O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Quarta-feira, 29 de Setembro de 2010

Afinal, a crise persiste e a austeridade insiste.

 

E, desta vez, os salários já não se limitam a ficar congelados. Desta vez, descem mesmo.

 

Como se isso não bastasse, o IVA sobe de novo.

 

Ou seja, com menos salários e maior despesa, como será a vida do cidadão?

 

Se bem não estava, pior vai ficar.

 

Mas não deixemos adormecer a esperança. Uma aurora de luz há-de sobrevir ao breu da escuridão.

 

A crise é dura. Mas não é eterna.

publicado por Theosfera às 23:39

Tanta coisa para pensar. Tanta coisa para mudar. Tanta coisa para fazer. Por onde começar?

 

Quando a tarefa é enorme, o desalento surge e a tentação aparece.

 

Quando há muitos objectivos à frente, pouco se vê e nada se faz.

 

 Procuremos discernir, então, e peguemos, para já, num mínimo a alcançar: decência.

 

Com decência, tudo. Sem decência, nada.

 

 Decência no coração. Decência nos lábios. Decência na vida.

publicado por Theosfera às 10:41

Terça-feira, 28 de Setembro de 2010

«Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos».

Assim escreveu (notável e magnificamente) Fernando Pessoa.

publicado por Theosfera às 11:43

Acabei de ler um texto, num jornal, onde o autor era identificado como deputado eleito pelo Partido Socialista.

 

Em nome da verdade e da transparência, é uma informação que se justifica. E que, por isso, se saúda.

 

Daí que não perceba a celeuma que, nos últimos dias, corre por aí por causa de um deputado ter uma placa de identificação à porta de um escritório para receber as pessoas.

 

Trata-se de uma forma de ser identificado pelas próprias pessoas que queiram encontrar-se com ele. Não é dever dos eleitos aproximarem-se dos eleitores?

 

É hora de nos voltarmos para os problemas reais.

 

O gesto do Dr. Paulo Barradas é só para enaltecer.

 

Declaro que fui seu colega e continuo seu amigo, embora nos vejamos poucas vezes.

 

Mas a amizade não é uma condicionante para que se faça justiça.

 

 

publicado por Theosfera às 11:35

O país tem mesmo de se preparar. A OCDE veio reforçar a percepção que ia impondo.

 

Os impostos vão aumentar. O custo de vida também. Os salários poderão ser congelados. Os benefícios, esses, continuarão a diminuir.

 

Alguém disse que, do lado da despesa pública, já não haverá muito para cortar. E do lado do cidadão contribuinte haverá mais alguma coisa para tirar?

publicado por Theosfera às 11:31

O problema da comunicação na Igreja pode, muitas vezes, resumir-se a isto: a uma espécie de conflito entre o entendimento e a vontade.

 

Sabe-se o que é preciso dizer, mas parece não se querer dizer. E é isto que faz com que a nossa intervenção seja muito eufemista e híbrida, bastante pontuada por talvezes, poréns, avanços e recuos, enquadramentos.

 

 Há um estranho receio das reacções que podem surgir, como se fosse possível elas não aparecerem ou como se fosse um drama elas dispararem.

 

 Isto faz com que a clareza mingue. É preciso, pois, partir da convicção. É fundamental ser claro, objectivo, directo, convicto.

publicado por Theosfera às 11:29

«Já se disse tudo, mas como ninguém ouve, é sempre necessário recomeçar».

Assim escreveu (avisada e magnificamente) André Gide.

publicado por Theosfera às 11:26

Segunda-feira, 27 de Setembro de 2010

1. O desencontro de Lamego com os tempos modernos vem de meados do século XIX.

 

De facto, é preciso ter presente que, nessa altura, Lamego ainda era uma cidade que se impunha. A sua população era maior, por exemplo, que a da cidade de Viseu!

 

Entretanto, vieram os distritos e Lamego, que constava no projecto inicial, ficou de lado.

 

Chegaram os comboios e Lamego, apesar de algumas tentativas, ficou de fora.

 

Não admira que a implantação da República deparasse com pouca mobilização. Em compensação, houve bastante moderação.

 

Esta deveu-se a vários factores, mas sobretudo a uma figura: Alfredo de Sousa.

 

 

2. Republicano por convicção, era um conciliador por natureza.

 

Em plena efervescência revolucionária, foi posta à discussão na Câmara a escolha de um feriado municipal.

 

A maioria optou por 1 de Maio, dia do trabalhador. Alfredo de Sousa, sem contender com a importância desta efeméride, chamou a atenção para a necessidade de um feriado que tivesse em conta festas tradicionais de Lamego.

 

Foi então que o 8 de Setembro, dia de Nossa Senhora dos Remédios, se tornou feriado municipal.

 

Gonçalves da Costa, outro lamecense ilustre, reconhece que foi, particularmente, a Alfredo de Sousa que ficou a dever-se o facto de «a proclamação da República em Lamego se ter processado sem qualquer género de perseguições ou perturbações públicas».

 

Em resposta a um inquérito do governo civil, Alfredo de Sousa assegurou não haver em Lamego conflitos de maior.

 

Apesar do clima de hostilidade em relação à Igreja, ele mesmo assinalou a percepção de que «o povo sente e manifesta a necessidade do culto religioso».

 

Indo mais longe, afiançou que «a República só lucrará facilitando o culto, pois tornar-se-á mais amada pelas classes populares».

 

 

3. A moderação de Alfredo de Sousa não o impedia de ser empreendedor.

 

Cônscio da importância, na altura, do distrito, apresentou no Parlamento uma proposta para a criação do distrito administrativo de Lamego.

 

Dele fariam parte, além de Lamego, Resende, Cinfães, Castro Daire., Tarouca, Armamar, Pesqueira, Penedono, Sernancelhe, Moimenta e Foz Côa.

 

Apesar da oposição de Viseu, o projecto encontrou boa aceitação em Lisboa.

 

Só que uma série de factores de ordem política e social fizeram com que o sonho não se concretizasse.

 

O caminho-de-ferro foi igualmente uma aspiração que Alfredo de Sousa quis trazer para a cidade. Alguns trabalhos chegaram inclusive a ser realizados.

 

Dificuldades de vária ordem, entretanto, fizeram abortar o que já tinha sido iniciado.

 

 

4. Há um episódio na trajectória deste Homem que certifica bem o seu amor pela terra que o viu nascer.

 

Nomeado Ministro do Trabalho, ordenou que fosse retirada do seu ministério a quantia de 170 contos(!) para benefício do concelho de Lamego.

 

Sucede que os colegas não concordaram com a decisão, interpretaram-na mal e opuseram-se-lhe com vigor. Alfredo de Sousa teve de apresentar a demissão.

