus na nova criação é a luz. Segundo o relato do Livro do Génesis, a terra no início estava escura, dominada pelas trevas (cf. Gén 1, 2). Também agora e apesar de já ser manhã — altura em que já costuma haver alguma luz —, «ainda estava escuro» (Jo 20, 1).

Esta escuridão é mais espiritual que ambiental. Onde estava escuro não era no exterior; era no interior. Era dentro de Maria Madalena — e de todos os outros — que persistia a escuridão. No seu coração, ainda era noite, ainda não tinha amanhecido. Como compreender o que tinha acontecido?

 

B. Já era manhã no exterior, mas continuava a ser noite no interior

 

3. Maria Madalena — como os outros discípulos — ainda não tinha entendido o significado daquela morte. Ainda não tinha dado conta de que aquela morte não interrompera aquela vida. Ainda não tinha percebido que aquela morte destruíra a própria morte (cf. 2Tim 1, 10). Ainda não conseguira compreender cabalmente o que significava a necessidade de o grão de trigo ter de morrer para dar fruto (cf. Jo 12, 24).

Para Maria Madalena — como para os restantes discípulos —, continuava a ser noite. Ela ainda não notara que o dia já tinha começado. Parafraseando o Livro do Cântico dos Cânticos, dir-se-ia que era ainda pela noite que Madalena ia à procura do amado da sua alma (cf. Ct 3, 1). Ia, no entanto, à procura de um morto. Com muito pesar da sua parte, estava persuadida de que a morte tinha triunfado.

 

  1. Dá a impressão de que a comunidade tinha esquecido que quem tem fé, mesmo que morra, não deixará de viver (cf. Jo 11, 25). Mas quem não esquece esta verdade? Quem não vacila na fé? Madalena fica alarmada e vem, a correr, partilhar o seu alarmismo (cf. Jo 20, 2). Não é isso o que nos acontece hoje? Não estamos sempre predispostos a embarcar em todos os alarmismos? Não são as notícias negativas mais divulgadas que as notícias positivas?

Os outros discípulos — certamente também alarmados — vão igualmente a correr para se inteirarem, «in loco», do que se passa. Naquele momento, não ocorreu a ninguém que aquele túmulo não estava vazio, mas aberto. Vazios pareciam estar eles: vazios de fé, vazios de ânimo, vazios de esperança. Ainda era noite no seu íntimo. Para eles, a pedra retirada do túmulo (cf. Jo 20 1) era sinal de roubo, não de ressurreição. No fundo, a pedra retirada do túmulo acentuava a vulnerabilidade a que a morte expõe as pessoas. Punha-as à mercê do que quisessem fazer com elas.

 

C. Só junto de Jesus se faz luz

 

5. Continuava a ser escuro para todos, como se deduz do plural usado no relato de João: «Levaram o Senhor do túmulo e não sabemos onde O puseram» (Jo 20, 2). Suspeitavam de um assalto, de um roubo. Por conseguinte, o estado de desorientação é total.

Sem Jesus ou com um Jesus presumivelmente morto, não há orientação à vista. De resto, é impressionante notar como, nestes nove versículos, a palavra «túmulo» é mencionada sete vezes. O que domina é, pois, a ideia de que Jesus está morto. Há uma atitude de procura, mas trata-se da procura de um Jesus morto.

 

  1. Eis que nos pode acontecer o mesmo que aconteceu a Maria Madalena: anunciar Jesus, mas anunciar um Jesus morto, um Jesus de Quem não sabemos sequer onde está. Nessa altura, é preciso, como fizeram os discípulos: voltar a correr ao encontro de Jesus (cf. Jo 20, 4). Só junto de Jesus se faz luz. Só junto de Jesus se faz luz sobre Jesus. Não é Jesus a luz (cf. Jo 8, 12)? Por conseguinte, só junto de Jesus aprendemos a crer em Jesus e a conhecer Jesus.

O Discípulo Amado, que estivera com Jesus até ao fim (cf. Jo 19, 26), vai à frente. Pedro, que não esteve com Jesus até ao fim, vai atrás. É por isso que, como bem notou D. António Couto, Pedro tem de seguir quem seguiu Jesus. Na Igreja inteira, o amor tem a dianteira. O Discípulo Amado chega primeiro ao túmulo: inclina-se, vê, mas não entra (cf. Jo 20, 6). Porque o amor é paciente (cf. 1Cor 13, 4), é capaz de esperar até por aqueles que vacilam no amor. Enfim, há sempre novas oportunidades no amor.

 

D. Um túmulo cheio de sinais de vida

 

7. Os dois discípulos, em correria, perceberam, finalmente, o que acontecia. No túmulo, os panos que envolveram o corpo de Jesus estavam no chão e o lenço que Ele tivera na cabeça encontrava-se cuidadosamente dobrado, noutro sítio (cf. Jo 20, 5.7). Vêem e acreditam (cf. Jo 20, 8). Começam, finalmente, a entender o que, até então, não tinham entendido (cf. Jo 20, 9).

