O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Quinta-feira, 31 de Março de 2011

O guião está a ser muito previsível. Passo a passo, o cenário vai-se tecendo.

 

Hoje, reuniu-se o Conselho de Estado e foram marcadas eleições.

 

Entretanto, a dívida aumenta e o recurso à ajuda externa torna-se inevitável.

 

A situação avança de modo tão rápido. E a reacção ocorre de forma tão lenta.

 

Cada dia, há notícias novas.

 

Governo novo só lá para fim de Junho ou início de Julho.

 

Lá chegaremos mais divididos, mais pobres.

 

Ainda iremos a tempo de reconstruir Portugal?

publicado por Theosfera às 23:03

Cada fase da vida tem as suas perguntas próprias.

 

Há as perguntas do início da vida, as perguntas do meio da vida e as perguntas do fim da vida.

 

Tudo isto é dissecado no mais recente livro de Tolentino de Mendonça que, a propósito, evoca Dante: «A meio do caminho desta vida me vi perdido numa selva escura».

 

É um conjunto de textos que depõem a favor da procura incessante do divino a partir do fundo da alma.

 

O elogio do silêncio na relação com Deus entronca na defesa da verdade como construção sobretudo interior. Traz Kierkegaard à colação para dizer que «a verdade não é algo externo, que descobrimos como proposições frias e impessoais, mas algo que experimentamos no nosso interior, de maneira pessoal».

 

No meio do caminho, «olhamos e a vida tornou-se uma floresta. As evidências parecem-nos menos frequentes e acessíveis». Para o poeta, «a sensação que nos sobrevém é a de uma desorientação ou de um certo adormecimento interior».

 

Apesar dos recursos da linguagem, chega um momento em que «fazemos a experiência da impossibilidade de nos dizermos, ou de nos dizermos totalmente».

 

Mais do que viajantes, na vida somos peregrinos com um rumo sempre aberto ainda que nem sempre pareça disponível.

 

Se nem sempre nos dizemos quando falamos, resta dizermo-nos quando peregrinamos.

 

O nosso caminho é a nossa voz.

publicado por Theosfera às 10:45

Hoje, vai haver uma reunião do Conselho de Estado.

 

O Presidente da República falará, depois, ao país.

 

Em princípio, tudo se conjuga para a marcação de eleições.

 

Ainda me resta uma esperança. Um amplo entendimento será mesmo impossível?

 

A atracção por caminhos ínvios parece tornar-se fatal nalguns espíritos.

 

Será que não perceberam que a dicotomia já não é entre partidos, mas entre Portugal e o mundo?

 

Quanto mais nos dividimos, mais nos endividamos.

 

O tempo corre. E não é a nosso favor.

 

Diminui o dinheiro e começa a faltar o tempo.

 

Como é possível que haja partidos a dizer que só em fins de Abril terão um programa?

 

A situação actual não se compadece com lentidões.

 

Depressa e bem, desta vez, tem de haver quem.

publicado por Theosfera às 10:31

Quarta-feira, 30 de Março de 2011
SOS

Há doze mil idosos a viver sozinhos. Isto só em zonas rurais.

 

Sinceramente, não sei quem, no fundo, estará mais só: se os que estão efectivamente sós ou se aqueles que, por uma razão ou outra, consentem que eles estejam sós.

 

São só eles que estão sós em relação a nós? Ou não estaremos também nós sós em relação a eles?

 

Um SOS urgente precisa-se. A sociedade fabrica solidões.

publicado por Theosfera às 12:43

A hora que passa até pode ser benéfica para a Igreja. Neste krónos sombrio, ela até poderá vislumbrar um kairós luminoso.

 

Quem sabe se esta não será uma oportunidade de reencontrar o paradigma perdido: o paradigma das origens, o paradigma do despojamento, o paradigma da simplicidade e do serviço?

 

Numa altura destas, o mais habitual é enveredar por uma atitude reactiva. Estudos sérios atestam esta tendência, este perigo.

 

Assim, Alfredo Teixeira considera que a Igreja Católica enfrenta «tendências de guetização da experiência cristã», que exigem uma «reconstrução criativa».

 

Num texto publicado na mais recente edição do semanário Agência Ecclesia, o professor da Universidade Católica fala de um «processo de desagregação a que Michel de Certeau chamou o fim do cristianismo objectivo».

 

Há quem fique assustado perante as interpelações do tempo e desate a insistir nas fórmulas que fizeram escola, mas que estão, também elas, tingidas pelo desgaste.

 

Não falta quem, apelando muito para a história, acabe por fazê-la estacionar numa determinada época. Daí a propensão para confundir fidelidade com mera repetição e objectivação.

 

Voltando a Alfredo Teixeira, é «talvez por isso que nos encontramos perante algumas tendências de guetização da experiência cristã e as perplexidades dos que escolhem a ambiguidade do mundo como lugar do testemunho».

 

Achamos que toda a novidade é dissolvente e estigmatizamos toda a criatividade como infiel.

 

Por sua vez, o Padre José Frazão Correia diz que o «acto de fé e as práticas crentes deixaram de contar com a protecção de um centro reconhecido e incontestado, bem delimitado e seguro».

 

Ora, isto até pode ser positivo. Jesus nunca apelou para qualquer segurança. Pelo contrário, expôs-se corajosamente a todos os perigos.

 

Nunca alimentou qualquer compromisso com os poderes. Pelo que espanta que, por vezes, a Igreja tenda não só a estar próxima do poder como a conceber-se, ela mesma, em estrutura de poder.

 

Jesus, não excluindo ninguém, sempre Se identificou com os mais pequenos (cf. Mt 25, 40). Acontece que alguns, em Seu nome, parecem distantes daqueles de quem Ele sempre esteve próximo.

 

Assim, diz o Padre José Frazão Correia, «o que estamos a perder não parece essencial à fé em Jesus. Será, antes, uma falsa segurança (cultural, política, ética, etc.) que, em muitos casos e momentos, parece ter obscurecido e enfraquecido o Evangelho».

 

Neste sentido, «a fé em Jesus de Nazaré não quer ser sem a diversidade de pessoas, tempos e modos, os seus dramas e êxitos».

 

A experiência de Jesus não é monolítica. É saudavelmente pluriforme. Tem a forma das pessoas que a fazem. De todas.

publicado por Theosfera às 11:42

Karl Rahner morreu neste dia há 27 anos: 30 de Março de 1984.

 

Um teólogo enorme merecia uma atenção dilatada.

 

O Homem é, como ele bem anotou, o ouvinte da Palavra.

 

Ouçamo-la. Ouçamo-lo.

publicado por Theosfera às 11:11

Não é doutor, mas mostra ser diplomado na universidade da vida.

 

Na sua recente estada em Portugal, Lula da Silva assegurou ser possível articular crescimento económico com distribuição da riqueza.

 

Fala quem tem o lastro de uma experiência bem sucedida.

 

É pena que, entre nós, se continue a cavar diferenças e não se juntem esforços.

 

Os ruído mediático é gerador de fadiga.

 

E há até o risco de alguns se desgastarem mesmo antes de iniciarem funções.

 

Alerta, pois.

publicado por Theosfera às 11:06

O que, muitas vezes, nos paralisa é o estarmos presos na resposta e reféns da sua repetição.

 

Há uma terapia benfazeja na norma, mas ela jamais há-de frear o espírito.

 

Não foi por acaso que Heidegger disse que a pergunta era a oração do pensamento.

 

É pela pergunta que o pensamento avança.

 

O que seria dos que responderam sem os que perguntaram?

 

Será que o caminho passa apenas pelas mesmas respostas para novas perguntas?

 

O perene nunca se dilui quando acolhe o eco do que escorre na contingência de cada instante.

 

Ainda fica mais perene.

 

Não é Jesus o eterno no tempo? E não é o tempo o âmbito da mobilidade, da mudança?

publicado por Theosfera às 00:22

Terça-feira, 29 de Março de 2011

Do fundo da terra, onde é pisada, a semente só crescer.

 

Nem sempre as trevas são destituídas de luminosidade.

 

A esperança só emigra dos corações que a expulsam.

 

Ânimo e muita paz.