 

A Câmara de Lamego promoveu-lhe uma sentida homenagem e grande manifestação.

 

Como sublinha Miguel Nunes Ramalho, «a melhor homenagem que a cidade esquecida lhe poderá prestar reside no combate activo pelo progresso, pelo desenvolvimento cultural, económico e social de todo o concelho, pela luta contra a ignorância e o obscurantismo, na senda da verdadeira dignidade humana: o sonho que Alfredo de Sousa levou consigo».

 

publicado por Theosfera às 11:56

Domingo, 26 de Setembro de 2010

Fala-se muito de poderes ocultos. Há quem lamente a existência do segredo.

 

Pela minha parte, penso que muitos dos problemas que envenenam a convivência não residem na existência do segredo, mas na violação do segredo.

 

 Quando as fronteiras caem até na vida humana, quando um segredo é colocado na praça pública, deixamos de ter condições para sobreviver.

 

 E, atenção, o segredo não é violado apenas com a sua revelação. É violado também pelo rumor, pelo boato, pela intriga.

 

 Também aqui, há que mudar. Agora. Ontem, já era tarde.

publicado por Theosfera às 22:31

Ainda que o cansaço espreite (uma nova semana de trabalho está à distância de uma curta noite de sono), Deus está a sorrir para si.

 

Um feliz descanso, hoje. Um fecundo trabalho, a partir de amanhã.

publicado por Theosfera às 22:27

Sábado, 25 de Setembro de 2010

Jesus foi tão necessário quando increpou os fariseus e apostrofou a hipocrisia como quando exaltou os humildes e exortou ao amor.

 

Tudo releva do mesmo princípio, tudo brota da mesma fonte: a verdade.

 

 E é bem verdade que, frequentemente, as palavras mais fortes são as mais necessárias.

 

 Não é, muitas vezes, o medicamento mais intragável (mais azedo) o mais eficaz?

 

 Mistério. Convite. Desafio. Proposta. Prioridade. E urgência.

publicado por Theosfera às 11:35

Não diria, como Pacheco Pereira, que estamos a passar por dias de lixo. Mas que estamos a viver dias de preocupação, lá isso é verdade. Dolorosa verdade, aliás.

 

O governo e a oposição bem poderiam evitar esta espécie de jogos florais.

 

Eles já sabem que tem de haver orçamento. Já temos uma crise económica e uma crise social. Para quê acenar com uma crise política?

 

Há demasiado ruído e pouca comunicação.

 

Os dirigentes desmultiplicam-se em declarações, desmentidos, entrevistas.

 

A mesma imagem já cansa. O mesmo discurso já satura.

 

Um pouco de comedimento é fundamental na hora que passa.

publicado por Theosfera às 11:30

Vai ser escolhido, neste sábado, o novo líder do partido trabalhista inglês.

 

Trata-se, ao que dizem, de uma eleição muito disputada. Mas o vencedor já é conhecido. Pelo menos, parte do seu nome pode ser revelado: Miliband.

 

É que os dois favoritos à vitória são irmãos: David e Ed Miliband.

 

O primeiro estará mais identificado com a terceira via de Tony Blair e Gordon Brown e o segundo propugnará um retorno às raízes mais tradicionais do labour.

 

Inicialmente, a vitória de David era dada como certa, mas o aparecimento de seu irmão fez alterar as contas.

 

Não deixa de encerrar alguma curiosidade esta disputa fraterna.

 

A competição já chega ao ambiente familiar?

 

É claro que o lugar só pode ser para um. O debate terá decorrido com elevação.

 

Mas não sobrarão sequelas para o futuro entre os dois?

 

A Mãe de ambos já optou. Não vai votar em nenhum dos seus filhos.

publicado por Theosfera às 11:24

Sexta-feira, 24 de Setembro de 2010

Acabo de saber que o sr. Manuel Bidarra faleceu.

 

Foi uma pessoa que sempre prezei e cujo testemunho cristão e cívico me tocou deveras.

 

Levava o seu compromisso à vida prática, concreta.

 

Esteve na linha da frente na defesa da liberdade nos tempos em que esta não existia no nosso nosso país.

 

Manteve-se na editorial Multinova até ao fim da vida. Foi sobretudo devido a ele que esta instituição publicou três livros meus.

 

A minha eterna gratidão. Paz a sua (bela) alma.

publicado por Theosfera às 16:37

Mais uma execução nos Estados Unidos.

 

A arguida mandou matar há anos. Foi morta esta noite.

 

Uma tragédia como resposta a uma tragédia.

 

A pena de morte encerra, em si mesma, uma pavorosa quadratura do círculo.

 

Alastra o que pretende eliminar. Mantém o que visa combater.

 

O circuito da morte não nos larga.

 

Se há cidadãos que não sobem ao nível da justiça, porque é que a justiça há-de descer ao nível dos cidadãos?

 

publicado por Theosfera às 11:03

Quem está numa esquina olha, mas raramente é olhado. Repara em todos, mas quem repara em quem olha?

 

Nas esquinas da vida, há muita gente abandonada, isolada, só. Muitas são as mágoas transportadas e as feridas abertas.

 

 Procura, neste dia, visitar tantos que deram tanto e que, agora, estão assim, atirados para uma curva do isolamento.

 

 Não fales muito. Acima de tudo, tenta escutar. E verás que é sempre muito mais o que trazes do que aquilo que levas.

 

A tua presença já é o melhor presente.

publicado por Theosfera às 10:57

O entendimento parece difícil. Mas o acordo acabará por ser inevitável.

 

Se o orçamento não for aprovado, quem perde não é o governo. É o país. Somos nós.

publicado por Theosfera às 10:56

A violência sobre os idosos está a aumentar, exponencialmente, no nosso país.

 

Acresce que, para lá da violência conhecida, teremos de ter em conta a violência ignorada.

 

Para onde caminha uma sociedade capaz de acoitar situações de tal vilania e despautério?

publicado por Theosfera às 10:53

Quinta-feira, 23 de Setembro de 2010

Aceita a realidade como ela é. E desfruta.

 

Ajuda a transformar a realidade como Deus a quer. E não desistas.

 

 O primeiro é o conselho dos (inumeráveis) livros de auto-ajuda, que tanto por aí proliferam.

 

O segundo é o imperativo do Evangelho.

 

 O primeiro parece dar mais facilidade. Mas só o segundo conduz à felicidade.

 

O crente tem de ser sempre um sereno inconformista, alguém que cultiva a paz da permanente inquietação.

publicado por Theosfera às 11:16

Durante muito tempo, uma vitória valia dois pontos e um empate um ponto.

