O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 31 de Julho de 2011

Somos um país de contrastes.

 

Há tanta gente com dificuldades: sem pão, sem habitação, sem trabalho.

 

Mas quem olha para o país, nesta altura, vê-se tanto investimento na indústria do entretenimento.

 

Em épocas de crise, seria de esperar que se investisse mais na solidariedade, que houvesse uma percepção mais aguda da situação que vivemos.

 

O nosso maior défice é espiritual. Falta-nos uma hierarquia de valores, uma escala de prioridades.

publicado por Theosfera às 16:27

Nem a fome, nem a tribulação, nem a angústia, nem a perseguição, nem o perigo, nem a espada. Nada disto nos afasta de Cristo.

 

A única coisa que nos pode afastar de Cristo é a falta de compaixão.

 

Jesus era procurado porque as pessoas sabiam que podiam contar com Ele.

 

Ouvimos dizer, neste Domingo, que Jesus se retirou para um local deserto. Mas o deserto não é ruptura. O deserto desperta até uma maior vontade de comunicar. Em hebraico, deserto diz-se midbar, que tanto significa silêncio como eu falo

 

É por isso que o deserto surge a par da multidão.

 

O deserto não gera indiferença. Pode até intensificar a relação.

 

E o cerne da relação é a compaixão, é o amor.

 

Não é possível agradar a Deus e ignorar os pobres.

 

Não podemos esperar que o Estado faça tudo na solidariedade.

 

Um dos homens mais sábios de sempre, Kant, pagava do seu bolso pensões mensais a várias pessoas.

 

Compreendeu que, para ajudar os outros, Deus não tem outra mesa além da nossa mesa.

 

É esta a lição nunca totalmente apreendida depois de Jesus.

 

Tantas vezes, em nome de Jesus (e de Deus) vivemos nos antípodas da compaixão.

 

Onde não compaixão, não há fé.

 

Sem compaixão, não convencemos ninguém.

 

publicado por Theosfera às 00:01

A chave da convivência é o respeito por todos. O respeito pelo outro inclui o respeito pelas suas posições.

 

Mesmo quando estas são diferentes, é fundamental que o respeito se mantenha.

 

O que nunca pode acontecer é a cultura do estigma.

 

O diferente não pode ser julgado.

 

A Bíblia, já no Antigo Testamento, diz que o juízo pertence a Deus (cf. Deut 1, 17).

 

Aliás, é bom pensar que, relativamente ao judaísmo, Jesus foi acusado de ser um dissidente e pagou com a vida a Sua dissidência.

 

Não podemos ver na discussão uma falta de lealdade ou na discordância uma quebra da fidelidade.

 

As pessoas não podem ser excluídas pelas posições que tomam.

 

É preciso que não prevaleça a ideia de que, para tudo estar bem, é necessário calar o que se sente e reprimir o que se pensa.

 

O Cristianismo tem de ser o espaço da sinceridade e da liberdade.

 

A maturidade existe quando as pessoas se sentem à vontade para expressar as suas convicções, mesmo quando estas são dissonantes.

 

A comunhão não ocorre quando todos dizem ou fazem o mesmo. Ela acontece quando, embora dizendo ou fazendo diferente, nos respeitamos.

 

O alicerce da comunhão resulta não da federação de opiniões, mas da comum adesão ao mesmo Jesus, que é tudo e está em todos.

 

É possível que achemos que a pessoa está no erro, mas não é lícito que a condenemos.

 

Quando há espaço para a crítica saudável, todos crescemos.

publicado por Theosfera às 00:00

Sábado, 30 de Julho de 2011

Um segredo existe para ser guardado. Mas há quem pense que ele deve ser revelado.

 

Tudo isto é muito perturbador, sobretudo atendendo às entidades envolvidas. Ainda por cima, não se assume a autoria. Tudo está encoberto pelo manto do anonimato.

 

No entanto, a credibilidade do autor da notícia justifica alguma atenção a isto.

publicado por Theosfera às 21:52

«Não diga tudo o que sabe.

Não faça tudo o que pode.


Não acredite em tudo que ouve.

Não gaste tudo o que tem

Porque:

Quem diz tudo o que sabe,

Quem faz tudo o que pode,

Quem acredita em tudo o que ouve,

Quem gasta tudo o que tem

Muitas vezes diz o que não convém

Faz o que não deve

Julga o que não vê

E gasta o que não pode».

 
Assim reza (magistral e magnificamente) um provérbio árabe.

 

publicado por Theosfera às 16:17

«Se alguém lhe fechar a porta, não gaste energia com o confronto, procure as janelas.
Lembre-se da sabedoria da água. A água nunca discute com os seus obstáculos, contorna-os.
Quando alguém o ofender ou frustrar, você é a água e a pessoa que o feriu é o obstáculo! Contorne-o sem discutir.
Aprenda a amar sem esperar muito dos outros».
Assim escreveu (pertinente e magnificamente) Augusto Cury.
publicado por Theosfera às 16:14

Mais um dia, mais uma jornada, mais uma etapa.

 

A caminho do cume? À beira do fundo? Seguramente, mais perto do fim.

 

Esta é a única certeza que o tempo nos dá. O tempo que, já advertia Vieira, «tudo sujeita, tudo muda e com tudo acaba».

 

Hoje estamos mais perto do fim do que estávamos ontem...

publicado por Theosfera às 14:06

Turismo religioso é uma expressão que se tem difundido, mas que não deixa de ser potencialmente equívoca.

 

Originalmente, procura identificar um importante segmento da actividade turística: edifícios, peças e iniciativas de natureza religiosa.

 

No plano arquitectónico, há muitas terras cuja oferta turística é de natureza quase exclusivamente religiosa.

 

Não é preciso ser religioso para reconhecer a importância deste património. Uma parte considerável deste tem estatuto de monumentos nacionais.

 

Qualquer turista defende que cada espaço deve ser respeitado de acordo com a sua identidade.

 

Nenhum turista mininamente esclarecido deitará papéis num jardim ou lixo numa floresta.

 

Não se espera, hoje, que se vá de fato para a praia.

 

Se o turista for a uma mesquita ou a uma sinagoga, sabe como estar. Ou, pelo menos, é informado acerca disso.

 

Sucede que, nas igrejas, está a tornar-se habitual uma crescente dessacralização. E não me refiro apenas (nem principalmente) ao modo de vestir. Refiro-me sobretudo ao modo de estar.

 

Há quem fale alto. Há quem não cuide de saber se está a decorrer alguma celebração. E, se está, não falte quem tire fotos atrás de fotos, colocando-se até de costas para o altar.

 

Eu sei que não é por mal. Mas o problema está na falta de respeito pela natureza do lugar e pela fé das pessoas que estão concentradas. Obviamente, o ruído e o flash das fotos perturbam.

 

Por um lado, percebe-se. A expressão diz (quase) tudo. Turismo religioso substantiva o turismo e adjectiva o religioso. Ou seja, a pessoa tende a assumir-se como turista esteja onde estiver, aconteça o que acontecer.

 

Mas não é correcto. Não se espera que se esteja numa esplanda como se está numa igreja. Mas a inversa também é verdadeira.

 

E, a propósito, vale a pena evocar o testemunho de um apresentador de televisão, que se apresenta como agnóstico.

 

Tendo ido visitar uma aldeia, pediu para lhe abrirem a igreja. Notando como as senhoras falavam, não ocultou o seu espanto: «Então eu, que sou agnóstico, falo baixo e as senhoras, que são católicas, falam nesse tom?»

 

De facto, não é preciso ter fé para ter respeito. Basta que se tenha bom senso.

 

Tudo isto, porém, emerge da cultura do não-lugar que, segundo Marc Augé, pauta a época em que vivemos.

 

As pessoas tendem a perder as referências. E transportam os comportamentos de uns locais para outros, numa indeterminação crescente.

 

Na era do informalismo e do ruído, não podemos esperar muito.

 

Mas com discernimento tudo se conseguirá.

publicado por Theosfera às 13:42

O colectivo é um ambiente, uma oportunidade. Muitas vezes, surge como um problema. O que nunca pode ser é um freio.

 

O colectivo não pode ser visto como uma adição de membros. O colectivo não pode dispensar cada um dos seus elementos.

 

Ser pessoa significa estar aberto, mas a vontade colectiva nunca pode ser imposta.

 

O não-humano encontra-se não apenas em indivíduos que não se socializam (o caso de Anders Breivik é o mais recente), mas também em colectivos que não integram. Aqui, os exemplos são múltiplos.

 

Criticamos, por hábito, aqueles que, supostamente, não se abrem. Mas não cuidamos de questionar os colectivos que não integram. E que, pior, estigmatizam, marginalizam e perseguem.

 

Por um imperativo de sobrevivência, a alternativa é, muitas vezes, a solidão, o desterro. Ainda assim, acoimamos de trogloditas quem apenas deseja não deixar de ser quem é.

 

Ernst Junger deu conta de um paradoxo. A solidão é «uma característica particularmente notável em épocas nas quais o culto da sociedade floresce». E que «o colectivo apareça como o não-humano, essa é uma das experiências a que poucos são poupados».

