O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 28 de Fevereiro de 2010

A religião não é um mero fenómeno religioso. É um verdadeiro fenómeno humano.

 
Régis Debray não se revê na «separação entre o alto e o baixo». É neste sentido que, como assevera José Antonio Marina, «a matriz de todas as culturas foi religiosa». Na verdade e como acrescenta Clyde Kluckkon, «até ao emergir das sociedades comunistas, não conhecemos nenhum grupo humano sem religião».
 
S. Justino sustenta que as sementes do Verbo de Deus estão espalhadas por todos os homens. Tertuliano proclama que «a alma humana é naturalmente cristã».
 
Mais recentemente, Karl Rahner desenvolveu a teoria do cristianismo anónimo e Edward Schillebeeckx debruçou-se sobre o cristianismo implícito. Também Xavier Zubiri propõe a ideia de haver, em toda a parte, um cristianismo intrínseco, um cristianismo germinal.
 
 
Estaremos nós, em Igreja, a optimizar devidamente este património genético, este autêntico ADN espiritual da humanidade?
 
Haverá sempre o devido lugar para Deus no nosso ser e no nosso agir? Ou não será que as pessoas têm de ir procurar lá fora o que não encontram cá dentro?
 
É bom não esquecer que, já em 1985, os bispos do mundo inteiro, reunidos em Sínodo, perguntavam se a difusão das seitas não era o sinal de que nós, católicos, estávamos a perder o sentido do sagrado.
 
D. Walmor Oliveira de Azevedo assinalou, recentemente, que «um católico abandona a Igreja porque, muitas vezes, não encontra Deus nela».
 
Na sua óptica, «muitos, no fundo, não querem abandonar a Igreja; o que querem é procurar sinceramente a Deus».
 
 
 Em conexão com a espiritualidade vem sempre a caridade. Se não praticamos o acolhimento e a delicadeza, se não nos envolvemos nas causas da justiça e da defesa dos mais pobres, não convenceremos ninguém.
 
As pessoas necessitam de ouvir a verdade. Mas precisam igualmente de ver o amor. Se não o virem na nossa vida, não acreditarão nas nossas palavras.
 
D. Adriano Bernardini, Núncio Apostólico na Argentina, advertiu em tom autocrítico: «Explicamos ao povo as sublimes palavras de Jesus e, na prática, descobrimo-nos, com frequência, rudes e até desumanos».
 
É por isso que, como refere Louis Mangkhanekhoun, «o mundo está cansado de escutar, mas não está cansado de se maravilhar e de admirar um testemunho verdadeiro. Há fome e sede de pastores que vivam aquilo que pregam e que preguem aquilo que vivem».
publicado por Theosfera às 23:29

Uma vez mais, Lamego respondeu com generosidade e abundância. Muitas foram as pessoas que, desde manhã cedo, apareceram na Escola Latino Coelho para dar sangue.

 

Em dia de Domingo, é uma bela forma de começar a celebrar a Eucaristia. Esta actualiza a oferta do sangue que Jesus fez na Cruz.

 

Um pouco de sangue nosso pode ajudar a salvar uma vida. Não custa muito. E é sumamente maravilhoso.

 

Que bom sentir a alegria das pessoas em dar sangue, em dar um pouco de si.

publicado por Theosfera às 14:44

A transfiguração de Jesus é realidade e é apelo, apelo à nossa própria transfiguração.

 

Não é despiciendo notar que a transfiguração ocorre no âmbito da oração.

 

A oração transfigura, altera, felicita.

 

Deixemo-nos transfigurar. Por Cristo. Com Cristo. Em Cristo.

publicado por Theosfera às 14:42

 

Falando com um colega há tempos, acerca dos desafios que o tempo actual coloca à Igreja e sobretudo aos padres, ele dizia com toda a veemência que os sacerdotes têm de primar pela diferença.
 
E é verdade: pela diferença na linguagem, pela diferença no porte, pela diferença na espiritualidade, pela diferença na disponibilidade!
publicado por Theosfera às 14:42

Sábado, 27 de Fevereiro de 2010

«Tão vasto espirito em tão estreita regra», terá dito Sophia de Mello Breyner acerca do grande Padre Manuel Antunes.

 

Era o mínimo que podíamos esperar dos cidadãos: largueza de espírito, ainda que os horizontes sejam estreitos.

 

Quem se lança numa candidatura já sabe que se expõe à crítica. O Dr. Fernando Nobre é o primeiro a saber disso.

 

Agora que se conteste a decisão de alguém se candidatar é que não se percebe muito bem.

 

Tanto se exalta a cidadania, mas quando aparece alguém desligado dos partidos, sruge logo uma onda de indignação.

 

Os partidos são importantes, mas a democracia não se esgota nos partidos.

 

Os partidos também alavancam a cidadania, também são parte da cidadania.

 

O gesto do Dr. Fernando Nobre é um contributo para a pluralidade. É mais uma opção que os portugueses têm diante de si.

 

Dizem que não tem experiência política. Mas o trabalho humanitário não fará parte da política?

 

Continuo a ressalvar que mantenho a independência. Não digo em quem voto. Mas saúdo quem se oferece à consideração dos portugueses, com uma mensagem de moderação e despojamento. Pessoas como o Dr. Fernando Nobre têm mais a perder do que a ganhar com esta incursão.

 

Ninguém está acima da crítica. Já houve quem me lembrasse que o Dr. Fernando Nobre é a favor da liberalização do aborto. Continuo sem confirmação oficial quanto a este dado. Ainda assim, recordo que outros políticos, que se dizem contra o aborto, acabam na prática por promulgar leis que o favorecem.

 

Era bom que realçássemos o bem que as pessoas fazem.

 

Ninguém é obrigado a apoiar ninguém. Mas não sufoquem as ideias antes de serem apresentadas. E, depois, cada um decida em consciência. E com a maior paz!

publicado por Theosfera às 13:51

Primeiro o Haiti. Depois a Madeira. Agora o Chile. A natureza parece não dar tréguas e, impante, vai somando vítimas.

 

Um forte tremor de terra provocou pelo menos 76 mortes no Chile e originou um alerta de tsunami no Oceano Pacífico esta madrugada.

 

O abalo, que atingiu 8,8 na escala de Richter (maior que o do Haiti), foi sentido durante cerca de um minuto quando eram 03h34 no país sul-americano (06h34 em Portugal Continental).

Segundo os primeiros relatos, vários edifícios ruíram, houve cortes de energia e foram confirmadas 76 mortes, prevendo-se que o número oficial de vítimas vá disparar durante este sábado.