 

Um dia, a utopia passará a topia.

 

E o mundo será um lugar de fraternidade.

publicado por Theosfera às 23:22

É sempre perturbador quando a discussão de pontos de vista se converte em julgamentos pessoais. Aquela é sempre estimulante. Esta é sempre lamentável.

 

Apesar de o apóstolo assinalar que, em Cristo, o antigo passou e tudo foi renovado (cf. 2Cor 5,16.17), há quem fique desconfiado ante toda e qualquer renovação.

 

Tais irmãos estão no seu direito de dissentir. Só é pena que não suportem a diferença nos outros.

 

Mas ainda que não a suportem, não há motivo para julgar os outros, muito menos para os desprezar. Discutam os argumentos. Questionem as posições. Mas sem complexos de superioridade moral.

 

Ninguém está no lugar de Deus. Todos nos encontramos à procura de Deus.

 

É pena que alguns não aceitem que a verdade não é a sinfonia de uma nota só. Ao colocar as Suas sementes em todos os homens, como notavam os antigos, o Verbo de Deus alicerçou a polifonia da mensagem. É na diversidade que melhor resplandece a fundamental unidade.

 

Até Deus, como bem percebeu Tertuliano, é único, mas não é um.

 

Enfim, tenho muita pena que uma atitude hiperconservadora seja tida como indutora de fidelidade desaguando em apreciações como esta.

 

Já não é a primeira vez que isto acontece. Se não há concordância com o percurso de vida, que, ao menos, subsista algum comedimento na morte.

 

Admite-se que se discorde de Comblin. Mas a sua memória merece respeito. E, para muitos, a sua competência e dedicação justificam uma subida admiração e encanto.

 

São trajectórias como a dele que nos fazem acreditar numa primavera de justiça na humanidade.

publicado por Theosfera às 22:57

Qualquer pessoa se pronuncia, hoje, sobre qualquer assunto.

 

A opinião democratizou-se, o que não quer dizer que o pensamento se tenha aprofundado.

 

A informação que circula é enorme e a tendência é para se reter apenas fragmentos.

 

E a fonte nem tem de ser o livro ou tampouco o jornal.

 

Muitas vezes, a opinião tem como base a conversa na rua.

 

Para muitos, basta enunciados, tópicos.

 

As entrevistas nas televisões ou os artigos nos jornais têm de ser muito bem geridos.

 

Aqui, não se pode expor grandes teses. Tudo tem de ser contraído. Tudo tende, pois, a ser panfletário.

 

As coisas andam no ar e qualquer um pode apanhá-las.

 

Até uma pessoa previdente como Rogério Alves emite um ponto de vista com base num rumor. Que acabou por não se confirmar.

 

É indispemsável passar os olhos pelas televisões, pelos jornais e pela net. Mas não deixemos de repousar o olhar nos livros.

 

Apesar de tudo, continuam a ser os melhores condutores do pensamento.

publicado por Theosfera às 22:36

Na hora de falar, quase ninguém se engasga. O problema é que, no momento de agir, todos parecem bloquear. Incluindo os que falavam com mais fluência.

 

Quem vê e ouve pensadores, analistas, professores ou até circunstantes, fica com a impressão de que os males estão identificados e as soluções encontradas.

 

Há, pois, qualquer coisa que falha na transição para o plano do agir.

 

E dá-se até o caso de as palavras apressadas terem um efeito cada vez mais performativo. O que por aqui se grita tem logo consequências. Basta olhar para os juros da dívida, sempre a subir ao ritmo das intervenções e das entrevistas.

 

Somos todos especialistas do instantâneo a que falta sempre um golpe de asa na hora da verdade.

 

Nem precisamos de livros ou de grandes estudos. Na própria rua, no decurso de uma fugaz conversa, somos capazes de debitar um cardápio de medidas que trariam a salvação.

 

Não alongamos o raciocínio, porque confiamos na intuição que o momento faz vir aos lábios.

 

É por isso que, com a mesma intensidade que há poucos anos perorávamos contra a ditadura da maioria, hoje verberamos os governos minoritários.

 

Tudo parece ser como no futebol. Quando não se ganha, ralha-se.

 

O mal é que se perdem energias que poderiam ser alocadas no essencial.

 

E o essencial é um país onde nem trabalhar se consegue.

 

Andamos todos com vontade de lobrigar uma nesga do sol. E é só temporal a cair-nos em cima.

 

Amanhã será melhor?

publicado por Theosfera às 10:57

«De quando em vez olha para trás para ver se te enganaste no caminho».

Assim escreveu (pertinente e magnificamente) Goethe.

publicado por Theosfera às 10:25

Como é que aquilo que existe para ligar contribui tanto para desligar?

 

Como é que algo que pretende ligar-nos a Deus acabe por nos desligar tanto uns dos outros?

 

A religião trata do mistério, mas ela mesma erige-se em mistério aos nossos olhos.

 

Nada no mundo nos traz tão mobilizados. Mas nada também na vida nos traz tão separados.

 

Contradição flagrante. Insanável?

publicado por Theosfera às 00:06

Segunda-feira, 28 de Março de 2011

Para os mais idosos arranjamos mais espaço que tempo.

 

Foram eles que colocaram as raízes do que somos.

 

O ritmo da vida impede que lhes demos o que merecem.

 

Mas um mínimo de reconhecimento e decoro devia ser a última barreira contra a violência.

 

Não é fácil ser idoso, hoje.

 

Há notícias de abandono. E (o que jamais imaginava) há casos de agressões, algumas delas perpretadas pelos próprios filhos!

 

Nem sei que diga.

 

Vivemos, desde há muito, num mundo doente. Estaremos a entrar numa sociedade demente?

publicado por Theosfera às 18:57

«Quanto mais vejo uma palavra de perto, mais ela me responde de longe».

Assim escreveu (inspirada e magnificamente) Karl Krauss.

publicado por Theosfera às 18:48

1. As palavras têm uma origem, percorrem um caminho e constroem uma história.

 

Sucede que, não raramente e como notou Ludwig Wittgenstein, o seu significado é tomado não a partir da sua génese, mas a partir do uso que lhe é dado ao longo do tempo.

 

 Católico tornou-se indicador de parcela. Designa uma parte dos crentes e dos cristãos: aqueles que seguem o Bispo de Roma.

 

 Sucede que, etimologicamente, católico evoca não uma parte mas o todo.

 

 O primeiro a empregar este conceito terá sido Aristóteles, na sua célebre Metafísica.

 

 Aí defende que a verdade é católica. Está na totalidade. Hegel e von Balthasar repetiram este ensinamento nas suas obras.

 

 Decompondo a palavra, verificamos que católico vem de kath olon, isto é, segundo o todo.

 

 

2. Importa ter presente que esta totalidade não pode ser vista apenas a partir da presença. Ela tem de incluir também (e cada vez mais) a participação e a abertura.

 

Concretizando, isto significa que a Igreja é católica não somente quando está em toda a terra.

 

Ela torna-se católica quando acolhe todas as perspectivas, todas as preocupações e todos os contributos.

 

Neste sentido, ser católico é mais do que pertencer a uma comunidade. É, acima de tudo, contribuir para uma fundamental unidade de todo o género humano.

 

Não se trata do nós diante do eles. Trata-se, no fundo, de uma consciência activa de pertença à comum humanidade.

 

Não está em risco a identidade. Ser católico é aceitar uma identificação. Mas, como bem adverte Timothy Radcliffe, não é uma identificação com base na exclusão.

 

Como pode defender a exclusão quem se apregoa discípulo de alguém que deu a vida por todos?

 

 

3. É preciso voltar às origens. Não para nelas estacionar, mas para delas voltar a partir.

Não basta uma alteração nas formas de agir. É necessária uma mudança de paradigma.

 

A Igreja tende a ver-se a partir de um centro (Roma). É importante que ela se reveja a partir da sua fonte (Jerusalém).

 

 Na fonte, encontra-se o serviço, não o poder. A Igreja, como destaca Santos Sabugal, assenta num modelo fontal (Jesus, o Servo) e num modelo paradigmático (Maria, a Serva).

 

Na hora que passa, o serviço à paz desponta como a maior prioridade.