 

Ou seja, o empate era quase uma vitória.

 

Para equipas menos apetrechadas, a tentação era fechar bem a baliza.

 

Jogar para não perder compensava. Lembro-me de um célebre Alemanha-Áustria no Mundial de 1978, em que um empate bastava às duas selecções. Pois não hesitaram em passar os 90 minutos a jogar para o lado e para trás!

 

Decidiu-se, por isso, estabelecer três pontos para a vitória e continuar a atribuir apenas um para o empate.

 

Acontece que a mudança de atitude não é muito palpável. Ainda há quem jogue para o ponto. E, às vezes, um ponto basta para almejar os objectivos. A recompensa é menor, mas ainda vai compensando.

 

Porque não pensar na medida que falta, isto é, atribuir zero pontos por empate?

 

Deste modo, colocava-se o futebol na sua autenticidade, estimulando cada equipa a procurar da baliza contrária.

 

É claro que os clubes mais ricos teriam mais hipóteses de ganhar. Mas isso também já acontece agora.

 

Estou convencido de que as surpresas iriam continuar a acontecer.

 

O futebol tornar-se-ia mais belo se só a vitória compensasse.

 

A ousadia triunfaria sobre o medo e o calculismo!

publicado por Theosfera às 11:07

O futebol é muito mais que o futebol. Há nele (e cada vez mais) todo um repositório de situações que o converte num precioso laboratório de antropologia.

 

Fala-se, amiúde, da gestão dos egos. Dos egos dos dirigentes, dos treinadores, dos jogadores.

 

Num desporto que vale pelo colectivo, não é tarefa fácil esta.

 

Sinal dos tempos. Fala-se muito de nós. Mas sentimo-nos subjugados pelo império do eu. 

publicado por Theosfera às 11:03

Quarta-feira, 22 de Setembro de 2010

Há na sociedade um problema político e um problema cívico. Ainda por cima interligados.

 

Sarkozy começou a recuperar a popularidade perdida. À custa de quê? Da expulsão de seres humanos do seu país.

 

No passado domingo, a ultracivilizada Suécia, conhecida pela sua proverbial moderação, elegeu um núcleo de deputados com tendência xenófoba e propensão racista.

 

Não deixa, aliás, de ser perturbador notar como países avançados (Áustria, Dinamarca, Alemanha, França e Reino Unido) estão a ficar povoados com ideologias(?) extremistas.

 

Dir-se-á que são as regras da democracia. As pessoas votam em quem entendem.

 

Trata-se, porém, de um sinal preocupante. As pessoas estão desencantadas. Não se revêem no que lhes mostram. E propendem para os extremos.

 

Que lugar existe para o diferente nas nossas instituições, nos nossos povos? Será que a rejeição irá substituir a integração? Que estamos a fazer da (aparentemente tão amada) tolerância?

 

Mas há sinais de mobilização em sinal contrário. Na mesma Suécia, houve uma manifestação de seis mil pessoas contra o racismo, dinamizada por uma jovem de 17 anos.

 

Urge acordar da sonolência cívica. Os cidadãos têm de intervir mais na política.

 

publicado por Theosfera às 11:46

Por volta das cinco da tarde, chega o Outono, a minha estação predilecta.

 

A natureza, pródiga de sabedoria, vai-se recolhendo.

 

O tom amarelo parece denunciar melancolia e palidez, mas, no fundo, deixa ressumar serenidade.

 

A agitação é menor.

 

Fica o convite a entrar no santuário da interioridade.

 

A riqueza de cada um está no seu fundo.

 

A maior solidariedade (já dizia Edith Stein) é ir do interior de mim ao interior do outro.

 

Feliz Outono!

publicado por Theosfera às 10:16

Tudo será perdoado. Mesmo que nem tudo seja esquecido.

 

Sejamos amigos e seremos melhores cristãos. Sejamos cristãos e seremos melhores amigos.

publicado por Theosfera às 10:14

Quem trabalha nos jornais sabe da dificuldade que encontra em conseguir notícias de factos positivos.

 

Por um lado, o negativo vende mais (é triste, mas é verdade). Por outro lado, reconheçamos que não é fácil lobrigar, nos tempos que correm, ocorrências que nos encantem.

 

Daí a alegria que tive, esta manhã, ao deparar com esta informação. Clique aqui.

 

Este bombeiro é mesmo um exemplo.

 

Ainda há corações bondosos à face da terra.

publicado por Theosfera às 10:10

Há notícias que arrepiam.

 

Dois idosos morreram na Espanha porque passaram demasiado tempo numa carrinha.

 

Há erros que são fatais...

publicado por Theosfera às 10:08

Os erros têm a sua graça. A sua graciosidade pode funcionar como um despertador para os não repetirmos.

 

A pressa leva-nos a cair e, só na queda, nos apercebemos da ferida.

 

É conhecida a resposta que um aluno terá dado: «Os quatro pontos cardeais são três: norte e sul!».

 

Outra saída interessante terá sido a de um político que, extasiado com a obra visitada, desabafou: «Só tenho um adjectivo: gostei!»

 

Hoje encontrei o início de um artigo num diário: «Aplicação. Eis o adjectivo...».

 

Tal como acontece às pessoas, a quem os nomes são trocados, também as palavras se vêem neste labirinto. Também os substantivos são considerados adjectivos...

publicado por Theosfera às 10:01

Terça-feira, 21 de Setembro de 2010

É sempre complicado ler extractos sincopados de um livro que ainda não nos chegou às mãos.

 

Mas, antes de ser vertido para português, o último livro do Stephen Hawking já está a levantar celeuma.

 

Pelo que dizem, o astrofísico decreta que Deus não criou o universo.

 

Comecemos por assentar que se trata de um ensaio científico.

 

À ciência cabe explicar o como. É o que faz Hawking, pessoa que sempre admirei já que acolhe um génio num corpo praticamente inerte.

 

Os estudos apresentados chegam praticamente até ao momento inical do universo.

 

Em relação à data do big bang, Hawking calcula que ele tenha ocorrido há 13.700.000.000 de anos, um pouco menos que os 15.000.000.000 habitualmente atribuídos.

 

Como cientista, Hawkin considera que Deus não é necessário. Não sei qual é o alcance da afirmação. Mas, se pensarmos bem, os crentes acabam por afirmar algo similar.

 

Deus não cabe no plano da necessidade, mas da vontade e, sobretudo, do amor.

 

Deus não age porque tem de agir. Deus age porque quer agir. A criação é, também ela, obra do amor.

