Assim escreveu (subtil e magnificamente) Albert Einstein.
1. Perdoar é difícil para o homem. E consta que também não é fácil para Deus.
Se olharmos para a Bíblia na sua literalidade, notaremos que a vingança faz incursões assustadoras na esfera do sagrado. Até Deus parece ser vingativo e, por vezes, cruel!
Após o pecado original, «expulsou o homem do paraíso» (Gén 3, 23). Quando a corrupção corroeu a humanidade, Deus decidiu «eliminar» o homem da terra (cf. Gén 6, 8).
Mesmo o Novo Testamento não nos sossega totalmente.
Na enunciação do Pai-Nosso vem o apelo ao perdão, mas com uma ressalva: «Se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai não vos perdoará as vossas faltas»(Mt 6, 14-15).
À primeira vista, em vez de ser o homem a seguir os critérios de Deus é Deus que segue os critérios do homem.
Parece que só há perdão de Deus se houver perdão da parte do homem. Se não houver perdão entre os homens, não haverá perdão da parte de Deus.
E a verdade é que foi preciso Jesus pedir a Deus que perdoasse a quem O ia matar: «Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem»(Lc 23, 24).
Será que foi atendido? Será que Deus perdoou mesmo? Alguém achará mal que se queira vingar a morte de um filho?
2. Parece que tal vingança honra a justiça. Mas será que presta o devido tributo à misericórdia?
Para muitos, o prevaricador não deve apenas ser impedido de continuar a fazer o mal. Ele também deverá sofrer, em troca, o mal que praticou.
É este, aliás, o alicerce da chamada «justiça popular», da «justiça pelas próprias mãos», daquela que ficou conhecida como a Lei de Talião: «Olho por olho, dente por dente»(cf. Mt 5, 38).
Para Jesus, porém, a misericórdia vai sempre mais longe que a justiça. A misericórdia é a moldura da justiça.
É por isso que Ele propõe o amor aos amigos, mas também aos inimigos. É assim que se mostra ser filho do Pai do Céu, que «faz com que o sol se levante sobre bons e maus»(Mt 5, 45).
Decididamente, este é o Deus das novas oportunidades, das infinitas oportunidades!
3. A História, muitas vezes, aparenta acentuar mais o lado justiceiro do que o lado misericordioso de Deus.
Uma coisa é certa. Deus só pode ser amor (cf. 1Jo 4, 8.16), amor que dá, amor que se doa, amor que per-doa. E onde há amor, pode haver dor, mas não poderá haver vingança.
Devolver o mal a quem faz mal é, no fundo, ceder àquilo que dizemos não aceitar.
Uma pessoa pacífica tornar-se violenta, para responder à violência, acaba por se desfigurar, por deixar de ser ela própria.
Eu creio que Deus perdoa sempre. De resto e como dizia Heinrich Heine, «é o trabalho d’Ele»!
Pode parecer pouco justo que Deus perdoe aos que cometem atrocidades, aos que andam envolvidos na corrupção, na intriga e na calúnia.
Parece pouco justo. Mas é por isso que é divino. Perdoar assim só estará ao alcance de Deus e de quem se deixa envolver por Ele!
4. O perdão não obriga a que se passe por cima da acção perversa e da atitude maldosa.
A maldade deve ser denunciada. E é por isso que não deverá ser reproduzida.
Perdoar, no fundo, é continuar a estar disponível para dar. É não cair na lama ainda que alguém arraste para ela.
Perdoar é não ingerir nunca o veneno da vingança, mesmo que a alma esteja coberta de feridas!