 

Nem sempre a solidão é uma fuga ou uma oposição. Muitas vezes, é apenas a recusa da opressão. A cultura dominante não costuma tolerar alternativas. Quando não persegue, pressiona.

 

Ser vencido não significa submeter-se eternamente à vontade do vencedor.

 

A solidão pode ser, pois, um grito pela liberdade. É que, volto a Junger, «uma história autêntica só pode ser feita por homens livres», por pessoas que não se resignam.  

 

A solidão pode configurar uma recusa decidida da desumanidade que, muitas vezes, o colectivo impõe.

publicado por Theosfera às 11:39

Vivem com menos de um euro por dia e não encontram meios de saldar as dívidas.

 

Resta-lhes um expediente: vender os rins.

 

Segundo o Expresso de hoje, há milhares de pessoas numa cidade paquistanesa que comercializam os seus rins.

 

O pior é que nem sempre são ressarcidos como o combinado.

 

No mercado negro, um rim pode chegar a 1700 euros, mas há quem receba apenas 340.

 

O Governo penaliza esta prática. Mas vê-se impotente para impedir este drama.

publicado por Theosfera às 11:29

«O segredo da felicidade é a liberdade. O segredo da liberdade é a coragem».

Assim escreveu (superior e magnificamente) Tucídedes.

publicado por Theosfera às 11:26

São coetâneos. Têm quase a mesma idade. Fizeram um percurso semelhante. E são amigos.

 

Ontem estiveram em confronto. Explanaram as divergências. Mas mantiveram sempre a compostura.

 

O primeiro-ministro quer dar passos seguros. O líder da oposição pretende estar seguro nos passos.

 

Enfim, quase dois gémeos siameses. A política os juntou. A política os separa.

publicado por Theosfera às 11:16

Pelos vistos, é inevitável. Os poderes coexistem. E, porque coexistem, conflituam.

 

Se o mundo se tornou um mercado, os novos poderes são de natureza económica. E os novos conflitos são económicos.

 

As guerras, hoje em dia, não se fazem só com armas. Fazem-se também (e bastante) com dinheiro.

 

O palco destas guerras não são os territórios. São os mercados, os bancos, as empresas.

 

As vítimas destes novos confrontos não morrem de uma vez. Vão morrendo.

 

Tudo é processual: a vida e também a morte.

 

Como disse Edgar Morin, «sobreviver não é viver». E há muitos que, apanhados na competição entre os novos poderes, se limitam a sobreviver.

 

As novas guerras são económicas, mas acabam por patentear a fragilidade da política e a incapacidade dos políticos.

 

A Europa não está bem. Os Estados Unidos não estão melhor.

 

O mundo está à beira do caos e no limiar da paralisia.

 

De cimeira em cimeira, de conferência em conferência, o panorama agrava-se.

 

Os políticos explicam a realidade. Mas não conseguem transformá-la.

publicado por Theosfera às 11:08

Sexta-feira, 29 de Julho de 2011

Faz hoje oito dias que aconteceu o terrível massacre na Noruega.

 

Além de nos chocar o acto, arrepia-nos os motivos alegados, onde não falta a defesa da civilização cristã. Para Anders Breivik, tal defesa justifica a eliminação não só dos outros, mas também dos que apoiam a integração dos outros.

 

Acontece que o primeiro rei cristão da Noruega teve um procedimento semelhante.

 

No século XI, empenhou-se em combater e eliminar quem não fosse cristão.

 

Olavo juntou-se a um bando de piratas vikings. Recebeu o baptismo em Rouen, França, das mãos do arcebispo Robert em 1010.

 

Em 1015, com a idade de 20 anos, regressou à Noruega.

 

Na batalha de Nesje, em 1016, tornou-se o governador e, depois, rei da Noruega.

 

Após as suas brilhantes conquistas militares, Olavo passou a organizar o cristianismo na Noruega.

 

Trouxe o clero da Inglaterra e dos países vizinhos e um desses estrangeiros era Grimkel, bispo de Nidaros.

 

Seguindo o conselho de Grimkel, Olavo publicou muito actos abolindo as leis e antigos costumes pagãos.

 

Infelizmente, Olavo usou de força para destruir o paganismo e impor a nova religião ao seu povo.

 

Unificou o país, mas algumas das suas leis não foram bem aceites pelos nobres e ricos e, de facto, espalhou um certo descontentamento.

 

Ele não tinha misericórdia para com os seus inimigos. Os nobres revoltaram-se e, em 1029, foi expulso do reino anglo-dinamarquês.

 

Fugiu para a Rússia, mas voltou à Noruega em 1031 com algumas tropas suecas tentando recuperar o seu reino. Só que foi morto na batalha de Skiklestad, no Fiorde de Ttromdheim.

 

Olavo é visto como herói nacional da Noruega.

 

No ano seguinte ao da sua morte, o bispo Grumkel construiu uma capela no local do seu túmulo.

 

Ele foi zeloso pela cristandade, mas rude e feroz.

 

Olavo é mostrado como um rei com uma lança ou com um machado.

 

Apesar de tudo, é venerado como santo, tendo sido canonizado, em 1164, pelo Papa Alexandre III.

 

O dia da sua memória é precisamente 29 de Julho. Hoje.

publicado por Theosfera às 23:51

São os jogadores que fazem o futebol. São os pintores, escultores e músicos que fazem a arte.

 

É sobretudo pelos escritores que tomamos contacto com uma língua.

 

É assim que, por exemplo, associamos o Latim a Cícero e o Inglês a Shakespeare.

 

Que eu saiba, ainda não vi nenhum grande escritor defender o Acordo Ortográfico.

 

Há alguns até que militam fortemente na oposição.

 

José Saramago disse que nunca ia escrever segundo os seus ditames. Mas há mais: Vasco de Graça Moura, Inês Pedrosa, José Cutileiro, Fernando Dacosta, Sousa Tavares, Pedro Mexia, António Emiliano, Maria Lúcia Lepecki, etc.

 

Ora, se os melhores cultores da nossa língua se mostram tão afastados deste acordo, não seria motivo para repensar todo o processo?

 

É verdade que reputados especialistas estiveram na sua origem.

 

Mas os especialistas são analistas. São os escritores que levam mais longe a nossa língua.

 

Confesso que este dado tem-me dado muito que pensar.

publicado por Theosfera às 23:26

Numa altura em que se fala tanto de quebra do investimento e da necessidade de conter as despesas, é impressionante verificar como a indústria do lazer mostra uma pujança invulgar.

 

Os clubes de futebol parecem gastar como nunca. E os festivais de Verão e as festas de aldeia aparentam gastar como sempre.

 

É claro que as pessoas têm o direito de agir. Mas nós também temos o dever de analisar.

 

Numa hierarquia de prioridades, depreende-se que há que começar a cortar no acidental guardando para o essencial.

 

Dá a impressão de que estamos a imitar a cigarra, demitindo-nos do papel da formiga, que opta por guardar para quando tiver de gastar.

 

As pessoas têm necessidade de interromper a (dura) marcha do quotidiano. Mas o convívio, sempre salutar, não obriga a que se façam gastos exorbitantes.

 

É natural que haja uma redução pontual nos gastos, mas no geral não se nota uma grande contenção.

 

Acresce que, sendo a maior parte das festas dedicadas a Santos e a Nossa Senhora, ficava bem dar um exemplo de despojamento, encaminhando o dinheiro para a solidariedade.

 

Não seria muito mais cristão?

publicado por Theosfera às 19:30

Como é que se pode falar de países desenvolvidos se, ao lado, há países onde se morre de fome?

 

A medida do desenvolvimento não está no crescimento. Está sobretudo na partilha, na solidariedade.

 

O que se passa na Somália, no Quénia e na Etiópia não é um problema local. É um problema planetário. É um problema de humanidade. Ou, para sermos mais precisos, de falta dela.

 

Não haverá desenvolvimento global sem justiça local, em cada local.

 

Ainda estamos muito longe do mínimo da decência.

publicado por Theosfera às 13:32

Zapatero prepara-se para anunciar eleições antecipadas.

 

As pressões partidárias serão muitas, mas o aperto da realidade começará a ser insuportável.

 

A Espanha tornou-se um país desenvolvido, mas também passa por uma crise que será de crescimento.

 

O PSOE poderá ser vencido pelo PP. Mas, pelos sinais deste dia, o Governo parece derrotado pela realidade.

 

Ainda assim, uma palavra de apreço para a lucidez de Zapatero, um político moderado.

 

Abriu espaço a outro no partido e, nessa medida, abre caminho a outrem no Governo.

 

Pressente-se que já fez tudo. E nota-se que esse tudo é insuficiente.

 

O desgaste, hoje em dia, é enorme.

 

Começa-se rápido e acaba-se depressa.

publicado por Theosfera às 11:10

Os pecados mortais são oito. Pelo menos, para a civilização.

 

Konrad Lorenz estudou-os já nos idos de 70. Limitar-me-ei, por agora, a enumerá-los:

 

- Superpopulação;

- Devastação do espaço vital;

- Competição contra si mesmo;

- Indiferença mortal;

- Decadência genética;

- Rotura da tradição;

- Endoutrinação;

- Armas nucleares.