 

Daí a necessidade de um encontro verdadeiramente católico em Jerusalém.

 

 

4. Poderia começar por um encontro de católicos, de representantes de todas as comunidades, de todas as tendências, de todas as sensibilidades.

 

Deveria alargar-se, num segundo momento, a todos os cristãos, desbravando caminho para uma unidade sem uniformidade.

 

E, finalmente, tal encontro haveria de congregar todas as religiões.

 

A paz do mundo, como incansavelmente tem recordado Hans Küng, não se obtém sem a paz entre todas as religiões.

 

Ainda subsistem muitas clivagens entre os credos. Grande parte das guerras tem uma fractura de índole religiosa.

 

A cidade que o profeta entrevia como agregadora de todos os povos (cf. Is 2, 2-5) pode oferecer uma perspectiva holística que integre os pontos de vista demasiado atomísticos que teimam em cavar divisões.

 

Até agora, temos olhado o todo a partir das partes. Impõe-se que nos habituemos, a partir de agora, a contemplar as partes a partir do todo.

 

A verdade é integradora e, por isso, conciliadora e pacificante.

 

É no todo (e em todos) que a verdade nos visita. Insistir nos pontos de vista parciais, quando em causa está a totalidade, é perder tempo e desperdiçar oportunidades.

 

Para tal, é urgente acentuar as convergências e saber conviver com as diferenças.

 

Respeitando as diversas tradições, é bom que haja uma sobriedade no apelo a leis, normas e cânones.

 

Basta um mandamento, aquele que Jesus nos legou: «Amai-vos uns aos outros» (Jo 13, 14).

 

Haverá algo mais totalizante, mais universal e, portanto, mais católico que o amor?

publicado por Theosfera às 14:30

Quando a situação se complica, é importante saber que, afinal, tudo tende para o cume.

 

É certo que esta convicção de Maurice Blondel parece desmentida a cada instante.

 

Acontece que, parafraseando Agostinho de Tagaste, também é possível subir descendo.

 

Uma vez que estamos perto do fundo, é possível que nos encontremos também próximos do topo.

 

O paradoxo tem sempre a sua pertinência.

 

Se dermos as mãos, o sonho não será impossível. 

publicado por Theosfera às 11:05

Num tempo em que tudo é apressado, a lucidez mingua a cada passo.

 

Nem sequer esperamos pela realidade que se perfila. Preferimos as palavras que, supostamente, a determinam.

 

Prever é um exercício arriscado. Compromete quem prevê e quem lê as previsões.

 

Não falta, porém, quem inverta tudo. Há quem pretenda que a realidade seja como as previsões e não aceite que as previsões sejam superadas pela realidade.

 

Se assim fosse, não seria necessário, por exemplo, votar. Bastava ler os estudos de opinião.

 

É normal que haja previsões. Mas é fundamental que se esteja atento à realidade.

 

O que se passou na noite eleitoral do Sporting é quase surreal.

 

As previsões apontavam um vencedor. Quando os resultados foram anunciados, houve quem não aceitasse.

 

Há quem invista contra a realidade. Há quem não perceba que o mundo não acaba nas previsões.

 

A este propósito, talvez não fosse despropositado reler um livro que apareceu pouco antes do ano 2000. Anunciava previsões para o mundo até 2012.

 

Estamos quase na recta final. E basta conferir.

 

O que parecia estar escrito nos astros (o autor é astrólogo) ou foi mal lido ou, então, está a ser fortemente contraditado.

 

O Vaticano ainda dura (era para acabar entre 2002 e 2004) e o comunismo na China ainda persiste (era para terminar por volta de 2000).

publicado por Theosfera às 10:59

Nenhum lamento com a queda do Governo. Nenhum entusiasmo ante a perspectiva de eleições.

 

Eis uma síntese possível do estado anímico em que o país se encontra.

 

Parece que tudo está adiado e comprometido.

 

É fundamental que, nesta hora grave, não falte a sindérese, esta faculdade de julgar com rectidão e bom senso. É dela que precisamos para ponderar o que é em comparação com o que devia ser.

 

O afã do poder não deve obscurecer a percepção da realidade e o primado da justiça.

publicado por Theosfera às 10:41

Um teólogo, diz Olegario González de Cardedal, tem de aliar a complexidade da inteligência à simplicidade do coração.

 

Soube que acaba de morrer um pensador profundo, adornado por um coração sensível.

 

Morreu, enfim, uma voz livre e um coração bom.

 

Joseph Comblin nasceu na Bélgica, em 1923, e, após a ordenação sacerdotal, foi para o Brasil.

 

Não se limitou a esmolar os pobres. Identificou-se com eles.

 

Foi assessor de D. Hélder Câmara e sistematizou um pensamento teológico articulado em torno da libertação.

 

Não pairava sobre a realidade. Envolvia-se nela e optava.

 

Morreu ontem, de repente, quando estava a dar um curso.

 

É com pena que vemos partir mais uma referência de alto gabarito numa altura em que também a Teologia parece ferida por algum conformismo.

 

O medo ameaça bloquear alguns intentos renovadores.

 

Que o exemplo do Padre Comblin faça florescer uma nova primavera na Teologia.

 

Que ela nunca se demita de ser saudavelmente crítica e profeticamente incómoda.

 

Só assim será uma Teologia cristã.

publicado por Theosfera às 10:31

Domingo, 27 de Março de 2011

O que ontem parecia banal hoje parece quase genial.

 

Não foram apenas alguns espíritos que refinaram a inteligência.

 

É também a mediocridade que faz reluzir, ainda mais, as estrelas que restam.

publicado por Theosfera às 22:59

Portugal está a viver um impasse e a preparar-se para uma longa recessão.

 

Poderá haver mudanças, mas dificilmente haverá diferenças.

 

O que é estranho é que não se defina um rumo.

 

A Oposição assume que não se revê na política actual. Mas tudo indica que não dispõe de grande margem para fazer diferente.

 

Escusado era haver um discurso para dentro e outro para fora.

 

A tranquilidade dos mercados não tranquiliza as pessoas. A tranquilidade das pessoas não tranquiliza os mercados.

 

Para oscilações, já basta as que provêm da realidade.

 

O discurso político devia ter alguma consistência.

 

Não pode variar tanto conforme os dias e os ambientes em que é proferido.

 

Cada época molda os seus líderes. Mas os grandes líderes é que moldam as épocas.

 

Pressentimos que ainda não é desta que teremos alternativa. Mesmo que tenhamos alternância.

 

O mais certo é termos o mesmo pelos mesmos ou o mesmo por outros.

 

Que, ao menos, haja decoro, verdade e sobriedade.

publicado por Theosfera às 22:16

Pelos vistos, já é só mesmo na ausência de títulos que o Sporting se distingue dos seus principais rivais.

 

Quanto ao civismo, deixou de haver qualquer distinção.

 

Eu era dos que pensavam que a compostura estava inscrita na matriz leonina.

 

Mas o que se está a passar pulveriza toda e qualquer réstia de ilusão.

 

A bem dizer, o início deste século vinha prenunciando algo de estranho.

 

É como se de uma autofagia se tratasse.

 

Os insultos gritados esta noite contra o presidente eleito filiam-se no mesmo perfil de actuação que impediu Mourinho de treinar o Sporting, que levou Paulo Bento a deixar de treinar o Sporting e que obrigou José Eduardo Bettencourt a abandonar a presidência do Sporting.

 

Aliás, vale bem a pena reflectir sobre este último caso.

 

Contesta-se Godinho Lopes por ter sido eleito por estreita margem. Mas Bettencourt foi eleito por 90% dos votos e nem isso obstou a que fosse severamente contestado.

 

É tudo muito triste e preocupante. Acresce que estes fenómenos são protagonizados por gente nova.

 

É bom que os mais novos acalentem sonhos. Mas é importante que aprendam a ter paciência, a saber esperar e a respeitar normas.

 

Só  merece ganhar quem sabe perder.

 

Acresce que nem a língua se salva. Como se não bastasse o calão que bolsam, aparece um Português completamente degradado.

 

Ainda agora, surge um comunicado onde se lê: «Houveram inconformidades»! Houveram...