 

A presidente chilena Michelle Bachelet, que está prestes a ceder o lugar a Sebastian Piñera, dirigiu-se à população, apelando para que fiquem calmos apesar do «enorme terramoto».

 

O epicentro do terramoto localizou-se no Pacífico, 325 quilómetros a sudoeste de Santiago do Chile, mas a apenas 90 quilómetros de Concepción, a segunda cidade chilena, onde vivem mais de 200 mil pessoas.

 

Relatos no Twitter indicam que a cidade de Chillán já foi considerada uma zona de catástrofe.

 

O sismo que arrasou o Haiti a 12 de Janeiro, provocando mais de 100 mil mortos, chegou a apenas 7,0 na escala de Richter.

publicado por Theosfera às 12:12

Orlando Zapata era ainda novo e morreu.

 

Morreu porque acreditou, porque não pactuou e porque perseverou.

 

Morreu porque, à sua frente, há um poder inclemente, uma ditadura implacável.

 

Mas Zapata não morreu só por causa da inclemência do poder. Morreu também por causa do silêncio dos que, dizendo-se defensores da liberdade, se calam perante quem a esmaga.

 

Já o apóstolo Pedro dissera diante do tribunal: «Não podemos calar o que vimos e ouvimos».

 

E, mais proximamente, Sophia alertara-nos: «Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar».

 

Defendo o silêncio como forma de escutar. Não defendo o silêncio como forma de calar a dor ou de branquear o mal.

publicado por Theosfera às 12:07

«Tristeza não tem fim, felicidade sim».

Assim escreveram (melancólica e magnificamente) Tom Jobim e Vinicius de Moares.

publicado por Theosfera às 11:35

Portugal está doente, é verdade. E não me reporto à míngua de dinheiro e à precariedade do trabalho.

 

A principal doença nem sequer é de natureza económica.

 

Falta dinheiro, mas, acima de tudo, falta confiança, falta verdade. Há demasiado ruído em volta da suspeita.

 

Parece que somos todos investigadores uns dos outros. Não falamos de ideias (muito menos de ideais), nem de causas, nem de valores. Falamos de lugares e de pessoas.

 

O clima cívico não está bom. Urge melhorar.

publicado por Theosfera às 11:12

Como previsto, este sábado surge tingido de cinzento e fustigado por bátegas de chuva e estrépitos de vento.

 

Nestas alturas, recordo sempre uma bela frase de Miguel de Unamuno: «Quando Deus quiser chover na tua vida, deixa chover».

 

Esperemos que a chuva venha calma e que, no nosso interior, acolhamos a outra chuva: a chuva de Deus!

publicado por Theosfera às 11:08

De forma assaz perspicaz, Henri de Lubac faz notar que «a Igreja não é uma academia de sábios, nem um cenáculo de intelectuais sublimes, nem uma assembleia de super-homens».

É precisamente o contrário. «Os coxos, os aleijados e os miseráveis de toda a espécie têm cabimento na Igreja, e a legião dos medíocres, que se sentem nela como em sua própria casa, são os que lhe dão o seu tom».

 

publicado por Theosfera às 11:08

Sexta-feira, 26 de Fevereiro de 2010

Há um dado que não tem sido muito referido. Mas é consolador (e muito comovente) saber que Timor-Leste, um país ainda a nascer e que acumula grandes dificuldades, deu um substancial contributo para ajudar a recuperação da Madeira.

 

É sempre assim: os pobres são os maiores ricos. A sua generosidade não tem limites. Dão o o que têm e o que não têm. Dão não o que sobeja, mas o que lhes falta.

 

Por isso é que são pobres? Por isso é que são ricos!

publicado por Theosfera às 13:26

Faz hoje 13 anos que partiu para o Pai o meu Confessor, Conselheiro e querido Amigo senhor Cón. Acácio Vieira Branco.

 

 

Era um dos maiores especímenes de uma estirpe de sacerdotes com uma forte espiritualidade e que irradiava uma grande bondade.

 

 

Muitas saudades. Enorme gratidão.

publicado por Theosfera às 10:04

Em 1953, Henri de Lubac escreveu a sua famosa Méditation sur l'Église. A determinada altura diz: «Esta Esposa mística, esta Igreja de coração escondido, é, ao mesmo tempo, um ser bem visível entre os demais seres do mundo. Pode-se menosprezá-la, mas não se pode ignorá-la.

Como todas as instituições humanas, também ela tem a sua fachada exterior. A nossa Igreja não é uma coisa nebulosa e imaterial. Não é uma entidade vaporosa. Embora seja um mistério que se vive na fé, não deixa de ser uma realidade que se vive neste mundo».

Às vezes, pomo-nos a pensar nas fragilidades da Igreja e inferimos que mais facilmente nos aproximamos de Cristo e de Deus fora dela.

Isso não é argumento, porém. Já dizia S. Cipriano que «ninguém pode ter Deus por Pai se não tiver a Igreja por Mãe».

E, de uma forma brilhante, Henri de Lubac previne-nos: «Não nos jactemos de que, situando-nos fora da Igreja, podemos permanecer na "sociedade de Cristo". Pelo contrário, devemos dizer a nós mesmos com Sto. Agostinho: "Para viver do Espírito de Cristo, é preciso viver no Seu Corpo"».

Pode acontecer que nos desiludam muitas coisas que fazem parte da contextura humana da Igreja. Se tal acontecer, saibamos que o que mais vale é a palavra e o silêncio amoroso. Estejamos seguros de que nunca a Igreja nos dá melhor Jesus Cristo como nestas ocasiões em que nos brinda com a oportunidade de sermos configurados à Sua Paixão.

Novamente Henri de Lubac: «A Igreja tem a única missão de tornar presente Jesus Cristo nos homens. Ela deve anunciá-Lo, mostrá-Lo e dá-Lo a todos. Tudo o resto não é mais que acrescento. Ela é, e será sempre, Igreja de Jesus Cristo. Mas é preciso que o que é em si mesma o seja também nos seus membros. O que ela é para nós, é fundamental que o seja também através de nós».

 

publicado por Theosfera às 09:56

Quinta-feira, 25 de Fevereiro de 2010

Creio na bondade que emerge do coração e que se aloja na alma.

 

Dê uma oportunidade ao melhor de si mesmo.

 

Não silencie o mal que vê nem o bem que avista.

 

A mensagem de Cristo é feita de denúncia e de anúncio.

 

O silêncio é para escutar, nunca para coagir, coarctar ou impedir.

 

A bondade não consiste em fechar os olhos ao mal. Pelo contrário, consiste na promoção do bem.

