O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 05 de Junho de 2016

 

Eu sei, Senhor,
que não mereço
que me visites,
que entres na minha casa,
que te envolvas na minha vida.

Eu sei, Senhor,
que não sou digno
que deixes o Teu aconchego,
que experimentes o frio e o desconforto,
que Te sujeites à intempérie do abandono e da ingratidão.

Eu sei, Senhor,
que não tenho direito
a exigir tanto despojamento
nem a esperar tamanha disponibilidade.

Eu sei, Senhor,
que não mereço nada,
que não sou digno de nada,
que não tenho direito a nada.

Mas é por isso que Te agradeço,
é por isso que me comovo
e é por isso que fico sem palavras.

Obrigado, Senhor,
obrigado, bom Deus.
Tu és tudo
e vens ao meu nada.
Tu és tanto
e cabes em tão pouco
que sou eu.

Ensina-me, Senhor,
a ser humilde,
a olhar para todos
não com os meus óculos
mas com os Teus olhos,
que são olhos de afecto,
olhos de esperança,
olhos de amor.

Ensina-me, Senhor,
a compreender a lição da Tua vinda:
lição de humanidade,
de simplicidade,
de singeleza.

Ensina-me, Senhor,
a ver-Te
não apenas nas Tuas imagens de barro,
mas nas Tuas imagens de carne e osso
(algumas mais de osso que carne).

Ensina-me, Senhor,
a sentir
que a Tua morada é no Homem,
em todo o ser humano.

Ensina-me, Senhor,
a venerar-Te nas crianças, nos idosos,
nos pobres,
nos famintos,
nos sofredores e nos desalentados.

Que eu possa perceber
que sempre que estou com alguém
é conTigo que me encontro.

Aquece, Senhor, o nosso coração.
Não deixes que ele gele
com a arrogância, a frieza e a indiferença.

Fica connosco, Senhor,
sorri para nós Domingo de sol!

publicado por Theosfera às 11:13

A. Um encontro entre dois filhos

  1. Neste décimo Domingo do Tempo Comum, somos presenteados com um episódio que é tudo menos episódico. Trata-se de um episódio verdadeiramente referencial, já que constitui uma referência marcante para a nossa fé e para a nossa vida.

Essencialmente, temos aqui um encontro, um encontro entre dois filhos: o Filho Unigénito do Pai vai ao encontro de um filho único de sua mãe. Um está vivo, o outro está morto. O vivo vai ao encontro do morto, a vida vai ao encontro da morte, a vida vai oferecer vida à morte. Parafraseando Santo Agostinho, dir-se-ia que a vida é mortal e a morte é vital. Cristo até na morte nos presenteia com a vida, com a Sua vida.

 

  1. Há que notar que cada um destes filhos não vai só. Cada um destes filhos vai acompanhado por muita gente. Jesus, o Filho Unigénito do Pai, vai acompanhado pelos discípulos e por uma grande multidão (cf. Lc 7, 11). O filho único de sua mãe, que era viúva (cf. Lc 7, 12), vinha acompanhado por «bastante gente da cidade» (Lc 7, 12).

A vida e a morte trazem sempre muita gente. A vida e a morte afectam toda a gente. Ninguém passa ao lado da vida. Ninguém passa ao lado da morte. Na vida todos vamos ao encontro da morte. Mas também é verdade que na morte todos somos chamados a ir ao encontro da vida.

 

B. A vida vai ao encontro da morte

 

3. O encontro acontece na «porta da cidade» (Lc 7, 12). Ou seja, o encontro dá-se na entrada. A vida e a morte encontram-se desde o princípio, e são instadas a coexistir para sempre.

Tudo isto é misterioso e acaba por ser muito belo. Aliás, o nome da terra deste milagre já aponta para esta beleza. Dizem que Naim significa «bela» ou, como sugerem alguns, «charmosa». Trata-se de uma cidade israelita, que existe ainda nos dias de hoje, com o mesmo nome. É um lugar muito pobre, habitado por 1.600 árabes muçulmanos. Fica a 7 km do Tabor, no sopé do monte.

 

  1. Jesus chega a Naim, vindo de Cafarnaum, onde tinha curado o servo de um centurião romano (cf. Lc 7, 1-10). A viagem tinha sido longa, pois estas localidades distam 30 km uma da outra.

Há uma preciosa informação do século XII, fornecida por um monge beneditino chamado Pedro Diácono: «Na casa da viúva, cujo filho foi ressuscitado, existe uma igreja e a sepultura onde ele teria sido colocado». No século XIV, há ainda indicações acerca dessa igreja. mas a partir do século XVI não se fala de mais nada a não ser de ruínas. A actual igreja, simples e modesta, foi construída em 1881, sobre os restos da antiga. Conserva duas valiosas pinturas do fim do século XIX.  O cemitério antigo devia estender-se para a parte oeste do lugar, onde se podem ver diversos túmulos escavados na rocha. Um sarcófago romano é conservado na parede da igreja.

 

C. Significado das ressurreições operadas por Jesus

 

5. Já agora, será oportuno referir que o Evangelho oferece-nos o relato de três ressurreições operadas por Jesus. Uma é a ressurreição da filha de Jairo, chefe da Sinagoga, que acontece no próprio dia da morte (cf. Lc 8, 52-56). Outra é esta ressurreição do filho da viúva de Naim, que ocorre um dia depois da morte (cf. Lc 7, 11-17). E a terceira é a célebre ressurreição de Lázaro, verificada quatro dias depois da morte (cf. Jo 11, 39-44).