 

Quando falta humildade, começa a faltar tudo o resto.

 

É claro que tudo será remediado se a bola entrar com mais frequência nas balizas dos adversários.

 

Mas há coisas que não se decidem no campo. Nem nas bancadas. Nem nas ruas.

 

A educação e o respeito são o maior património. Nenhum troféu os iguala.

 

Serenidade precisa-se!

publicado por Theosfera às 19:58

Até quando irá durar a longa noite sportinguista?

 

Não há vitória desportiva que apague a penosa derrota cívica que a noite passada desferiu no palco dos pesadelos leoninos.

 

Será que um triunfo valerá tamanho destempero?

publicado por Theosfera às 12:57

Jesus aposta na pessoa.

 

Abre caminhos.

 

Adorar a Deus não é tanto uma questão de lugar. É uma atitude do coração.

 

Os verdadeiros adoradores são os que adoram em espírito e verdade.

publicado por Theosfera às 06:06

Pensávamos nós que a Oposição chumbara o PEC porque ia longe demais na dureza.

 

Acontece que o líder do PSD vem dizer que a reprovação se deve ao facto de tal PEC não ir suficientemente longe na austeridade.

 

O discurso político está a ser muito oscilante, com rotações constantes, guinadas imprevisíveis e uma geometria excessivamente variável.

 

Esperam-nos tempos difíceis, sem dúvida.

 

Urge reflectir bastante. E inflectir depressa.

 

A realidade muda. E o discurso parece mudar também.

publicado por Theosfera às 06:02

Enquanto vulcão de emoções habitualmente reprimidas, o desporto acaba por ser um retrato da sociedade.

 

E, neste capítulo, o Sporting pode ser visto como um espelho de alguma degradação da sociedade portuguesa.

 

Outrora, este clube era conhecido pela compostura dos seus dirigentes, atletas e adeptos. O seu civismo manifestava-se, particularmente, mas horas de adversidade.

 

De há uns tempos para cá, tudo tem vindo a mudar.

 

A campanha para a presidência do clube foi marcada por uma agressividade inesperada entre os candidatos e por uma violência inaudita entre simpatizantes.

 

Basta olhar para alguns comentários que circulam nos diversos espaços informativos. Até parecia que o adversário morava em casa.

 

Ontem, houve eleições. A contagem de votos demorou. Foi anunciado um vencedor. Terá sido pedida uma nova recontagem. Foi indicado um outro triunfador.

 

É natural que a euforia e a desilusão mudem de campo. Muita coisa pode explicar alguma amargura. Mas nada justifica o desacato e o insulto.

 

Percebe-se que a comunicação social goste de trabalhar por antecipação. Mas, diante de um ambiente efervescente, a prudência era recomendada.

 

Durante horas, um vencedor era dado como certo. Sucede que a informação oficial diz que nunca houve dúvidas quanto aos resultados. A demora destes terá ficado a dever-se ao processo.

 

As imagens desta noite irão, seguramente, marcar a actualidade deste domingo chuvoso.

 

O Sporting tem vindo a perder muito. Já não nem o civismo lhe restará?

publicado por Theosfera às 05:55

A Bíblia pode ser vista como uma longa palavra com 73 sílabas.

 

46 são soletradas no Antigo Testamento e 27 são entoadas no Novo Testamento.

 

Em relação à imagem de Deus, muitas dessas sílabas são completamente átonas. Quase O desfiguram. Basta pensar no Terror de Isaac, assim Deus é apresentado numa passagem genesíaca.

 

Entre desfiguramentos e aproximações, vamos gaguejando, sílaba a sílaba, até chegar a Lucas.

 

Aqui encontramos a sílaba tónica.

 

Deus não castiga. Deus não condena. Deus abraça. Deus festeja.

 

Deus não é um polícia a escrutinar os nossos erros. Deus é o Pai que Se alegra com o nosso bem.

 

Deus é misericórdia.

 

A maior festa não é quando se dá o encontro. É quando ocorre o reencontro após o desencontro.

 

Porque é tão difícil, então, pronunciar devidamente a sílaba tónica?

 

Porque é que, ainda hoje, continua a prevalecer a linguagem do castigo sobre a cultura da bondade, da compaixão e do amor?

publicado por Theosfera às 00:00

Sábado, 26 de Março de 2011

«A missão da Igreja é identificar-se com os pobres.  É assim que a Igreja encontra a sua salvação».

Assim escreveu (martirial e magnificamente) D. Óscar Romero. 

publicado por Theosfera às 13:55

Nesta época do ano, fala-se muito do Baptismo.

 

Aliás, a celebração anual da Páscoa, que apareceu depois da celebração semanal da Páscoa, surgiu por causa do Baptismo.

 

Durante séculos, o Baptismo era celebrado na Vigília Pascal. Sto. Agostinho, por exemplo, relata o que foi o seu Baptismo, aos 33 anos, na noite de 24 para 25 de Abril de 387 na catedral de Milão por Sto. Ambrósio.

 

Actualmente, serve a Quaresma não apenas para preparar a celebração do Baptismo, mas também para ajudar a revitalizar o Baptismo já recebido.

 

Para a Igreja, o Baptismo (juntamente com o Crisma e a Ordem) é um sacramento que imprime carácter, isto é, afecta o ser da pessoa. É por isso que não é reiterável.

 

Por conseguinte, quem é baptizado torna-se cristão e cristão para sempre.

 

Isso não impede, porém, que muitos (sobretudo os que são baptizados na infância) tomem outras opções ao longo da vida. A liberdade não fica afectada.

 

Há, porém, quem queira mais. Pelos vistos, há um movimento a promover o Desbaptismo. Trata-se de pessoas que, tendo optado pelo ateísmo ou sentindo-se pura e simplesmente afastados da Igreja, pretendem que a Igreja como que apague o seu nome nos livros de registos do Baptismo.

 

Se não são católicos, entendem que não faz sentido que os seus nomes constem como baptizados.

 

Parece que há casos em que tais pretensões foram atendidas, recebendo as pessoas uma notificação do género: «Abandonou a Igreja por um acto formal».

 

É claro que o problema, para a Igreja, levanta algum melindre. Se ela entende que o Baptismo é para sempre, não poderá anulá-lo.

 

O mais prático será, quanto a mim, desburocratizar a situação.

 

A Igreja não obriga ninguém a baptizar-se. Quem baptiza os filhos, sabe quais são as implicações.

 

As convicções devem ser respeitadas. Tanto as das pessoas como as das instituições.

 

Simplificar pode ser, pois, o mais sensato. Quem, em consciência, tomar opções diferentes, é livre de o fazer. Se entender comunicá-lo à paróquia onde foi baptizado, também não haverá problema. Se tiver vontade de ficar com uma resposta, esta deverá ser dada. Mas creio que não valerá a pena insistir muito nas formalidades.

 

O que deveríamos era reflectir nos sinais. Olhando para os testemunhos, uma coisa avulta: a vítima é Deus, mas o contencioso é com a Igreja.

 

Com serenidade, abertura e muita humildade, é urgente apostar num prolongado exame de consciência.

publicado por Theosfera às 13:09

Ainda não há razão para alarme, mas começa a haver razões para uma certa cautela.

 

Como se viu nos últimos dias, a Europa está mais atenta a Portugal do que Portugal à Europa.

 

Um dos motivos que leva a Europa a impor medidas tão dolorosas como contrapartida para o apoio é que os governos de muitos países estão a ser acossados pelos cidadãos e por algumas forças políticas.

 

O consenso em torno do ideal europeu está a esbater-se perigosamente. E, para nosso pesar, nos países mais prósperos, a extrema-direita cresce a olhos vistos.

 

Ora, a extrema-direita não pretende cooperar, acolher, integrar. O seu propósito é romper, afastar, excluir.

 

A França já teve um Le Pen na segunda volta das presidenciais. Agora, arrisca-se a ter uma Le Pen na presidência. Para já, as sondagens são muito favoráveis a Marine Le Pen.

 

Pode acontecer que o poder suavize alguns impulsos e leve alguns actores mais radicais a moderarem os seus projectos.