 

A bondade é irmã gémea da justiça e da paz.

 

Não posso calar a dor de tantos que pedem oração e que se encontram nos hospitais, em tratamentos ou operações.

 

Na cátedra da dor, estas pessoas ensinam-nos a olhar a vida a partir do fundo. Deus não lhes faltará.

 

Obrigado pela lição que nos oferecem.

 

Uma santa noite.

publicado por Theosfera às 23:59

Como padre, aprendo sempre. Com o povo. Com Deus que fala através do bom povo de Deus.

 

Edifica-me sobremaneira ver pessoas, que trabalham numa escola, após um desgastante dia de trabalho, participar na Santa Missa com alegria, vibração, seriedade e oferecendo um ar de gente feliz, de gente salva. Tudo por estar na companhia de Deus.

 

A minha gratidão a toda a comunidade educativa do Colégio da Imaculada Conceição.

publicado por Theosfera às 23:58

A tentação é dizer que já não dá para confiar em ninguém. A espiral da suspeita não pára de crescer. Nem as pessoas mais gradas nem as instituições mais veneráveis parecem incólumes..

 

É verdade que, ao longo da vida, todos acumulamos amarguras, desencontros, desilusões. Não é só a vida pública e a actividade política que nos desencantam. A vida pública e a actividade política acabam por ser o eco e a projecção do que palpita no quotidiano.

 

Mas é nestas alturas que mais resplandece o testemunho de pessoas de excepção. Nem todos são iguais.

 

Há quem (teimosamente?) persista na fidelidade e na bondade, no respeito pelos princípios, pelos ideais que perfilha, pelos valores que professa.

 

Não enveredemos pelo tremendismo. Ainda há bons exemplos no mundo. Não serão muitos. Mas, até por isso, devem ser estimados. 

publicado por Theosfera às 23:17

É crescente a sensibilidade das pessoas à oração, à espiritualidade.

 

Há uma revolução que Deus está a fazer em tantos corações.

 

Há gente nova que cultiva uma apetência muito grande, e sobretudo muito sincera, pela relação com Deus.

 

Que a Igreja possa acolher o que Deus está a semear.

publicado por Theosfera às 23:01

Deus está no silêncio de tantos corações que sofrem a injustiça. E encontra-Se em tantos lábios que clamam pela justiça. O Homem, cada ser humano, é o mais sagrado santuário de Deus.

publicado por Theosfera às 22:59

Há muitas nuvens debaixo do sol?

 

Há muito sol por cima das nuvens.

 

Não percamos a esperança. O sol voltará a brilhar. Em breve.

publicado por Theosfera às 11:17

Com o advento da industrialização e a proliferação dos serviços, o mundo laboral começou a ter uma vida atribulada.

O trabalho visa a dignidade humana, mas, para muitos, visa apenas o lucro.

É claro que sem lucro não há trabalho. Não há como pagá-lo.

Mas sem trabalho também não há lucro. Não se vê como produzi-lo.

O grave é que, no meio de tudo isto, o ser humano não fica no lugar que merece: o primeiro.

Desemprego em massa, trabalho precário em série, tudo gera em revolta.

O operariado transforma-se num precariado.

Haverá uma saída?

Apesar de tudo, penso que sim. Desde que se pense, acima de tudo, no valor sagrado da pessoa humana.

 

publicado por Theosfera às 10:43

À força de tanta insistência, talvez já nem nos apercebamos do óbvio. Como realça Esther Mucznik, «o poder político é mais permissivo a oportunistas e carreiristas do que a pessoas de carácter e princípios».

 

O problema é que não é só na política que isto se passa. Toda a vida cívica se ressente deste vício endémico, desta doença larvar.

 

As pessoas sérias, que as há (graças a Deus), são, frequentemente, tentadas a mudar de conduta ou a fazer cedências. Caso contrário, são prejudicadas. Admiro, pois, quem resiste. Quem não pactua com o aviltamento dos valores. São esses os grandes sinais de esperança.

 

Neste espírito, entendo ser meu dever expender a minha mágoa pelo facto de Lula da Silva, de visita a Cuba, ter silenciado a morte de um activista dos direitos humanos, preso desde 2003.

 

Toda a gente sabe que é complicado dissentir à frente dos homens do poder. Mas é essa coragem que faz a diferença. Toda a diferença.

publicado por Theosfera às 10:35

Quarta-feira, 24 de Fevereiro de 2010

A Madeira, que nesta altura parece um rio de lama, continua a ser um jardim. Um jardim de solidariedade, um jardim de partilha, um jardim de entreajuda.

 

 

publicado por Theosfera às 19:30

 

1. Tal como a fé, também o ateísmo se decide mais no terreno da vida do que no campo das palavras.
 
E, neste particular, não é o ateísmo dos que se consideram ateus que mais me preocupa. O que mais me preocupa é o ateísmo de muitos que se dizem crentes.
 
O problema está mesmo aí: no facto de apenas se dizerem crentes.
 
Deus verberou sempre tal comportamento: Pela boca do profeta, denuncia: «Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim» (Is 29, 13; Mt 15, 8).
 
É neste sentido que até Deus pode ser considerado ateu. Porque Ele acaba por ser a maior negação de tantas concepções de Deus que por aí se tecem e apregoam.
 
 
2. João Paulo II, sobretudo nas proximidades do ano 2000, evocou, não poucas vezes, os momentos em que os cristãos desfiguram o rosto de Deus.
 
Esta situação faz-me lembrar a reacção que teve uma conhecida figura pública ao inaugurar uma estátua sua: «Este não sou eu!».
 
Na sua óptica, quem olhasse para a estátua não a relacionaria com a sua pessoa.
 
Será que quem olha para o nosso comportamento de crentes fica com vontade de se aproximar de Deus?
 
Não esqueçamos que já o Concílio Vaticano II nos avisava de que um dos factores que mais concorre para o ateísmo é a falta de testemunho dos que se dizem crentes.
 
O Deus que está nos nossos lábios, o Deus que está na nossa vida terá alguma afinidade com o Deus que Se revelou em Jesus Cristo?
 
Onde está o amor, a compaixão, a autenticidade, a misericórdia, justiça, a partilha e a paz?
 
Nós que, tantas vezes, nos empenhamos em demonstrar Deus, que fazemos para mostrar Deus?
 
 
3. Com Xavier Zubiri aprendemos que, acerca de Deus, a mostração vem antes da demonstração.
 
A presença de Deus é, como nos afiançou Jesus, uma questão de transparência (cf. Jo 14, 9).
 