 

Não me reverei na totalidade do diagnóstico. Mas é impossível não lhe reconhecer superlativa pertinência.

 

Tentarei voltar a Lorenz. 

publicado por Theosfera às 10:55

Pode ser pelo chamado estado de graça. Pode ser também pela personalidade dos intervenientes.

 

Mas quem acompanha, nem que seja por instantes, os debates no Parlamento, parece que vê uma casa nova.

 

O ambiente é mais descomprimido, mais sereno, menos crispado.

 

O primeiro-ministro e o líder do PS não serão grandes tribunos, daqueles que arrebatam plateias, mas isso também não é o mais importante.

 

Precisamos de moderação. Imoderada já é a crise.

publicado por Theosfera às 10:43

A corrupção não se combate apenas (nem principalmente) no plano jurídico. O combate à corrupção decide-se também (e sobretudo) no âmbito da ética.

 

Isto significa que, no limite, há situações que juridicamente podem estar previstas, mas que poderão ser eticamente duvidosas.

 

Um familiar não pode ser prejudicado por esse facto, mas pode haver a suspeita de ser favorecido por essa circunstância.

 

O melhor é mesmo ser o mais objectivo possível. Não é preciso ser tão escrupuloso como aquele professor que, há décadas (para que ninguém dissesse que favorecia dois alunos de quem era familiar), lhes atribuía dois valores a menos em relação à nota merecida.

 

Importante é que não haja favorecimentos, concursos à medida, lugares para os mais próximos.

 

Toda a gente sabe que não é fácil e que há muitas pressões sobre quem está em lugares de decisão.

 

Esta é uma causa que tem de ser assumida a peito. O maior escrutínio está na consciência.

publicado por Theosfera às 10:31

Um maníaco da ordem, minucioso em excesso, obcecado com os pormenores não tem de ser necessariamente um monstro como Anders Breivik.

 

Pode ser também um génio como Immanuel Kant, que se levantava sempre às cinco menos cinco e se deitava sempre às dez, que não aceitava atrasos mesmo que estes fossem de um minuto!

 

A beleza da vida é que nada é previsível. A tragédia na vida é que, por vezes, o imprevisível pode ser trágico.

 

Há que estar atento. Há que ser crítico e, kantianamente falando já agora, autocrítico.

publicado por Theosfera às 10:24

Há coisas que arrepiam só de imaginar, quanto mais de reconhecer!

 

A desumanidade faz vítimas a cada instante.

 

Confira aqui.

publicado por Theosfera às 10:22

Continuamos a ter clubes em Portugal, mas temos cada vez menos clubes portugueses.

 

A globalização é inevitável, mas não existe uma campanha para investir no nosso país, para comprar produto nacional?

 

Porque é que, então, os principais clubes investem lá fora?

 

Se investissem esse montante em jogadores portugueses não estariam a ajudar clubes que correm o risco de fechar?

 

E, pela amostra, não haverá por cá jogadores com igual (ou até superior) qualidade em relação àqueles que foram contratados lá fora?

 

Somando os montantes investidos pelos três grandes, temos uma quantia que se aproxima dos 70 milhões de euros!

 

Tudo este dinheiro foi lá para fora.

 

publicado por Theosfera às 00:00

Quinta-feira, 28 de Julho de 2011
«Não vos vou falar mais da Zezinha. Porque todos a conheceram e já muitos falaram dela nestes dias. E bem. Eu, aqui, vou falar-vos da Zezinha e de nós – de mim, dos meus filhos e da nossa família - nestes cinco últimos meses desde que soubemos da doença dela, num Sábado 12 de Fevereiro, faz hoje precisamente cinco meses.
 
Conheço bem as narrativas de aceitação cristã e resignada das provações que Deus manda – deste o Livro de Job às histórias dos mártires e perseguidos de todos os tempos. Mas nunca tinha assistido, e vivido, de perto, e também na pele, essa experiência. Nesse dia no Hospital da Luz a Zezinha foi informada quase ao mesmo tempo que nós do que tinha e quais eram as perspectivas; e percebeu perfeitamente que tinha uma sentença de morte a curto prazo em cima da cabeça.
 
Jantámos nessa noite com os nossos filhos e começámos, conscientes, uma longa e dolorosa noite das Oliveiras. Às quatro da manhã, vi que ela não estava no quarto e fui procura-la. Estava na casa de jantar, a fumar um cigarro.
 
Perguntou-me se queria também um chá, que ia fazer para ela. E assim ficámos até às seis, a beberricar um chá e a falar da nossa vida. Da nossa vida que tinha sido uma vida boa, mas que não tivera nada a ver com uma boa vida. Tinha sido uma vida difícil, muito rica de riscos e afectos, de grandes amizades e algumas desilusões. E ela agradeceu – e eu com ela – a Deus que nos tinha dado essa vida, e os nossos filhos, e os nossos netos, e toda a família. E os nossos amigos. Todos vós.
 
Depois foi o princípio desta caminhada que acabou na semana passada: ela estava resignada mas, por nós – por mim e pelos filhos - aceitou lutar, com fé em Deus e respeito pelas ciências e artes dos homens. E partimos para Nova Iorque, e depois para Madrid. E tivemos essa longa espera das consultas, dos exames, das análises, dos relatórios, das esperanças alimentadas e perdidas, das histórias dos amigos próximos solidários que vêm com uma casuística de receitas e curas. Partilhámos isto tudo com ela, mas ela – sendo a vítima – foi sempre a mais corajosa e a mais desprendida de todos nós.
 
Ela rezava as suas devoções antes de dormir e eu muitas vezes rezei com ela. Nunca nessas longas semanas pediu a cura; pedia que se fizesse a vontade de Deus. Aceitava pedir pequenas coisas: para ter apetite; para não ter náuseas depois da quimioterapia; para ter ossos e cabeça no dia seguinte, para cumprir as suas obrigações profissionais – e ir ao Parlamento, ir à Renascença, ir ao debate da SIC, aguentar a campanha eleitoral, escrever o artigo para o DN.
 
E estar presente com a sua extrema atenção como mulher, como mãe, como avó, como dona de casa, nas grandes e pequenas tarefas, nas rotinas todas.
 
Ela que era a pessoa mais modesta do mundo e gastava metade do que ganhava nas suas “caridades”. Tinha a sua economia pensada e articuladas para a velhice. Com a doença e os tratamentos dizia, solta, a rir e a sorrir - “se duro muito, gasto o que tenho com a doença e depois vais tu ter que me sustentar.”
 
Vivi isto tudo com os nossos filhos – o Eduardo, a Catarina, a Teresinha - e também com a Helena, o Martim e o Tiago. E com as minhas cunhadas Maria João e Sumsum, e com a minha sogra, Maria José.
 
Mais que todos com a Teresinha porque estava na linha da frente, estávamos os dois com a Zézinha em casa e, talvez por isso fomos os que alimentámos mais esperanças.
 
A Teresinha e eu, nesta linha da frente, tínhamos que ser mais esperançosos que os outros. Vigiávamo-nos e ajudávamo-nos, atentos a quando o outro ia a cair. Como dois Cireneus, mas quem levava a Cruz era a Zezinha.
 
Escolheu – ela escolheu e nós seguimo-la – viver habitualmente esta tragédia. Nós às vezes revoltávamo-nos e pensávamos que Deus estava a escrever por linhas tortas, muito tortas. Sentíamo-nos na sua cela da morte, e pedíamos – nós – graça e clemência. Mas ela continuou a aceitar com simplicidade, com modéstia, com aquele seu sorriso que era a coisa mais luminosa do mundo, quase a pedir desculpa por estar doente, por nos preocupar, por nos mudar a vida.
 
Uma ou duas vezes houve episódios positivos, animadores, que quase a perturbaram. A resignação é comovente, mas a esperança – sobretudo nos resignados - ainda é mais. Nela, a esperança guardou-a para outras coisas. Em nós houve sempre esperança quase até ao fim. Acreditamos num Deus que faz milagres, que ressuscita mortos, porque não havia de curar enfermos.
 
Desta vez não curou. Há dez dias, mais ou menos, tudo se precipitou, vieram as más notícias do TAC de avaliação; já nos tínhamos apercebido que tudo estava pior, pois ela perdia mais e mais forças, os olhos perdiam o brilho, a vida ia desaparecendo. E só essa sua coragem e vontade de espírito a mantinham de pé.
 
Conhecia-a há mais de quarenta anos, no dia 12 de Março de 1970. Íamos fazer quarenta anos de casados no próximo mês de Janeiro e ela faria 60 anos em 23 de Março.
 
A vida a dois é uma vida difícil, mas conseguimos chegar juntos até que a morte, nos separou. Foi uma longa vida em que estivemos juntos em tudo o que de importante, bom ou mau, nos aconteceu – ou ao nosso país, ou à nossa família.
 
Mas estes quase cinco meses finais na sua dor e esperança, mais que uma descida para um abismo – que também foram – transformaram-se numa escalada para além da dor, uma subida de um calvário muito particular. Um calvário de alguém que pela fé, pela entrega aos outros, pelo amor aos mais fracos, pela caridade evangélica, acabou por seguir como sempre aspirava, o caminho de Cristo.
 