 

Hawking entende que tudo veio a partir do nada. Sem entrar em qualquer concordismo oportunista, é curioso verificar que a Bíblia também assinala isso. A mãe dos filhos de Macabeu proclama que Deus criou do nada todas as coisas (cf. 2Mac 7, 28).

 

É claro que, a ser verdade o que tem vindo na imprensa, Hawking parece enveredar por um universo autogestionário. A lei da gravidade tudo terá desencadeado.

 

E quem desencadeou a lei da gravidade?

 

É interessante notar que o teofilósofo Zubiri (que faleceu faz hoje 27 anos) postulava, na linha do pensamento clássico, a existência de um fundamento autofundante do universo.

 

Não creio que a ciência litigue com a fé, desmantelando os seus pressupostos.

 

Ela dá muitas respostas. Mas não responde a todas as perguntas.

 

Será que o nada pode, por si mesmo, ser a origem de tudo? Como é que o que não existe pode ser a fonte da existência?

 

Como apareceu o momento inicial? Criação sem Criador fará sentido?

 

É por isso que agradeço a Stephan Hawking mais este contributo notável para o aprimoramento da ciência e para o prosseguimento do diálogo interdisciplinar, onde a religião terá um papel importante a desempenhar.

 

 

publicado por Theosfera às 22:33

Estudar é muito importante, mas pode-se estudar de várias maneiras…
 

Muitas vezes estudar não é só aprender o que vem nos livros.

 

Estudar não é só ler nos livros que há nas escolas.

É também aprender a ser livres, sem ideias tolas.

Ler um livro é muito importante, às vezes, urgente.

Mas os livros não são o bastante para a gente ser gente.

É preciso aprender a escrever, mas também a viver, mas
também a sonhar.

É preciso aprender a crescer, aprender a estudar.

Aprender a crescer quer dizer:
aprender a estudar, a conhecer os outros, a ajudar os outros, a viver com os outros.

E quem aprende a viver com os outros aprende sempre a viver bem consigo próprio.

Não merecer um castigo é estudar.

Estar contente consigo é estudar.

Aprender a terra, aprender o trigo e ter um amigo também é estudar.

Estudar também é repartir, também é saber dar o que a gente souber dividir para multiplicar.

Estudar é escrever um ditado sem ninguém nos ditar;
e se um erro nos for apontado é sabê-lo emendar.

É preciso, em vez de um tinteiro, ter uma cabeça que saiba pensar, pois, na escola da vida, primeiro está saber estudar.

Contar todas as papoilas de um trigal é a mais linda conta que se pode fazer.

Dizer apenas música, quando se ouve um pássaro, pode ser a mais bela redacção do mundo…

………..

Estudar é muito, mas pensar é tudo!

publicado por Theosfera às 11:20

 Em épocas de crise, em que a tentação do desnorte é muito intensa, há duas coisas que não devemos perder jamais: a determinação e a serenidade.

 

Não podemos perder a determinação porque é fundamental que se apontem caminhos e alarguem os horizontes.

 

 Não podemos perder a serenidade porque de cabeça quente e com ânimos exaltados não vamos a lado nenhum.

 

 Sim, a situação é dura e os problemas enormes. Vamos ser fortes, unidos, amigos. Deus ajudar-nos-á. 

publicado por Theosfera às 11:05

Quando o jovem disse ao abastado pai que queria fazer parte de uma ordem mendicante, a reacção não podia ser pior.

 

- «Pai, desejo ser frade».

 

- «O quê? Um frade descalço e esfarrapado?»

 

- «Sim, Pai».

 

- «E fazer voto de pobreza? E desistir da tua carreira? E andar faminto a esmolar pelas almas? Impossível!»

 

- «Foi possível a Francisco de Assis».

 

- «Era um louco», bradou o Pai.

 

- «Era um santo», corrige o Filho.

 

 

publicado por Theosfera às 11:02

Há tanta gente à espera de uma palavra que se faça eco da Palavra.

 

Há tanta gente à espera de uma palavra em forma de presença.

 

Há tanta gente à espera de uma presença em forma de palavra.

 

Enquanto ela não vem de nós, ela vem até nós.

 

Os pobres e os que sofrem estão a pronunciá-la continuamente. Tingida de dor e ardendo de esperança.

 

Como disse o Concílio, «o futuro pertencerá àqueles que derem ao mundo um pouco de esperança».

 

Não recusemos a esperança que nos chega. «A esperança (proclamou Charles Péguy) espanta o próprio Deus».

publicado por Theosfera às 11:01

Os tempos são outros. A sensibilidade é diferente. E a capacidade de mobilização quase nula.

 

Que diriam os nossos antepassados de trezentos, de seiscentos e de novecentos, que se rebelaram ante castelhanos e ingleses por causa da ingerência destes na nossa pátria, se fossem confrontados com a notícia de que o orçamento do estado português vai precisar de um visto prévio da Comissão Europeia?

 

Acresce que ainda há quem diga que isto é pouco!

 

A integração na Europa constitui, ipso facto, uma alienação de soberania, mas não deixa de ser sintomático que tudo aconteça praticamente sem qualquer reacção.

 

O mesmo se diga do afastamento do Prof. Manuel Maria Carrilho do cargo de embaixador na Unesco.

 

Até pode dar-se o caso de ser uma decisão normal. Mas é impossível não associar a medida às posições que ele tem tomado.

 

Voltamos a ter delito de opinião? Pensar pela própria cabeça será um pecado irremissível?

 

Mas então temos de pensar pela cabeça de quem?

 

Estamos em democracia. Mas será que temos muitos democratas? Como vai a nossa cultura democrática?

 

A independência e a liberdade são valores matriciais da civilização.

 

Impressionante é que tudo isto vá contando com uma espécie de anestesia cívica.

 

Os tempos não correm fagueiros para a cidadania.

 

Parece que as coisas só afectam os outros.

 

Mas, atenção, o que acontece hoje aos outros, pode acontecer amanhã a nós.

 

Parafraseando Martin Niemöller (num texto também atribuído a Bertolld Brecht), «primeiro vieram buscar os judeus e eu não me incomodei porque não era judeu. Depois levaram os comunistas e eu também não me importei, pois não era comunista. Levaram os liberais e também encolhi os ombros. Nunca fui liberal. Em seguida os católicos, mas eu era protestante. Quando me vieram buscar já não havia ninguém para me defender».

 

É sabido que a ditadura dos factos é (im)pressionante, mas que, ao menos, a nossa voz se faça ouvir.

 

O silêncio raramente é neutro. Ele é, quase sempre, conivente com a tirania.

publicado por Theosfera às 10:45

«Nesta vida, cada um de nós está sozinho, pelo que não é de estranhar que morra sozinho».