Jesus foi a transparência do Pai. Foi transparência pelas palavras. Foi transparência pela vida. Foi até transparência pela morte.
 
Nós vemos essa transparência de Deus nas vidas que se dão, nos esforços que se fazem, na justiça que se constrói, na paz que se edifica, no amor que se reparte.
 
As testemunhas conseguem (mesmo) muito mais que os mestres. As testemunhas são os verdadeiros mestres.
 
Acerca de Deus, não é a razão que convence. É o amor que atrai.
 
Os antigos diziam que a vivência do amor fez mais pela difusão do Cristianismo do que todos os tratados teológicos.
 
Por isso é que Hans Urs von Balthasar costumava repetir que «só o amor é digno de fé». Só o amor oferece credibilidade à fé.
 
Daí que, como refere a Tradição, o apóstolo João se resignasse a um único tema, quando era convidado a falar: «Filhinhos, amai-vos uns aos outros»!
 
Replicavam-lhe que, embora esse tema fosse importante, podia diversificar o seu discurso.
 
Mas o apóstolo, que em jovem era conhecido pela sua fogosidade, respondia invariavelmente: «Só o amor é necessário».
 
 
4. Neste contexto, é de realçar a ênfase que Ruiz de la Peña colocou na «recomposição do rosto de Deus».
 
Não é que Deus necessite de um qualquer retoque. Nós é que precisamos de ver Deus tal como Ele é e tal como Ele Se nos revelou.
 
 Ao contrário do que ainda se insinua, Deus não é inimigo do homem nem o travão das suas esperanças. Deus é aliado do homem; é «paixão pelo humano».
 
Não sufraga acriticamente a ordem social vigente. Antes a questiona e transforma. «Deus faz dos últimos primeiros, dos pequenos grandes, dos pecadores justos e dos que choram bem-aventurados».
 
Acontece que, como alerta González-Faus, «conhecer a Deus é coisa só de um coração limpo pela misericórdia».
 
A experiência de Cristo é a experiência de uma humanidade total. Foi na Sua humanidade que aconteceu a revelação definitiva de Deus.
 
Com efeito, «Jesus não revela Deus falando sobre Ele, mas deixando-O transparecer nas circunstâncias concretas da Sua vida». 
 
Muito bem nos faria imitar o ateísmo de Deus. Podíamos mesmo pedir-Lhe: «Meu Deus, livra-nos de “deus”».
 
No fundo, deixemos Deus ser o que é. E não nos apeguemos àquilo que imaginamos que seja…
publicado por Theosfera às 14:03

Na vida, é difícil manter o equilíbrio. Há quem viva para o eterno à custa do temporal e há quem viva para o temporal à custa do eterno.

 

 

Faz bem, por isso, recuperar esta recomendação do grande Emmanuel Mounier: «Porque os que olham para o eterno perderam o sentido do temporal, não percamos nós no temporal reencontrado o sentido do eterno».

 

 

François Varillon adverte-nos acerca dos extremos: «Duas atitudes são igualmente irritantes: a que exclui da religião a interrogação e a inquietude; e a que cultiva sistematicamente uma e outra».

 

publicado por Theosfera às 10:39

 

O nosso pranto não é inócuo. Às vezes, até pode ser sadio chorar. O adágio segundo o qual «um homem nunca chora» carece de veracidade e sobretudo de sapiência. Porque não chorar?
 
Com efeito, há tanto para chorar à nossa volta. Há tanto para chorar dentro de nós. O nosso egoísmo. O nosso ensimesmamento. A nossa resistência à vontade de Deus. A nossa férrea oposição ao desígnio do Pai. A nossa mediocridade. A nossa indiferença. O nosso repentismo. A nossa tibieza. O nosso calar perante a injustiça. O nosso falar exaltante sobre as falhas dos outros.
 
Não são estes sobejos motivos para chorar? Mas não basta.
 
Só Deus redimirá as nossas lágrimas: as que deslizam furtivas e as que correm convulsas.
 
Vai, por isso, ao encontro do Senhor. Não hesites em pedir o Seu perdão. Oferece-Lhe o teu arrependimento. Ele presentear-te-á com a torrente da Sua misericórdia.
 
Há quanto tempo não celebras o Sacramento da Reconciliação? Há quanto tempo não te aproximas de Cristo presente no sacerdote?
 
Também és dos que dizem confessar-se directamente a Deus? Então e a confissão sacramental é feita a quem? Não é Cristo que está na pessoa do padre? Onde mora, afinal, a tua fé?
 
O padre também peca? Pois peca. Tanto ou mais que tu.
 
Mas não achas maravilhoso — e sumamente comovente — acolher o perdão divino através de um instrumento tão frágil? Tão parecido contigo? Porque complicas pois o que Cristo simplificou?
 
Ser um homem como tu a oferecer-te Deus, em forma de perdão, não achas que é um dos maiores prodígios que se pode conceber?
publicado por Theosfera às 10:36

«Cumpre em relação aos outros aquilo que só a ti próprio prometeste».

Assim escreveu (acutilante e magnificamente) René Char.

publicado por Theosfera às 10:35

Fica bem ser optimista. Mas fundamental é ser verdadeiro.

 

Que ganha alguém com um tumor dizer que está tudo bem?

 

Razão tinha, por isso, Voltaire quando verteu a mais engenhosa definição de optimismo: «É a mania de sustentar que tudo está bem quando tudo está mal».

 

Por vezes, há quem não queira ver a realidade tal como ela se apresenta, optando por ver-se a si próprio e aos seus desejos.

 

Um personagem criado por Voltaire (o Dr. Pangloss) esmerava-se neste empreendimento: «Todos quantos têm afirmado que tudo está bem têm dito asneiras: o que se deve dizer é que tudo está o melhor possível».

 

Para se corrigir um erro, o primeiro passo consiste em reconhecê-lo. Não há drama nenhum nisso.

 

Mário de Carvalho afirmou que »um pessimista é um optimista bem informado».

 

Temos de olhar para a vida como ela é. Só a partir daí há condições para transformar naquilo que gostaríamos que fosse.

 

Esconder a verdade faz sentido?

publicado por Theosfera às 10:27

Terça-feira, 23 de Fevereiro de 2010

 

Não é a queda que torna o homem pequeno. É a desistência que o anula. Às vezes, e como intuía Aristóteles, «é no fundo de um buraco ou de um poço, que acontece descobrir-se as estrelas».
 
Por isso, Irmão, não comeces a desistir e nunca desistas de começar. Mesmo que te custe.
 