 

Mas não alimentemos grandes ilusões. A ascensão destas forças corporiza uma saturação e uma vontade de dar uma guinada no rumo que tem vindo a ser seguido.

 

Com este discurso a obter repercussão, a vida de um país como Portugal fica ainda mais difícil.

publicado por Theosfera às 12:08

Andamos todos sobressaltados com a realidade e ainda há quem persista nas (encantatórias) teias da ilusão.

 

Aliás, já não falta até quem substitua a esperança por ilusão.

 

Nunca percamos a esperança, mas não alimentemos ilusões.

 

Nas próximas eleições, não vamos eleger quem decide; vamos escolher quem executa.

 

Quem decide, como bem previu Frank Vibert, não são os eleitos (elected). São os não eleitos (unelected). E, de entre estes, os mais decisivos nem sequer estão em Portugal. Estão em Bruxelas. Estão sobretudo na Alemanha. E estão, como se tem visto, nos famosos mercados.

 

Qualquer propaganda será, pois, uma perda de tempo e um passeio de ilusões para algum espírito que ainda permaneça incauto.

 

É por isso que as eleições podiam ser já para a semana. O legislador devia ter em conta a aceleração das mudanças. Mais de 50 dias entre a dissolução e as eleições porquê?

 

O nosso voto conta cada vez menos. O dinheiro da Europa é que conta cada vez mais.

 

Este hiato temporal só vai servir para alimentar ilusões e para acrescentar ataques e insinuações.

 

O que vai ser dito pouca relevância terá. Qualquer compromisso facilmente cairá por terra diante dos ditames de quem verdadeiramente manda.

 

A crispação, que inevitavelmente crescerá, vai dificultar ainda mais o que importava assegurar: entendimento.

 

Já não estamos nos anos 80 nem nos anos 90, em que a alternância configurava uma autêntica diferença.

 

Agora, o termo de comparação não é a esquerda frente à direita nem a direita frente à esquerda.

 

 

Alguém descortina uma diferença substancial entre o que o actual Governo fez e o que o próximo Governo terá de fazer?

 

Em causa não está o PS, o PSD, o BE, o CDS ou a CDU. Em causa está o país diante da Europa. E, ante as imposições da Europa, todos no país são necessários.

 

«O que tens a fazer, fá-lo depressa», disse o Mestre a quem O ia entregar. Se as eleições são inevitáveis, que sejam rápidas.

 

As decisões estão tomadas. Mais sacrifícios estão à nossa espera. Os que não elegemos já se pronunciaram.

 

Os que vamos eleger não têm saída. Não vão dar voz aos nossos sonhos. Vão ter de dar cumprimento às ordens do maior soberano: os donos do dinheiro. 

 

Que, ao menos, não nos tirem a verdade.

 

Falem a verdade.

publicado por Theosfera às 11:41

Um tempo pré-eleitoral não ser visto como um intermezzo na actividade política.

 

O Governo, quando entrar em gestão, estará inibido de tomar medidas de fundo, mas não está impedido de apostar na resolução dos problemas do país.

 

Pelos vistos, este continua a ser o tempo da catarse. E, ainda por cima, andam lá por fora a distribuir as culpas pelo que se passa cá dentro.

 

Mas é também do exterior que vem o apelo a que se faça o que tem de ser feito.

 

O acordo, agora desconseguido, tem de ser reconseguido.

 

O espectro das eleições não nos pode desviar do essencial.

 

Entendam-se, pois. Ou, pelo menos, entendam-nos.

 

É o país que clama por um entendimento entre todos.

 

Este não é, decididamente, o tempo de cavar mais fracturas.

 

Já chega de fracturas. E já basta de facturas. 

publicado por Theosfera às 00:00

Sexta-feira, 25 de Março de 2011

Esta não é hora de marcar diferenças. Este é o momento de juntar esforços.

 

Será que só a classe política não entende o espírito deste tempo?

publicado por Theosfera às 11:57

O ateísmo não é apenas uma confrontação. Pode ser visto, acima de tudo, como um estímulo e um convite à purificação.

 

Não percamos de vista que, no princípio, muitos cristãos foram vistos como ateus. Recusavam-se a aceitar toda e qualquer imagem da divindade. Por isso, muitos foram perseguidos e mortos.

 

É meritória a iniciativa da Santa Sé ao promover encontros com não crentes. Escutar as razões do não ajuda-nos, como já reconhecia Karl Rahner, a melhor aprofundar as razões do nosso sim.

 

Mas é importante que tudo isto seja transportado para o quotidiano. Que a Igreja aposte na escuta humilde. E que pense se não são muitas das atitudes que ocorrem no seu seio que espicaçam o ateísmo de outros.

 

Estudando um pouco a tipologia da descrença, facilmente concluímos que o problema não é tanto Deus. São as religões.

 

Chamam-se estes encontros «Pátio dos Gentios». A raiz é bíblica. Mas talvez a opção não seja a mais feliz.

 

Em relação a Deus, ninguém é gentio. Todos são próximos. Incluindo os que consideram estar longe. E que, por vezes, até podem estar mais perto do que aqueles que se julgam próximos.

 

Eis um juízo que tem de ficar mesmo para Deus. Só Ele sabe quem capta melhor o Seu mistério. E reproduz mais claramente a Sua bondade.

publicado por Theosfera às 11:54

Barack Obama foi visitar o seu túmulo e exaltou o seu exemplo.

 

A ONU criou mesmo um dia internacional, a 24 de Março, para acentuar a importância dos direitos humanos.

 

A humanidade, a partir dos seus mais altos dirigentes, curva-se, pois, perante a figura de D. Óscar Romero.

 

A que se deverá o prolongado silêncio da Igreja?

 

Há quem avente explicações de teor ideológico, alegando que se o bispo tivesse sido morto por alguém da esquerda, já teria sido beatificado.

 

Não quero ir por aí. E, aliás, o mais importante é sentir que D. Óscar está no Céu e permanece no Povo. Pois ele próprio foi céu para os mais desprotegidos do seu povo.

 

A santidade decorre não da relação com uma instituição, mas da identificação com Jesus Cristo.

 

E isso foi conseguido por D. Óscar. Na vida. E na morte.

 

S. Óscar, desperta-nos do longo torpor em que nos deixámos atolar.

 

Dá-nos um pouco da tua compaixão pelos pobres.

 

E torna-nos solidários com os mais pequenos.

publicado por Theosfera às 11:46

Muito estranho (e sobretudo deveras perigoso) o que está a acontecer em Portugal.

 

Entre o mau e o péssimo, a opção parece assustadoramente clara. Há quem, em nosso nome, nos esteja a guiar para as imediações faiscantes do abismo.

 

O panorama já não era bom. A cada dia que passa, parece piorar. Basta verificar a descida de Portugal nas agências de notação financeira.

 

A teimosia de uns e a pressa de outros prestaram um serviço inqualificável à comunidade. Ainda por cima, era tudo tão previsível e, por isso, tão evitável.

 

Descodificando um pouco a questão do PEC, não se percebe que a sua discussão nos tenha trazido para aqui.

 

A Europa (ou quem, nela, dispõe do dinheiro) impôs determinadas condições. Seria necessário cumprir as metas do défice. Isto só se consegue diminuindo a despesa e aumentando a receita. Uma vez que a economia teima em não crescer, a alternativa é aumentar os impostos ou, então, congelar e diminuir os salários e as prestações sociais.

 

Basicamente, era esta a proposta do Governo.

 

Não dispondo, porém, de maioria e achando que cumprir as metas do défice é fundamental, porque é que não se mostrou aberto a alternativas?

 

Do chumbo do PEC não decorre, necessariamente, a demissão do Governo. Esta é uma opção política. Respeitável, mas bastante temerária.

 

E a oposição, não aquiescendo às medidas do PEC, porque é que não propôs outras? Porque é que recusou toda e qualquer negociação?

 

O que é mais aflitivo é que o líder do maior partido da oposição já veio avisar que, em caso de formar Governo, não exclui a possibilidade de aumentar impostos.

 

Isto significa que, na substância, a situação não se alterará muito.