 

 Estas terão sido as últimas palavras de Xavier Zubiri, antes de morrer a 21 de Setembro de 1983, nas urgências do hospital, acompanhado pelo seu médico.

 

Mesmo com os outros, podemos estar sós.

 

Mesmo sós, podemos estar com os outros, nos outros.

 

Como Zubiri gostava de repetir, há sempre uma solidão sonora, uma solidão que ressoa...

publicado por Theosfera às 10:33

Segunda-feira, 20 de Setembro de 2010

1. A história não se repete, mas também não se esgota. Ela é o terreno da novidade e, ao mesmo tempo, da repercussão.

 

O que determinou as ocorrências no passado pode continuar a interferir no presente e no futuro.

 

Daí que seja fundamental prestar atenção à história: não só enquanto ciência, mas, acima de tudo, enquanto fluxo incoercível de acontecimentos, pessoas e ideias.

 

É por isso que a história é uma escola, a maior escola. Está sempre a ensinar-nos. O seu eco prolonga-se. A sua presença mantém-se.

 

Mesmo quando parece que passa, o passado nunca passa completamente.

 

 

2. A implantação da República, cujo centenário estamos a celebrar, é um dos períodos que encerra imperdíveis lições.

 

Desde logo, urge perceber que nenhum regime é eterno. E nem sequer a inércia o sustenta.

 

A Monarquia portuguesa parecia madura de séculos. Nenhum rei tinha sido assassinado. (D. Sebastião morreu numa batalha).

 

No entanto, o que parecia inexpugnável acabou por tombar. Aliás, gerou-se imediatamente a convicção de que, mais do que uma conquista da República, o que aconteceu, em 1910, foi a queda da Monarquia.

 

Em 1911, Joaquim Leitão asseverava: «A revolução de 5 de Outubro não foi uma batalha. Foi uma defecção».

 

Não admira, pois, que logo a 6 de Outubro de 1910, Eduardo Schwalbach enviasse um telegrama para um jornal brasileiro cheio de ironia corrosiva: «Ao cabo de longos e porfiados esforços, os monárquicos acabam de implantar a República em Portugal».

 

Isto significa que a decadência da Monarquia foi considerada mais decisiva do que a acção directa dos republicanos.

 

De resto, foi a referida decadência que, ao longo dos tempos, levou a fermentar o ideal republicano no espírito de muitos.

 

 

3. O ultimato inglês abrira já profundas feridas, nunca totalmente saradas.

 

Depois, o chamado rotativismo entre regeneradores e liberais gerou um clima de instabilidade que intensificou, ainda mais, os ânimos.

 

Filipe Ribeiro de Meneses considera mesmo que «a paralisia que acometia os dois partidos tornou-os incapazes de reflectir as necessidades de uma sociedade em lenta evolução, de ultrapassar o fosso que separava cada vez mais Portugal de outros países europeus e de assegurar, sem qualquer sombra de dúvida, o império colonial».

 

Refira-se que, nesse tempo, a defesa do ultramar era absolutamente consensual na sociedade portuguesa.

 

A ditadura de João Franco incendiou os espíritos da oposição e levou a que a animosidade atingisse o próprio rei.

 

D. Carlos era um rei culto, mas com um estilo de vida apontado como extravagante.

 

O orçamento da casa real até era bastante inferior ao das suas congéneres europeias, mas, mesmo assim, não faltava quem o qualificasse como excessivo.

 

 

4. O regicídio, ocorrido a 1 de Fevereiro de 1908, foi o corolário de toda uma onda de descontentamento e revolta.

 

Contudo, não foi aí que o regime mudou. Portugal passou a ter um Chefe de Estado com apenas 18 anos.

 

D. Manuel II não estava preparado para ser rei e nunca escondeu o incómodo que a situação lhe proporcionou.

 

Iniciou uma política chamada de acalmação, que, no fundo, visava congregar vontades e, de certa forma, estender a mão aos republicanos.

 

Inicialmente, tudo parecia correr bem, mas, a pouco e pouco, verificou-se que o entendimento era impossível.

 

 

5. Proclamada a República, o país ficou longe da pacificação. A instabilidade, se era grande, tornou-se constante.

 

Os governos sucediam-se e os golpes multiplicavam-se. A questão religiosa tornou-se uma espécie de pedra angular dos novos tempos.

 

Aliás, logo a 8 de Outubro de 1910, o Governo Provisório retomava a legislação do Marquês de Pombal e de Joaquim António de Aguiar sobre associações religiosas e conventos.

 

Fortemente identificada com o poder anterior, a Igreja foi alvo de acções de retaliação. Muitas foram as perseguições.

 

Passada a euforia inicial, o povo logo percebeu que o desenvolvimento não viria por magia.

 

Os pobres pouco ganham com as revoluções. 

 

 

 

publicado por Theosfera às 11:51

Quinta-feira, 16 de Setembro de 2010

«A consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta».
Assim escreveu (pertinente e magnificamente) Blaise Pascal.

publicado por Theosfera às 10:55

«Muito fácil é obedecer quando se sonha mandar».

Assim escreveu (perturbante e magnificamente) Jean- Paul Sartre.

publicado por Theosfera às 10:53

Se tantos conseguiram tanto, porque é nós não havemos de conseguir?

 

O santo não é extraterrestre. Não é sobre-humano. É da nossa terra. Pertence à nossa condição.

 

Deus não aprecia uma santidade que desumaniza, que desmundaniza ou que desfraterniza. A santidade é a consciência de que somos filhos e de que, por isso, somos irmãos. A santidade é fraternal, é amorosa, é empenhativa.

 

 Ser santo é ser verdadeiramente humano. É ser autenticamente feliz. Tudo isto inclusive nas circunstâncias mais adversas. O sermão da montanha é o código da santidade. Não é necessária a prosperidade, a riqueza ou a glória para ser santo. É possível ser santo na pobreza, no pranto, na adversidade, até na perseguição.

 

 Ser santo é deixar que Deus aconteça na nossa vida e na vida dos outros. Ser santo é participar na construção de um mundo melhor. É intervir na transformação da humanidade. É não pactuar com a injustiça. É falar com os lábios e testemunhar com a vida.

 

 A santidade está ao alcance de todos. É o que há de mais democrático e invasivo. Que se respire santidade na Igreja e na Humanidade.

 

 O santo é o grande sábio. É sábio porque é humilde e manso. Tem certezas, mas não agride quem ainda não as encontrou.

 

 O santo é o maior teólogo. Pode não exibir particular ciência, mas expende especial vivência. Há sabedoria maior do que aquela que está estribada na vida?