Aquilo que esperas vai acontecer. Não saberemos quando, mas vai acontecer. «A esperança espanta o próprio Deus», como dizia Péguy. Portanto, ela vai, uma vez mais, surpreender.
publicado por Theosfera às 23:54

Não sei por que motivo a proximidade com Deus nos há-de afastar das pessoas e tornar-nos frios, desumanos.

 

Será que já pensamos que, em Cristo, Deus assumiu a humanidade?

 

Ser humano é o grande louvor que se pode prestar a Deus.

publicado por Theosfera às 19:31

Orar é esperar. Rezar é dizer.

 

Há espaço para os dois momentos no encontro com Deus.

 

Antes de falar com Deus, urge deixar que Deus nos fale.

 

Daí o apelo, ínsito no Sermão da Montanha, para que entremos no quarto, no santuário interior.

 

Aí, podemos estar de qualquer maneira. Até podemos fechar os olhos. Não nos preocupemos com palavras. Elas virão.

 

Antes de sermos nós a rezar a Deus, é (por aasim dizer) que Deus nos reza a nós.

 

Deixemos que a Sua palavra ecoe em nós.

 

Não olhemos para o relógio. Não contemos o tempo.

 

Na oração, Deus é a paz para a nossa inquietação.

 

Desfrutemos de Deus. Do Seu amor. Da Sua bondade. Da Sua paz.

 

Deus mora em si. Maravilhoso!

 

 

publicado por Theosfera às 19:25

Teve uma peregrinação longa de bem fazer que só parou aos 86 anos.

 

A D. Lourdes teve vários familiares no Seminário e um deles foi meu condiscípulo durante (creio) seis anos.

 

Era uma senhora que vivia para Deus e que destilava delicadeza por todas as artérias do seu ser.

 

Pessoalmente, ficava comovido porque, todos os anos, pelo Natal e no meu aniversário, me telefonava. Nunca se esquecia. As suas palavras ressumavam uma nobreza de sentimentos próprios de um coração nobre e de uma alma de eleição.

 

A grandeza de uma pessoa vê-se em pequenos gestos. Que, afinal, não são pequenos. Têm a medida de quem os pratica. São, por isso, grandes também.

 

Apesar da intempérie deste dia, a Igreja de Britiande estava cheia. Ali, D. Lourdes esteve muitas vezes: em oração, na catequese, em tantas missões.

 

Vi lágrimas no rosto dos familiares. O esgar de todos permitia adivinhar uma emoção incontida.

 

Obrigado, D. Lourdes. Deus já a tem com Ele. Que a sua bondade nos toque a todos.

publicado por Theosfera às 14:06

Parece um erro matemático, mas é uma verdade teológica. Como disse sabiamente Nicolas Afanassieff, «um mais um é igual a um».

 

 

Quer isto dizer basicamente que em cada Igreja, por mais pequena que seja, está presente a Igreja inteira, a Igreja universal.

 

 

Prossegue aquele teólogo: «Cada Igreja local manifesta toda a plenitude da Igreja de Deus, porque é Igreja de Deus e não parte dela. Pode haver pluralidade de manifestações da Igreja de Deus, mas a Igreja permanece uma e única, porque é sempre igual a si mesma. A pluralidade das Igrejas locais não destrói a unidade da Igreja de Deus, tal como a pluralidade das assembleias eucarísticas não destrói a unidade da Eucaristia no tempo e no espaço».

 

 

O que põe em causa a comunhão é quando um mais um não é igual a um.

 

 

É quando um mais um é igual a dois, ou seja, quando não estou em comunhão com o outro.

 

 

É quando, mesmo quando estou com o outro, não estou com o outro em Cristo. Ele, sim, é o cimento da comunhão!

 

 

A unidade não é conexa com uniformidade. Como diz Walter Kasper, a unidade é sempre sinfónica e polifónica.

 

publicado por Theosfera às 10:02

«Toda a infelicidade dos homens provém da esperança».

Assim escreveu (atenta e magnificamente) Albert Camus.

publicado por Theosfera às 09:59

Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 2010

Ser homem significa pertencer à humanidade. Como dizia John Donne, «ninguém é uma ilha; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; a morte de qualquer homem diminui-me porque faço parte do género humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti».

publicado por Theosfera às 23:32

«É quando parece que tudo acaba que tudo verdadeiramente começa».

Assim escreveu (luminosa e magnificamente) Santo Agostinho.

publicado por Theosfera às 19:06

Diz Deus, pelo profeta, que quer fazer algo novo connosco, para nós.

 

Transportamos esta novidade há séculos.

 

Não insistamos, pois, na redundância, na repetição.

 

Não servimos a humanidade repetindo comportamentos, mas empreendendo na alternativa.

publicado por Theosfera às 12:05

Num momento de crise global, terá sentido falar de alegria? Não será, por exemplo, a alegria um mero disfarce ou uma pura artificialidade? Não será uma alegria que esconde toneladas de dor e carradas de angústia?
 
Foi Paul Claudel quem afirmou que «onde há mais alegria, há mais verdade». E o nosso Almada Negreiros assinalou, com propriedade, que «a alegria é a coisa mais séria desta vida». Complementarmente, podemos acrescentar que a seriedade é coisa mais alegre deste mundo.
 
Não podemos medir a alegria apenas pela expressão fácil ou pela atitude folgazã. Não é lícito mensurar a alegria pelo riso convulso ou pela gargalhada descontrolada.
 
Há muitas formas de ser alegre. Há quem seja alegre de um modo mais expansivo e há quem seja alegre de uma maneira mais contida, mais interior. Até se pode ser alegre a chorar. Não há tantas lágrimas de alegria?
 
Não há dúvida de que, como alerta Levinas, o rosto é o espelho da alma. Mas o rosto alegre será apenas o rosto ridente ou a aparência jovial? No fundo, o sustento da alegria encontra-se num coração puro, numa vida limpa, transparente.
publicado por Theosfera às 12:04

Será possível conhecer Deus? Tarefa árdua, esta.

Dizia o Pseudo-Dionísio que, «relativamente a Deus, só as negações são verdadeiras; as afirmações são insuficientes».

Não basta, portanto, ter um cérebro dotado. É fundamental possuir um coração disponível. Daí a advertência de Olegario González de Cardedal acerca da necessidade de, no trabalho teológico, aliar a simplicidade de coração à complexidade da inteligência.

No fundo e como alerta González-Faus, «conhecer a Deus é coisa só de um coração limpo pela misericórdia. A misericórdia entrelaça-se com a pureza do coração».

Neste sentido e segundo este teólogo, «Deus e o dinheiro são incompatíveis porque Deus é um Deus de misericórdia e o dinheiro é um deus imisericordioso».