Sempre sem medo, nem da doença, nem da dor, nem do fim, porque ela acreditava que esse Cristo, esse Senhor era o seu pastor, e que por isso nada lhe faltaria ao atravessar o vale das trevas. Não faltou. Falta-nos ela a nós».
publicado por Theosfera às 21:22

Disse-me que era ateu.

 

E notei que acreditava, firmemente, no que dizia.

 

Logo, era crente.

 

Importante é acreditar.

 

Deus está sempre perto. Mesmo daqueles que se consideram longe.  

publicado por Theosfera às 20:56

Estamos saturados do bulício. Mas continuamos atropelados pela agitação.

 

Do que precisávamos, nesta altura, era de silêncio. Mas acabamos por procurar (ainda) mais ruído.

 

Após as correrias do trabalho, eis as correrias das férias.

 

Importante seria parar. Mas continuamos a correr. Ainda para mais longe. Para mais longe de casa. Para mais longe de nós?

 

Os destinos de férias são mais distantes que os locais de trabalho. Mais distantes e mais devoradores. Se o trabalho não nos dá o que merecemos, as férias acabam por nos levar muito daquilo que nos (faz) falta.

 

E só no final nos apercebemos de que, no fundo, nem as férias nos oferecem o que das férias esperamos. Dão-nos diversão, quilómetros, multidões. Mas não nos conseguem dar descanso, nem serenidade.

 

Partimos cheios e, muitas vezes, voltamos vazios. Partimos cheios do trabalho, cheios do ambiente, quiçá cheios das pessoas. Voltamos vazios. As praias ficaram, as diversões ficaram, as horas prolongadas de sono ficaram. Que voltou connosco? O vazio. E muito tédio. E mais cansaço.

 

Vivemos, enfim, em permanente défice de produtividade. Não mostramos muita produtividade no trabalho. E (vá lá saber-se porquê) não conseguimos mostrar muita produtividade no descanso.

 

Cansados estamos antes das férias. Cansados continuamos a estar depois das férias.

 

Tudo isto mostra que carecemos de alternativa e não de mera alternância. Temos necessidade não só de locais diferentes, mas sobretudo de aitudes renovadas.

 

Talvez um pouco de solidão e um suplemento de recolhimento nos ajudem a reencontrar-nos neste tempo sem tempo e nesta vida que nos vai levando - velozmente! - para fora da vida.

 

 

publicado por Theosfera às 19:18

Entre a Somália, o Quénia e a Etiópia, há um «Portugal» em risco de desaparecer.

 

São dez milhões de pessoas que a fome pode matar, nos próximos meses, nestes países.

 

As equipas de socorro estão a ter dificuldade  em chegar às populações. Há milícias que impedem o acesso.

 

A realidade já é cruel. A indiferença pode ser letal.

publicado por Theosfera às 12:06

A riqueza dos mais ricos está a aumentar. A pobreza dos mais pobres também está a crescer.

 

Pelo meio, a actualidade mostra que a crise está marcada por boa dose de policromia.

 

Há quem viva já com muitas dificuldades. Há quem mantenha os mesmos hábitos.

 

Há padrões de consumo que não baixam. E, ao mesmo tempo, há necessidades básicas que começam a não ser satisfeitas.

 

Este é um tempo favorável à reflexão. Mas a necessidade de diversão está a engolir esta prioridade.

 

Penso que Jesus encerra um paradigma de vivência que urge levar à vida.

 

Uma ética assente na verdade, na sobriedade e na partilha desponta como uma urgência para estes tempos.

 

A propósito, vem-me à mente o célebre livro de Laurie Beth Jones, apresenta Jesus como um CEO (Chief Executive Officier).

 

Da mensagem de Jesus são extraídas propostas para a vida empresarial, assentes num vector humanista que começa a escassear.

 

Realce para o último tópico: Jesus sabia que ninguém ganha enquanto não ganharmos todos.

 

É este o punctum saliens: enquanto houver alguém a passar mal, nenhum desenvolvimento pode ser dado como consolidado.

 

Jesus falou-nos do mundo como uma casa com uma mesa onde tem de haver lugar para todos. Para todos!

publicado por Theosfera às 11:17

Não é só Deus que nos surge como mistério. Também a humanidade é um mistério para todos. E cada ser humano não deixa de ser um mistério para si mesmo.

 

É por isso que precisamos, amiúde, de recorrer a outros para decifrarmos um pouco o enigma, para nos conhecermos melhor.

 

Isto não acontece apenas com as pessoas. Acontece também com os povos.

 

Surgiram, recentemente, dois livros sobre Portugal, escritos por estrangeiros: um inglês e um francês.

 

Ambos gostam de nós, o que não impede algum espanto por certas coisas que vêem por cá.

 

Barry Hatton fica surpreendido pelo facto de os portugueses se exasperarem mais com as filas do trânsito do que com a corrupção.

 

Também Michel Cartier anota essa instituição que dá pelo nome de cunha, acrescentando a lentidão e o acordo ortográfico.

 

A propósito: «Os portugueses reconhecem que a língua portuguesa é tão rica que acham difícil - além de falá-la - escrevê-la (e, portanto, lê-la) correctamente».

 

publicado por Theosfera às 10:57

A partir de certa altura, impressiona mais a morte dos outros do que a nossa própria morte.

 

A morte dos outros perturba-nos. A nossa própria morte pacifica-nos.

 

Vamo-nos habituando a essa inevitabilidade e vamos até contando as vezes que lhe conseguimos escapar. Bem vistas as coisas, levamos muito tempo a morrer. Só que (como asseverava Eugene Ionescu), consegue-se.

 

Montaigne dizia que a filosofia é aprender a morrer e Zubiri entendia que viver é existir constitutivamente frente à morte.

 

Descodificando, do que se trata, nestas frases, é de um apelo a reaprender a viver. A nossa peregrinação pelo tempo não é interminável. Importa não adiar o essencial. E é fundamental não desperdiçar energias. Ninguém fica aqui para sempre. O que fica, quando já não estivermos, é o rasto do que fomos.

 

No fundo, trata-se de um horizonte que temos à nossa frente. Não sabemos a sua duração. O importante é que a morte nos encontre envolvidos na prática do bem.

 

A certeza da morte dá um acréscimo de premência à questão do sentido. Andamos aqui para quê? Só o bem depõe a nosso favor.

 

Quanto ao momento da morte, não vale a pena preocuparmo-nos muito. Apesar de estarmos seguros da sua vinda, nenhum de nós fará a experiência da sua morte.

 

Era, aliás, por este meridiano que alinhava o conselho de Epicuro. Dizia, mais ou menos, isto em relação à morte: quando nós estamos, ela ainda não está; quando ela estiver, nós já não estamos.

publicado por Theosfera às 10:39

O poder das ideias não é, por si só, uma garantia diante dos eventuais desmandos das ideias do poder.

 

O caso da Noruega demonstra à saciedade que há ideias que agridem, que aviltam e que matam.

 

As ideias (tal como o poder) têm de estar submetidas ao escrutínio da razão e do bom senso.

 

Uma vez, porém, que os critérios são tão variáveis (e, como se vê, alguns mostram-se completamente avariados), é preciso assentar numa regra elementar.

 

E esta encontra-se no fundo da alma humana e no coração de todas as culturas: não faças aos outros o que não queres que te façam a ti.

publicado por Theosfera às 10:33

Quarta-feira, 27 de Julho de 2011

Está visto que a segurança não garante a liberdade e que a liberdade não garante a segurança.

 

Tudo na vida tem um preço e cada valor tem, como custo, o esbatimento de outro valor.

 

O problema é que não há liberdade sem segurança e ninguém está disposto a ter uma segurança sem liberdade.

 

A paz é a arte da conjugação e ela requer a totalidade dos valores essenciais.

 

Sucede que a aposta tem incidido nas leis. É necessário. Mas é insuficiente.

 

Uma segurança sem liberdade ofusca, desde logo, a paz. Mas liberdade sem segurança também não a proporciona. Desde logo, porque fica mais garantida a acção do terrorista do que a integridade das suas vítimas.

 

A educação é prioritária. Só no coração de cada um pode emergir a cultura da paz.

 

Uma vez mais, a paz está em risco. Uma vez mais, a paz tem de estar na linha da frente. De tudo.

 

Não há caminho para a paz. Como dizia Gandhi, «a paz é o caminho».

publicado por Theosfera às 22:00

O poder das ideias é grande. Mas o que acaba por prevalecer são as ideias do poder.

 

Por muito que Isaiah Berlin exalte o poder das ideias, o diagnóstico de Karl Marx, na obra Ideologia Alemã, mantém-se pertinente: «As ideias dominantes não são outra coisa que a expressão ideal das relações materiais dominantes».

 

No fundo, as ideias dominantes são as ideias das classes dominantes.

 

Há ideias que se transformam em poder, mas o poder não se transforma em ideias. Enquista-se nas suas e tende a asfixiar as restantes.

 

O que triunfa não é a pertinência dos argumentos, mas simplesmente a força do poder.