 

 Não digas, pois, que a santidade não é para ti. Claro que é. Foi Deus que quis fazer-te essa proposta. Todos nós somos pequenos, sem dúvida, diante de algo tão grande, tão pulcro.

 

 Ser santo é ser paladino da bondade, peregrino da esperança e construtor da paz. 

publicado por Theosfera às 10:49

As instituições são importantes, mas a pessoa tem de estar primeiro.

 

Quando se discutem temas como a pobreza, é fundamental que o enfoque seja colocado na pessoa dos pobres.

 

É por causa delas que as instituições existem.

publicado por Theosfera às 10:44

Quarta-feira, 15 de Setembro de 2010

Um mestre de vida espiritual perguntou aos seus discípulos se sabiam onde acabava a noite e começava o dia.

 

Um deles disse: «Quando vemos um animal à distância e podemos distinguir se é vaca ou cavalo».

 

O mestre disse imediatamente: «Não!»

 

 Os discípulos replicaram: «Então é quando vemos uma árvore à distância e conseguimos distinguir se é figueira ou laranjeira».

 

 O mestre repetiu: «Também não!»

 

 Os discípulos insistiram: «Então quando é?»

 

 O mestre finalmente explicou: «Quando vedes o rosto de um homem e reconheceis nele um irmão; quando vedes o rosto de uma mulher e reconheceis nele uma irmã. Se não fordes capazes disso, qualquer que seja a hora, ainda é noite!»

publicado por Theosfera às 10:25

O PS não aceita que se cortem nos benefícios sociais. Totalmente de acordo.

 

O PSD não admite que aumentem os impostos. Quem discorda?

 

O problema é que, segundo parece, para manter os benefícios sociais, é preciso aumentar os impostos. E, para não aumentar impostos, é necessário cortar nos benefícios sociais.

 

Ou seja, a vida do cidadão não promete ser fácil.

 

Quando alguém nos diz que não admite mexer nos apoios sociais, temos de depreender que poderá estar em vista um aumento da carga fiscal.

 

Já quando se nos diz que não pode haver aumento de impostos, lá teremos que nos resignar a menores apoios sociais: na educação, na saúde, etc.

 

O lençol é acanhado. Quando tapa a cabeça, destapa os pés. Quando tapa os pés, destapa a cabeça.

 

A factura acabará sempre por vir. 

publicado por Theosfera às 10:18

Ainda há muita fome no mundo. Os números não deixam margem para dúvidas.

 

Enquanto houver uma só pessoa, não podemos descansar.

 

Parece que os fundos que se criam não estão a obter a adesão esperada.

 

Mas importa ter presente que há muito apoio solidário directo.

 

Há pessoas que não se esquecem de apoiar as pessoas.

 

Fundamental é que a ajuda chegue. E, já agora, que o perfil de desenvolvimento mude.

 

A justiça tem de ser a prioridade.

publicado por Theosfera às 10:15

Terça-feira, 14 de Setembro de 2010

A humanidade fecha-se a Deus, alguém disse ontem, uma vez mais.

 

Uma vez mais também, reafirmo que não é isso que sinto.

 

O que sinto é que a humanidade continua aberta a Deus do mesmo modo que Deus continua aberto à humanidade.

 

O afastamento da humanidade não é em relação a Deus. Seguramente.

publicado por Theosfera às 11:58

A Teologia diz respeito ao que há de mais envolvente e apaixonante na vida. Porque, ao ser (tentativa de) discurso sobre Deus, torna-se (tentativa de) discurso sobre a vida, o homem, o mundo.

 

A atmosfera é sempre uma teosfera que religa o que, aparentemente, está mais distante: o céu e a terra, a eternidade e o tempo, a morte e a vida. Nada se dilui nem dissolve. Tudo se integra e acolhe.

 

A Teologia pertence pois ao que há de mais englobante. Mobiliza a razão, mas não descarta a emoção. Faz-se Teologia a escrever. Mas pratica-se Teologia (sobretudo) a rezar, a sofrer e também a chorar.

 

Ela é, verdadeiramente, scientia amoris (ciência do amor). No amor está tudo. Por isso é que ele nunca acaba.

 

Temos é de o tornar presente a partir do seu cume, a partir da Cruz, donde ele escorre, a jorros, pelo mundo inteiro. Enfim, a Teologia é tudo. E tudo é Teologia.

publicado por Theosfera às 10:39

É a crise que provoca a desesperança ou é a desesperança que provoca a crise?

 

Assim sendo, que importa fazer primeiro: vencer a crise para recuperar a esperança ou recuperar a esperança para vencer a crise?

 

 Não esqueçamos o legado de Teillard: «O futuro pertencerá àqueles que derem ao mundo um pouco de esperança». Um pouco que seja já é bom, muito bom.

 

 O crente tem de ser um esbanjador de esperança. E a Teologia terá de se posicionar, cada vez mais, como docta spes (douta esperança), como spes quaerens intellectus (a esperança que se procura entender, que se procura dizer).

publicado por Theosfera às 10:37

Krónos e Kairós são duas palavras diferentes para tentar dizer o mesmo: o tempo.

 

Krónos é cruel. Filho de Urano e de Gaia, libertou os irmãos do ventre da terra, tornando-se o chefe dos titãs. Receando, porém, um sucessor humano, devorou os seus próprios filhos. Apenas o filho mais novo conseguiu salvar-se: Zeus. Este, quando cresceu, dominou o pai passando a governar os homens. O tempo, tantas vezes, devora as pessoas. Estamos subjugados por ele. Estamos sempre a olhar para o relógio. Suspiramos pelo tempo e chegamos sempre à conclusão de que não temos tempo.

 

 Já o Kairós é doce, é suave, é a medida certa. Tem asas nos pés ou nos ombros. Caminha sobre os bicos dos pés. Na testa tem um tufo de cabelo. A nuca é careca. As oportunidades devem ser aproveitadas até porque o momento é efémero como mostra a nuca lisa. O Kairós é representado pelo número sete, que recorda a história bíblica da criação. O Kairós é, pois, o momento decisivo, no qual Deus oferece a felicidade às pessoas.

 

 Caminho a seguir? Transformar o Krónos em Kairós, trazendo a eternidade para o tempo.

publicado por Theosfera às 10:36

Ninguém tem a idade que tem.

 

Todos temos a idade do universo. Se não estivéssemos no passado, teríamos presente? Ou futuro?

 

Por isso, se, em nome do futuro, subestimamos o passado, corremos o sério risco de o comprometer, de o amputar. O passado faz parte do futuro. Foi no passado que o futuro começou.

publicado por Theosfera às 10:34

Conta Antonhy de Mello que houve um incêndio em casa de um homem que dormia profundamente.