 

publicado por Theosfera às 10:55

Domingo, 21 de Fevereiro de 2010

Amar é imitar. Amar Jesus é imitar Jesus. É imitar Jesus eucaristicamente real, eclesialmente presente e humanamente entranhado em nós. Olhemos para o Santo Padre. Jesus está ali. Empenhemo-nos em ir por aí.

Para Charles de Foucauld, é possível imitar Jesus de três formas: pela pregação, pelo deserto e por...Nazaré. Esta última foi a via escolhida pelo Irmão Universal. Em que consiste? Na reprodução da vida de Jesus em Nazaré ao longo dos trinta anos de vida oculta. Trata-se, então, de uma via feita de:

- imitação;

- obediência;

- contemplação (isolamento, recolhimento, oração, prece);

- sacrifício;

- glorificação de Deus.

Eis uma proposta interessante a seguir neste tempo santo da Quaresma.

publicado por Theosfera às 00:26

O deserto não é só local físico. É também (e bastante) um lugar teológico (locus theologicus). E um lugar teológico de singular relevância e primeira grandeza.

João viveu no deserto. Jesus esteve no deserto. Muita gente procurou o deserto. Não como fuga. Mas como apelo. Como aviso. Como terapia. Como profecia. Como acto de coragem.

O deserto é aridez. Mas é sobretudo teste. Teste à resistência. Teste à persistência. Teste à fidelidade. Não se pode ser fiel apenas quando o ambiente é favorável. Fiel é preciso ser sempre.

Tudo isto continua a ser actual, pertinente. Se não podemos ir ao deserto, urge fazer deserto. Todos os dias. O momento inicial é determinante. Começar o dia por um encontro profundo com Deus é essencial. Mais de uma hora era excelente, mas é difícil. Mesmo uma hora de contemplação não é fácil. Mas viver um dia de missão sem, pelo menos, uma hora de oração é um risco muito grande.

Só quem mergulha em Deus se habilita a mergulhar no Homem, na Vida, no Mundo.

publicado por Theosfera às 00:23

«Maldito o que não gritasse no deserto, pelo receio de não ser ouvido por ninguém».

Assim escreveu (excessiva mas magnificamente) Balzac

publicado por Theosfera às 00:21

Todas as perguntas se podem fazer.

 

O problema é que nem todas as respostas conseguimos dar.

publicado por Theosfera às 00:18

Sábado, 20 de Fevereiro de 2010

As imagens que nos chegam da Madeira deixam-nos completamente descompensados, sem palavras.

 

Mais de 30 mortos, dezenas de feridos, muitos desalojados e, porventura, desaparecidos.

 

Em tão pouco tempo, a natureza revestiu-se de um vigor impante e desatou a levar tudo na frente.

 

Como nos sentimos tão pequenos diante de um cenário tão dantesco. A esta hora, nenhuma palavra servirá de conforto.

 

Que Deus receba os que morreram e que ofereça ânimo a quem sobrevive em condições tão adversas.

publicado por Theosfera às 22:58

Foi Teilhard de Chardin um dos espíritos mais brilhantes que a última centúria conheceu.

 

Embora não se possa concordar com tudo (mas também nada nos une tanto como as nossas discordâncias, como asseverava Unamuno), tudo em Teilhard merece atenção. Era um homem sério, inteligente, transparente.

 

Se perguntarmos a Teilhard, o que é preciso para ser feliz, ouviremos: «Para ser feliz, é preciso reagir contra a tendência para o menor esforço, que nos leva a ficar quietos ou, então, a procurar na agitação exterior a renovação das nossas vidas. É no trabalho pela nossa perfeição interior que a felicidade nos espera».

publicado por Theosfera às 12:03

Senhor,

 

dou-Te o meu silêncio.

 

Dá-me a Tua Palavra.

publicado por Theosfera às 11:58

«Nas dificuldades, Deus dá-nos sempre algum sinal».

Assim escreveu (crente e magnificamente) António Jesus Cunha.

publicado por Theosfera às 11:56

Eis-nos que continuamos a debater, em Igreja, o problema da comunicação.

 

Nada de traumático, diga-se. A problematicidade é conatural à condição humana. Ela está ínsita na viatoriedade própria da trajectória no tempo.

 

Mas há qualquer coisa de paradoxal. Não há, seguramente, outra instituição que tenha tanta gente a lidar com a comunicação.

 

São centenas os jornais que possuímos, as rádios que temos, as homilias que fazemos. É bom não esquecer que, todos os domingos, são cerca de dois milhões de pessoas que nos ouvem em todo o país. 

 

E, no entanto, a mensagem parece que não chega, parece que não passa. Aura Miguel pôs, recentemente, o dedo na ferida: «Falta uma certa agilidade na forma de a Igreja comunicar».

 

Julgo que o punctum saliens não está na habilidade de manobrar as palavras ou numa qualquer arte retórica, cénica ou representativa.

 

Isto terá o seu lugar, mas tudo se decide a montante: na autenticidade, na convicção.

 

É preciso não ter medo de assumir o que transportamos, o que acreditamos. É preciso dizer, sem vaidade e sem vergonha, o que nos move. E é fundamental fazê-lo de forma estruturada, directa, consistente. Sem grandes adornos. Urge mais coração, mais vibração, mais pathos.

publicado por Theosfera às 11:54

«Se fores teólogo,  rezarás verdadeiramente; se rezares verdadeiramente, serás teólogo».

Assim escreveu (orante e magnificamente) Evágrio de Ponto.

publicado por Theosfera às 11:52

Sempre apreciei Pedro Barroso. Sempre achei que era um cantor (ou um cantautor) injustamente inapreciado.

 

Daí a atenção que dou ao seu diagnóstico: «Vivemos dias cinzentos. Dá vontade de voltar, outra vez, à canção de intervenção».

 

Ontem já era tarde. Ouçamos, de novo, Vergílio Ferreira: «Quando a situação é mais dura, a esperança tem de ser mais forte».

publicado por Theosfera às 11:47

1. Uma coisa (muito saudável) é a separação entre a Igreja e o Estado. Outra coisa (bastante prejudicial) é o afastamento entre a fé e a vida. Perceber aquela fronteira e aceitar esta implicação é o segredo da missão e a chave da convivência.
 
A separação entre a Igreja e o Estado não alicerça um qualquer afastamento entre a fé e a vida. É bom que haja aquela separação. É fundamental que não se verifique este afastamento.
 
Não há, aqui, contradição. A Igreja tem uma estrutura diferente do Estado e o Estado tem uma estrutura diferente da Igreja.
 