No fundo e como observa D. António Couto, o túmulo não estava vazio, mas cheio, cheio de sinais: não cheio de sinais de morte, mas cheio de sinais de vida. Os ladrões não teriam o cuidado de dobrar o lenço da cabeça de Jesus. Não é costume dos ladrões deixar as coisas em ordem quando assaltam. Isto significa que aquilo que se passou no túmulo não foi acção humana, mas obra divina. O túmulo foi aberto por Deus. A pedra foi removida por Deus. A morte foi vencida por Deus.

 

  1. Deus «desamarra» Jesus de todas as «amarras». É Deus que «desliga» Jesus de todas aquelas «ligaduras». É então que se faz luz nas escuras vidas dos discípulos. Faz-se luz sobre a Ressurreição e faz-se até luz sobre a morte. Nem a morte eliminou Jesus. A Sua vida não foi interrompida, mas transfigurada.

A morte de Jesus é uma morte «morticida», uma morte que mata a morte. Não elimina a vida; ilumina a vida.

 

E. É por Jesus que nem na morte havemos de morrer!

 

9. Os discípulos compreenderam, finalmente, o sentido das palavras do Mestre. Ninguém Lhe tinha tirado a vida; era Ele que dava a vida (cf. Jo 10, 18). A esta luz, percebe-se que os evangelistas não digam explicitamente que Jesus morreu. Preferem, antes, dizer que entregou o Espírito (cf. Jo 19, 30). Uma vez que o Espírito está associado à vida (cf. Jo 6, 63), então, ao dar-nos o Espírito, dá-nos também a vida, a Sua vida.

Nós que, tantas vezes, sentimos que vamos morrendo na vida, olhemos para Jesus que nos dá vida na própria morte.

 

  1. Vivamos, por isso, em Páscoa e não apenas no dia de Páscoa. Não basta haver um dia de Páscoa. É preciso que haja toda uma vida de Páscoa. É urgente que todas as nossas vidas sejam vidas de Páscoa.

É a vida de Páscoa que dá sentido ao dia de Páscoa, ao tempo de Páscoa. A Páscoa está no tempo para nunca deixar de estar na vida. A Páscoa não cansa. Não cansa nem dá descanso. É preciso fazer como os discípulos da primeira hora. É preciso sair e correr, a toda a pressa, para anunciar Jesus. Digamos, então, a todos que aquele que foi à morada dos mortos continua vivo. Até aos mortos Ele dá vida. É Jesus que nos faz viver. É por Jesus que nem na morte havemos de morrer!

publicado por Theosfera às 13:11

Já é Páscoa no tempo,

há alegria e esplendor,

vivacidade e contentamento.

Os foguetes vão estourar,

as flores vão brilhar,

as pessoas vão vibrar,

as casas vão encher

para Te acolher, Senhor.

Há dois mil anos,

removeste a pesada pedra do Teu sepulcro.

Pedimos-Te, Senhor,

que, hoje mesmo,

removas alguma pedra que ainda endureça os nossos corações:

a pedra do pecado,

a pedra do egoísmo,

a pedra da falsidade,

a pedra da injustiça, do ódio e da violência.

Aqui nos tens, Senhor,

não queremos ser sepultura mas berço.

Queremos que nasças sempre em nós

e queremos renascer sempre para Ti.

É tempo de Páscoa.

Exulta a natureza.

Vibram as crianças.

Cantem as multidões.

Que a Páscoa traga Paz,

Amor, Partilha e Felicidade.

Que os rostos sorriam,

que as mãos se juntem,

que os passos se aproximem,

que os corações se abram.

Obrigado, Senhor,

por morreres por nós.

Obrigado, Senhor,

por ressuscitares para nós.

Voltaste para o Pai e permaneces connosco.

Na Eucarista, és sempre o Emanuel.

Que Te saibamos receber

e que Te queiramos anunciar.

Hoje vais entrar em nossas casas.

Que nós nunca Te afastemos da nossa vida.

É Páscoa no tempo.

Que seja Páscoa na vida,

na nossa vida,

na vida da humanidade inteira.

publicado por Theosfera às 10:43

Um brado vem desta noite: «Ressuscitou! Não está aqui!» (Mt 28, 6; Lc 24, 6).

Já não está no lugar da morte. Já terminou a visita que fez aos mortos.

«Não está aqui!».

Jesus para o Pai voltou, mas connosco continuou.

Ele já «não está aqui!» Agora, Ele está (também) em si!

Aleluia. Louvemos o Senhor. E a todos levemos sempre o Seu amor!

publicado por Theosfera às 07:06

Hoje, 16 de Abril (Páscoa da Ressurreição), é dia de S. Bento José Labre, Sta. Engrácia de Saragoça e S. Magno da Escócia.

Também faz 90 anos o Papa Emérito Bento XVI.

Um santo e abençoado dia pascal para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

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