 

Muitas foram as ideias que, ao longo da história, geraram sistemas de poder. Mas, nesse momento, foram degeneradas. Nessa altura, até as ideias libertadoras apareceram sob a forma de ideias opressoras.

 

As ideias passam a ser instrumentalizadas. Destinam-se a exercer uma função legitimadora do poder.

 

É claro que nunca haverá uma convivência totalmente pacífica entre poder e ideias.

 

Uma coisa, porém, é certa. Sem liberdade para a expressão das ideias, nenhuma sociedade se desenvolve.

 

As ideias não são abafadas apenas em ditadura. Podem ser condicionadas mesmo em democracia. Porque, até em democracia, as classes dominantes impõem a sua lei e determinam as regras.

 

Daí que muitos elejam como prioridade conquistar o poder e não defender ideias. Mas antes ficar com a força da ideias, ainda que sem poder, do que ascender ao poder com a pretensão de eliminar todas as ideias. Excepto as dominantes.

publicado por Theosfera às 16:15

Habitualmente, é no uso das palavras que mais suspiramos pelo silêncio.

 

O silêncio pode não responder, mas as palavras de muitas respostas também não conseguem convencer.

 

Todos nós vamos sentindo que o silêncio é uma aspiração e as palavras uma necessidade. Trata-se de uma necessidade, porém, que gera ansiedade.

 

Quando alguém pretende esclarecer algo, é porque nota que não há clareza. Mas não são, muitas vezes, as palavras que semeiam o equívoco e que adensam a obscuridade?

 

Que levou Obama a dizer que os Estados Unidos não eram Portugal nem a Grécia? Não será a ênfase desse não o melhor certificado de que, afinal, a situação até se mostra muito parecida?

 

Bento Domingues alerta que «a Igreja não é um partido». A necessidade desta ressalva também dá que pensar.

 

Com o máximo respeito que nos merecem os partidos, esta distinção deveria ser notória para todos.

 

Há palavras que pretendem negar a realidade que o silêncio consegue captar.

 

As palavras infirmam, mas o silêncio confirma.

 

As palavras são um instrumento precioso. Mas nem sempre obtêm o que se deseja com elas.

 

Quando o Ministro de Saddam proclamava que o Iraque estava à beira de uma grande vitória, as tropas americanas já cercavam Bagdad.

 

Há palavras que pretendem ofuscar o que o silêncio vê.

 

As palavras são importantes quando se tornam eco do que emerge da profundidade do silêncio.

 

E, às vezes, o próprio silêncio dispensa as palavras. A sua eloquência não deixa de ser suficientemente ruidosa...

publicado por Theosfera às 12:42

O problema do terrorismo é que a prevenção só começa após a ocorrência.

 

Dir-se-á que é inevitável, mas acaba também por ser inglório.

 

Quem ataca fica satisfeito por acertar uma única vez, podendo falhar em todas as outras. Quem se defende não pode falhar nunca. Basta falhar uma vez, para haver danos irreparáveis.

 

É claro que, no meio disto tudo, há situações que são evitadas. Mas, neste campo, o êxito é sempre parcial. Já o fracasso é sempre total. Uma vida que se perca é um prejuízo irrecuperável.

 

Como sair deste dédalo alucinante?

 

Não há uma fórmula infalível. A prevenção tem de ser reforçada. Mas um trabalho que se fique pelo exterior não basta.

 

O drama maior das tragédias é que elas tendem a multiplicar-se. E o pior é que o seu gérmen pode contaminar as próprias vítimas.

 

O contributo das religiões é prestimoso, mas o seu passado retira-lhes alguma credibilidade.

 

Rui Tavares não é crente, mas o texto que assina hoje, nas páginas do Público, vai muito mais além do que se tem ouvido.

 

Quando se transforma uma mensagem em lei, penalizando-se quem não a cumpre, abre-se caminho para a sanção e para todo o tipo de violência.

 

Eu sei que isto arrepia, mas Andres Breivik pretendeu ancorar na legislação canónica uma pretensa licitude para o uso da violência. O que incumpre a lei é infiel e, por isso, deve ser afastado.

 

Quem fizer uma rápida incursão por alguma literatura religiosa, verifica como este género de linguagem está presente.

 

Nem sequer faltam palavras como ódio. Do ódio à alegada heresia facilmente se passa ao ódio ao putativo herege. Mais: para justificar certas atitudes, os dissidentes são acusados de terem ódio. É uma técnica pouco requintada: projectar nos outros o que sentimos.

 

Jesus respeitou a Lei, mas não foi pelo caminho da Lei. Tudo compendiou num Mandamento.

 

Rui Tavares, que não se afirma cristão, apela também para um mandamento: «Não odeies».

 

De facto, a resposta ao terror (está visto) não se consegue «com prisões secretas, com tortura ou com rendições extraordinárias, com discursos securitários, com violação da privacidade a cidadãos não-suspeitos, com interferências à liberdade de expressão», etc.

 

No limite, isto só contribui para amplificar o ambiente que se pretende erradicar.

 

Rui Tavares, com alguma ironia, não se atreve a «propor amar o próximo, amar o irmão de outra religião - seria provavelmente considerado multicultural demais, relativista demais, efeminado demais, politicamente correcto demais - e essas são as grandes vergonhas da nossa época, segundo parece».

 

O cronista começa por menos: «Não odeies».

 

«Não odeies o outro. Não odeies o seu erro se queres amar a tua verdade. Não odeies a sua verdade se queres amar o teu erro. É simples. Não odeies nada. Eu disse que era difícil. Não odeies sequer o ódio. O ódio quer ser odiado. O ódio deseja fervorosamente mais ódio. Tu, em resposta, não odeies. Diz aos outros para não odiarem também. E pode ser que este século corra bem».

publicado por Theosfera às 11:11

«Por vezes, somos tão diferentes de nós mesmos como dos outros».

Assim escreveu (espantosa e magnificamente) François de La Rochefoucauld.

publicado por Theosfera às 09:59

«Quase tudo o que fazemos não tem importância, mas é importante que se faça».

Assim escreveu (magistral e magnificamente) Mahatma Gandhi.

publicado por Theosfera às 09:55

Terça-feira, 26 de Julho de 2011

Aprendemos que antes do princípio era o nada.

 

Só que o nada é algo que não está ao nosso alcance. O nada, para nós, é, pelo menos, uma palavra, um som, um conceito.

 

Enfim, o nada é algo que existe para referir o que não existe. A inadequação não pode ser maior.

 

O mais sensato é dizer que, antes do princípio, não sabemos o que está, nem se está alguma coisa. Não podemos garantir que, antes do princípio, esteja o nada. Antes do princípio, só o silêncio.

 

No princípio, já era a palavra, isto é, a comunicação, o que nos chega, o eco do que foi acontecendo.

 

Antes desse princípio, é o silêncio. É o silêncio sobre o que aconteceu ou não terá acontecido. É o que remete para aquilo que não chegou até nós.

 

O big bang é o corte com esse silêncio anteprimordial. É aquilo sobre o qual já podemos conjecturar.

 

Sobre o que aconteceu ou não aconteceu antes, nenhuma ressonância. Só um prolongado silêncio. É a única respiração possível.

 

Antes do que existe não está, obrigatoriamente, o que inexiste. Está, sim, um repousado silêncio que faz a ponte entre a eternidade e o tempo.

 

É por isso que Thomas Carlyle está carregado de razão quando escreveu que «a palavra é sempre superficial como o tempo; só o silêncio é profundo como a eternidade».

publicado por Theosfera às 22:55

Coisa estranha, talvez. Mas, não raramente, são necessárias palavras para redescobrirmos a importância do silêncio. Não só pelo que as palavras dizem sobre o silêncio, mas sobretudo pelo que as palavras dizem sobre si mesmas.

 

As palavras, querendo dizer tudo, por vezes não dizem nada. Já o silêncio, não dizendo nada, permite que se oiça quase tudo.

 

É a falar que nos entendemos. Mas é também a falar que nos desentendemos.

 

É a falar que nos aproximamos. Mas é igualmente a falar que nos distanciamos.

 

As palavras tendem, cada vez mais, a adornar a realidade e a negar a própria realidade.

 

De certo modo, quando falamos, não falamos sobre a realidade. Limitamo-nos a falar sobre as palavras que a dizem. E, quase sempre, desdizem.

 

O silêncio não pretende dizer. Mas também não ambiciona negar. Deixa um vislumbre. Abre pistas. Insinua com subtileza. E permite que se faça o caminho.

 

Os nossos ouvidos estão saturados de palavras. E o nosso coração encontra-se pejado de mágoas pelas palavras que nos entram pelos ouvidos.

 

É possível que o silêncio não nos defenda. Mas também não serão as palavras que nos protegem.

 

Massacram-nos com a máxima de que quem cala consente. Que se saiba, quem cala só consente em não despejar palavras a esmo.

 

Muitas vezes, quem cala acredita mais no valor da palavra guardada do que no efeito da palavra proferida, quiçá gritada.

 

Recorrer a palavras para repor a verdade é, muitas vezes, um exercício inglório no dédalo intempestivo em que se transformou a nossa existência.

 

As palavras servem, hoje, mais para julgar do que para descrever ou contemplar. Deixaram de ter sabor. Têm, pelo contrário, demasiado veneno.