Entender esta diferença é essencial para promover a relação e até para fecundar a colaboração. Na sua diferença estrutural, a Igreja e o Estado encontram-se no serviço à mesma humanidade. O Homem, com efeito, é o fim do Estado e o caminho da Igreja.
 
A Igreja e o Estado só ganham em manter um clima de mútua independência e estreita cooperação. A ambiguidade é negativa e a subserviência é sempre perturbadora.
 
O lugar privilegiado de presença da Igreja é a sociedade, junto das pessoas, especialmente junto dos pobres.
 
 
2. Concretizando os princípios, um cidadão que seja crente sabe que não pode favorecer (ou prejudicar) qualquer credo no âmbito das suas funções na vida pública ou política. Mas isso não o impede de testemunhar em toda a parte (e, portanto, também na sua intervenção cívica e política) a fé que professa.
 
Nenhum âmbito da existência está vedado ao Evangelho. Será aceitável que se viva a fé em toda a parte excepto na política? Essencial é que haja transparência.
 
Um cristão não deixa de ser cidadão pelo que a sua cidadania está marcada pela fé. O seu testemunho não consiste em almejar privilégios para a instituição Igreja, mas em promover os valores do Evangelho.
 
Neste sentido, levar a fé à vida política é não apenas um direito, mas sobretudo um dever, um imperativo.
 
 
3. Foi há não muito tempo que o Papa Bento XVI defendeu que a fé não deve afastar os cristãos dos seus compromissos de cidadania. É que, alertou, «viver a vida cristã significa também assumir os compromissos civis».
 
A verdade é ubíqua e o Evangelho é englobante. Não pode, por isso, ficar circunscrito à intimidade ou limitado à vida privada de cada um.
 
De facto, «um dos mais importantes aspectos da unidade da vida do cristão» é a coerência entre «fé e vida, Evangelho e cultura».
 
Numa catequese dedicada a São Máximo, Bispo de Turim do século IV, o Sucessor de Pedro referiu-se à «profunda relação entre os deveres do cristão e os do cidadão».
 
É bom, por conseguinte, «que os cristãos tomem consciência de que têm algo a dar ao mundo de hoje». E o Santo Padre dá um exemplo: «A política guiada pela ideia da compaixão é diferente da dirigida pela economia e pela técnica».
 
Trata-se, no fundo, daquilo a que o teólogo Johannes Baptist Metz chamou de «misticismo de olhos abertos», que é «uma característica do misticismo bíblico». Desde logo, porque «todos temos responsabilidade por outros sofrerem».
 
A espiritualidade não pode ser vista de uma forma ensimesmada, desligada do mundo, vista como uma espécie de refrigério. Metz alerta que «Deus não é só uma terapia, é igualmente um Deus provocador», que nos provoca, que nos impele.
 
 
4. Apesar de a crítica constituir um serviço, admitamos que é muito fácil criticar quem está na política. Mais difícil (e também muito mais necessário) é oferecer estímulos para estar na política de um modo diferente, de uma forma consistente, de uma maneira testemunhal.
 
Esquecemo-nos, muitas vezes, de que, com todas as suas fragilidades, são os políticos que traçam as linhas de actuação por que se rege um povo. São eles, ao nível sobretudo das autarquias, que nos ajudam na resolução dos nossos problemas. E nós, crentes, que contributos lhes fazemos chegar?
 
Quando se fala de política, imediatamente se pensa nos partidos. E é claro que os partidos são essenciais na vida política. Mas esta não se esgota nos partidos nem no poder que eles visam exercer.
 
A presença dos cristãos na política há-de ocorrer, acima de tudo, na promoção da justiça.
 
A Igreja é independente em relação aos partidos. Mas não pode ser neutral em relação à justiça. Ela não toma partido por partidos. Mas tem de tomar partido por causas, por pessoas, por ideais.
 
Quando a justiça está em causa, calar é um pecado. E se há medo de que a palavra possa ser conotada politicamente, é preciso ter presente que o silêncio não o é menos. Antes, pois, ser conotado com as vítimas da injustiça do que com os causadores da injustiça.
 
A política não se esgota nos partidos. Tudo é política. Tudo é relevante para a vida da polis, da comunidade. Assumamos a nossa presença. Não tenhamos medo das implicações do nosso testemunho.
publicado por Theosfera às 11:45

Tudo por Ti, Senhor.

 

Nada para mim, meu Deus.

 

Adoro-Te.

 

A alegria és Tu.

 

Fora de Ti é o tédio.

 

Longe de Ti é o vazio, o nada.

publicado por Theosfera às 11:37

Neste dia de recolhimento orante, não esqueci tantos que me têm ungido com o precioso dom da amizade.

 

Como esquecer quem nunca esquece?

 

É o mínimo pelo máximo.

 

O mínimo que posso fazer é a oferta da minha pobre oração pelo máximo que, para mim, é a vossa devotada estima

publicado por Theosfera às 11:33

«A amizade é algo grande, mas começa com coisas pequenas».

Assim escreveu (oportuna e magnificamente) Carlo Maria Martini.

publicado por Theosfera às 11:31

«Imaginai o mundo como uma circunferência em cujo centro está Deus, e cujos raios são as diferentes experiências de vida dos homens. Se todos aqueles que se querem aproximar de Deus se dirigirem para o centro, ao mesmo tempo que se estão a aproximar de Deus estão a aproximar-se dos outros. Quanto mais se aproximarem de Deus, mais se aproximam dos outros. E quanto mais se aproximarem dos outros, mais se aproximam de Deus».

Assim escreveu (tocante e magnificamente) Doroteu de Gaza

publicado por Theosfera às 11:30

Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2010

Ficamos extasiados diante de um quadro, embevecidos diante de uma paisagem, deslumbrados diante de um monumento, arrebatados diante de um livro.

 

Partilho de todos estes sentimentos. Compreendo a alegria dos autores de todas estas obras.

 

Urge, porém, prestar atenção à obra mais bela que existe à face da terra.

 

Sabe qual é? Cada pessoa.

 

Educar um ser humano é a melhor construção em que se pode participar.

 

Cada pessoa é um campo aberto, um terreno arável e um alfobre fecundo. De certa forma, não somos pessoas; tornamo-nos pessoas.

 

Porque é que, tantas vezes, nos desumanizamos. Porque é que, frequentemente, o crescimento de uma pessoa é visto como um crescimento em desumanidade?

 

Olhemos para cada pessoa como a obra mais bela que Deus compôs e que colocou à nossa frente, ao nosso lado.

 

Demos uma oportunidade ao melhor de nós mesmos!