 

Tentaram trazê-lo para fora através da janela. Não deu. Tentaram retirá-lo pela porta. Também não deu. Ele era muito grande e pesado. Já à beira do desespero, alguém sugeriu: «Acordem-no e ele sairá por si mesmo».

publicado por Theosfera às 10:33

Já houve um tempo em que era o livro. Hoje é o telemóvel.

 

Apesar da crise, eis o grande sinal de afirmação no nosso tempo.

 

No segundo semestre deste ano, foram adquiridos 1,7 milhões de aparelhos.

 

Será (também) por isso que estamos em crise?

publicado por Theosfera às 10:26

Segunda-feira, 13 de Setembro de 2010

1. No início de mais um ano lectivo, é importante que nos capacitemos do objectivo global do processo educativo. Este não pode ser tutelado por um qualquer governo. Ele está a ser permanentemente escrutinado pela vida.

 

É a vida que desponta como a matriz suprema e o critério maior do percurso de um aluno.

 

Não se deve reduzir a educação ao ensino. Ou, então, não é lícito que o ensino se circunscreva à leccionação das diversas matérias.

 

É necessário que seja dado espaço aos agentes para que se empenhem, activamente, no essencial: o crescimento da personalidade.

 

Convém ter presente que, periodicamente, a escola avalia conhecimentos. Mas é a vida que vai fazendo, de modo contínuo, a aferição dos comportamentos.

 

Nem sempre os índices de satisfação são tranquilizadores. Não basta olhar para a pauta de um estabelecimento de ensino. Urge reparar no porte da pessoa.

 

 

2. A boa educação não decorre apenas (nem principalmente) de altas classificações.

 

Já dizia Cuvier que «a delicadeza é o carácter que distingue os homens de espírito e boa educação».

 

O civismo não é mensurável, mas é, obviamente, perceptível. Ou imperceptível, se ausente.

 

A educação torna-se compensadora quando visa não somente a preparação de mentes brilhantes, mas a formação de personalidades luminosas.

 

Por isso e como sugere Augusto Cury, a escola deverá tender para se tornar não só um albergue de conhecimentos, mas um laboratório de valores.

 

Daí a importância de se valorizar tanto as atitudes de nobreza como os conhecimentos de excepção.

 

Aliás, Alceu Amoroso Lima defende que «a sabedoria está para lá da ignorância e para lá da ciência».

 

Fundamental é que «cada um de nós deve ter o amor da perfeição: saber que devemos querer o máximo, mas saber que o máximo nunca atingiremos».

 

De resto, a própria santidade também passa por este meridiano. Ela «é um mosaico de pequenas virtudes. Os grandes gestos são raros. No mais, a vida é feita de pequenos gestos anónimos».

 

Por conseguinte, «temos de adquirir o sentido de sermos o menos imperfeito possível. Isto já é uma grande conquista».

 

 

3. É neste sentido que comungo do pensamento de Joaquim Azevedo quando sugere que o Estado não devia intervir tanto no processo educativo.

 

O prioritário tem de ser mesmo a escola e, particularmente, a relação entre o professor e o aluno.

 

É esta a pedra de toque, a partir da qual tudo pode ser transformado. A própria interacção com a comunidade muito pode ganhar a partir daqui.

 

O forte clima competitivo, que tende a reinar na escola, leva a que o outro comece a ser visto, desde cedo, como um rival.

 

Ora, a escola há-de ajudar a ver o outro não como adversidade, mas como oportunidade.

 

A escola terá de ser uma semente de fraternidade. Ser colega tem de ser entendido, cada vez mais, como irmão.

 

 

4. Como se compreende, a escola prepara para o mundo. Mas quando pensamos em mundo, logo nos voltamos para o mundo exterior.

 

É neste que o sucesso (ou o fracasso) se torna mais visível. Acontece que é tempo de cultivar igualmente o mundo interior.

 

Como adverte Augusto Cury, «somos hoje subjugados por necessidades que nunca foram prioritárias: o consumismo, a estética, a segurança».

 

Como é difícil obter tudo isto no imediato, «a vida humana torna-se um espectáculo de frustração, de medo, de ansiedade».

 

É preciso trabalhar, cada vez mais, «o mundo das ideias, dos pensamentos, dos sonhos, das emoções».

 

A verdade, como asseguram os sábios, está na totalidade. E a totalidade da pessoa do aluno parte do fundo, de dentro, do interior.

 

É daí (e não das secretarias de um ministério) que vem a maior riqueza.

 

O melhor manual é mesmo a pessoa do aluno. É esse manual que temos (todos!) de reaprender a ler. Incessantemente…

publicado por Theosfera às 11:24

Domingo, 12 de Setembro de 2010

Julgamos saber muito de Deus, mas, no fundo, aparentamos ignorar a única coisa importante acerca d'Ele. É que Deus é misericórdia, amor, bondade.

 

É assim que Jesus nos apresenta Deus.

 

S. Lucas, nas três parábolas do capítulo 15 do seu Evangelho, é soberanamente eloquente a este respeito.

 

Se faltar a misericórdia, que sobra do nosso discurso?

 

Mais do que as nossas palavras, o que contam são as nossas atitudes.

publicado por Theosfera às 23:20

Quinta-feira, 09 de Setembro de 2010

1. Mais um ano lectivo traz consigo um caudal de canseiras e um vendaval de esperança.

 

A educação, que já foi apontada como paixão por um governo, é erigida ao patamar de prioridade por qualquer responsável político. Aliás, já dizia Kant que «o Homem não pode tornar-se Homem senão pela educação».

 

E, no entanto, também neste domínio se sente um desconforto por parte dos mais diversos agentes.

 

É natural que, num mundo em contínua (e acelerada) mudança, também a educação passe por transformações.

 

2. Não há dúvida de que se tem apostado muito nas infra-estruturas e nas tecnologias.

 

As condições logísticas em que, hoje em dia, ocorre o acto de ensinar superam, de longe, as que se verificavam há anos não muito distantes.

 

Há uma maior quantidade de serviços de apoio. Há factores acrescidos de acolhimento e integração.

 

Tudo isto é importante. Tudo isto é necessário. Mas nem tudo isto é suficiente.

 

Há uma grande insistência na preparação de profissionais para o futuro. Urge, porém, que haja uma aposta mais decidida na formação de pessoas, de cidadãos.

 

Os valores não podem ser colocados numa posição inferior à dos conhecimentos. Sem eles, há uma amputação da personalidade que afectará, irremediavelmente, todo o percurso existencial.

 

É claro que a escola não pode ser vista como o único agente da educação. Ela pressupõe uma interacção com outras instituições com a família em lugar de destaque.