 

Lá fora, como se tem visto, é muito difícil perceber a nossa situação, a ligeireza com que somos dirigidos e uma certa irresponsabilidade que subjaz a determinadas atitudes.

 

Que adianta dizer que somos soberanos se precisamos dos outros para sobreviver?

 

Aliás, há um aspecto que deveria ser equacionado. Os trabalhadores portugueses são apreciados em todo o mundo. A sua capacidade é exaltada. E a sua produtividade é reconhecida. Isso não explicará que o problema reside, em grande parte, na forma como somos governados em Portugal?

 

Espanta também que os olhos já estejam focados no futuro, isto é, nas eleições. Olhar para o futuro é importante. Mas o melhor tributo que se pode oferecer ao futuro é a nossa responsabilidade no presente.

 

O caminho que estamos a trilhar é ínvio, quase intransitável.

 

Fala-se do país, mas só pensa no poder.

publicado por Theosfera às 10:57

Quinta-feira, 24 de Março de 2011

O que me levou, desde criança, a simpatizar com o Sporting não foi o que se passava dentro do campo. Era o que transparecia fora dele.

 

De facto, não eram os golos nem os títulos que me convenceram. Desde há muito que são poucas as conquistas. O que mais me impressionava era o porte dos seus dirigentes, era a compostura dos seus atletas.

 

Havia uma certa aristocracia no trato, na cortesia, na afabilidade.

 

Tirando os anos 40 e 50 (em que dominou o futebol), o Sporting era o que fazia contraponto ao Benfica, o crónico vencedor de troféus.

 

O Sporting, durante muitos anos, foi aquele que impediu o Benfica de chegar ao tetra. Várias vezes, o clube da Luz conquistou três campeonatos seguidos. Quando se aprestava para chegar ao quarto, lá aparecia o Sporting.

 

Nas outras épocas, perfilava-se como o maior opositor do Benfica. Aliás, dois símbolos atestavam esta bipolaridade. Eusébio era quem melhor fazia os golos. Vítor Damas era quem mais tentava evitá-los.

 

Ganhar é um conceito muito amplo, polissémico, englobante. E a compostura do Sporting, mesmo quando a vitória não sorria, era uma marca de distinção.

 

Triunfar era algo que não se circunscrevia ao campo. Havia ali um savoir-faire que avultava e convencia.

 

Pois parece que até este reduto de diferença se está a evaporar rapidamente.

 

Vai haver eleições no sábado para a presidência do Sporting.

 

Há cinco candidatos. É natural que apresentem argumentos.

 

Mas o clima de crispação está a tornar o clube irreconhecível e pouco conciliável com a sua história.

 

Uma rápida passagem pela blogosfera permite ver o desnível da linguagem que se usa, os ataques e as insinuações.

 

O Sporting está a tornar-se demasiado igual aos outros. Sem que nada garanta que, com isso, venha a ganhar tanto como outros.

 

O que parecia estar no seu código genético tende a desaparecer.

 

Quando se foge à natureza, as coisas não correm bem.

 

O Sporting pode ser um clube vencedor mantendo a sua identidade, a sua imagem de marca.

 

A pressa de chegar ao topo pode conduzir a uma queda grande.

 

E não há nada que pague a compostura da serenidade.

publicado por Theosfera às 21:43

A auscultação do povo, neste primeiro dia após o último, não mostra qualquer entusiasmo diante da perspectiva de mais eleições.

 

Se não há margem para políticas diferentes (a avaliar pelo que dizem os especialistas em Portugal e os donos do dinheiro na Europa), para quê enveredar por esta aventura sem resultado seguro?

 

Até já Passos Coelho assume não poder garantir que não aumentará os impostos.

 

Ou seja, entre congelar e diminuir pensões e agravar a carga fiscal, convenhamos que o cenário não é promissor.

 

A apreciação que, no Estrangeiro, fazem à situação portuguesa não nos deixa muito bem vistos.

 

O Presidente da República ainda não disse nada.

 

Responsável máximo pelo regular funcionamento das instituições democráticas, é de esperar que inste os partidos a formarem uma ampla convergência, que evite mais incerteza e nos retire do caos.

 

Recorde-se que Cavaco Silva alegou que não seria bom haver segunda volta das eleições presidenciais por causa da despesa. Não terá validade acrescida tal argumento agora?

publicado por Theosfera às 21:24

Desde o princípio, o eco da mensagem de Jesus chegou longe. As formas usadas foram as mais diversas, algumas ungidas com o selo da originalidade.

 

No século VI, mais ou menos quando Maomé iniciava o Islão, um pequeno grupo de monges cristãos percorreu a rota da seda desde a Pérsia até à China.

 

Acolhidos pelo imperador, traduziram para mandarim os textos sagrados que tinham transportado ao longo de cinco mil quilómetros.

 

Ao traduzir, procuraram integrar e foi assim que involucraram os ensinamentos de Jesus em princípios do pensamento oriental, de pendor budista.

 

Tendo mudado o ambiente, que passou a perseguir cristãos e budistas, muitos desses manuscritos (a que deram o nome de sutras, do sânscrito fio) foram escondidos numa gruta.

 

Foi aí que, em 1900, um monge taoísta os redescobriu. Ray Riegert e Thomas Moore compilaram parte desses ensinamentos num volume a que deram o (apelativo) título de Os Sutras perdidos de Jesus.

 

Aqui palpita uma harmonia que, muitas vezes, se perdeu confirmando a percepção, vertida no livro, de que «quem conhece apenas uma religião não conhece nenhuma religião».

 

De certa forma, o budismo capta algumas das mensagens principais de Jesus: a compaixão, a misericórdia, a bondade e o amor.

 

Diz Jesus nesta tradução sútrica: «Com respeito por todas as outras criaturas vivas, ajam sempre com bondade e nunca tenham pensamentos cruéis».

 

Um dos preceitos do Sermão da Montanha recebe uma curiosa reformulação: «Procurem o que é puro. A pureza é como um espaço vazio, produz a luz do amor cujo brilho ilumina tudo».

 

Jesus é mesmo o universal concreto. Ele está em tudo. Tudo acaba por estar n'Ele.

 

Se Ele foi tão largo de vistas, porque é que nós, muitas vezes em Seu nome, parecemos tão estreitos nos horizontes?

 

 

publicado por Theosfera às 14:34

A evocação de D. Óscar Romero, enquanto apóstolo da liberdade e paladino da libertação dos oprimidos, reconduz-nos, de novo, ao interessante livro de Ratzinger/Bento XVI sobre Jesus.

 

E se o Papa se mostra (admiravelmente) prolixo no que toca à verdade, é praticamente omisso em relação à liberdade.

 

Ao tratar da morte de Cristo, segue, como seria de esperar, a doutrina tradicional da reconciliação e da expiação.

 

E não há dúvida de que encontramos, nestes dois tópicos, uma preciosa síntese do acontecimento da Cruz.

 

Só que era importante, como fez a Teologia no século XX, extrair todas as ilações do que Cristo nos ofereceu na Sua vida e na Sua morte.

 

Aliás, logo nos primeiros tempos, a paixão pela liberdade estava deveras entranhada no pensamento teológico.

 

S. Paulo verteu: «Foi para a verdadeira liberdade que Cristo nos libertou» (Gál 5, 1).

 

Em conformidade com tal princípio, o mesmo S. Paulo recomenda a Filémon que trate o escravo Onésimo como um irmão.

 

Se retirássemos o vocabulário ligado à liberdade (eleuthería, eleutherós), ficaríamos, como advertiu alguém, com menos de metade da Bíblia.

 

A redenção é englobante e, sem dúvida, inclui a liberdade e a libertação.

 

A redenção é mais que a libertação das opressões políticas, sociais e económicas. Mas esta libertação também está inserida na redenção. Daí que seja importante referi-la.

 

João Paulo II disse que uma correcta Teologia da Libertação é não só oportuna como necessária.

 

Jesus é, acima de tudo, acontecimento de liberdade e força de libertação.

 

Os oprimidos deste mundo e os explorados desta vida sabem que têm n'Ele um aliado.

publicado por Theosfera às 14:15

«Onde há dor, o chão é sagrado».