 

Todos somos homens. Sejamos todos humanos!

 

Deus habita na humanidade de cada homem, de cada pessoa!

 

Deus é o maior investidor na nossa humanidade, na nossa humanidade feliz. A prova? Aceitou, em Jesus Cristo, morrer por nós.

 

Haverá maior sinal de confiança, maior prova de amor?

publicado por Theosfera às 11:20

É a Igreja, antes de mais e acima de tudo, o lugar do amor (locus amoris).

 

Diz Karl Rahner: «O cristão, ao conceber a Igreja como a tangibilidade histórica da presença de Deus, experimenta-a como o lugar do amor, do amor para com Deus e para com o próximo. Ambos os amores, quando levados a sério, são experimentados na vida humana como o que é dado, como algo que o Homem não pode produzir por si mesmo».

 

publicado por Theosfera às 09:46

A vida actual permite-nos estar em toda a parte sem sair do mesmo lugar.

 

Podemos, no fundo, ser peregrinos sem que nos tornemos viajantes. Mesmo dentro de nós próprios, sentimo-nos nómadas.

 

Somos contemporâneos de todos os acontecimentos, participantes de uma mesma história.

 

Em cada pessoa, tocamos a humanidade. Em cada sítio, palpitamos o mundo.

 

Razão tinha, pois, Miguel Torga: «Universal é o local sem os muros».

 

Ainda que que alguns pensem erguê-los, o sonho acaba sempre por derrubá-los!

 

O problema não é a distância que nos separa dos lugares. É a distância que nos pode afastar das pessoas.

publicado por Theosfera às 09:39

Quinta-feira, 18 de Fevereiro de 2010

Pensar a Igreja é pensar o amor, a esperança, a possibilidade de começar constantemente depois de cair continuamente.

Pensar a Igreja é ter a disponibilidade para nunca desistir nem jamais desacreditar.

Pensar a Igreja é confiar no Espírito que a conduz e inspira.

Pensar a Igreja é andar, caminhar, trilhar os passos desta aventura que se chama simplesmente viver: viver para Deus, viver com os outros!

Isto pode acontecer inclusive quando estamos fisicamente sós. Quanto mais sós, menos sozinhos! Amar é mesmo ultrapassar-se!

 

publicado por Theosfera às 10:05

Quarta-feira, 17 de Fevereiro de 2010
1. Na madrugada da minha vida, também sonhei.
 
Sonhei com um mundo diferente. Sonhei com o fim das guerras e com o termo das injustiças.
 
Sonhei que era possível abater muros e construir pontes. Sonhei que os ideais sobrelevariam os interesses e os cálculos.
 
Sonhei que a transformação estava em marcha. Sonhei que, no tempo expectável da minha existência, iria ver a realidade que as esperanças iam desenhando.
 
Eram os anos 60, a virar para os 70. À distância a que, agora, já nos encontramos, é fácil dizer que éramos todos ingénuos.
 
Talvez fôssemos. Mas acreditem que éramos felizes assim. Sentíamos que qualquer coisa nova pairava no ar e que, depressa, se alojava nos nossos corações.
 
Não conseguíramos nada. Mas acreditávamos em quase tudo. Era o tempo das gaivotas a voar e das papoilas a florir.
 
Não é a Primavera a estação que mais nos encanta? Não é nela que colhemos, mas a sementeira chega a ser mais entusiasmante que a própria colheita. Não é, tantas vezes, a véspera de uma festa mais sentida que a própria festa?
 
A vida ensina-nos que somos, frequentemente, seres da tarde que preparam um amanhecer que pode acabar por nunca surgir.
 
Mas mesmo que a manhã não venha, alguém poderá provar que não valeu a pena o esforço do tempo de véspera?
 
 
2. Foi com este estado de espírito que cheguei ao encontro do grande Luther King e do sermão que proferiu um dia antes de ser assassinado.
 
Confesso que, como a ele, também a mim me custa olhar para a vida como um máquina destruidora de sonhos: «A vida é uma história contínua de sonhos desfeitos». Tantas vezes nos passa pela cabeça a ideia de que «o nosso esforço de nada vale».
 
Acontece que «a vida é mesmo assim. E o que me dá felicidade é que ouço uma voz que vem do fundo dos tempos para me dizer: "Pode não vir hoje ou amanhã, mas é bom que tenhas o sonho dentro do teu coração. É bom que tentes". O sonho pode não se realizar, mas, se tendes o desejo de o realizar, isso já é bom».
 
Deus não nos julgará por uma parcela do nosso ser, mas pela totalidade da nossa vida. «Deus sabe que os Seus filhos são frágeis. O que Deus exige é que tenhamos o nosso coração cheio de rectidão».
 
 
3. Se dermos conta de que ainda nos falta rectidão, peçamos a Deus que no-la dê. O importante não é tanto o que conseguimos, mas o que tentamos.
 
«Fazei com que alguém possa dizer de vós: "Pode não ter atingido o cume mais alto, pode não ter realizado todos os seus sonhos, mas tentou". Não é maravilhoso que digam isso de nós? "Ele tentou ser um homem bom. Tentou ser um homem honesto"».
 
Às vezes, até os piores instantes podem ser fecundos. A noite amedronta porque é escura, mas não é «na noite escura que se vêem as estrelas»?
 
Urge porfiar não por lugares, não por interesses, mas, acima de tudo, por ideais, por valores. De uma vez para sempre, é hora de nos decidirmos «a ser homens, a ser gente».
 
 
4. Pela frente, «temos dias difíceis».
 
Ter uma vida longa é uma aspiração legítima para todo o ser humano. Luther King não fugia à regra, mas o mais importante, para ele, era «fazer a vontade de Deus».
 
Luther King não viu a realização do sonho. Mas foi o seu sonho e a coerência do seu testemunho que permitiu desbravar caminhos.
 
Por isso, ele pediu para ser lembrado não como o homem que conseguiu, mas como o homem que sonhou, o homem que tentou. Que tentou «consagrar a sua vida ao serviço do próximo». Que tentou «amar alguém». Que tentou «ser justo». Que tentou «amar e servir a humanidade».
 
Não pediu para ser recordado como alguém consensual, mas como um chefe de partido: do partido da justiça, do partido da paz, do partido da rectidão.
 
Eis a única herança que conta. Não é o dinheiro. Não são as coisas valiosas nem o luxo da vida. «A única coisa que quero deixar é uma vida de militância, de testemunho».
 
Os sonhadores podem ser eliminados. Mas o sonho nunca morrerá!
publicado por Theosfera às 23:44

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