 

Creio, cada vez menos, no ruído das palavras que circulam por reuniões, conferências e simpósios.

 

Não falta quem proponha, quase diariamente, iniciativas para serem ouvidos.

 

Era bom que aqueles que falam e decidem se pusesem à escuta e se colocassem à espera.

 

Há quem tenha sempre uma palavra na ponta da língua. Como era importante que tivessem também um coração disponível para ouvir.

 

A pergunta é a oração do pensamento. Admiro, e temo, quem debita respostas atrás de respostas sem cuidar de atender às interrogações que palpitam.

 

O Livro do Silêncio, de Sara Maitland, é tecido de palavras que escorrem em muitas páginas. Mas remete, de uma forma refrescante, para o aconchego do silêncio.

 

Eis uma boa proposta para este Verão. A obra acaba de sair.

 

Mergulhemos neste livro. E habituemo-nos a escutar a palavra que nos vem não apenas dos lábios, mas também de um riacho, de uma brisa, de um monte.

 

O silêncio não é quando a comunicação acaba. O silêncio pode ser quando o encontro começa.

publicado por Theosfera às 11:52

O respeito pelos outros afere-se também pelo modo como falamos com eles. O amor pela pátria comprova-se pela forma como tratamos a língua.

 

A este nível, o panorama não é muito animador. Há um vendaval de decadência que ameaça agravar-se ainda mais.

 

Não estou a referir-me aos pruridos da excelência nem aos cumes da erudição. Reporto-me, tão-somente, aos mínimos das regras gramaticais.

 

O que se lê e o que se ouve não nos deixa descansados. Há cerca de 60 anos, quando o quadro não era tão desolador, havia quem se sentisse ofendido.

 

João de Araújo Correia, médico dos corpos que sabia ler as almas, confessava ser a língua portuguesa o seu «sangue materno. Quando ma ofendem, perco a serenidade».

 

Quem ofendia a língua ofendia-o a ele, exímio cultor da mesma. «A Língua é a minha dama. Se não fosse a Língua, que seria eu?. Se não fosse a Língua, não seria nada».

 

Era a esta língua pátria que recorria para dizer a vida e para tentar dizer a morte. A vida, por vezes, fazia o tremer. Já a morte sossegava-o. «Ponho-me a tremer por coisas de nada, mas se a morte se aproxima de mim, sossega-me como droga estupefaciente».

 

Morrer não é fácil, mas viver é muito espinhoso. O escritor, que não tinha medo da eternidade, sentia pena de não ter morrido novo. «Quase sem dar fé, quase de repente, vi-me ensarilhado numa competição de egoísmos».

 

É que, «ao abrigo do lar paterno, tinha eu pensado ou sentido que viver era sinónimo de sorrir. Enganei-me! O papel de viver, no palco social, é espinhoso. Cada actor, ainda que vista veludo, é mais javali do que príncipe».

publicado por Theosfera às 11:26

Há pessoas caladas que precisam de alguém para conversar.
 
Há pessoas tristes que precisam de alguém que as conforte.
 
Há pessoas tímidas que precisam de alguém que as ajude a vencer a timidez.
 
Há pessoas sozinhas que precisam de alguém para se divertir.
 
Há pessoas com medo que precisam de alguém para lhes dar a mão.
 
Há pessoas fortes que precisam de alguém que as faça pensar na melhor maneira de usarem a sua força.
 
Há pessoas habilidosas que precisam de alguém para ajudar a descobrir a melhor maneira de usarem a sua habilidade.
 
Há pessoas que julgam que não sabem fazer nada e precisam de alguém que as ajude a descobrir o quanto sabem fazer.
 
Há pessoas apressadas que precisam de alguém para lhes mostrar tudo o que não têm tempo para ver.
 
Há pessoas impulsivas que precisam de alguém que as ajude a não magoar os outros.
 
Há pessoas que se sentem fora e precisam de alguém que lhes mostre o caminho de entrada.
 
Há pessoas que dizem que não servem para nada e precisam de alguém que as ajude a descobrir como são importantes.
 
Precisam de alguém, talvez, como tu...
 
Autor Anónimo, in O Banquete da Palavra
publicado por Theosfera às 10:59

Rir faz bem, sentimos nós e confirmam os terapeutas. Mas que motivos temos nós, hoje, para rir?

 

Nisto, como em muitas outras coisas, aquiesço ao que diz António Vieira: «Quem conhece verdadeiramente o mundo, há-de chorar. E quem ri, ou não chora, não o conhece».

 

Há certos risos que têm algum sabor a alienação. Filia-se a felicidade no riso, esquecendo que Jesus proclamou felizes também os que choram.

 

O problema é que, em tudo isto, labora um não pequeno fingimento.

 

Não nos peçam para rir, quando há sobejos motivos para chorar.

 

Mesmo assim, não desistamos de semear o bem. O mal pode oprimir e esganar.

 

Como referia António Vieira, o mal vê-se de perto e o bem de longe.

 

Longe é um destino distante, mas não um lugar impossível.

 

Não hesitemos, se for caso disso, em chorar hoje. As lágrimas da noite hão-de ajudar a fecundar o sorriso de uma qualquer manhã.

publicado por Theosfera às 06:11

Segunda-feira, 25 de Julho de 2011

 A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, lançou hoje a extensão local do programa Brasil Sem Miséria na região do Nordeste, onde estão 60 por cento da população brasileira mais miserável.

 

A cerimónia realizou-se na cidade de Arapiraca, no Estado de Alagoas, a 135 quilómetros da capital, Maceió, no nordeste brasileiro. Durante o ato, os governadores dos nove Estados que integram a região comprometeram-se a executar os quatro eixos previstos pelo Programa Brasil sem Miséria, que pretende retirar 16,2 milhões de brasileiros da pobreza extrema. Na região do Nordeste estão localizados 9,6 milhões de pessoas, na sua maioria agricultores rurais, em zona com um clima semi-árido e solo pouco produtivo.

 

Durante a cerimónia, a presidente Dilma Rousseff comparou os números da população sem assistência com os países vizinhos, afirmando que o Brasil já tinha conseguido tirar «uma Argentina» (40 milhões) da miséria, mas que ainda faltava «um Chile», referindo-se a uma população de 16 milhões.

 

De seguida, Dilma fez um apelo aos brasileiros para que dêem prioridade aos produtos com o selo Brasil sem Miséria e Agricultura Desenvolvida Familiar, que estarão nos supermercados.

publicado por Theosfera às 23:06

É saudável chegar à certeza, mas é importante não excluir totalmente o caminho da dúvida.

 

Um pouco de cautela cartesiana oferecerá, por isso, alguma profilaxia.

 

O Padre Zezinho, apesar de visitado pelas certezas da fé, reconhecia que, «às vezes, quem duvida e faz perguntas é muito mais honesto do que eu».

 

É perturbador lidar com dois elementos contrastantes que a sociedade nos proporciona.

 

Por um lado, o futuro está cada vez mais carregado de dúvidas. Alguém dizia, há dias, que somos a geração da dúvida. Dúvida quanto ao emprego, dúvida quanto ao carácter dos outros, dúvida quanto às possibilidades de realização.

 

As certezas parecem ter desaparecido, em cascata. Não temos certeza de ter médico de família. Não temos certeza de ter subsídio de Natal. Não temos certeza de ter pensão de reforma. Não temos certeza se o euro vai durar. Não temos certeza sequer quanto à identificação do que somos: um jurista pode ser um caixa num supermercado, por exemplo.

 

Talvez por um efeito de compensação, as dúvidas deixaram de estar no espírito de muitas pessoas. Há quem se mostre possuído de certezas inabaláveis. Não só quanto ao pensar, mas também quanto ao agir.

 

Eu tenho medo de quem nunca duvida. De quem não problematiza o que diz nem questiona o que faz. A violência é, quase sempre, o que resulta das certezas não questionadas. 

 

Os extremistas não duvidam. Não são indecisos. E, no limite, passam por cima de tudo e de todos.

 

Não se pode duvidar sempre. Mas quem nunca duvida como sabe que acerta?

 

Quem nunca duvida não tem hábitos de reflexão.

 

A reflexão não estaciona eternamente na dúvida. Mas é por ela que se abre às certezas mais sólidas.

publicado por Theosfera às 22:29

«Os EUA não são a Grécia nem Portugal, diz Obama! Realmente.
 
Nos EUA 1/5 dos negros estão na cadeia.
 
Nos EUA 50% da população não tem assistência médica e 25% nem consegue tratar-se em qualquer hospital.
 
Nos EUA a dívida pública atingiu um valor impossível de ser pago em várias gerações e já ultrapassou as centenas de milhares de US$ por família.
 
Nos EUA condenam-se a prisão perpétua crianças de 12 anos, por roubo de uma bicicleta. Nos EUA 6% da população sobrevive com uma refeição diária de comida enlatada ...para animais...
 
A Escola Pública é completamente inútil e caminha para a extinção.
 
Nos EUA há mais de 450 organizações policiais e o sistema judicial não é independente do poder executivo: É nomeado por ele!
 