Santo Agostinho propõe uma significação espiritual destas ressurreições. A morte é vista como símbolo do pecado e a ressurreição é encarada como libertação do pecado. O que sobressai não é o regresso à vida que se tinha, mas a entrada numa vida nova, numa vida plena, na vida eterna. Como diz o Bispo de Hipona, «é mais importante ressuscitar para viver sempre do que ressuscitar para morrer de novo».

 

  1. Para Santo Agostinho, a filha do chefe da Sinagoga é símbolo dos que têm o pecado no íntimo do coração, mas ainda não o puseram em prática. No caso vertente, há um morto que ainda não saiu de casa. À palavra de Jesus — «levanta-te» — o pecador acorda, desperta e arrepende-se voltando a respirar o ar de salvação e santidade.

A ressurreição do filho da viúva de Naim significa, para Santo Agostinho, a libertação dos pecadores que põem em prática o seu pecado. O sair de casa simboliza o agir em público. Por isso, é também em público que Jesus o liberta do pecado, restituindo-lhe a vida da alma e entregando-o à sua Mãe, a Igreja. Curiosamente, o próprio Santo Agostinho viu-se retratado neste jovem apontando sua mãe (Santa Mónica) como símbolo do sepulcro em que ele se encontrava. No Livro VI das suas «Confissões», descreve a Deus a atitude da sua mãe: «No sepulcro do seu pensamento, ela apresentava-me a Vós para que dissésseis ao filho da viúva: «Jovem, eu te ordeno: «levanta-te”». E, de facto, Agostinho levantou-se, renascendo para a graça, para a fé.

 

D. Tão humano é Jesus na Sua divindade

 

7. Finalmente, há aqueles pecadores que, de mal em mal, estão tão entranhados no pecado que até já cheiram mal. A pedra que encerrava o sepulcro de Lázaro significa, para Santo Agostinho, a tirania do hábito, que subjuga a alma e não a deixa levantar-se nem respirar.

Sucede que até aqueles que estão nesta situação têm uma solução. Jesus reverte até o que parece irreversível. À voz possante de Jesus — «Lázaro, sai para fora» rompem-se as cadeias da sepultura e despedaça-se o poder da morte. Lázaro volta a andar, sem a opressão das ligaduras. Em Jesus, o perdão é sempre libertação.

 

  1. Voltando ao relato do filho da viúva de Naim, notamos como Jesus Se mostra tão humano a poucos instantes de revelar o Seu poder divino. De facto, ao ver aquela mãe a chorar a morte do filho, Jesus começa por Se compadecer pedindo à mulher para não chorar (cf. Lc 7, 13). É como se Jesus estivesse a pedir-lhe aquelas lágrimas, desejando que elas passem para Ele. De seguida, aproxima-Se e toca no caixão (cf. Lc 7, 14).

Enfim, Jesus consegue ser tão humano até no momento em que Se revela tão poderosamente divino. Jesus diz então o jovem para que se levante. E eis que o prodígio acontece. O que estava morto sentou-se e começou a falar (cf. Lc 7, 13-14). Jesus entrega o filho à mãe, símbolo da Igreja, a quem Deus entrega cada um dos Seus filhos.

 

E. Evangelizar é transportar Jesus

 

9. Olhando para este episódio no seu conjunto (na sua extensão e na sua profundidade), deparamos com um fortíssimo momento de revelação de Deus. É o que Jesus pretende e é o que a multidão entende. Refere o texto que todos começaram a dar glória a Deus dizendo: «Deus visitou o Seu povo» (Lc 7, 16). E, de facto, Jesus é a visitação de Deus. Jesus é a vinda de Deus até nós. A vida que Ele dá ao jovem não é uma vida unicamente humana; é uma vida humana insuflada pela vida divina.

Jesus não Se limita a falar de Deus. Ele próprio é Deus junto de nós. Ele próprio é Deus para cada um de nós. O que Jesus faz não é de origem humana; é de origem divina (cf. Gál 1, 11). E o que Jesus faz é a transformação plena da nossa vida, é a passagem da morte para a vida. Jesus está sempre disponível para operar esta mudança. Estaremos nós disponíveis para que tal mudança aconteça? Deus quer a nossa existência deixe de ser um cortejo de morte para que passe a ser um luminoso caminho de esperança.

 

  1. Como há dois mil anos, há muitos motivos para dar glória a Deus (cf. Lc 7, 16). Não recusemos dar essa glória e participar nesse louvor. Como há dois mil anos, a fama de Jesus vai-se espalhando (cf. Lc 7, 17). É fundamental que nós sejamos os portadores dessa fama e os anunciadores dessa presença.

Não esqueçamos nunca que evangelizar é transportar Jesus. É levar Jesus em forma de mensagem, em forma de proposta, em forma de gesto. Quem de Jesus ouvir falar sentirá — seguramente — a vida a mudar!

publicado por Theosfera às 06:00

Hoje, 05 de Junho (Décimo Domingo do Tempo Comum), é dia de S. Bonifácio e S. Doroteu, o Moço.

Refira-se que S. Bonifácio era inglês e foi o grande cristianizador da Alemanha.

Fez suas as (fortes) palavras de S. Gregório, apelando aos pastores para não serem «cães mudos nem sentinelas silenciosas».

O silêncio da escuta tem de desaguar na palavra corajosa e habitada pela esperança.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 05:04

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