Assim escreveu (sentida e magnificamente) Óscar Wilde.

publicado por Theosfera às 14:04

Não sei se estou equivocado, mas quer-me parecer que existe algum incómodo diante da figura de D. Óscar Romero.

 

Faz, hoje, 31 anos que ele foi assassinado quando celebrava Missa e na sequência de intervenções desassombradas na defesa dos mais pobres de El Salvador.

 

Há formalidades que deverão ser cumpridas, mas avultam também sinais eloquentes que se impõem. D. Óscar não precisa de ser canonizado para ser venerado como santo.

 

E uma vez que o milagre tem que ver com o inesperado, haverá algo mais miraculoso que a coragem que ele mostrou diante do perigo?

 

Refira-se que D. Óscar Romero agiu em sentido contrário ao que era esperado. Ele foi colocado à frente da diocese de San Salvador com o objectivo de refrear as intervenções mais inflamadas de alguns padres.

 

Foi, entretanto, o assassinato do Padre Rutílio Grande que operou uma enorme viragem na alma e na acção do bispo. Ele mesmo tornou-se uma voz profética e muito inconformada diante do poder.

 

Para ele, mais importante que a ordem era a justiça. E acima da prudência encontrava-se a frontalidade.

 

Sabia dos riscos que corria. As ameaças não paravam. Só que, humilde, achava-se indigno da graça do martírio.

 

Além da hostilidade dos poderosos, sofreu com uma certa frieza de alguns colegas e superiores.

 

Desafiar a ordem (ainda que seja uma ordem injusta) nem sempre cai bem.

 

D. Óscar, de facto, não cumpriu o preceito da imparcialidade. Ele tomou partido. Não por partidos, obviamente. Mas pelos pobres, pelos sem voz, pelos sem terra, pelos sem esperança e pelos sem amor.

  

Óscar Romero é um dos maiores expoentes de uma Igreja samaritana, que faz sua a causa dos que são assaltados nas estradas da vida. Realçar o seu exemplo é uma forma de mobilizar quem o procure reproduzir.

 

Na década de 1980, foram muitos os sacerdotes que, na linha de D. Óscar, pagaram com o sangue a coragem de uma missão que nunca cedeu à demissão.

 

Um deles foi o Padre Ignacio Ellacuria, reitor da Universidade de El Salvador, morto, com mais alguns padres, em Novembro de 1989.

 

Note-se que o Padre Ellacuría deixou o conforto de uma carreira universitária na Espanha, donde era natural, para se entregar ao povo crucificado (como ele dizia) de El Salvador.

 

Já agora, este sacerdote foi o primeiro a fazer uma tese de doutoramento sobre Xavier Zubiri. De certa maneira, operacionalizou existencialmente o conceito de realidade do mestre.

 

Segundo a esposa do filósofo, Zubiri tentava moderar os impulsos de generosidade de Ellacuría, bastante envolvido com o povo que adoptara como seu.

 

Zubiri nunca ocultou a profunda admiração que nutria por este seu discípulo, visita assídua de sua casa.

 

Óscar Romero e Ignacio Ellacuría são ícones de uma Igreja que não receia arriscar e que não recua, ainda que pela frente esteja o perigo supremo: o da própria vida.

 

Em tempos de resignação, é importante olhar para o exemplo dos que nunca se conformam.

 

Não será este o perene milagre?

 

 

publicado por Theosfera às 00:00

Quarta-feira, 23 de Março de 2011

O poder da vontade parece totalmente subjugado pela vontade de poder.

 

É pena que esta determinação em manter (ou em conquistar) o poder desapareça na hora de resolver os reais problemas das pessoas.

 

Não podemos chegar longe quando enxergamos muito perto.

 

Quando o poder é o objectivo supremo, o desenvolvimento dos povos deixa de ser a prioridade.

 

É preciso reflectir bastante. E inflectir depressa.

publicado por Theosfera às 22:47

Sucedem-se as declarações e os comentários. Já se olha para o dia seguinte. O caudal das energias já está a ser drenado para as eleições.

 

A atenção dirige-se, pois, para o médio prazo. Mas, pelos vistos, há tantos desafios para o curto prazo. 

 

O tom é crispado e muito ensimesmado. O futuro parece bastante embrulhado em calculismos sem fim.

 

Duas perguntas, entretanto.

 

Se José Sócrates entende que não tem condições para governar, como é que as terá no caso de voltar a triunfar sem maioria?

 

E se Pedro Passos Coelho considera ser necessário combater o défice e reduzir a dívida, poderá assegurar que não tomará medidas semelhantes às que hoje rejeitou?

 

Pressinto que o povo tenha dificuldade em compreender a razão desta crise agora. Que houve de tão diferente? A austeridade não vem de há muito?

 

Já agora, se o discurso do Presidente da República, na sua tomada de posse, não tivesse sido tão assertivo, o quadro político seria o mesmo?

 

Será que chegaram à conclusão de que os limites para os sacrifícios tinham sido ultrapassados?

 

Todos sentimos que não há condições para aguentar mais sacrifícios. Mas quem garante que eles tenham terminado?

 

Mais do que acabar com um governo, as pessoas gostariam que tivessem terminado os sacrifícios.

 

Toda a gente fala na necessidade de crescimento, mas ninguém apresenta alternativas concretas à austeridade.

 

Aliás, as directivas parecem ser, cada vez mais, ditadas pela Europa. Se queremos ajuda, temos de cumprir requesitos.

 

O espaço de manobra está completamente bloqueado. Aqui, temos pessoas. Mas lá fora olham sobretudo para números.

 

Era bom que se fizesse pedagogia em torno da necessidade de um grande consenso nacional.

 

E, já agora, também era bom que emergisse um conjunto de personalidades diferentes.

 

A sociedade civil (desde o mundo empresarial ao universo cultural) tem de intervir mais na acção política.

 

A política não pode continuar a ser só para os políticos.

 

Não pensem apenas na propaganda. Apostem no esclarecimento. Digam-nos a verdade. E não continuem a sacrificar os mais pobres.

 

Este país que, hoje, se vai deitar exausto, merece acordar, amanhã, com um pouco de esperança.

 

Quem no-la dará?

publicado por Theosfera às 22:07

Temos tudo para nos gastarmos em grandes causas.

 

Porque é que nos desgastamos tanto em pequenas disputas?

publicado por Theosfera às 21:00

Há muito que estámos em crise. Hoje, acrescentámos mais instabilidade. A partir de amanhã, mergulharemos na incerteza.

 

Irão as eleições clarificar tudo?

 

Nenhum entusiasmo se desenha.

 

A intuição do povo é que a situação não está bem. Mas dificilmente melhorará.

 

Elegemos, há um ano e meio, um Parlamento por quatro anos.

 

A menos de metade do caminho, aqueles em quem confiámos assumem que não conseguem gerar uma solução.

 

Quem nos garante que irão gerá-la dentro de meses?

 

Não basta uma alternância. Precisamos de uma autêntica alternativa.

 

 

publicado por Theosfera às 20:56

Uma coisa é certa.

 

O Estado não resolve problemas. Acrescenta problemas.

 

Nas horas de aperto, lembra-se do povo.

 

Pede-lhe o voto. E tira-lhe dinheiro.

 

E quando se chega ao ponto de congelar as pensões de sobrevivência, então é sinal de que está tudo invertido.

 

O Estado está subordinado ao povo? Ou é o povo que está subordinado ao Estado?

 

Sucede que, mudando de protagonistas na condução do Governo, os mais pobres são sempre as maiores vítimas.

publicado por Theosfera às 20:46

O tema era para ser o país. Mas, subliminarmente, dava para ver que a preocupação foi o poder.

 

Para quem preza a moderação como perfil de actuação cívica, o que acabámos de presenciar não é animador.

 

A crispação é forte e a clarificação está longe de estar assegurada.

 

Um dado sintomático.

 

Assistimos a um entendimento alargado (PSD+CDS+CDU+BE) para reprovar uma medida. Não será possível um entendimento alargado para aprovar uma alternativa?

 

O Governo não deveria comprometer-se lá fora sem ter dialogado, previamente, cá dentro. Mas a oposição, que deixou passar medidas similares, estará em condições de garantir que jamais aprovará algo semelhante?

