É normal que se (re)tire proveito das acções que se praticam.
Dir-se-á que é a lei da vida. É assim que se sobrevive.
Herói será, por isso, aquele que prescinde de todo e qualquer proveito.
O maior herói é o que se dispõe e não o que se expõe.
A avaliar pelas condecorações, não faltam heróis hoje em dia. Mas aqueles que merecem mais a minha admiração são os heróis discretos, aqueles que fazem o bem e se retiram, aqueles que fazem brilhar a acção e se apagam a si mesmos.
Para Mario Vargas Llosa, «os heróis discretos são a grande reserva moral de um país».
Raramente, ou quase nunca, obtêm o reconhecimento merecido. São capazes até de fugir dele. São puros e rectos.
A comunicação social ainda não despertou para eles, para o seu valor.
A «sociedade do espectáculo» privilegia o exibicionismo. A literatura prefere o entretenimento e provoca o adormecimento: o adormecimento cívico, o adormecimento ético.
Quem questiona o presente? Quem escuta as questões do presente?
As estruturas estão desfasadas do real.
Olhamos para o que nos mostram. Olhemos para o que existe.
Há mais vida para lá do que é mostrado. E, nesta hora, o mundo está cheio de heróis, de heróis discretos.
São heróis por muitos motivos. Também por serem discretos!