Nos EUA as duas maiores indústrias são o armamento e a pornografia.
 
Nos EUA vende-se mais produtos para animais do que para bebés...
 
Nos EUA 1% da população controla e recebe cerca de 90% do PIB nacional.
 
Nos EUA a produção de carne e de ovos utiliza legalmente promotores químicos de crescimento.
 
Nos EUA não há ordenado mínimo e o trabalho indiferenciado é pago a 4 euros/hora...
 
Os EUA angariam em todo o mundo os melhores cérebros para a sua indústria de armamento e obrigam os seus "aliados" a comprá-las...
 
Os EUA são o maior mercado mundial de drogas pesadas e um dos maiores produtores de anfetaminas e de outros químicos dopantes...
 
Os EUA imprimem papel-moeda e através de tratados com as suas colónias árabes transformaram o US$ no meio de pagamento internacional em substituição do ouro...
 
Obama tem toda a razão: Nada disto de passa em Portugal. Estamos muito atrasados e não sei se algum dia lá chegaremos...
 
Só um detalhe: os EUA estão completamente falidos e mais de 10% da população já vive em acampamentos sem saneamento ou serviços públicos básicos...
 
Nós não somos os EUA! Thanks, God
Manuel Ferreira, in Zurzir
publicado por Theosfera às 16:26

O turbilhão de acontecimentos e a crescente insensibilidade pela cultura substantiva fazem com que determinadas ocorrências nos passem ao lado, quedando-se por ligeiras notas de rodapé.

 

Ontem, faleceu Maria Lúcia Lepecki. Tinha apenas 71 anos e uma obra importante em vastos domínios da literatura.

 

Nascida no Brasil, era especialista em autores que os portugueses vão remetendo para as bafientas arcas do olvido. Camilo Castelo Branco era um desses autores, sobre o qual, aliás, versou a sua tese de doutoramento.

 

Pessoa de raciocínio elaborado, impressionava pela extrema simplicidade do seu argumento contra o Acordo Ortográfico: «Eu sempre achei que o acordo ortográfico não é preciso: um brasileiro lê perfeitamente a ortografia portuguesa e um português lê perfeitamente a ortografia brasileira».

 

Brasileira por nascimento e portuguesa pelo casamento, Maria Lúcia Lepecki merece ser escutada e devidamente atendida.

 

O seu pensamento é de uma linearidade desarmante. O Acordo não é, obviamente, ilegítimo. Simplesmente não é necessário.

 

Numa altura em que tantos recursos estão a ser desafectados de áreas essenciais, eis uma despesa que pode ser evitada. A reflexão deve prosseguir.

 

A posição de Maria Lúcia Lepecki é singularmente pertinente. Trata-se de alguém que, além de competente, está ligada aos dois pólos excruciantes da nossa língua: Brasil e Portugal.

 

 
 

publicado por Theosfera às 14:12

O magnicídio na Noruega e a morte de uma cantora foram duas ocorrências próximas no tempo.

 

Nada liga, obviamente, os dois acontecimentos.

 

Mas vale a pena meditar no que subjaz a ambos os factos.

 

Os protagonistas são dois jovens adultos: um com 32 anos, outra com 27.

 

Eles configuram a expressão mais radical de algumas tendências em curso numa sociedade doente.

 

Notoriamente e cada um à sua maneira, não se reviam na civilização nem no rumo que ela tomava.

 

Amy Winehouse e Anders Breivik são dois ícones dos nossos tempos.

 

Amy Winehouse simboliza tantas vidas destruídas. Anders Breivik sinaliza muitas vidas destruidoras.

 

Tudo é muito rápido, veloz, letal.

 

Os dois acabam sós.

 

Anders Breivik vivia só no isolamento. Amy Winehouse sentia-se só no meio da multidão.

 

Ela teve dificuldade em aceitar-se a si mesma. Ele não teve vontade de aceitar os outros.

 

Amy Winehouse pôs fim ao desespero.

 

Anders Breivik lança uma onda de desespero.

 

Ela terminou de um modo desesperado. Ele agiu de uma forma desesperante.

 

O saldo não é positivo. O ambiente não é sadio.

 

Há muitos que se satelizam em torno de figuras deste género.

 

Estes perfis de comportamento tendem a replicar-se. O desfecho pode não ser semelhante. O estrondo pode ser menor. Mas a dor continua a ser imensa.

 

 O coração das pessoas é um lugar imprevisível: tanto aloja o melhor, como é capaz de soltar o que há de pior!

publicado por Theosfera às 11:27

Deste domingo ecoa uma notável entrevista a Frei Bento Domingues.

 

Realce, desde logo, para a coerência e o desassombro.

 

Muitos lugares-comuns, em que nascemos e fomos (de)formados, são questionados.

 

Pertinente a referência a uma posição de S. Tomás: «Se faço uma coisa porque está mandado, mesmo que seja por Deus, não sou livre. Só sou livre quando faço, ou deixo de fazer, porque é mal ou bem».

 

Este discernimento está em linha com o pedido de Salomão que escutámos na Missa deste dia. Ele pede um coração inteligente para discernir o mal do bem.

 

A capacidade de ascender à verdade é um dom que Deus ofereceu a cada ser humano. Está por isso para lá do escrutínio da autoridade.

 

Frei Bento dissente, por isso, do preceito de Sto. Inácio: «Se vês que é branco, mas a hierarquia te diz que é negro, tens de dizer que é negro».

 

A Igreja nunca pode ser um partido e os modos de actuar têm de ser necessariamente diferentes. «A vida é mística e o místico é aquele que nunca pode parar porque o seu desejo é mesmo de infinito».

 

É preciso estar atento ao sectarismo, quer do ponto de vista religioso, quer do ponto de vista político. «O sectarismo cega. A pessoa já não vê nada ao lado, e também não pode ver nada à frente, as transformações».

 

Deus é um tesouro, muitas vezes, escondido num campo que é a nossa consciência. Com todos os riscos, é a ela que temos de apelar em último caso.

 

Sagrado não é só o templo. Sagrada não é apenas a lei. Frei Bento sublinha que, antes de mais, «sagrado é o ser humano».

 

Nunca podemos, por isso, acenar com o medo. «Deus não é temor. Deus é amor. Escolhi isso para a minha vida. Se Deus não nos amasse, iria para o desemprego, porque Deus só sabe amar».

 

Notável. Para ler e guardar. 

publicado por Theosfera às 10:23

Domingo, 24 de Julho de 2011

Tempos houve em que os governantes não pediam riqueza, mas sabedoria.

 

Salomão (nome que significa pacífico) deseja um coração inteligente. Não pretende um cérebro inteligente, mas um coração inteligente. Porque o coração tem uma agudeza que não está ao alcance de um espírito puramente cerebral.

 

O perfil do governante é o daquele que sabe distinguir o bem do mal.

 

Haverá maior prioridade?

publicado por Theosfera às 06:43

É difícil encontrar um fio condutor para explicar os acontecimentos.

 

O desenvolvimento não garante a segurança nem, por si só, oferece a felicidade.

 

As sociedades mais avançadas têm os seus dramas e não estão isentas de alojar pessoas e organizações com propósitos cruéis.

 

O que se passou na Noruega merece ser devidamente meditado.

 

Os próprios estudiosos têm dificuldade em descrever o nosso tempo.

 

Vergílio Ferreira anotava que a história é feita de intervalos. Para Marc Augé, que criou o termo sobremodernidade, «não sabemos em que história estamos».

 

Alvin Toffler limitava-se a verificar que «somos a última geração de uma civilização velha e a primeira geração de uma civilização nova».

 

Sucede que a moldura deste novo mundo é muito híbrida, por vezes parece indefinida.

 

O local onde tudo se definia (o campo) está praticamente deserto. Onde mais nos encontramos são os lugares de passagem. É o caso dos hipermercados ou dos aeroportos.

 

Marc Augé caracteriza estes espaços como não-lugares. Neles, há multidões, mas não se chegam a estabelecer relações. Neles, somos capazes de reter caras, mas de não colher impressões.

 

Os não-lugares não favorecem a permanência. Promovem a circulação e estimulam o consumo.

 

As pessoas procuram ter uma casa, mas passam pouco tempo nela. No tempo laboral, deslocam-se para o trabalho. Na época de férias, retiram-se para longe.

 

O próprio modo de vestir torna-se cada vez mais incaracterístico. Só em desfiles etnográficos se afere a proveniência, a identidade.

 

A tendência é para estar em todos os lugares como se estivéssemos em lugar nenhum. Limitamo-nos a ser «turistas consumidores», como diagnostica Zygmunt Baumann.

 

Um exemplo: ao chegar a uma igreja, não se esboça um gesto de religiosidade; a primeira coisa que se faz é olhar para os vitrais, para o tecto e fazer umas fotos.

 

Para muitos, até os templos deixaram de ser locais de peregrinação. Tornaram-se meros locais turísticos.

 

As pessoas vivem nas cidades, mas os comportamentos são cada vez menos cívicos, cada vez menos urbanos.

 

Hoje, permanecemos cada vez menos e circulamos cada vez mais.