 

Já agora (é um leigo a falar), será que este PEC, bastante duro, era mesmo o único possível? Não seria possível suspender obras como o TGV ou o novo aeroporto? E para que manter empresas públicas de televisão e de rádio, que tanta despesa dão?

 

Se o Governo tinha como objectivo aprovar o PEC, porque é que não tentou, uma vez que não dispõe de maioria, ir ao encontro de outras posições?

 

Já nos estão a advertir de que, no futuro, as medidas a tomar até poderão ser mais dolorosas.

 

O Primeiro-Ministro vai falar com o Presidente. Tudo indica que irá pedir a demissão. Não seria melhor apostar noutras medidas?

 

E se pedir a demissão, o Presidente vai aceitá-la?

 

E se aceitar, vai mesmo marcar novas eleições?

 

Se alguém ganhou alguma coisa hoje, não foi o país.

 

Nem de propósito. O Evangelho deste dia mostra-nos Jesus a dizer que veio não para ser servido, mas para servir.

 

Só que, hoje como ontem, há quem transforme o serviço em poder.

 

publicado por Theosfera às 20:26

Eis o prenúncio cinzento de uma tarde que pode trazer tempestade.

 

A sofreguidão nem sempre combina bem com a lucidez.

 

Há páginas e páginas que, por circunlocuções várias, trazem a seguinte equação: chumbo do PEC será igual a demissão do Governo, a qual, por sua vez, será igual a eleições antecipadas.

 

Isto é o que está na cabeça de quase toda a gente, à força de mil repetições. Mas terá de ser mesmo assim?

 

Se o PEC for chumbado, não poderá o Governo continuar em funções e fazer novas propostas?

 

E se o Governo se demitir, é obrigatório partir para eleições?

 

Recorde-se que as eleições não se destinam a escolher um Primeiro-Ministro, mas um Parlamento.

 

Ora, o Parlamento é eleito por quatro anos.

 

Se um Governo se demite, é de esperar que o Parlamento em funções proponha um novo nome para Primeiro-Ministro.

 

A Constituição estabelece que cabe ao Presidente da República nomear um Primeiro-Ministro tendo em conta os resultados eleitorais.

 

É natural que ao partido mais votado seja pedido um nome. Este pode insistir no mesmo ou propor um diferente.

 

É claro que se aquele que está em funções se demite, não é de esperar que insistam nele. Mas não poderá abrir caminho a outro?

 

Ontem, terá havido a ventilação de um novo nome.

 

O importante é que tudo se equacione em função do interesse comum e não em razão de objectivos pessoais ou partidários.

 

Que se pondere o melhor para todos. E, já que estamos em crise, que o melhor também não seja muito dispendioso.

 

É que um novo processo eleitoral ficará, segundo dizem, em 18 milhões de euros!

 

Estaremos nós em condições de embarcar em tantas aventuras?

publicado por Theosfera às 11:43

Pensar não é, ou não deveria ser jamais, um exercício diletante.

 

O protótipo do pensador não é o homem sedentário.

 

Mesmo que fisicamente sentado, o homem que pensa é o homem que se move. É o homem que se deixa mover pela realidade.

 

É por isso que, com enorme sapiência, Xavier Zubiri dizia que pensar não é conceber; é comover-se.

 

Pensar é, pois, uma actividade não só da mente, mas também (e bastante) do coração.

 

O coração sinaliza o movimento da pessoa diante do que ocorre.

 

Precisamos, cada vez mais, de instalar em nós este paradigma de um pensamento desinstalado.

 

Um pensamento que deixe mover é um pensamento sensível, envolvente, militante.

 

Na hora que passa, esta é uma prioridade, uma urgência.

 

Só um pensamento compassivo é verdadeiramente inteligente. Só ele penetra no interior da realidade.

 

Só um pensamento movido pelo coração vence o egoísmo e promove a solidariedade.

 

Pensar tem de ser comover-se. Sempre.

publicado por Theosfera às 00:01

É hoje que o Governo pode cair.

 

E o problema é que nem com tal queda o País dá sinais de se levantar.

publicado por Theosfera às 00:00

Terça-feira, 22 de Março de 2011

Nenhuma religião diz tudo sobre Deus.

 

Mas todas elas, como notou Zubiri, dizem muito sobre o Homem a partir da divindade.

 

E o discurso está longe de ser convincente. Está longe de ser coerente. E está muito longe de ser pacificante.

publicado por Theosfera às 22:19

Não tenho nostalgia do passado. Sinto é muitas saudades do futuro.

 

Aflige-me o modo leviano como, em tardes pardacentas, se comprometem os amanhãs da esperança.

 

O futuro não vai morrer. Mas está bastante ferido. E não vai ser aquilo que sonhámos para ele.

 

O futuro está a ser degolado ainda antes de nascer.

 

O futuro mais próximo não vai ser fácil. Mas pode ser belo. Se ele for não a sequência, mas a transformação do presente.

publicado por Theosfera às 22:01

O país parece resignado. Tudo parece falhar. Já nem o bom senso resiste.

 

As palavras sobem de tom. O cenário está montado. E o desfecho já é assegurado por antecipação.

 

Amanhã, teremos mais crise em cima da crise.

 

Dizem que é hora de voltar a dar a palavra ao povo. Como se a preocupação fosse a vontade do povo.

 

Querem ouvir o povo para, depois, tomarem medidas contra o povo?

 

Para alguns, o país parece um trampolim. Para muitos, assemelha-se a um brinquedo.

 

Há quem pretenda subir à custa dele. Há quem pareça brincar com ele.

 

Ninguém, dizem, pode fazer nada para evitar a crise.

 

Evitaremos mais um PEC, por agora.

 

Seremos devolvidos à incerteza. Por quanto tempo?

publicado por Theosfera às 20:55

Sabemos que todo o ser humano é único e que toda a trajectória deixa um rasto.

 

E o rasto é o que persiste mesmo quando já não se existe.

 

Com a morte de Artur Agostinho, não é só uma vida que se esvai.

 

É também um modo de ser e de estar que se vai tornando cada vez mais raro.

 

Já não são muitos os especímenes desta estirpe humana.

 

Na comunicação social, nas instituições e em todos os segmentos da vida, rareiam pessoas com esta compostura, com este autodomínio, com este aprumo.

 

Artur Agostinho era, em síntese, um senhor.

 

Restarão muitos?

publicado por Theosfera às 12:39

O oceano até tem o nome de pacífico. Mas as suas ondas revelaram-se violentas, devastadoras, mortais.

 

Até a natureza tem dificuldades em conviver com mínimos de coerência.

 

Um nome diz tudo. Até o seu contrário.

publicado por Theosfera às 10:56

A esta hora, na cabeça de muitas pessoas haverá uma pergunta a pairar.

 

Estará a oposição em condições de garantir que fará diferente do Governo?

 

As medidas que, agora, reprovam não serão, depois, aprovadas?

publicado por Theosfera às 10:53

Ontem, quando nos deitámos, a crise era uma forte possibilidade.

 

Hoje, quando nos levantámos, a mesma crise parecia ser já uma iminência.

 

Como salientava José Gil, numa interpelante entrevista, o interesse nacional está a ser devorado pelos interesses partidários, de grupos e de pessoas.

 

Dizem que não há grande margem para políticas diferentes. Será que as eleições abrirão caminho a alguma solução consistente?

 

O que mais avulta é a incapacidade e a imaturidade da classe política para lidar com a presente situação: crise económica, crise social, crise de valores e, agora, crise política.

 

Desejar-se-ia uma réstia de lucidez e um vislumbre de humildade.

 

Mais do que novas eleições, é necessário um amplo entendimento que envolva a classe política, o mundo empresarial, os trabalhadores e as universidades.

 

Grande serviço prestariam os actuais líderes partidários se pedissem a um conjunto de personalidades que, nesta hora crítica, assegurassem a condução do país. Por sua vez, eles assegurar-lhes-iam apoio.

 

Mantenho, pois, o que aqui escrevi.

 

O cenário actual não é entusiasmante. Cabe-nos impedir que se torne completamente insolvente.

 

 

publicado por Theosfera às 09:49

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