 

Dadas, contudo, as circunstâncias, a escola é chamada a exercer um papel liderante e uma missão insubstituível na estruturação da personalidade.

 

 

3. Acontece que a escola tende a replicar, cada vez mais, o que se passa na sociedade. Em vez de ser a alternativa, ela arrisca-se a ser a redundância.

 

Devia ser a sociedade a subir ao nível da escola. Mas é, frequentemente, a escola que desce ao nível da sociedade.

 

Dir-se-á que é inevitável. Cabe-nos, entretanto, apurar se é o mais correcto.

 

Há quem defenda que a escola deve retratar a sociedade. Creio, no entanto, que o fundamental é que a escola ajude a transformar a sociedade.

 

Os casos de violência na escola são um sinal de alerta e um indicador de algum alarme.

 

A recorrência deste fenómeno indicará que o crescimento não consegue evitar uma certa decadência.

 

 

4. A indispensável transformação passará por um renovado enfoque na relação.

 

O Estado tem de revitalizar a missão do professor como formador da pessoa.

 

A carga burocrática, a que se vê submetido, retira-lhe capacidade de iniciativa junto do aluno.

 

Os governos têm um papel importante na coordenação das políticas de educação. Mas seria bom que percebessem que o fundamental na educação não está no governo. Está no professor e no aluno. Em suma, está na escola.

 

Mesmo num país não muito grande como o nosso, não se deveria homogeneizar em excesso o processo educativo.

 

Há muitas variáveis que só quem está no terreno consegue apurar e logra compreender.

 

 

5. Está muito difundida a percepção de que, nos tempos que correm, há muita escolarização e não muita educação.

 

Impõe-se atender a este dado e debruçar-se sobre o que lhe subjaz. Apesar do aumento do tempo escolar, o curto prazo ainda condiciona bastante.

 

Os agentes vêem-se compelidos a pensar no fim do período, no fim do ano. É hora de olhar mais longe.

 

Não chega estudar para o teste. É urgente preparar para a vida. Até porque a vida é o maior teste e a permanente lição.

 

É ela, a vida, que, em último caso, vai aferir o que se recebe na escola.

 

Como adverte Augusto Cury, «o maior papel de um mestre não é educar para o mercado de trabalho, mas para a vida».

 

 

6. Há muita expectativa sobre a escola. Às vezes, também há pressão.

 

Espera-se muito da escola. É normal. Demos tempo à escola. Confiemos na escola. Deixemos respirar a escola.

 

Um feliz ano lectivo.

 

publicado por Theosfera às 15:52

Quinta-feira, 02 de Setembro de 2010

 

Há quem se preocupe com o risco de banalização da oração. À força de se insistir tanto nela, pode haver o risco de ser banalizada. Que ninguém se preocupe com a oração. Que nos preocupemos, sim, com tal preocupação.

 

É claro que um acto demasiado repetido comporta esse risco. Mas não é por causa da repetição. É por causa de não lhe reconhecermos o intrínseco valor que tem. Haverá acto mais repetido (e, portanto, tendencialmente mais banal)  que comer ou dormir? E, não obstante, ninguém questiona a sua importância, a sua necessidade.

 

Sobre a oração sobrelevemos este dado: nunca se peca por excesso. Por muita oração que se faça, será sempre pouca para o que Deus merece e para o que nós precisamos. A oração, como adverte o magno Karl Rahner, é como o ar que se respira. Nós estamos sempre a respirar.

 

Para amar o próximo nada melhor que amar a Deus. Para amar a Deus nada melhor que amar o próximo.

publicado por Theosfera às 17:57

Quarta-feira, 01 de Setembro de 2010

É muito perigosa a ideia, que tem vindo a difundir-se, em torno do suposto eclipse de Deus.

 

É sabido que, mesmo quando Se esconde, Ele não deixa de Se revelar, de estar presente.

 

O problema não é de Deus; é mais do testemunho acerca de Deus.

 

Por isso, diante dos desafios, o caminho mais adequado não será tanto a análise, o estudo. Será, acima de tudo, a resposta, o testemunho, a coerência.

 

Bruno Forte advertiu, já há anos, que o interlocutor do teólogo (e, por extensão, do crente) já não é o Homem ilustrado, mas o sofredor.

 

É por isso que a experiência de Deus será sempre a grande mais-valia. O santo é sempre mais convincente que o mestre. No fundo, o santo é o único mestre.

 

Deus continua na vida das pessoas e na história do mundo. Creio, por isso (e cada vez mais) na presença de Deus. Não no Seu eclipse.

publicado por Theosfera às 21:25

Praeis quer dizer manso. É uma palavra grega com afinidades com o hebraico anawim (pobres).

 

Anawim são, genuinamente, os pobres e os mansos (os pobres mansos e os mansos pobres) que colocam toda a sua esperança em Deus, que não se revoltam mesmo quando são injustiçados.

 

A sua confiança está em Deus. Só n'Ele. São pobres de seguranças humanas. Mas, por isso mesmo, sentem-se mais atraídos pela presença do Senhor.

 

Urge, assim, reaprender incessantemente esta mansidão. Temos de ser mansos com os outros. E connosco.

publicado por Theosfera às 21:22

Quem traiu Jesus não foi um estranho; foi um seguidor. Estranho, não?

 

Não olvidemos jamais: de fora vêm as interpelações, mas é de dentro que provêm, quase sempre, os problemas.

 

A humildade da revisão de vida faz sempre bem.

 

A Igreja tem um pacto firmado com a verdade, com a pessoa, com o amor.

 

Falhar num pólo é falhar em todos os pólos.

 

Quem cala ou procura colorir a verdade não é fiel.

 

Que estamos a fazer da verdade?

publicado por Theosfera às 21:20

O egoísmo é o pior vício da convivência humana. No limite, não se resigna a projectar o eu. Acaba também por atropelar o(os) outro(s).

 

Daí a propensão para o exibicionismo e para o controlo da vida alheia.

 

Em tempos de preocupação com a elegância, é fundamental apostar na decência.

publicado por Theosfera às 21:13

Não é só a ficção que ultrapassa a realidade. Às vezes, a realidade logra ultrapassar a ficção.

 

Não falta, aqui e ali, quem atribua aos outros o que os outros nem sonham.

 

Não será que aquilo que achamos que os outros são não corresponderá a um reflexo daquilo que nós somos?

 

Purifiquemos o olhar e mantenhamos a serenidade.

 

O outro não pode ser visto como uma adversidade, mas como uma oportunidade, uma oportunidade para crescer. Em conjunto.

publicado por Theosfera às 21:07

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