 

É tudo muito intenso em cada momento. A dimensão de futuro está a esbater-se. A utopia parece esgotar-se. Daí que os economistas e os gestores quase abafem os escritores.

 

Como falar do futuro se o presente nos traz tão constrangidos?

 

A democracia vai-se generalizando, mas, no fundo e como adverte Marc Augé, a sua configuração assemelha-se «a uma oligarquia planetária».

 

São poucos os que decidem o destino de (quase) todos.

publicado por Theosfera às 00:57

Já houve um governante deposto por incapacidade de governar.

 

Foi há 766 anos (completam-se precisamente hoje) que D. Sancho II foi deposto e considerado como rex inutilis.

 

O mais curioso, aos olhos de hoje, é verificar que a deposição foi operada pelo Papa, concretamente por Inocêncio IV, na bula Grandi non immerito, assinada a 24 de Julho de 1245.

 

É claro que havia uma situação de anarquia, desordem e injustiça. Mas o que determinou o desfecho foi o clima de intriga junto do Papa.

 

Refira-se que, poucos dias antes, o mesmo pontífice tinha deposto o imperador alemão, Frederico II.

 

Outros tempos, mas o mesmo descontentamento. As instâncias de apelo é que eram diferentes.

publicado por Theosfera às 00:44

Sábado, 23 de Julho de 2011

Os atentados na Noruega trazem dados novos.

 

Afinal, o número de vítimas é muito maior que o inicialmente estimado. Neste momento, já se fala em 91 mortos (sete em Oslo e 84 numa ilha onde decorria o encontro de uma juventude partidária). Mas parece que o montante pode subir.

 

E a autoria da tragédia não terá vindo do estrangeiro, nem terá partido de qualquer grupo organizado, de pendor anarquista.

 

Tudo indica que as duas ocorrências terão sido obra de uma pessoa com estudos, religiosa (há quem diga católica) e conservadora.

 

Nem os corpos mais saudáveis são imunes a células tumorais. Nem as sociedades mais moderadas estão livres de elementos radicais.

 

Pouco sabemos acerca dos motivos para esta tragédia inqualificável. Pode aliás haver uma miríade de explicações. Não haverá, porém, uma única justificação.

 

É sempre de temer os actos de quem se julga superior na virtude e não hesita em eliminar os que dissentem. Como é que aqueles que tanto apregoam o bem praticam o mal?

 

O facto de as duas situações visarem membros do mesmo partido indicia a possibilidade de haver questões ideológicas.

 

A pulsão para soluções extremistas está a ganhar terreno em todos os domínios.

 

É urgente que, na hora que passa, elejamos uma prioridade. E esta tem de passar, obrigatoriamente, pela tolerância, pelo respeito, pela aceitação do diferente.

 

Hoje, somos todos norugueses. Estamos com todas as vítimas. E esperamos que a violência arrepie caminho.

 

É fundamental que o fundamentalismo acabe. De vez.

publicado por Theosfera às 11:54

«A questão metafísica primordial já não é a de Leibniz, de saber porque é que existe algo em vez de nada, mas porque é que existe mal em vez de bem».

Assim escreveu (certeira e magnificamente) Emmanuel Levinas.

publicado por Theosfera às 11:50

«Quando precisaste, sempre soubeste onde eu vivia. Quando precisei, sempre ignoraste onde eu morava».

Assim escreveu (magoada e magnificamente) Winston Park.

publicado por Theosfera às 06:25

Sexta-feira, 22 de Julho de 2011

«Senhor, eu sei que falas, mas eu só escuto o Teu silêncio.

Também sei que estás presente, mas eu só consigo sentir o Teu abandono».

publicado por Theosfera às 21:08

Um país civilizado, uma sociedade evoluída e pacifica é alvo de um ataque imprevisto no início da tarde de hoje.

 

A Noruega tem altos índices de desenvolvimento e elevados padrões de ética.

 

Mas nada garante totalmente a segurança.

 

A globalização também é a globalização do medo e do terror.

 

O pesadelo teima em não nos largar. Mas a esperança de melhores dias persistirá.

publicado por Theosfera às 21:03

1. De um caminho podemos saber como começa, mas dificilmente saberemos como acaba. E há coisas em que o melhor é não começar. «Obsta principiis», assim reza uma máxima da sabedoria latina.

 

O antónimo de público é privado. Donde facilmente se percebe que o privado não tem de ser do domínio público.

 

Acontece que tudo muda («até o mudar mudou», dizia Bernardim Ribeiro) e nem sempre se muda para melhor.

 

O esvaziamento de ideias aliado à pulsão exibicionista ditou que a informação seja tecida, em grande parte, com a vida privada.

 

Isto faz com que determinadas pessoas sejam (per)seguidas e escutadas sem o seu conhecimento e, muito menos, sem o seu consentimento.

 

Mais grave, porém, é notar que o género de informação(?) que se condimenta com estes ingredientes tem consumo assegurado e êxito garantido.

 

Quem vive disto não fica perturbado se for contestado. Só fica preocupado se não for consumido.

 

Desde que haja audiências e vendas, não haverá problemas.

 

 

2. Como se isto não bastasse, às vezes são os próprios a não cuidar da sua privacidade. É claro que, pelo menos, aqui não há violação da liberdade. Mas, mesmo assim, continua a haver matéria para reflectir. E inflectir.

 

Esta ausência de fronteira entre o público e o privado tem muitos avatares, repercutindo-se nas mais inesperadas situações.

 

A falta de percepção dos limites pode levar aos mais perigosos resultados. Ninguém pense que logra controlar e gerir todos os cenários.

 

Hoje em dia, tão fácil é inserir uma imagem no facebook como colocar uma câmara na casa de banho ou um microfone numa sala de reuniões.

 

O incómodo continuará a ser grande, mas o espanto tenderá a ser cada vez menor. Nem sequer quando estes episódios são realizados à custa da delação anónima, do ódio aviltante ou da difamação soez.

 

 

3. Muitos, por exemplo, já não cuidam de distinguir entre o vestir no privado e no público. E, como é óbvio, a tendência das pessoas não é para se vestirem em privado do mesmo modo que se vestem em público. A tendência é, crescentemente, para se vestirem em público do mesmo modo que se vestem em privado.

 

E anote-se que o informalismo nem sempre é sinónimo de despojamento, simplicidade e humildade. Todos nós encontrámos, ao longo da vida, pessoas que, ostentando um porte formal, se mostravam impressionantemente solícitas, atentas, próximas, afáveis e solidárias. Pelo contrário, há pessoas com uma aparência informal que são quase intratáveis.

 

A contestação a uma escola que alertou para o modo de vestir devia, acima de tudo, levar-nos a pensar.

 

Há coisas em que não devia ser necessário intervir e, muito menos, legislar.

 

As convenções não são o mais importante, mas têm o seu lugar.

 

A educação é um processo de crescimento em que se vai do menos para o mais e, sobretudo, para o melhor.

 

Até um treinador de futebol impõe regras quanto ao vestir dos seus jogadores.

 

O bom senso é sempre um precioso conselheiro.

 

E há sempre uma reserva que importa manter.

 

 

4. O ser humano transporta consigo um índice de mistério e um capital de transcendência que nenhum exibicionismo consegue anular.

 

As convenções também têm a sua sabedoria, ao apelarem para um resguardo inabarcável.

 

Não são as convenções que afectam a convivência. Até a podem tornar mais subtil e estimulante.

 

Se a sociedade não preserva a privacidade, que, ao menos, os cidadãos não a devassem.

 

Nem tudo é para dizer. Nem tudo é para mostrar.

 

As redes sociais fizeram aguçar um apetite devorador por controlar, obsessivamente e ao minuto, a vida uns dos outros. Para quê?

 

Não mereceremos mais que a vulgaridade?

 

 

5. A intimidade é algo que nos pertence. Só assumindo-a como nossa podemos oferecê-la aos outros.

 

É curioso notar que até os marxistas mais convictos foram sempre muito ciosos na preservação da sua privacidade.

 

Nada há, portanto, de conservador na defesa do pudor. Pelo rumo que as coisas vão tomando, penso até que se tratará de uma atitude de vanguarda, lucidamente progressista.

publicado por Theosfera às 16:21

«Nasci na religião cristã, fui baptizada, levada à catequese, lia na missa... Mas tudo o que conheci durante esse percurso não foi amor nem justiça: a maioria das pessoas na minha igreja regia tudo pelos seus "conhecimentos", a catequese era mais uma competição de "quem sabe mais, quem reza mais e melhor e quem vai mais vezes à missa?" (não sejamos hipócritas, eu estava incluída nesse grupo, tal como os outros eu queria sempre parecer a "melhor").

Tornei-me ateia aos 13 anos e, estranhamente, isso fez de mim uma pessoa muito melhor, com sentimentos bem mais cristãos. Só este ano voltei à prática da religião, estou mais informada e bastante feliz. A mim, foi-me necessário este percurso para servir melhor a Deus».

publicado por Theosfera às 16:19

«Uma vez que o estado português vai pagar juros menores pela dívida e os prazos foram alargados… já haverá folga orçamental para, de forma extraordinária, abolir o imposto extraordinário?».

Do blog Blasfémias.

publicado por Theosfera às 13:54

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