1. Há coisas em que parecemos incorrigíveis.
Muitas vezes, quando olhamos para cima, não olhamos para o céu, nem para Deus. Olhamos para a frente, para os lugares da frente. E, no fundo, sentimos algum pesar por lá não estarmos.
2. Acontece que nem sempre há grandeza no que é grande. Pelo contrário, há sempre muita grandeza no pequeno.
Para Deus, sobe-se descendo. As pessoas mais parecidas com Deus são as mais simples, as mais humildes.
3. As melhores pessoas são as mais simples. Infelizmente, são as mais esquecidas. Mas são elas que trabalham para outros possam brilhar. Até nisso são grandes. Dão tudo pelos outros e até são capazes de dar o palco aos outros.
As pessoas humildes são sãs, são chãs. Sabem à terra. E sabem a Deus na Terra!
4. Diz a parábola que havia três irmãos (a água, o nevoeiro e a vergonha) que, um dia, resolveram apartar-se. Para facilitarem o reencontro, combinaram o lugar onde cada um estaria.
A água andaria pelo fundo das terras e o nevoeiro pelos vales. O problema era a vergonha. Quem a perdesse, nunca mais a encontraria.
5. O progresso, que há anos parecia irreversível, parece estar a recuar. O descontentamento é crescente. A revolta é preocupante. Que se passa, afinal?
Francis Fukuyama entende que estamos a assistir a uma «revolução global da classe média». É esta classe que não quer voltar para onde já esteve. Mas que, ao mesmo tempo, sente que não está a conseguir estar onde se habituou a estar.
6. Sabemos falar as línguas que se usam lá fora e temos dificuldade em entender a linguagem que se usa cá dentro.
Por vezes, temos a sensação de que é mais fácil falar inglês, francês e até alemão do que perceber o português que alguns usam em Portugal.
7. Parece uma novilíngua de sabor cabalístico. Quando ouvimos falar de «swaps», «contratos tóxicos», «mercados», etc., ficamos com a impressão de que nos estão a esconder algo em vez de nos estarem a dizer alguma coisa.
Dizem que é a falar que a gente se entende. Mas, às vezes, parece que é a falar que alguns nos querem impedir de entender.
8. Que se pode obter na educação? Ciência, sem dúvida. Mas também consciência. E também conduta.
Nietzsche achava que a educação até nos devia ajudar a lidar com a solidão: «Paulatinamente esclareceu-se, para mim, a mais comum deficiência de nosso tipo de formação e educação: ninguém aprende, ninguém aspira, ninguém ensina a suportar a solidão».
9. É importante estarmos abertos ao convívio. Mas é indispensável não estarmos totalmente impreparados para a solidão.
Tudo é preciso na vida.
10. Da aurora dos tempos vem-nos, via Pitágoras, um precioso (e imprescritível) conselho: «Escuta e serás sábio. O começo da sabedoria é o silêncio».
Diria que é o começo e, não poucas vezes, o meio e o fim. Da sabedoria e de (quase) tudo!